O portal “UOL Economia Últimas Notícias” publicou há dez minutos uma ótima novidade para a economia brasileira.
O índice BOVESPA da Bolsa de Valores de São Paulo subiu muito com essa informação.
Transcrevo os textos do UOL:
“O Brasil adquiriu nesta quarta-feira o título de grau de investimento pela Agência de Rantig Standard & Poor´s. A nota de crédito (rating) para moeda estrangeira subiu para BBB- com perspectiva estável e a nota para moeda local passou de BBB para BBB+, também com perspectiva estável.
Com esta nova nota, o país entra no grupo de países considerados de baixo risco de inadimplência.”
BOVESPA DISPARA
“Bovespa dispara após notícia de que país virou grau de investimento”
A notícia de que o Brasil passou a ser considerado grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, divulgada na tarde desta quarta-feira, fez a Bolsa de Valores de São Paulo disparar.
Às 15h50, o Ibovespa, principal indicador do mercado brasileiro de ações, avançava 3,64%, a 66.147 pontos (acompanhe gráfico da Bolsa com atualização constante). Caso feche o dia nesse patamar, o mercado brasileiro de ações baterá recorde pela primeira vez no ano.”
quarta-feira, 30 de abril de 2008
O POVO NÃO MAIS ACREDITA NAS MENTIRAS DA MÍDIA
O decano jornalista Lustosa da Costa, do Diário do Nordeste, em sua maneira clara e simples de expressar, publicou conceitos cristalinos em sua coluna de hoje (30/04):
“POVO NÃO CRÊ”
“A crescente popularidade de Lula mostra que ninguém acredita nas mentiras da mídia contra ele e contra seu governo.
Se dependesse só do povo, disputaria e ganharia disparado o terceiro mandato, com uma mão amarrada às costas, malgrado o ódio destilado pelos colunistas amestrados que não podem aceitar o êxito de um operário, nascido no Nordeste, lá onde muitos doutores, inclusive sociólogos, deram com os burros n’água, levando o país à falência duas vezes e enriquecendo amigos mil vezes.
NINGUÉM ACREDITA
Se o eleitor ouvisse e lesse os órgãos de comunicação para votar, Fernando Gabeira, o ex-revolucionário que renegou os ideais do passado em prol da direita, já seria o novo prefeito do Rio, tal a unanimidade da grande mídia a seu favor. Continua, porém, no terceiro lugar na disputa.”
“POVO NÃO CRÊ”
“A crescente popularidade de Lula mostra que ninguém acredita nas mentiras da mídia contra ele e contra seu governo.
Se dependesse só do povo, disputaria e ganharia disparado o terceiro mandato, com uma mão amarrada às costas, malgrado o ódio destilado pelos colunistas amestrados que não podem aceitar o êxito de um operário, nascido no Nordeste, lá onde muitos doutores, inclusive sociólogos, deram com os burros n’água, levando o país à falência duas vezes e enriquecendo amigos mil vezes.
NINGUÉM ACREDITA
Se o eleitor ouvisse e lesse os órgãos de comunicação para votar, Fernando Gabeira, o ex-revolucionário que renegou os ideais do passado em prol da direita, já seria o novo prefeito do Rio, tal a unanimidade da grande mídia a seu favor. Continua, porém, no terceiro lugar na disputa.”
BILIONÁRIO DOS EUA DIZ QUE BRASIL SERÁ MAIOR QUE A CHINA
A coluna “Toda a mídia”, de Nelson de Sá, publicada no jornal “Folha de São Paulo” de hoje, traz a seguinte observação alvissareira para os brasileiros:
“Num encontro de "líderes globais" nos EUA, o "bilionário de mídia" e de imóveis Sam Zell, do "Chicago Tribune", saiu espalhando que, hoje, "investiria no Brasil", segundo informou a Reuters. Para Zell, o Brasil "tem chance de, em 30 anos, ser uma potência econômica maior do que a China".
Transcrevo o texto completo da britânica Reuters, uma das maiores e mais famosas agências de notícias do mundo:
“Billionaire Zell says Brazil is top property pick”
“Beverly Hills, California (Reuters) - Billionaire real estate and media baron Sam Zell said on Monday that, all in all, he would rather invest in Brazil.
"I'd buy Brazil," Zell told the Milken Institute Global Conference. "It has the chance 30 years from now of being a bigger economic power than China."
Zell, chief executive of Chicago Tribune parent, The Tribune Co, and chairman and president of Equity Group Investments, was responding to a moderator's question on what single investment panelists would make in real estate.
Zell said the South American nation's large population of 180 million people, highly-trained work force, and array of crops and natural resources has made it largely self-sufficient.
Zell also said Brazil's biggest mall operator was seeing retail sales growth of 10 percent annually.
Zell said China's one-child policy, enacted in 1979 to help deal with overpopulation, would hurt the country in the long run because it will cut the number of workers. "I think by 2020 that will come back to bite them big time," he said.
Last fall, China extended the one-child policy through 2010.
“Num encontro de "líderes globais" nos EUA, o "bilionário de mídia" e de imóveis Sam Zell, do "Chicago Tribune", saiu espalhando que, hoje, "investiria no Brasil", segundo informou a Reuters. Para Zell, o Brasil "tem chance de, em 30 anos, ser uma potência econômica maior do que a China".
Transcrevo o texto completo da britânica Reuters, uma das maiores e mais famosas agências de notícias do mundo:
“Billionaire Zell says Brazil is top property pick”
“Beverly Hills, California (Reuters) - Billionaire real estate and media baron Sam Zell said on Monday that, all in all, he would rather invest in Brazil.
"I'd buy Brazil," Zell told the Milken Institute Global Conference. "It has the chance 30 years from now of being a bigger economic power than China."
Zell, chief executive of Chicago Tribune parent, The Tribune Co, and chairman and president of Equity Group Investments, was responding to a moderator's question on what single investment panelists would make in real estate.
Zell said the South American nation's large population of 180 million people, highly-trained work force, and array of crops and natural resources has made it largely self-sufficient.
Zell also said Brazil's biggest mall operator was seeing retail sales growth of 10 percent annually.
Zell said China's one-child policy, enacted in 1979 to help deal with overpopulation, would hurt the country in the long run because it will cut the number of workers. "I think by 2020 that will come back to bite them big time," he said.
Last fall, China extended the one-child policy through 2010.
BOLSA-FAMÍLIA PODE VIRAR MODELO DE PROGRAMA MUNDIAL
O blog do Noblat, hoje (30/04), transcreve reportagem de Jamil Chade do jornal “O Estado de São Paulo” que nos informa que o Bolsa Família do governo Lula está sob análise da ONU para ser estendido a outras partes do mundo.
Vejamos o texto do Estadão”;
“O Programa Mundial de Alimentação da ONU estuda adotar programas inspirados no Bolsa-Família como forma de garantir ajuda às famílias que sofrem com a alta nos preços dos alimentos e distribuir comida para cerca de 20 milhões de crianças pelo mundo.
“O governo brasileiro conseguiu avançar na distribuição de alimentos e estamos em contato para ver como podemos usar o modelo em outras regiões do mundo” afirmou ao Estado Jannete Sheeren, diretora do programa da ONU.”
Vejamos o texto do Estadão”;
“O Programa Mundial de Alimentação da ONU estuda adotar programas inspirados no Bolsa-Família como forma de garantir ajuda às famílias que sofrem com a alta nos preços dos alimentos e distribuir comida para cerca de 20 milhões de crianças pelo mundo.
“O governo brasileiro conseguiu avançar na distribuição de alimentos e estamos em contato para ver como podemos usar o modelo em outras regiões do mundo” afirmou ao Estado Jannete Sheeren, diretora do programa da ONU.”
BOLIVIA URGENTE: RISCO DE ESFACELAMENTO DAQUI A QUATRO DIAS
O site português “resistir.info” publica hoje um importante alerta sobre o momento difícil da Bolívia.
Domingo próximo (04 maio), ocorrerá em Santa Cruz de la Sierra um plebiscito para ratificar o que chamam de "estatuto autonômico". O documento é separatista.
Vejamos o texto do referido site de Portugal:
BOLÍVIA: CONSPIRAÇÃO PARA DIVIDIR
“Após a secessão do Kosovo, província sérvia tornada "independente", é a Bolívia que o imperialismo tenta dividir.
O processo de mudanças em favor da maioria dos bolivianos corre o risco de ser travado brutalmente.
A ascensão ao poder de um presidente indígena, eleito com apoio sem precedentes, e seus programas de beneficio popular e de recuperação dos recursos naturais, tiveram que enfrentar desde os primeiros momentos as conspirações oligárquicas e a ingerência imperial.
Nos últimos dias, a escalada conspirativa atingiu níveis sem precedentes. As ações subversivas e anticonstitucionais dos grupos oligárquicos para dividir o país refletem uma mentalidade racista e elitista. Eles atentam contra a integridade da Bolívia e desestabilizam toda região.
A história mostra as terríveis conseqüências de processos divisionistas e separatistas induzidos e insuflados por interesses estrangeiros.”
O “blog do Nassif” (ver à direita em “recomendamos”) também hoje chama a atenção do leitor (texto a seguir) para o grave risco de esfacelamento da Bolívia, com conseqüências extremamente negativas para o Brasil e para a América do Sul.
“A SECESSÃO BOLIVIANA”
(Por graciliano)
“Nassif, peço licença para fazer um alerta que me parece oportuno e urgente: neste domingo, ocorre no ‘departamento’ (Estado,na Bolívia) de Santa Cruz de la Sierra um plebiscito para ratificar o que chamam de "estatuto autonômico".
O documento é separatista e o governo central, de Evo Morales, poderá ser forçado a reprimir caso vença o "sim".
A oposição oligárquica, que governa os departamentos de Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija (os mais ricos da Bolívia) tem usado de violência sistematicamente, inclusive com grupos de jovens treinados por ex-militares chilenos.
A mídia brasileira não tem dado atenção ao tema, que pode afetar diretamente nosso país e toda a América do Sul. Caso os cruzenhos consigam criar o que chamam "Estado Camba" ("camba" é um patronímico para quem nasce em Santa Cruz), o novo país poderá ser reconhecido imediatamente por países afinados com os EUA, como israel e Colômbia, e, afinal, pelos próprios EUA. Não estou exagerando, baseio-me em visitas recentes àquele país, onde ouvi os vários lados.
Seria importante que o governo brasileiro desestimule oficialmente esta tentativa de secessão no país vizinho, com o qual temos muitos interesses comuns. Além do que não convém a ninguém um enclave militarizado no centro do nosso continente.
Por favor, permita-me chamar a atenção dos comentaristas sobre este assunto, que somente será notícia depois do previsto conflito do dia 4, domingo.”
O “blog do Mello” hoje também enriquece a informação sobre esse sério tema com o texto a seguir (no referido blog consta o link para o vídeo da entrevista por ele citada):
“Documentos comprovam envolvimento dos EUA na tentativa de desestabilização da Bolívia”
“Veja esta entrevista em que a advogada venezuelana-americana Eva Gollinger denuncia, no programa La Hojilla, da emissora venezuelana VTV, o envolvimento direto dos Estados Unidos na vida política boliviana, com o objetivo de fomentar movimentos oposicionistas ao governo de Evo Morales.
Gollinger exibe documentos oficiais do governo americano que comprovam a remessa de milhões de dólares para o patrocínio de movimentos separatistas e golpistas da chamada Media Luna boliviana.
Na entrevista, a advogada apresenta um dossiê sobre o embaixador americano, Philip Goldberd, que serviu como embaixador no episódio separatista do Kosovo, e assumiu o cargo na Bolívia logo após a posse de Evo Morales.
Entre os documentos apresentados por ela há um que mostra que o governo americano paga a jornalistas para escreverem matérias e artigos favoráveis às diretrizes traçadas por Washington.
Nada disso é novidade. É a mesma estratégia aplicada em outros países, desde o Chile de Allende, em 1973, passando pela Venezuela e agora a Bolívia.
Fico pensando quando teremos uma Eva Gollinger brasileira, que denuncie o esquema no Brasil e aponte jornalistas que recebem para desestabilizar o governo Lula.”
Domingo próximo (04 maio), ocorrerá em Santa Cruz de la Sierra um plebiscito para ratificar o que chamam de "estatuto autonômico". O documento é separatista.
Vejamos o texto do referido site de Portugal:
BOLÍVIA: CONSPIRAÇÃO PARA DIVIDIR
“Após a secessão do Kosovo, província sérvia tornada "independente", é a Bolívia que o imperialismo tenta dividir.
O processo de mudanças em favor da maioria dos bolivianos corre o risco de ser travado brutalmente.
A ascensão ao poder de um presidente indígena, eleito com apoio sem precedentes, e seus programas de beneficio popular e de recuperação dos recursos naturais, tiveram que enfrentar desde os primeiros momentos as conspirações oligárquicas e a ingerência imperial.
Nos últimos dias, a escalada conspirativa atingiu níveis sem precedentes. As ações subversivas e anticonstitucionais dos grupos oligárquicos para dividir o país refletem uma mentalidade racista e elitista. Eles atentam contra a integridade da Bolívia e desestabilizam toda região.
A história mostra as terríveis conseqüências de processos divisionistas e separatistas induzidos e insuflados por interesses estrangeiros.”
O “blog do Nassif” (ver à direita em “recomendamos”) também hoje chama a atenção do leitor (texto a seguir) para o grave risco de esfacelamento da Bolívia, com conseqüências extremamente negativas para o Brasil e para a América do Sul.
“A SECESSÃO BOLIVIANA”
(Por graciliano)
“Nassif, peço licença para fazer um alerta que me parece oportuno e urgente: neste domingo, ocorre no ‘departamento’ (Estado,na Bolívia) de Santa Cruz de la Sierra um plebiscito para ratificar o que chamam de "estatuto autonômico".
O documento é separatista e o governo central, de Evo Morales, poderá ser forçado a reprimir caso vença o "sim".
A oposição oligárquica, que governa os departamentos de Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija (os mais ricos da Bolívia) tem usado de violência sistematicamente, inclusive com grupos de jovens treinados por ex-militares chilenos.
A mídia brasileira não tem dado atenção ao tema, que pode afetar diretamente nosso país e toda a América do Sul. Caso os cruzenhos consigam criar o que chamam "Estado Camba" ("camba" é um patronímico para quem nasce em Santa Cruz), o novo país poderá ser reconhecido imediatamente por países afinados com os EUA, como israel e Colômbia, e, afinal, pelos próprios EUA. Não estou exagerando, baseio-me em visitas recentes àquele país, onde ouvi os vários lados.
Seria importante que o governo brasileiro desestimule oficialmente esta tentativa de secessão no país vizinho, com o qual temos muitos interesses comuns. Além do que não convém a ninguém um enclave militarizado no centro do nosso continente.
Por favor, permita-me chamar a atenção dos comentaristas sobre este assunto, que somente será notícia depois do previsto conflito do dia 4, domingo.”
O “blog do Mello” hoje também enriquece a informação sobre esse sério tema com o texto a seguir (no referido blog consta o link para o vídeo da entrevista por ele citada):
“Documentos comprovam envolvimento dos EUA na tentativa de desestabilização da Bolívia”
“Veja esta entrevista em que a advogada venezuelana-americana Eva Gollinger denuncia, no programa La Hojilla, da emissora venezuelana VTV, o envolvimento direto dos Estados Unidos na vida política boliviana, com o objetivo de fomentar movimentos oposicionistas ao governo de Evo Morales.
Gollinger exibe documentos oficiais do governo americano que comprovam a remessa de milhões de dólares para o patrocínio de movimentos separatistas e golpistas da chamada Media Luna boliviana.
Na entrevista, a advogada apresenta um dossiê sobre o embaixador americano, Philip Goldberd, que serviu como embaixador no episódio separatista do Kosovo, e assumiu o cargo na Bolívia logo após a posse de Evo Morales.
Entre os documentos apresentados por ela há um que mostra que o governo americano paga a jornalistas para escreverem matérias e artigos favoráveis às diretrizes traçadas por Washington.
Nada disso é novidade. É a mesma estratégia aplicada em outros países, desde o Chile de Allende, em 1973, passando pela Venezuela e agora a Bolívia.
Fico pensando quando teremos uma Eva Gollinger brasileira, que denuncie o esquema no Brasil e aponte jornalistas que recebem para desestabilizar o governo Lula.”
terça-feira, 29 de abril de 2008
FORTE ELEVAÇÃO DO SUPERÁVIT PRIMÁRIO DO GOVERNO
O portal UOL Economia – Últimas Notícias publicou, há uma hora atrás, dados divulgados hoje pelo Banco Central referentes ao elevado saldo positivo nas contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central.
Transcrevo o texto do UOL [acréscimos entre colchetes deste blog]:
“Economia do governo para pagar dívida salta 178% e soma R$ 10,753 bi em março”
“A economia de receitas do governo para o pagamento de juros da dívida (o chamado superávit primário) somou R$ 10,753 bilhões em março, volume 178% maior que os R$ 3,864 bilhões registrados no mesmo mês do ano passado. Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Banco Central.
Na comparação com os R$ 5,204 bilhões poupados em fevereiro (este dado foi revisado pelo BC), o superávit primário dobrou - a alta foi de 100,6%. No acumulado do ano, o resultado foi de R$ 31,31 bilhões, aumento de 65,5% sobre período equivalente do ano passado.
Esse resultado tem um lado ruim. O governo consegue o superávit [por exemplo] aumentando impostos [não ocorreu] e deixando de gastar em investimentos em obras e serviços.
Os dados divulgados nesta terça-feira levam em conta a economia feita somente pelo governo federal, o que engloba o Tesouro Nacional, a Previdência Social e o Banco Central. Ainda serão divulgados os números do superávit primário total do poder público, incluindo União, Estados, municípios e empresas estatais.
No mês de março, o Tesouro Nacional teve resultado primário positivo de R$ 13,421 bilhões. O INSS apresentou déficit de R$ 2,635 bilhões e o Banco Central teve saldo negativo de R$ 31,8 milhões.
O resultado primário (que normalmente tem sido positivo, como em março) é a diferença entre as receitas e as despesas do governo, sem contar os gastos com juros. O resultado nominal, freqüentemente deficitário, é aquele que inclui o pagamento de juros.”
Transcrevo o texto do UOL [acréscimos entre colchetes deste blog]:
“Economia do governo para pagar dívida salta 178% e soma R$ 10,753 bi em março”
“A economia de receitas do governo para o pagamento de juros da dívida (o chamado superávit primário) somou R$ 10,753 bilhões em março, volume 178% maior que os R$ 3,864 bilhões registrados no mesmo mês do ano passado. Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Banco Central.
Na comparação com os R$ 5,204 bilhões poupados em fevereiro (este dado foi revisado pelo BC), o superávit primário dobrou - a alta foi de 100,6%. No acumulado do ano, o resultado foi de R$ 31,31 bilhões, aumento de 65,5% sobre período equivalente do ano passado.
Esse resultado tem um lado ruim. O governo consegue o superávit [por exemplo] aumentando impostos [não ocorreu] e deixando de gastar em investimentos em obras e serviços.
Os dados divulgados nesta terça-feira levam em conta a economia feita somente pelo governo federal, o que engloba o Tesouro Nacional, a Previdência Social e o Banco Central. Ainda serão divulgados os números do superávit primário total do poder público, incluindo União, Estados, municípios e empresas estatais.
No mês de março, o Tesouro Nacional teve resultado primário positivo de R$ 13,421 bilhões. O INSS apresentou déficit de R$ 2,635 bilhões e o Banco Central teve saldo negativo de R$ 31,8 milhões.
O resultado primário (que normalmente tem sido positivo, como em março) é a diferença entre as receitas e as despesas do governo, sem contar os gastos com juros. O resultado nominal, freqüentemente deficitário, é aquele que inclui o pagamento de juros.”
GILMAR MENDES (PRESIDENTE DO STF) CONTINUA O MESMO
Antes de tudo, uma pequena lembrança, com a ajuda da “Wikipédia, a enciclopédia livre”.
Gilmar Ferreira Mendes (Diamantino, 30 de dezembro de 1955) é um jurista brasileiro. Foi nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso como Ministro do Supremo Tribunal Federal, com posse em 20 de junho de 2002. Em 2008 tornou-se presidente da Suprema Corte brasileira.
Segundo a imprensa da época, ele tornou-se famoso por “engavetar”, por arquivar processos que causassem algum desconforto para o governo PSDB/PFL/FHC.
Em janeiro de 2000, foi nomeado por FHC para ser o Advogado-Geral da União. Sua atuação no cargo o credenciou para a indicação, por FHC, a ministro do Supremo Tribunal Federal, em junho de 2002. Foi empossado presidente do STF para o biênio 2008-2010 em 23 de abril de 2008.
Por coincidência, em coerência com a sua fama então divulgada pela imprensa, hoje, apenas cinco dias após a sua assunção como presidente do STF, já são publicados novos “engavetamentos” convenientes ao PSDB/DEM-PFL.
Vejamos o que publicou a Folha de São Paulo de hoje (29):
“PRESIDENTE DO STF ARQUIVA DUAS AÇÕES CONTRA MINISTROS DE FHC”
“O novo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, arquivou duas ações de improbidade administrativa contra os ex-ministros do governo Fernando Henrique, Pedro Malan (Fazenda), José Serra (Planejamento) e Pedro Parente (Casa Civil).
As ações haviam sido protocoladas pelo Ministério Público Federal na Justiça Federal do DF, que questionava o repasse de cerca de R$ 3 bilhões pelo PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) para assistência financeira ao Banco Econômico S.A e ao Banco Bamerindus.
Em uma delas, que já havia sido julgada pela Justiça Federal, os ex-ministros foram condenados a devolver os recursos repassados. Em 2002, recorreram ao STF, alegando que não podiam ser julgados por aquela instância. O caso foi distribuído a Mendes.
A decisão de Mendes foi tomada no último dia 22 de abril, um dia antes de sua posse na presidência do STF. Sua interpretação baseou-se em julgamento do ano passado do tribunal, que decidiu que autoridades públicas, como ministros de Estado e presidente da República, não podem ser alvo de processos por improbidade administrativa. Podem ser processados por crime de responsabilidade ou crime comum.
Na ocasião, o plenário do STF arquivou ação contra o ex-ministro Ronaldo Sardenberg (Ciência e Tecnologia), do governo FHC. Ele fora condenado pela Justiça Federal à suspensão dos direitos políticos por oito anos por uso de avião oficial para viagens de passeio.”
Gilmar Ferreira Mendes (Diamantino, 30 de dezembro de 1955) é um jurista brasileiro. Foi nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso como Ministro do Supremo Tribunal Federal, com posse em 20 de junho de 2002. Em 2008 tornou-se presidente da Suprema Corte brasileira.
Segundo a imprensa da época, ele tornou-se famoso por “engavetar”, por arquivar processos que causassem algum desconforto para o governo PSDB/PFL/FHC.
Em janeiro de 2000, foi nomeado por FHC para ser o Advogado-Geral da União. Sua atuação no cargo o credenciou para a indicação, por FHC, a ministro do Supremo Tribunal Federal, em junho de 2002. Foi empossado presidente do STF para o biênio 2008-2010 em 23 de abril de 2008.
Por coincidência, em coerência com a sua fama então divulgada pela imprensa, hoje, apenas cinco dias após a sua assunção como presidente do STF, já são publicados novos “engavetamentos” convenientes ao PSDB/DEM-PFL.
Vejamos o que publicou a Folha de São Paulo de hoje (29):
“PRESIDENTE DO STF ARQUIVA DUAS AÇÕES CONTRA MINISTROS DE FHC”
“O novo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, arquivou duas ações de improbidade administrativa contra os ex-ministros do governo Fernando Henrique, Pedro Malan (Fazenda), José Serra (Planejamento) e Pedro Parente (Casa Civil).
As ações haviam sido protocoladas pelo Ministério Público Federal na Justiça Federal do DF, que questionava o repasse de cerca de R$ 3 bilhões pelo PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) para assistência financeira ao Banco Econômico S.A e ao Banco Bamerindus.
Em uma delas, que já havia sido julgada pela Justiça Federal, os ex-ministros foram condenados a devolver os recursos repassados. Em 2002, recorreram ao STF, alegando que não podiam ser julgados por aquela instância. O caso foi distribuído a Mendes.
A decisão de Mendes foi tomada no último dia 22 de abril, um dia antes de sua posse na presidência do STF. Sua interpretação baseou-se em julgamento do ano passado do tribunal, que decidiu que autoridades públicas, como ministros de Estado e presidente da República, não podem ser alvo de processos por improbidade administrativa. Podem ser processados por crime de responsabilidade ou crime comum.
Na ocasião, o plenário do STF arquivou ação contra o ex-ministro Ronaldo Sardenberg (Ciência e Tecnologia), do governo FHC. Ele fora condenado pela Justiça Federal à suspensão dos direitos políticos por oito anos por uso de avião oficial para viagens de passeio.”
POR QUE O ENVIO DE LUCROS PARA O EXTERIOR BATE RECORDES?
Os jornais de hoje estão transmitindo essa notícia deixando no leitor a impressão de que ela é conseqüência da política econômica do governo Lula.
Precisamos relembrar quando o problema foi criado no Brasil.
Em um certo momento da nossa história, o parque industrial brasileiro foi passado quase integralmente para a propriedade estrangeira. Ao final do governo PSDB/DEM-PFL/FHC, cerca de 70% das empresas “brasileiras” exportadoras já pertencia a estrangeiros.
Eles, logicamente, passaram a remeter para suas matrizes os lucros aqui obtidos. Hoje, com a economia brasileira crescendo fortemente, a remessa de lucros para o exterior também cresce.
Este blog já abordou esse problema no artigo de 26 de janeiro último de título “A transferência para estrangeiros da propriedade de empresas estratégicas”. Transcrevo a primeira parte daquela postagem:
“O câncer de entregar (para estados ou empresas estrangeiras) as empresas brasileiras estratégicas não foi extirpado.
Essa doença foi dolosamente inoculada no Brasil e em outros países especialmente na década de 90, disfarçada com eufemismos: "modernidade", nova ordem mundial", "globalização", “Consenso de Washington” etc.
Aqui diziam que "deveríamos deixar de se proteger, de querer se industrializar e de se desenvolver tecnologicamente. Deveríamos passar a lutar no mercado liberalizado em igualdade de condições com as potências econômicas mundiais. Porque, assim, encontraríamos os nichos de oportunidade e o progresso que nos fosse possível na nova ordem internacional. A mágica do mercado solucionaria tudo sozinha, sem intervenção dos Estados".
Haveria no Brasil, em conseqüência, segundo eles, "o violento e benéfico choque de competição com produtos importados dos países já desenvolvidos, mais competitivos".
Omitiam que as grandes potências hoje são competitivas, desenvolvidas e ricas porque melhor protegeram suas indústrias e produtos; e ainda os amparam fortemente. A nossa imprensa nos diz o contrário, mas o Estado naqueles países é forte e intervencionista.
A "modernidade" nos foi imposta, inclusive por meio dos diversos acordos com o FMI.
Os poucos países que não obedeceram plenamente aquelas diretrizes tornaram-se os bem-sucedidos, especialmente a China, Índia, Coréia do Sul.
Por absurdo, os mesmos brasileiros que contribuíram na década de 90 para o nosso distanciamento dessas novas potências emergentes, são os mesmos que hoje debocham e cobram do governo atual não termos os mesmos sucessos da China...
O pior é que, apesar da quase falência que causou em muitos países (como Argentina e Brasil), a moléstia ainda persiste no Brasil, nas mentes e corações de muitos brasileiros, especialmente nos que se intitulam "elite conservadora" e na grande mídia que a apóia radicalmente.
Em resumo, no nosso caso, qual a maldade que havia por trás daquelas imposições dos EUA, do FMI, do G-7?
Ela nunca era explicitada. Contudo, era evidente que, entre os principais motivos, estava o seguinte: não queriam no Brasil o Estado empresário, ou forte e regulador que viesse a nos colocar em condições de competir com os ricos.
Por quê? Porque o Estado forte em país pobre é o único com alguma dimensão econômica para fazer empresas brasileiras ao menos fortes o suficiente para competirem com as grandes empresas dos EUA e do Primeiro Mundo no mercado nacional e em nossos setores estratégicos ou altamente lucrativos.
Assim, na década de 90, veio a ocorrer no Brasil o ápice da doença. A prioridade era vender, desestatizar e desnacionalizar. Prioritariamente, desnacionalizar as empresas estrategicamente mais importantes para o desenvolvimento nacional e as mais lucrativas, especialmente as que vendem em moeda forte (ex.: EMBRAER, Vale do Rio Doce, EMBRATEL).
A muito estimulada e "arrojada" desnacionalização do parque industrial brasileiro e do setor público de serviços foi financiada com dinheiro nacional, em sua maior parte. Foram utilizados recursos públicos como os do BNDES, a serem pagos pelos compradores estrangeiros com juros baixos, suavemente, com fracas ou inócuas exigências de garantias.
O pior de tudo até hoje é omitido. Muitas empresas não foram "privatizadas" como dizem. Elas foram REESTATIZADAS para empresas estatais estrangeiras!
Os brasileiros não sabem, mas muitas das nossas empresas, a EMBRAER, por exemplo, no governo FHC praticamente passaram para o controle de Estado estrangeiro.
Hoje, a propriedade da EMBRAER e de muitas outras, até mesmo a PETROBRAS, a VALE, está em mãos estrangeiras em boa parte!”
Assim, como acima exposto no citado artigo deste blog, o parque industrial e exportador brasileiro passou para mãos estrangeiras. Essas mãos, naturalmente, passaram a remeter seus lucros para seus países.
Como corrigir isso? É muito difícil em prazo curto. O mal já foi inoculado no Brasil como um câncer. As curas são longas e difíceis. Qualquer arremedo de “nacionalização” é intensamente criticado no exterior e no país pela imprensa defensora de grandes interesses econômicos externos, como ocorre na Venezuela e na Bolívia.
O Brasil terá que encontrar suas próprias soluções mais palatáveis para o mundo capitalista.
Vejamos a notícia publicada hoje pelo jornal Folha de São Paulo, em texto de Ney Hayashi da Cruz, da sucursal de Brasília:
ENVIO DE LUCROS PARA O EXTERIOR ATINGE RECORDE
“Com aumento de 39% nas remessas e queda do saldo comercial, contas externas têm pior resultado desde outubro de 98”.
“Déficit nas transações correntes soma US$ 10,8 bi até março, próximo do saldo negativo de US$ 12 bi que o BC prevê para o ano todo”.
“As remessas de lucros para o exterior voltaram a bater recorde no mês passado, chegando a US$ 4,345 bilhões e superando em 39% a marca anterior, que havia sido alcançada em dezembro do ano passado. Isso fez com que as contas externas do Brasil atingissem seu pior resultado em quase dez anos, segundo o Banco Central.
(...) O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a volta do déficit nas contas externas já era esperada. "Os números mostram uma certa deterioração no resultado de transações correntes neste início de ano. É um quadro de menor saldo comercial e remessas de lucros bem mais elevadas", afirma.
Para Lopes, o crescimento no envio de dividendos ao exterior não preocupa, pois indica que as empresas que atuam no Brasil estão tendo ganhos também elevados. "Se não estivessem tendo lucro, não iriam remeter [para fora do país]."
Precisamos relembrar quando o problema foi criado no Brasil.
Em um certo momento da nossa história, o parque industrial brasileiro foi passado quase integralmente para a propriedade estrangeira. Ao final do governo PSDB/DEM-PFL/FHC, cerca de 70% das empresas “brasileiras” exportadoras já pertencia a estrangeiros.
Eles, logicamente, passaram a remeter para suas matrizes os lucros aqui obtidos. Hoje, com a economia brasileira crescendo fortemente, a remessa de lucros para o exterior também cresce.
Este blog já abordou esse problema no artigo de 26 de janeiro último de título “A transferência para estrangeiros da propriedade de empresas estratégicas”. Transcrevo a primeira parte daquela postagem:
“O câncer de entregar (para estados ou empresas estrangeiras) as empresas brasileiras estratégicas não foi extirpado.
Essa doença foi dolosamente inoculada no Brasil e em outros países especialmente na década de 90, disfarçada com eufemismos: "modernidade", nova ordem mundial", "globalização", “Consenso de Washington” etc.
Aqui diziam que "deveríamos deixar de se proteger, de querer se industrializar e de se desenvolver tecnologicamente. Deveríamos passar a lutar no mercado liberalizado em igualdade de condições com as potências econômicas mundiais. Porque, assim, encontraríamos os nichos de oportunidade e o progresso que nos fosse possível na nova ordem internacional. A mágica do mercado solucionaria tudo sozinha, sem intervenção dos Estados".
Haveria no Brasil, em conseqüência, segundo eles, "o violento e benéfico choque de competição com produtos importados dos países já desenvolvidos, mais competitivos".
Omitiam que as grandes potências hoje são competitivas, desenvolvidas e ricas porque melhor protegeram suas indústrias e produtos; e ainda os amparam fortemente. A nossa imprensa nos diz o contrário, mas o Estado naqueles países é forte e intervencionista.
A "modernidade" nos foi imposta, inclusive por meio dos diversos acordos com o FMI.
Os poucos países que não obedeceram plenamente aquelas diretrizes tornaram-se os bem-sucedidos, especialmente a China, Índia, Coréia do Sul.
Por absurdo, os mesmos brasileiros que contribuíram na década de 90 para o nosso distanciamento dessas novas potências emergentes, são os mesmos que hoje debocham e cobram do governo atual não termos os mesmos sucessos da China...
O pior é que, apesar da quase falência que causou em muitos países (como Argentina e Brasil), a moléstia ainda persiste no Brasil, nas mentes e corações de muitos brasileiros, especialmente nos que se intitulam "elite conservadora" e na grande mídia que a apóia radicalmente.
Em resumo, no nosso caso, qual a maldade que havia por trás daquelas imposições dos EUA, do FMI, do G-7?
Ela nunca era explicitada. Contudo, era evidente que, entre os principais motivos, estava o seguinte: não queriam no Brasil o Estado empresário, ou forte e regulador que viesse a nos colocar em condições de competir com os ricos.
Por quê? Porque o Estado forte em país pobre é o único com alguma dimensão econômica para fazer empresas brasileiras ao menos fortes o suficiente para competirem com as grandes empresas dos EUA e do Primeiro Mundo no mercado nacional e em nossos setores estratégicos ou altamente lucrativos.
Assim, na década de 90, veio a ocorrer no Brasil o ápice da doença. A prioridade era vender, desestatizar e desnacionalizar. Prioritariamente, desnacionalizar as empresas estrategicamente mais importantes para o desenvolvimento nacional e as mais lucrativas, especialmente as que vendem em moeda forte (ex.: EMBRAER, Vale do Rio Doce, EMBRATEL).
A muito estimulada e "arrojada" desnacionalização do parque industrial brasileiro e do setor público de serviços foi financiada com dinheiro nacional, em sua maior parte. Foram utilizados recursos públicos como os do BNDES, a serem pagos pelos compradores estrangeiros com juros baixos, suavemente, com fracas ou inócuas exigências de garantias.
O pior de tudo até hoje é omitido. Muitas empresas não foram "privatizadas" como dizem. Elas foram REESTATIZADAS para empresas estatais estrangeiras!
Os brasileiros não sabem, mas muitas das nossas empresas, a EMBRAER, por exemplo, no governo FHC praticamente passaram para o controle de Estado estrangeiro.
Hoje, a propriedade da EMBRAER e de muitas outras, até mesmo a PETROBRAS, a VALE, está em mãos estrangeiras em boa parte!”
Assim, como acima exposto no citado artigo deste blog, o parque industrial e exportador brasileiro passou para mãos estrangeiras. Essas mãos, naturalmente, passaram a remeter seus lucros para seus países.
Como corrigir isso? É muito difícil em prazo curto. O mal já foi inoculado no Brasil como um câncer. As curas são longas e difíceis. Qualquer arremedo de “nacionalização” é intensamente criticado no exterior e no país pela imprensa defensora de grandes interesses econômicos externos, como ocorre na Venezuela e na Bolívia.
O Brasil terá que encontrar suas próprias soluções mais palatáveis para o mundo capitalista.
Vejamos a notícia publicada hoje pelo jornal Folha de São Paulo, em texto de Ney Hayashi da Cruz, da sucursal de Brasília:
ENVIO DE LUCROS PARA O EXTERIOR ATINGE RECORDE
“Com aumento de 39% nas remessas e queda do saldo comercial, contas externas têm pior resultado desde outubro de 98”.
“Déficit nas transações correntes soma US$ 10,8 bi até março, próximo do saldo negativo de US$ 12 bi que o BC prevê para o ano todo”.
“As remessas de lucros para o exterior voltaram a bater recorde no mês passado, chegando a US$ 4,345 bilhões e superando em 39% a marca anterior, que havia sido alcançada em dezembro do ano passado. Isso fez com que as contas externas do Brasil atingissem seu pior resultado em quase dez anos, segundo o Banco Central.
(...) O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a volta do déficit nas contas externas já era esperada. "Os números mostram uma certa deterioração no resultado de transações correntes neste início de ano. É um quadro de menor saldo comercial e remessas de lucros bem mais elevadas", afirma.
Para Lopes, o crescimento no envio de dividendos ao exterior não preocupa, pois indica que as empresas que atuam no Brasil estão tendo ganhos também elevados. "Se não estivessem tendo lucro, não iriam remeter [para fora do país]."
segunda-feira, 28 de abril de 2008
A DIPLOMACIA DOS EUA AINDA É A DO “BIG STICK”
O jornal New York Times de hoje traz um longo artigo de Jimmy Carter, o 39º presidente dos EUA, fundador do Centro Carter e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2002.
O texto do jornal norte-americano foi traduzido e publicado pelo UOL Mídia Global, e tanto nesse site quanto no do New York Times o artigo consta na íntegra.
Reproduzo somente o seu início:
“JIMMY CARTER: DIPLOMACIA PÁRIA
“Uma política contraproducente de Washington em anos recentes tem sido a de boicotar e punir facções locais ou governos que se recusam a aceitar diretivas dos Estados Unidos.
Essa política torna difícil a possibilidade de que tais líderes possam moderar suas políticas.”
O texto do jornal norte-americano foi traduzido e publicado pelo UOL Mídia Global, e tanto nesse site quanto no do New York Times o artigo consta na íntegra.
Reproduzo somente o seu início:
“JIMMY CARTER: DIPLOMACIA PÁRIA
“Uma política contraproducente de Washington em anos recentes tem sido a de boicotar e punir facções locais ou governos que se recusam a aceitar diretivas dos Estados Unidos.
Essa política torna difícil a possibilidade de que tais líderes possam moderar suas políticas.”
HELIO JAGUARIBE: “O JARDIM ANTROPOLÓGICO É UMA INSENSATEZ”
O jornal Folha de São Paulo publicou ontem (27) um importante artigo de Hélio Jaguaribe, oportuno para o presente debate sobre a política indigenista no Brasil.
Segundo consta no wikipedia, o autor é sociólogo, decano emérito do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (RJ), membro da Academia Brasileira de Letras e autor de, entre outras obras, "Um Estudo Crítico da História".
Em 1946, Jaguaribe graduou-se na área de Direito, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Em 1983 recebeu o grau de Doutor Honoris Causa da Universidade de Johanes Gutenberg, na cidade alemã de Mainz. Nove anos depois, em 1992, foi a Universidade Federal da Paraíba que lhe deu o mesmo título. Recebeu também o grau pela Universidade de Buenos Aires, na Argentina.
Em 1964, Jaguaribe criticou publicamente o golpe militar que derrubou o governo do então presidente da república, João Goulart. Por causa disso, Jaguaribe saiu do Brasil, indo morar nos Estados Unidos. Lá, lecionou em três instituições. São elas:
• Universidade de Harvard (de 1964 a 1966);
• Universidade de Stanford (de 1966 a 1967);
• Massachusetts Institute of Technology (MIT) (de 1968 a 1969).
Jaguaribe retornou ao Brasil em meados de 1969.
Reproduzo o artigo de Hélio Jaguaribe:
“AS TERRAS INDÍGENAS SÃO UMA AMEAÇA À SOBERANIA NACIONAL?
SIM
O “JARDIM ANTROPOLÓGICO” É UMA INSENSATEZ
Todos os países americanos se confrontaram com a questão indígena. É indiscutível que em todos eles a relação entre europeus colonizadores e a população nativa foi originariamente conflituosa. Esse conflito conduziu ao extermínio das populações costeiras (Brasil), levando os nativos a se refugiarem no interior remoto de cada um desses países.
É a partir, sobretudo, do século 19 que se diferenciam a conduta dos europeus e a de seus descendentes nas Américas. Nos EUA, a opção da população branca foi o extermínio dos nativos: "a good indian is a dead indian".
O Brasil não teve política indigenista até o início do século 20. O índio foi romantizado por José de Alencar e outros. Mas a conduta real, por parte dos que se adentraram pelo Oeste, foi de espoliação das terras indígenas, com violenta expulsão dos nativos.
A política indigenista no Brasil não foi, originariamente, formulada pelo governo federal, e sim por esse grande pioneiro que foi o general Rondon.
Encarregada da extensão das linhas telegráficas até Cuiabá, a Missão Rondon, como foi designada, se defrontou com as populações indígenas do interior do país. A política adotada por Rondon foi a de total respeito aos índios, reconhecidos como legítimos proprietários das terras.
Meu saudoso pai, general Francisco Jaguaribe de Mattos, então jovem capitão, foi o geógrafo e cartógrafo da missão. Dele tenho narrativas diretas de como se procedia então. Seus membros, nos freqüentes encontros com os índios, os abordavam pacificamente, incorporando os que desejassem. O lema de Rondon era: "Morrer se necessário, matar, nunca".
A política indigenista de Rondon partia do suposto de que o índio era o brasileiro nativo, que devia ser tratado respeitosamente pelos civilizados e induzido, pacificamente, a se incorporar à cidadania, recebendo conveniente educação e assistência.
A República manteve a política indigenista de Rondon. De acordo com suas idéias (ele mesmo tendo ascendência indígena), estimava-se que, gradualmente, a total população indígena, ora da ordem de 700 mil entre 190 milhões de habitantes, seria incorporada à cidadania brasileira.
Em anos mais recentes, a política indigenista brasileira passou a ser orientada por etnólogos. Estes, diversamente de Rondon, não intentavam a pacífica incorporação do índio, mas a preservação das culturas indígenas. Para isso, adotou-se a prática da delimitação de amplas áreas nos sítios povoados por índios, como reservas.
A política de reservas vem sendo aplicada sem levar em conta os imperativos de defesa nacional, o que ocorre nos diversos casos em que elas se estendem até nossas fronteiras com países vizinhos. As autoridades militares têm alertado o governo, com toda a razão, sobre o perigo da prática.
Por essas e outras razões, a política indigenista brasileira requer uma urgente a ampla revisão. Desde logo, independentemente da nova orientação que se lhe dê, é preciso estabelecer uma faixa que acompanhe as fronteiras do Brasil com outros países e dela excluir as reservas indígenas. Em termos mais amplos, importa questionar: que objetivos deve ter tal política, ademais da proteção do índio?
Por outro lado, a perpetuação de culturas nativas, em que se fundamenta, no Brasil, a política de reservas, carece de sentido. Em termos antropológicos, pois é impossível sustar o processo civilizatório. As populações civilizadas do mundo são descendentes de populações tribais, que seguiram, em todos os países, o secular caminho que leva os paleolíticos a se transformarem em neolíticos e estes, em civilizados.
Criar um "jardim antropológico", à semelhança de um jardim zoológico, é uma insensatez. Cabe ao governo federal zelar pela unidade do país, e não contribuir para autonomizar supostas nações indígenas que, no limite do caso, poderiam apelar para a ONU para lhes salvaguardar a independência e ser objeto de penetração estrangeira.
A nossa política indigenista não pode ter outro objetivo senão o da incorporação pacífica do índio à cidadania brasileira, para tal lhe dando toda a assistência requerida: sanitária, educacional e profissional.”
Segundo consta no wikipedia, o autor é sociólogo, decano emérito do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (RJ), membro da Academia Brasileira de Letras e autor de, entre outras obras, "Um Estudo Crítico da História".
Em 1946, Jaguaribe graduou-se na área de Direito, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Em 1983 recebeu o grau de Doutor Honoris Causa da Universidade de Johanes Gutenberg, na cidade alemã de Mainz. Nove anos depois, em 1992, foi a Universidade Federal da Paraíba que lhe deu o mesmo título. Recebeu também o grau pela Universidade de Buenos Aires, na Argentina.
Em 1964, Jaguaribe criticou publicamente o golpe militar que derrubou o governo do então presidente da república, João Goulart. Por causa disso, Jaguaribe saiu do Brasil, indo morar nos Estados Unidos. Lá, lecionou em três instituições. São elas:
• Universidade de Harvard (de 1964 a 1966);
• Universidade de Stanford (de 1966 a 1967);
• Massachusetts Institute of Technology (MIT) (de 1968 a 1969).
Jaguaribe retornou ao Brasil em meados de 1969.
Reproduzo o artigo de Hélio Jaguaribe:
“AS TERRAS INDÍGENAS SÃO UMA AMEAÇA À SOBERANIA NACIONAL?
SIM
O “JARDIM ANTROPOLÓGICO” É UMA INSENSATEZ
Todos os países americanos se confrontaram com a questão indígena. É indiscutível que em todos eles a relação entre europeus colonizadores e a população nativa foi originariamente conflituosa. Esse conflito conduziu ao extermínio das populações costeiras (Brasil), levando os nativos a se refugiarem no interior remoto de cada um desses países.
É a partir, sobretudo, do século 19 que se diferenciam a conduta dos europeus e a de seus descendentes nas Américas. Nos EUA, a opção da população branca foi o extermínio dos nativos: "a good indian is a dead indian".
O Brasil não teve política indigenista até o início do século 20. O índio foi romantizado por José de Alencar e outros. Mas a conduta real, por parte dos que se adentraram pelo Oeste, foi de espoliação das terras indígenas, com violenta expulsão dos nativos.
A política indigenista no Brasil não foi, originariamente, formulada pelo governo federal, e sim por esse grande pioneiro que foi o general Rondon.
Encarregada da extensão das linhas telegráficas até Cuiabá, a Missão Rondon, como foi designada, se defrontou com as populações indígenas do interior do país. A política adotada por Rondon foi a de total respeito aos índios, reconhecidos como legítimos proprietários das terras.
Meu saudoso pai, general Francisco Jaguaribe de Mattos, então jovem capitão, foi o geógrafo e cartógrafo da missão. Dele tenho narrativas diretas de como se procedia então. Seus membros, nos freqüentes encontros com os índios, os abordavam pacificamente, incorporando os que desejassem. O lema de Rondon era: "Morrer se necessário, matar, nunca".
A política indigenista de Rondon partia do suposto de que o índio era o brasileiro nativo, que devia ser tratado respeitosamente pelos civilizados e induzido, pacificamente, a se incorporar à cidadania, recebendo conveniente educação e assistência.
A República manteve a política indigenista de Rondon. De acordo com suas idéias (ele mesmo tendo ascendência indígena), estimava-se que, gradualmente, a total população indígena, ora da ordem de 700 mil entre 190 milhões de habitantes, seria incorporada à cidadania brasileira.
Em anos mais recentes, a política indigenista brasileira passou a ser orientada por etnólogos. Estes, diversamente de Rondon, não intentavam a pacífica incorporação do índio, mas a preservação das culturas indígenas. Para isso, adotou-se a prática da delimitação de amplas áreas nos sítios povoados por índios, como reservas.
A política de reservas vem sendo aplicada sem levar em conta os imperativos de defesa nacional, o que ocorre nos diversos casos em que elas se estendem até nossas fronteiras com países vizinhos. As autoridades militares têm alertado o governo, com toda a razão, sobre o perigo da prática.
Por essas e outras razões, a política indigenista brasileira requer uma urgente a ampla revisão. Desde logo, independentemente da nova orientação que se lhe dê, é preciso estabelecer uma faixa que acompanhe as fronteiras do Brasil com outros países e dela excluir as reservas indígenas. Em termos mais amplos, importa questionar: que objetivos deve ter tal política, ademais da proteção do índio?
Por outro lado, a perpetuação de culturas nativas, em que se fundamenta, no Brasil, a política de reservas, carece de sentido. Em termos antropológicos, pois é impossível sustar o processo civilizatório. As populações civilizadas do mundo são descendentes de populações tribais, que seguiram, em todos os países, o secular caminho que leva os paleolíticos a se transformarem em neolíticos e estes, em civilizados.
Criar um "jardim antropológico", à semelhança de um jardim zoológico, é uma insensatez. Cabe ao governo federal zelar pela unidade do país, e não contribuir para autonomizar supostas nações indígenas que, no limite do caso, poderiam apelar para a ONU para lhes salvaguardar a independência e ser objeto de penetração estrangeira.
A nossa política indigenista não pode ter outro objetivo senão o da incorporação pacífica do índio à cidadania brasileira, para tal lhe dando toda a assistência requerida: sanitária, educacional e profissional.”
GRANDE BASE DOS EUA NO PARAGUAI?
PARA FACILITAR FUTUROS DESDOBRAMENTOS DE FORÇAS NA AMÉRICA DO SUL?
BOATO?
O blog “Vi o mundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha (ver “recomendamos”) publicou ontem na hora do almoço um artigo que expõe que “o ‘copy and paste’ reina e a internet permite que um boato circule o mundo com uma rapidez inimaginável no século 20”. O título do texto é: “Internet: quando a crença se sobrepõe aos fatos”.
O autor exemplifica como boato a informação de terem sido construídas em região remota do Paraguai enormes instalações para apoio a operações aéreas dos EUA. Elas estão sem uso até hoje.
Reproduzo o trecho final do artigo do Azenha:
“O copy and paste reina e a internet permite que um boato circule o mundo com uma rapidez inimaginável no século 20.
Hoje, intelectuais, escritores, historiadores e jornalistas de todas as cepas acreditam que existe, no Chaco paraguaio, uma base militar dos Estados Unidos, no aeroporto de Mariscal Estigarribia.
Quem se baseia em consultas na internet pode obter, em inglês, espanhol e outros idiomas, mais do que duas fontes para sustentar esse "fato".
Porém, como pude constatar pessoalmente, a pedido da revista Carta Capital, a base não existe, nem instalações capazes de receber milhares de soldados estadunidenses. Trata-se de um gigantesco aeroporto, sim, mas vazio. Podemos especular à vontade a respeito do futuro uso dele, mas o fato é que, atualmente, não abriga militares dos Estados Unidos.
Neste caso específico podemos dizer que a crença se sobrepôs aos fatos.”
CONTESTAÇÃO
Um leitor, Murillo Paiva, postou pouco antes da meia-noite um interessante comentário sobre esse artigo do Azenha, afirmando a existência daquelas instalações e acrescentando outros dados importantes. Reproduzo:
“Murillo Paiva (27/04/2008 - 23:48)
“A foto de seu texto nos mostra a pista do Aeroporto de Estigarríbia, no meio do deserto Paraguaio. Construída por técnicos dos EUA, com 3.800 metros de comprimento e 80 de largura, o dobro da pista de Assunção e em perfeitas condições de uso.
Os especialistas asseguram que é tão sólida e ampla que pode receber aviões de grande envergadura , como bombardeiros e de transporte de tropas e material militar de grande peso (B-52, C-130 Hércules, C-5 Galaxy y KC 135, entre outros).
Mas é totalmente superdimensionada para as necessidades da Força Aérea Paraguaia, que opera com apenas 8 aviões Xavante e Pillán de médio porte, e oito avionetas Cessna de treinamento.
Esta base conta com um enorme radar hoje inativo para controle do tráfego aéreo, sistemas de aterrissagem noturna, bombas de reabastecimento de combustível e amplos hangares.
As suspeitas de que os EUA estariam para instalar aí uma base militar se acenderam quando o Congresso paraguaio aprovou uma lei (26/05/2005) que concedia imunidade a tropas dos EUA em território paraguaio, além de autorizar a entrada de 400 soldados norte-americanos para "exercícios de treinamento e doutrinamento em temas de segurança e defesa".
E esta autorização nunca foi tão extensa - por 18 meses, prorrogáveis.
Esta pista descomunal no meio deserto está a 200 km da fronteira com a Bolívia e outro tanto da Tríplice Fronteira, além de se assentar sobre o Aqüífero Guarani.”
CONTRADIÇÃO
O jornalista Azenha respondeu ao comentário nove minutos após. Transcrevo:
“Luiz Carlos Azenha (27/04/2008 - 23:57)
Murillo, eu estive lá e obtive uma cópia do mapa oficial da pista, além de andar de automóvel na própria. Tem 3.500 metros por 40. Não há prova, nem indício, de participação dos Estados Unidos na construção da pista. O restante é verdadeiro.”
Fiquei confuso.
Se tudo o que disse o leitor Murillo Paiva “é verdadeiro” segundo Azenha, exceto os detalhes de comprimento e largura da pista (que não retiram seu status de grandes dimensões) e de os EUA apareceram ou não explicitamente como os construtores da obra, todas as demais informações confirmadas por Azenha já são altamente preocupantes para a segurança nacional brasileira.
O fato de ainda estar vazia, de não estar sendo utilizada pelos EUA para grandes desdobramentos militares no “cone sul” da América Latina, não nos tranqüiliza em nada!
Não é “uma crença que se sobrepôs aos fatos”. É um “fato” real e muito importante!
BOATO?
O blog “Vi o mundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha (ver “recomendamos”) publicou ontem na hora do almoço um artigo que expõe que “o ‘copy and paste’ reina e a internet permite que um boato circule o mundo com uma rapidez inimaginável no século 20”. O título do texto é: “Internet: quando a crença se sobrepõe aos fatos”.
O autor exemplifica como boato a informação de terem sido construídas em região remota do Paraguai enormes instalações para apoio a operações aéreas dos EUA. Elas estão sem uso até hoje.
Reproduzo o trecho final do artigo do Azenha:
“O copy and paste reina e a internet permite que um boato circule o mundo com uma rapidez inimaginável no século 20.
Hoje, intelectuais, escritores, historiadores e jornalistas de todas as cepas acreditam que existe, no Chaco paraguaio, uma base militar dos Estados Unidos, no aeroporto de Mariscal Estigarribia.
Quem se baseia em consultas na internet pode obter, em inglês, espanhol e outros idiomas, mais do que duas fontes para sustentar esse "fato".
Porém, como pude constatar pessoalmente, a pedido da revista Carta Capital, a base não existe, nem instalações capazes de receber milhares de soldados estadunidenses. Trata-se de um gigantesco aeroporto, sim, mas vazio. Podemos especular à vontade a respeito do futuro uso dele, mas o fato é que, atualmente, não abriga militares dos Estados Unidos.
Neste caso específico podemos dizer que a crença se sobrepôs aos fatos.”
CONTESTAÇÃO
Um leitor, Murillo Paiva, postou pouco antes da meia-noite um interessante comentário sobre esse artigo do Azenha, afirmando a existência daquelas instalações e acrescentando outros dados importantes. Reproduzo:
“Murillo Paiva (27/04/2008 - 23:48)
“A foto de seu texto nos mostra a pista do Aeroporto de Estigarríbia, no meio do deserto Paraguaio. Construída por técnicos dos EUA, com 3.800 metros de comprimento e 80 de largura, o dobro da pista de Assunção e em perfeitas condições de uso.
Os especialistas asseguram que é tão sólida e ampla que pode receber aviões de grande envergadura , como bombardeiros e de transporte de tropas e material militar de grande peso (B-52, C-130 Hércules, C-5 Galaxy y KC 135, entre outros).
Mas é totalmente superdimensionada para as necessidades da Força Aérea Paraguaia, que opera com apenas 8 aviões Xavante e Pillán de médio porte, e oito avionetas Cessna de treinamento.
Esta base conta com um enorme radar hoje inativo para controle do tráfego aéreo, sistemas de aterrissagem noturna, bombas de reabastecimento de combustível e amplos hangares.
As suspeitas de que os EUA estariam para instalar aí uma base militar se acenderam quando o Congresso paraguaio aprovou uma lei (26/05/2005) que concedia imunidade a tropas dos EUA em território paraguaio, além de autorizar a entrada de 400 soldados norte-americanos para "exercícios de treinamento e doutrinamento em temas de segurança e defesa".
E esta autorização nunca foi tão extensa - por 18 meses, prorrogáveis.
Esta pista descomunal no meio deserto está a 200 km da fronteira com a Bolívia e outro tanto da Tríplice Fronteira, além de se assentar sobre o Aqüífero Guarani.”
CONTRADIÇÃO
O jornalista Azenha respondeu ao comentário nove minutos após. Transcrevo:
“Luiz Carlos Azenha (27/04/2008 - 23:57)
Murillo, eu estive lá e obtive uma cópia do mapa oficial da pista, além de andar de automóvel na própria. Tem 3.500 metros por 40. Não há prova, nem indício, de participação dos Estados Unidos na construção da pista. O restante é verdadeiro.”
Fiquei confuso.
Se tudo o que disse o leitor Murillo Paiva “é verdadeiro” segundo Azenha, exceto os detalhes de comprimento e largura da pista (que não retiram seu status de grandes dimensões) e de os EUA apareceram ou não explicitamente como os construtores da obra, todas as demais informações confirmadas por Azenha já são altamente preocupantes para a segurança nacional brasileira.
O fato de ainda estar vazia, de não estar sendo utilizada pelos EUA para grandes desdobramentos militares no “cone sul” da América Latina, não nos tranqüiliza em nada!
Não é “uma crença que se sobrepôs aos fatos”. É um “fato” real e muito importante!
2010: COM LULA CANDIDATO, SERRA PERDE FEIO
O blog do Noblat publicou há pouco a parte da pesquisa CNT/Sensus divulgada hoje que mais interessou àquele jornalista das Organizações Globo. É a que destaca que o atual governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ganharia as eleições (sem Lula candidato) para presidente da república em 2010 se as eleições fossem hoje, mais de dois anos antes.
Contudo, passou quase despercebido que, segundo a pesquisa espontânea, feita sem apresentar nomes para o pesquisado escolher, Lula venceria disparado se fosse candidato (hipótese nula hoje), com seis vezes mais votos do que Serra, com 29,4% contra 5% de Serra...
Essas pesquisas não têm maior significado hoje, quando Lula afirma que não concorrerá, nem ainda indicou, muito menos não fez campanha, pelo seu candidato.
Parece-me que o objetivo da pesquisa e da notícia é simplesmente direcionar a disputa interna do PSDB a favor de Serra, frente a Aécio Neves e Geraldo Alkmin.
Transcrevo somente trecho da notícia do Noblat:
“PESQUISA CNT/SENSUS
"Sem Lula, Serra ainda lidera com folga pesquisa sobre 2010"
"A pesquisa CNT/Sensus preparou quatro cenários para a disputa da eleição presidencial de 2010. O governador de São Paulo, José Serra, vence com folga nas simulações que participa, mas a diferença dele para outros candidatos caiu de fevereiro pra cá.
Já na pesquisa espontânea, Lula lidera com 29,4%. Em seguida vem Serra, com 5%, Aécio Neves, com 2,9%, Geraldo Alckmin, com 2,4%, Heloísa Helena, 1,7% e Ciro Gomes, 1,5%. Os que ainda não tem candidato somam 54,1%.”
Contudo, passou quase despercebido que, segundo a pesquisa espontânea, feita sem apresentar nomes para o pesquisado escolher, Lula venceria disparado se fosse candidato (hipótese nula hoje), com seis vezes mais votos do que Serra, com 29,4% contra 5% de Serra...
Essas pesquisas não têm maior significado hoje, quando Lula afirma que não concorrerá, nem ainda indicou, muito menos não fez campanha, pelo seu candidato.
Parece-me que o objetivo da pesquisa e da notícia é simplesmente direcionar a disputa interna do PSDB a favor de Serra, frente a Aécio Neves e Geraldo Alkmin.
Transcrevo somente trecho da notícia do Noblat:
“PESQUISA CNT/SENSUS
"Sem Lula, Serra ainda lidera com folga pesquisa sobre 2010"
"A pesquisa CNT/Sensus preparou quatro cenários para a disputa da eleição presidencial de 2010. O governador de São Paulo, José Serra, vence com folga nas simulações que participa, mas a diferença dele para outros candidatos caiu de fevereiro pra cá.
Já na pesquisa espontânea, Lula lidera com 29,4%. Em seguida vem Serra, com 5%, Aécio Neves, com 2,9%, Geraldo Alckmin, com 2,4%, Heloísa Helena, 1,7% e Ciro Gomes, 1,5%. Os que ainda não tem candidato somam 54,1%.”
DIVULGADO HOJE: 87,1% APROVAM O GOVERNO LULA
A Folha Online publicou às 11 h desta manhã, em reportagem de Gabriela Guerreiro, o resultado da pesquisa de opinião do CNT/Sensus divulgado hoje. Comprova o reconhecimento pela população dos sucessos do governo Lula e a grande aprovação do desempenho pessoal do presidente.
É a melhor avaliação do governo Lula desde a sua primeira posse em janeiro de 2003.
Reproduzo o texto da Folha [entre colchetes acrescentados por este blog]:
“GOVERNO DO PRESIDENTE LULA TEM MELHOR AVAVALIAÇÃO DESDE 2003, DIZ CNT/SENSUS"
[POPULARIDADE: 87,1% APROVAM O GOVERNO LULA]
“O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou a melhor popularidade em abril deste ano desde que o petista assumiu o governo em 2003, segundo pesquisa CNT/Sensus divulgada hoje.
Entre os entrevistados, 57,5% avaliaram o governo como positivo. Na pesquisa anterior, realizada em fevereiro passado, 52,7% consideraram o governo do petista positivo. Desta vez, apenas 11,3% dos entrevistados avaliaram o governo como negativo, contra outros 29,6% que o consideram regular.
Em janeiro de 2003, a avaliação do governo chegou a 56,6%, depois registrou queda. Mas voltou a crescer desde o início deste ano, já em seu segundo mandato.
[AVALIAÇÃO PESSOAL DE LULA: 69,3% APROVAM]
A avaliação pessoal do presidente Lula também subiu de 66,8% para 69,3% de fevereiro a abril deste ano. Somente 26,1% desaprovaram o presidente, enquanto 4,7% não responderam. Os índices de popularidade de Lula só perderam, em abril de 2008, para as avaliações de sua popularidade registradas em 2003 --o ano em que foi empossado no cargo-- quando obteve 83% de aprovação.
[RAZÕES DO SUCESSO: ECONOMIA, EMPREGOS, PROGRAMAS SOCIAIS, PAC]
O diretor da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), Clésio Andrade, disse que o bom desempenho do governo Lula pode ser atribuído ao crescimento da economia, geração de empregos e programas sociais implantados pela Presidência da República.
"Há também a boa movimentação do presidente, seu discurso popular com a divulgação do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. O presidente consegue capitalizar bem suas políticas. Dá a sensação de um governo eficiente", afirmou.
Segundo Clésio, o governo federal também consegue realizar uma "movimentação política" positiva em termos da divulgação de suas ações. "O seu marketing é bem trabalhado", afirmou.
A pesquisa CNT/Sensus foi realizada entre 21 e 25 de abril em 136 municípios de 24 Estados. Foram ouvidas 2.000 pessoas. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.”
É a melhor avaliação do governo Lula desde a sua primeira posse em janeiro de 2003.
Reproduzo o texto da Folha [entre colchetes acrescentados por este blog]:
“GOVERNO DO PRESIDENTE LULA TEM MELHOR AVAVALIAÇÃO DESDE 2003, DIZ CNT/SENSUS"
[POPULARIDADE: 87,1% APROVAM O GOVERNO LULA]
“O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou a melhor popularidade em abril deste ano desde que o petista assumiu o governo em 2003, segundo pesquisa CNT/Sensus divulgada hoje.
Entre os entrevistados, 57,5% avaliaram o governo como positivo. Na pesquisa anterior, realizada em fevereiro passado, 52,7% consideraram o governo do petista positivo. Desta vez, apenas 11,3% dos entrevistados avaliaram o governo como negativo, contra outros 29,6% que o consideram regular.
Em janeiro de 2003, a avaliação do governo chegou a 56,6%, depois registrou queda. Mas voltou a crescer desde o início deste ano, já em seu segundo mandato.
[AVALIAÇÃO PESSOAL DE LULA: 69,3% APROVAM]
A avaliação pessoal do presidente Lula também subiu de 66,8% para 69,3% de fevereiro a abril deste ano. Somente 26,1% desaprovaram o presidente, enquanto 4,7% não responderam. Os índices de popularidade de Lula só perderam, em abril de 2008, para as avaliações de sua popularidade registradas em 2003 --o ano em que foi empossado no cargo-- quando obteve 83% de aprovação.
[RAZÕES DO SUCESSO: ECONOMIA, EMPREGOS, PROGRAMAS SOCIAIS, PAC]
O diretor da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), Clésio Andrade, disse que o bom desempenho do governo Lula pode ser atribuído ao crescimento da economia, geração de empregos e programas sociais implantados pela Presidência da República.
"Há também a boa movimentação do presidente, seu discurso popular com a divulgação do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. O presidente consegue capitalizar bem suas políticas. Dá a sensação de um governo eficiente", afirmou.
Segundo Clésio, o governo federal também consegue realizar uma "movimentação política" positiva em termos da divulgação de suas ações. "O seu marketing é bem trabalhado", afirmou.
A pesquisa CNT/Sensus foi realizada entre 21 e 25 de abril em 136 municípios de 24 Estados. Foram ouvidas 2.000 pessoas. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.”
domingo, 27 de abril de 2008
LULA: TEXTO COMPLETO DA ENTREVISTA AOS DIÁRIOS ASSOCIADOS
O Correio Braziliense de hoje, domingo (27) publicou a entrevista exclusiva do Presidente Lula aos Diários Associados, concedida na última quinta-feira (24) no terceiro andar do Palácio do Planalto.
Segue o texto do Correio Braziliense, em matéria de Josemar Gimenez, Alon Feuerwerker, Daniel Pereira, Baptista Chagas de Almeida e Sérgio Miguel Buarque, do Correio Braziliense, do Estado de Minas e do Diário de Pernambuco:
“ENTREVISTA - LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Ainda que a base se divida em 2010, presidente diz que Planalto trabalhará por um único nome.
O governo terá um único candidato à Presidência da República em 2010, mesmo que os partidos aliados apresentem mais de um concorrente na disputa. Quem avisa é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista exclusiva aos Diários Associados, na última quinta-feira, no terceiro andar do Palácio do Planalto, Lula não chegou a dizer o nome do escolhido, mas deixou claro que trabalhará por ele. “Obviamente, se não for possível construir uma candidatura única da base, pode ficar certo de que o governo terá candidato”, declarou o presidente. “Penso em fazer o sucessor à Presidência da República. Trabalho para isso.”
Acompanhado de Franklin Martins, ministro de Comunicação Social, Lula negou que já tenha escalado a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para enfrentar a oposição, ao alegar que só a “fantástica” capacidade gerencial da auxiliar não basta para lhe garantir o posto.
Afirmou ainda que os competidores governistas terão que sair a campo logo depois das eleições municipais, para não deixar os governadores tucanos José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais) “sozinhos na praia”.
Em tom acima do habitual, o presidente garantiu que não há possibilidade de tentar um terceiro mandato consecutivo. “Isso é uma coisa obscena para a sustentabilidade da democracia no Brasil.”
Bem disposto, apesar de reclamar do cansaço físico decorrente da sessão diária de exercícios, de pouco mais de uma hora de duração, Lula tachou de “pequena” a discussão sobre gastos com cartões corporativos. Informou que instituirá o valor de uma diária para viagens, em resposta à crise. Prometeu punir o responsável pelo vazamento de dados sigilosos do governo anterior. E rechaçou a acusação segundo a qual o governo forjou um dossiê para atingir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a ex-primeira dama Ruth Cardoso.
“Achar que este governo iria fazer um dossiê contra a dona Ruth é não ter a dimensão de que, se eu quisesse fazer dossiê, teria feito em 2005, quando fui triturado por adversários que vocês conhecem bem. Eu posso ter todos os defeitos, mas se tem uma coisa que aprendi na minha vida é ter relação política leal.”
Lula mostrou-se confiante em relação aos desafios na área econômica. Voltou a considerar a pressão inflacionária sobre os alimentos, por exemplo, “um bom desafio” para o Brasil, que teria terra, tecnologia e condições climáticas favoráveis para plantar, ao contrário dos Estados Unidos e da Europa.
Em recado ao Banco Central, declarou que o Brasil não precisa ter medo da inflação, porque os investimentos em curso serão capazes de sustentar o crescimento da demanda. “Nós não queremos truncar o crescimento. Daí, a minha preocupação com os juros”.
Em cerca de uma hora e vinte minutos de entrevista, o presidente esbanjou bom humor. Como de costume, puxou conversa falando de futebol e lamentando o desempenho do Corinthians, seu time de coração. Antes de enfrentar a bateria de perguntas, ainda encontrou tempo para brincar com o hábito de fumar cigarrilhas. “Está na minha mesa, para eu sancionar, um projeto que proíbe fumar em lugares fechados. Que ironia do destino.”
Nas próximas páginas, a íntegra da entrevista.
Que medidas o governo vai adotar para evitar que a comida encareça e enfraqueça o apoio político que o senhor tem entre a população mais pobre?
É injustiça achar que o reconhecimento da população mais pobre se deve só à questão da comida. A comida é um fator preponderante. Agora, é importante ter noção do que foi feito para os setores excluídos da sociedade. Do Bolsa Família ao Programa Luz para Todos, do Pronaf ao crédito consignado, do ProJovem às escolas técnicas. O que permite que você tenha uma densidade de política social como poucas vezes ou nenhuma vez o Brasil teve.
Eu fui um dirigente sindical razoavelmente importante no Brasil, fiz as greves mais importantes, era muito difícil conseguir 1% de aumento real de salário. Hoje, 90% dos sindicatos estão fazendo acordos ganhando aumento de salário.
Tem um conjunto de fatores que permite que a sociedade viva um pouco melhor. E um deles é a comida. Estamos vivendo um momento sui generis no mundo. Milhões de seres humanos começaram a comer nos últimos 10 anos. E a agricultura não cresceu proporcionalmente à demanda. Por isso, eu disse que é um bom desafio. Porque ter mais gente comendo significa que a gente precisa produzir mais. Temos terra para produzir mais, temos tecnologia para produzir mais, temos sol para produzir mais, temos água para produzir mais. Produzir mais alimentos para manter o preço do alimento estável.
Na semana passada, eu dizia para o ministro Guido Mantega que não é mais possível discutir inflação sem colocar na mesa o ministro da Agricultura e o ministro do Desenvolvimento Agrário. Porque tem que ter um jogo combinado. Precisamos aumentar nossa produção. Esse é um desafio que não me preocupa. É um desafio que me alenta a provocar os produtores brasileiros a produzirem muito mais.
Como o governo vai administrar dois projetos que parecem conflitantes, biocombustível e alimento? E como evitar que a cana-de-açúcar para o etanol reproduza o tradicional modelo concentrador de renda?
Primeiro, é inconcebível alguém dizer que a questão do biocombustível tem alguma coisa a ver com o preço dos alimentos, porque o mundo não produz biocombustível e tem 800 milhões de pessoas que vão dormir sem comer. Os que criticam o biocombustível nunca criticaram o preço do petróleo. O mundo desenvolvido importa petróleo sem tarifa e coloca uma tarifa absurda para importar o etanol do Brasil.
No fundo, o Brasil está sendo vítima na medida em que virou artista principal do jogo. Não somos mais coadjuvantes. Somos o maior exportador de café, de suco de laranja, de soja, de carne. O que precisamos, e na política do biodiesel está correto, é o chamado selo social. O produtor que contratar a produção do biodiesel da agricultura familiar tem isenção de impostos, exatamente para a gente não repetir o erro da cana.
Temos dito claramente que, se quisermos ter sucesso (na Rodada de Doha de liberalização do comércio), é preciso que os países ricos flexibilizem nos preços agrícolas para que os produtos dos países mais pobres entrem no mercado rico, senão não há estímulo para os países plantarem.
Então, parem de hipocrisia e comecem a comprar os combustíveis que estamos vendendo. Ou façam parceria com terceiros países. A Europa poderia fazer convênio, como nós fizemos em Gana. Vamos produzir em Gana para vender para a Suécia. Quero dizer uma coisa de coração: se um dia eu chegar à conclusão de que, para encher o tanque de um carro, meu tanque (apontando para a barriga) terá de ficar vazio, vou encher meu tanque primeiro para depois encher o tanque do carro. Não podemos é aceitar a discussão que os países ricos querem nos impor.
Desde pequeno eu ouvia dizer que o Brasil seria o celeiro do mundo. Pois bem, a oportunidade se apresenta agora. A Europa não tem mais condição de aumentar a produção agrícola, são poucos os países que têm terra para aumentar. Quem é que tem? O Brasil, a África e a América Latina.
O senhor tem dito que o biocombustível e a cana-de-açúcar não pressionam a produção de alimento porque o Brasil tem muita terra, especialmente pastos degradados que poderiam ser utilizados. Se está sobrando terra para plantar cana, por que está faltando para a reforma agrária?
Não está faltando terra para a reforma agrária. No governo passado, em oito anos, eles distribuíram 22 milhões de hectares de terra. Nós, em cinco anos, distribuímos 35 milhões de hectares de terra.
Qual é a divergência que tenho com o movimento dos sem-terra? É que acho que o problema não é assentar mais gente. O problema é fazer as pessoas que já estão na terra se tornarem mais produtivas. O que não pode é ficar colocando gente num canto, e eles continuarem tão miseráveis quanto estavam ontem. Precisamos aperfeiçoar a produtividade, a assistência técnica, o equilíbrio dos preços para quem já tem terra. Desse drama eu não sofro.
O dado concreto é que estamos vivendo um bom desafio, e o Brasil não pode ter medo do bom desafio. O ruim seria se o mundo estivesse precisando de alimento e o Brasil não tivesse terra, tecnologia e conhecimento.
Essa escalada no preço dos alimentos deu razão ao Banco Central, que aumentou em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros?
Olha, não me peça para discutir o Banco Central. Você pode discordar da visão que o Banco Central está tendo de que a inflação daqui a um ano será de 6% ou 7%, ou você pode concordar. Então, cabe ao governo, em vez de ficar choramingando, tomar atitudes para evitar que os preços da comida subam. Naquilo que são preços que dependem do governo as coisas estão mais ou menos controladas. Então, eu acho que não há necessidade de a gente ter medo da inflação. A inflação tem que ser controlada porque durante 27 anos da minha vida vivi de salário como trabalhador e sei que a inflação é uma desgraça na vida de um operário. Então, precisamos aumentar a produção.
Uma economia saudável é aquela em que você tem um crescimento da demanda e um crescimento da oferta andando mais ou menos juntos. Se a oferta cresce mais, você expande suas exportações. À medida que a demanda cresce um pouco mais e a oferta não cresce, temos um problema de aumento de preço.
Não está acontecendo isso no Brasil. Não está acontecendo. Porque tem muitos investimentos. Esses investimentos num primeiro momento são consumo, porque você tem que comprar as coisas para construir uma fábrica, mas num segundo momento se tornam oferta. E é com essa idéia que nós trabalhamos para 2009. Os investimentos já estão feitos, já estão acontecendo. Nós passamos 26 anos sem fazer uma fábrica de cimento no Brasil. De repente, fomos obrigados a fazer 10 fábricas de cimento, porque a construção civil foi destravada. E nós não queremos truncar o crescimento. Daí a minha preocupação com o aumento dos juros.
A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, tem a liderança política e a capacidade necessárias para enfrentar os desafios colocados ao país?
Por que você pergunta da Dilma e não do Franklin (Martins, ministro da Comunicação Social)? Eu tenho tido todo o cuidado e tenho consciência de que não é o momento de o presidente da República estar em campanha. Tenho dois anos e oito meses de mandato ainda, tem muita coisa para se fazer neste país, e eu não posso perder tempo fazendo campanha.
Tomei uma decisão de que nas eleições municipais, onde a base estiver com mais de um candidato, não pense que eu vou lá porque eu não vou. Agora, também não pensem… Outro dia não sei quem foi que achou absurdo eu dizer que queria fazer meu sucessor. Houve alguém que ficou estarrecido. Ele deveria ficar estarrecido se eu não quisesse fazer. Penso em fazer o sucessor à Presidência da República. Trabalho para isso. Agora, eu tenho uma base muito heterogênea. Com que o presidente precisa contar neste momento? Com a hipótese de que a gente consiga montar uma chapa única da base aliada.
Como fazer isso?
Nós temos candidato a presidente e a vice, 27 governadores e 54 senadores (nas eleições em 2010). Portanto, temos cargos para contemplar essa base heterogênea. O PSB, por exemplo, é um aliado histórico e tem candidato à Presidência, o deputado Ciro Gomes, um candidato forte porque já foi candidato duas vezes, é uma pessoa conhecida, basta ver nas pesquisas.
Mas também é bem possível que outros partidos queiram lançar candidato. E vocês jamais me verão reclamar de um partido querer lançar candidato. Se o PCdoB quiser ter candidato, se o PDT quiser ter candidato, eu acho normal, porque é o momento de o partido colocar a cara na televisão, de dizer qual é o seu programa, a sua proposta. Então, vocês não me verão nervoso porque os partidos terão candidato próprio.
Obviamente, se não for possível construir uma candidatura única da base, pode ficar certo de que o governo terá candidato.
Por que o senhor escolheu a ministra Dilma?
Eu não estou dizendo que será a Dilma. Não sei quem está dizendo que é a Dilma. É muito difícil a gente tentar lançar alguém candidato sem que tenha uma discussão com o partido ou com os aliados. Se você perguntar das qualidades da Dilma, vou dizer para você uma coisa: existem raríssimas pessoas no Brasil com a capacidade gerencial da companheira Dilma Rousseff. Rarísssimas. A Dilma é de uma capacidade de gerenciamento impecável. E, sobretudo, é aquilo que a gente gosta, ‘Caxias’. Então, eu acho uma figura extraordinária.
Agora, entre ser uma figura extraordinária para gerenciar e ser candidata à Presidência é uma outra conversa, porque aí entra um ingrediente chamado política, que exige outras credenciais. Eu não estou discutindo isso agora. No momento certo, provocarei a discussão.
Quando será o momento?
Será depois das eleições de 2008. Terminada a eleição para as prefeituras, a partir do ano que vem todo mundo tem que saber claramente que vamos começar a campanha de 2010, sem que o presidente participe diretamente, porque tenho muito coisa para fazer, mas os partidos precisarão começar a sair a campo, porque se não fica uma situação desigual. O PSDB tem dois candidatos já postos, o (José) Serra (governador de São Paulo) e o Aécio (Neves, governador de Minas Gerais). Não se sabe se o (Geraldo) Alckmin quer ser ou não. Ou seja, a oposição não pode ficar nadando na praia sozinha. É preciso colocar mais gente nessa praia, e acho que os partidos vão colocar.
O senhor é a favor da aliança do PT com o PSDB em Belo Horizonte? (depois da entrevista, a aliança foi vetada pelo Diretório Nacional do PT)
Cada partido, na sua cidade e no seu estado, tem que determinar a política que ele entende que seja mais conveniente. O que estou entendendo? Que é conveniente para o Aécio fazer a aliança com o Fernando Pimentel (prefeito de Belo Horizonte) e é conveniente para o Pimentel fazer a aliança com o Aécio. Como o Aécio tem o controle do PSDB e o Pimentel mostrou ter o controle do PT, os dois fizeram aliança. Eu acho normal para disputar a prefeitura. A gente não pode também ficar querendo que Roraima e Pernambuco se envolvam no acordo que Minas Gerais fez.
Os ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci não ficaram muito felizes com a aliança.
É normal. Houve dezenas de reuniões, eles não participaram e a gente paga o preço. O Pimentel está há muito tempo na prefeitura, foi secretário do Patrus, foi secretário do Célio (de Castro), foi vice-prefeito, é prefeito duas vezes. Ele só pode ter o controle do partido lá. E também é muito competente. Se tem uma coisa que não falta ao Pimentel é competência.
Essa aliança não tem um significado maior, uma simbologia nacional?
Eu não vejo assim. Obviamente que quem fez pode pensar que tem.
A aliança não pode atrair o PSB em nível nacional?
Não acredito. Ela se deu em Belo Horizonte, mas não se deu em Contagem, em Ipatinga, em Governador Valadares. Ou seja, é uma coisa muito localizada.
Uma das versões sobre a aliança é que o PT está fortalecendo o Aécio porque acha que ele não será o candidato à Presidência do PSDB. Mas se ele for o candidato do PSDB, como é que fica?
Primeiro, não cabe ao PT fortalecer o Aécio. Quem tem que fortalecer o Aécio, em primeiro lugar, é o próprio Aécio e, em segundo lugar, o PSDB.
Mas o senhor disse que a aliança fortalece o Aécio e o Pimentel.
Não sei. Acho que essa aliança não pode ter vinculação com 2010. Todo mundo sabe que o Aécio é um político hábil, inteligente. O Aécio e o Pimentel gostam de viver essa relação muito harmônica. Isso é um problema de Minas Gerais.
O jogo vai começar para 2010 a partir de agora. Obviamente que o Aécio antes de qualquer coisa tem que enfrentar os obstáculos internos, o Serra tem que enfrentar os obstáculos internos. Depois é que eles vão sair na disputa pública para ver quem é quem. Acho que nós precisamos nos preparar. Quem quer que seja o candidato (da oposição), o governo vai ter candidato.
O governador Aécio Neves seria um bom nome da coalizão governista se mudasse para o PMDB?
É muito difícil para o presidente da República discutir em tese. É preciso primeiro saber se o PMDB quer. Segundo, saber qual é o tempo em que ele faria isso, porque isso aos olhos do povo não é uma coisa simples. Eu estou torcendo pelo Garantido (um dos competidores no Festival Folclórico de Parintins-AM) e daqui a pouco o povo me vê no Caprichoso (adversário do Garantido). Não é assim, não é uma coisa simples.
Obviamente que o governador de Minas Gerais tem condições de pleitear ser candidato a presidente, como tem o governador de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Paraná. Agora, primeiro tem o confronto interno, que não é uma coisa fácil. E certamente o Aécio não vai correr do jogo antes de o jogo ser jogado. Ele vai ter que disputar. Se ele perde e depois tenta sair, aí realmente é um tiro pela culatra.
O senhor citou Roraima. O senhor sempre diz que conhece o Brasil, e não apenas de ouvir falar. O senhor, ao longo de sua vida política, já esteve nos quatro cantos do país. Por que o senhor não foi até hoje, em mais de cinco anos de mandato, até Roraima para conhecer a situação pessoalmente e conversar diretamente com a população sobre o conflito fundiário que ocorre naquele estado?
Primeiro, eu já fui muitas vezes a Roraima. Não fui como presidente da República, porque tem um conflito estabelecido. Um grupo de políticos tratou de fazer contra o governo federal uma guerra, quando o que estávamos querendo fazer era a demarcação (da reserva indígena Raposa/Serra do Sol) tal como preconizado no governo passado.
O ministro Márcio Thomaz Bastos (então na Justiça) trabalhou, ouviu quem deveria ouvir, foi lá dezenas de vezes, fez uma demarcação, estabeleceu-se o conflito, e é só você ver a publicidade feita pelos adversários lá que você vai perceber que está estabelecida uma guerra com o governo federal. E por que eu iria lá para aumentar esse conflito?
O senhor não poderia ser um mediador?
Temos tentando mediar daqui. Tudo que fizemos até agora foi acordado na minha mesa. Tudo. Acontece que você faz um acordo aqui e as coisas não acontecem lá.
Agora, eu não quero mais discutir esse assunto porque está no Supremo Tribunal Federal. Eu só posso lhe garantir uma coisa: o Márcio Thomaz Bastos trabalhou nisso com carinho, tivemos deputados e senadores que foram lá, construiu-se uma proposta que era razoável, estabeleceu-se um acordo para distribuir as terras que estão nas mãos do Incra para o estado de Roraima. Tudo isso foi feito.
Ainda assim continua uma guerra. É só você ver a quantidade de outdoors naquela cidade contra o governo federal, enquanto a gente queria encontrar uma solução para o bem de Roraima. Ora, não fui eu que levei os índios para lá. Eles estavam lá antes de chegar o governador, antes de eu ser presidente da República e, eu diria, antes de o Brasil ser descoberto. O que estamos fazendo é dando para eles aquilo que entendemos que é de direito deles. A Suprema Corte vai tomar a decisão. Qualquer que seja a decisão, para mim está resolvido o problema.
Como o senhor recebeu a fala do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, a respeito desse assunto?
Ele disse publicamente que falou em caráter pessoal. À medida que o governo mostrou sua insatisfação, ele disse que não vai falar mais. Para mim, está resolvido o problema. Acho normal que um militar que está na área tenha uma visão que necessariamente não precisa ser a minha. Mas à medida que o governo tem uma decisão, aquela é a decisão do país. Agora, quando vai para a suprema corte, o governo também se subordina à decisão da Suprema Corte.
O senhor aceitaria prorrogar o mandato em mais um ano para viabilizar o fim da reeleição e o mandato presidencial de cinco anos?
Não existe possibilidade. O que eu acho é que o Congresso e os partidos deveriam priorizar a reforma política. Dentro da reforma política, poderiam aumentar o mandato do presidente em um ano e acabar com a reeleição a partir de 2014. O dado concreto é que a reforma política se faz extremamente necessária e eu não sei por que os partidos não querem fazê-la. Às vezes, sou cobrado e fico pensando se é o presidente que tem que fazer uma proposta. Não é o presidente.
Mas o senhor está disposto a apresentar uma proposta?
Eu não quero fazer. Não é papel do Executivo fazer a proposta de reforma política. Aliás, nós tentamos fazer. Tem uma proposta enviada pelo companheiro Márcio Thomaz Bastos ao Congresso que foi para uma comissão, foi discutida e parou. Se você perguntar para mim qual é a reforma mais importante a ser feita no Brasil, eu direi a reforma política. E tenho provocado os partidos para que discutam, que coloquem uma proposta, não façam nada para a próxima eleição. Façam para 2014, para quando quiserem, mas façam. Vamos dar mais estabilidade institucional ao país, valorizar os partidos.
Por que os partidos não votam a reforma?
Porque é sempre muito difícil as pessoas que estão exercendo o cargo quererem mudar as regras do jogo. Se o governo puxa uma proposta de reforma política e os partidos não querem, o governo já sai derrotado no berço. Eu tenho provocado. Já pensei até em convocar os ex-presidentes para que fizessem a proposta política. A impressão que eu tenho é que as pessoas não querem. É uma coisa bonita de falar, fácil de falar, mas na hora de votar ninguém quer. As pessoas acham que as eleições têm que ser do jeito que está.
Quando há interesse, é para propor o terceiro mandato.
O terceiro mandato não está ligado à reforma política. Propor o terceiro mandato é tão pernicioso quanto foi proporem o segundo.
Essa frase é perigosa, presidente, porque o segundo mandato aconteceu.
Aconteceu. Na minha opinião, não foi nenhuma sumidade para o Brasil porque a gente poderia ter mantido o mandato de cinco anos sem reeleição. Por que aconteceu o segundo? Por causa da vaidade de quem está no poder.
Eu acho que é impensável, se você quiser consolidar a democracia no Brasil, pensar em terceiro mandato. Porque hoje você pensa em terceiro mandato, amanhã pensa em quarto mandato, daqui a pouco está pensando em quinto mandato. E isso é uma coisa obscena para a sustentabilidade da democracia no Brasil. As pessoas que discutem terceiro mandato não têm coisa mais séria para discutir. E a gente não pode dar crédito a tudo que a oposição fala. A oposição que está com medo do terceiro mandato é a oposição que achava que meu mandato tinha acabado em 2005.
Há uma CPI mista no Congresso sobre cartões corporativos. A Polícia Federal está investigando uma possível manipulação irregular de informações sigilosas das contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o vazamento desses dados, que estavam sob a guarda da Casa Civil. O senhor acha que esses dados estão seguros aqui no Palácio? O senhor falou tanto da capacidade gerencial da ministra Dilma… Não houve um descontrole nesse assunto?
A maior prova de que não estão seguros é que vazaram. Por que vocês não pegam o caso de que todo vazamento que houve dos cartões corporativos é por causa da divulgação feita pela Controladoria-Geral da União, no Portal da Transparência?
Mas ali não é vazamento.
Mas está tudo lá. Qualquer cidadão pode entrar no portal e pegar as informações. Obviamente que, se eu tirasse a minha camisa aqui e chamasse um de vocês escondido e falasse que essa camisa eu achei no túmulo do (Che) Guevara, a manchete seria: “Lula entrega ao Correio Braziliense a camisa com a qual foi enterrado Guevara”. Até alguém provar que era mentira… Agora, achar que este governo iria fazer um dossiê contra a dona Ruth (Cardoso, ex-primeira-dama), contra o Fernando Henrique Cardoso, é não ter dimensão de que, se eu quisesse fazer dossiê, teria feito em 2005, quando fui triturado por adversários que vocês conhecem. E que certamente, se investigados, teriam muitas coisas… Eu não fiz porque fui vítima disso a vida inteira.
O que estamos fazendo é um banco de dados, para que as pessoas tenham as informações adequadas. E quando eu deixar a Presidência não existirá mais nada meu que não possa ser divulgado.
Agora, se alguém consegue pegar um documento e vender como dossiê, ou entrega para um senador e para um deputado, eu não posso fazer outra (coisa) a não ser apurar, para saber o que aconteceu.
Vamos continuar a fazer banco de dados até 31 de dezembro de 2010. Eu fico triste porque muitas vezes vejo o debate nacional se dar em cima de coisas menores, e não das coisas importantes que a gente deveria discutir. Eu posso ter todos os defeitos, mas se tem uma coisa que eu aprendi na minha vida é ter uma relação política leal. Eu vivi esse preconceito, essa perseguição, no movimento sindical. Minha vida foi futucada nos bancos quando sofri intervenção, e eu nunca mostrei um minuto de raiva ou de vingança. Se eu fosse fazer um dossiê, não seria da dona Ruth.
E se a Polícia Federal chegar à conclusão de que houve manipulação indevida de informações, violando normas vigentes sobre dados sigilosos?
Se se provar que alguém manipulou equivocadamente, esse alguém terá que ser punido. Essa é a prática. A única coisa com que fico triste é alguém tentar passar a idéia de que o governo iria fazer um dossiê contra a dona Ruth. Realmente, não me cabe na cabeça.
O senhor concorda com o ministro da Justiça, Tarso Genro, para quem o governo tem o direito de recolher informações de gestões anteriores e usá-las para reagir a crises políticas?
Mas essas informações estão aí. Se eu quiser pegar o que fez um prefeito há 15 anos, é só ir ao Ministério do Planejamento, está lá o processo. O Tarso não disse que é certo. O Tarso disse que não é um delito. Certamente, o Correio Braziliense tem informações cotidianas dos seus concorrentes. Ou não tem? Ou a Pirelli não tem da Michelin? Ou a Volks não tem da Fiat? Agora, imaginar que você vai utilizar isso para fazer alguma coisa… Agora, quando nós instituímos a CPI… E é importante que isso não se perca de vista, porque de vez em quando a gente perde o momento histórico.
Nós fizemos o primeiro comício das Diretas Já em novembro de 1983 no Pacaembu, quando o Fernando Henrique foi lá anunciar a morte do Teotônio Vilela, e para a opinião pública brasileira o único ato que houve foi o de 25 de janeiro de 1984. Mas o primeiro ato, com a presença até do Fernando Henrique, foi nosso.
O que não quero é que se perca de vista que nós pedimos uma CPI e, como nós pedimos uma CPI para até 10 anos atrás, temos que ter o banco de dados para oferecer para a CPI.
Esse debate sobre cartões corporativos é hipócrita?
Não diria que é hipócrita, diria que é pequeno. Eu era presidente do sindicato quando acabei com nota fiscal no sindicato, porque eu via a briga mesquinha do conselho fiscal para saber se o cara parou no posto ou no motel. Em São Paulo, se você pegar a Via Anhangüera, verá dois ou três restaurantes que são motéis também. Até você provar que tinha sido só almoço era uma guerra. Então, resolvi instituir a diária. Fiz uma média nacional. Se você quiser dormir na sarjeta, dorme. Não precisa prestar contas. Só assina o recibo de que recebeu a diária.
Confesso a vocês que neste país há uma certa hipocrisia. Um ministro de Estado, se for à França, come do bom e do melhor e não põe a mão no bolso. No Brasil, um ministro não pode pagar um café para um convidado. Imagina o ministro da Justiça do Brasil ir jantar com o ministro da Justiça da Colômbia e na hora de pedir a conta falar o seguinte: vamos rachar. É uma hipocrisia.
Vou esperar a CPI terminar e instituir uma diária. Ou verba de representação. Espero que a CPI proponha isso. Se o cidadão pegar a diária e quiser dormir num meia estrela para economizar, o problema é dele. Mas pelo menos você fica tranqüilo e não fica vulnerável a ver manchete de jornal dizendo que o cidadão gastou oito reais com tapioca. Prefiro correr o risco de fazer a coisa séria.
Os gastos de ex-presidentes têm que ser mantidos em sigilo?
Não é todo gasto que é mantido em sigilo, é aquilo que o Gabinete de Segurança Institucional entende que é de segurança da instituição Presidência da República. Só vale para quando você for presidente. Quando eu deixar a Presidência, no dia primeiro de janeiro de 2011, os meus dados serão dados públicos. Não tem mais segurança, não tem mais que alugar carro em meu nome, não tem importância as pessoas saberem em que açougue vai comprar carne. Eu conheço presidente que não toma água que a gente oferece, que não toma café que a gente oferece, que não come a mesma comida que a gente come. Eu como até coisa que me dão no palanque. Se tiver alguma desgraça, eu sei que vou me ferrar. A segurança quando vê toma da minha mão. Eu tenho que pegar sem eles verem.
O ideal para mim ao terminar o mandato é ter clareza de que o Brasil mudou de patamar. Obviamente, eu não carrego a ilusão de que a gente vai transformar o Brasil na grande nação com que todos nós sonhamos em oito anos, 15 anos. É um processo que precisa ter continuidade. Daí a necessidade de o próximo governante ter uma concepção seqüencial, de dar cumprimento às coisas que estamos fazendo.
As discussões que não avançam no Congresso, como a reforma política, têm uma mesma razão embrionária, que é a disputa entre dois núcleos de poder de São Paulo, o PT e o PSDB. Depois de 16 anos, está na hora de mudar esse eixo de poder?
Sempre achei que PT e PSDB pudessem ter muitas convergências e que as coisas não fossem ser radicalizadas da forma que ficaram radicalizadas. Quando o PSDB ganhou as eleições, houve uma tentativa de aproximação com a esquerda, havia até quem dissesse que o Fernando Henrique tinha cooptado o José Genoino, mas isso não aconteceu. Só para você ter uma idéia, eu fui chamado para conversar com o Fernando Henrique (só) em 1998, depois das eleições. Não havia diálogo. E agora também não há, porque o PSDB virou o nosso principal adversário.
É importante lembrar que, em 1994 e 1998, o PT nas duas eleições disputou com o Mário Covas (o governo de São Paulo) e depois teve a responsabilidade de contribuir para a eleição do Covas no segundo turno. Há dentro do PSDB e dentro do PT um espectro de conversações muito amplo. Radicalizou muito nos últimos três anos com algumas pessoas, não todas. A minha convivência com os governadores do PSDB é a melhor possível. Onde está o problema? No Senado.
Por que o governo, em vez de mandar derrubar a regulamentação da Emenda da Saúde, aprovada com o voto do PSDB, não negocia com a Câmara?
O governo não vai mover um dedo. Se eles quiserem negociar na Câmara, que façam. O dado concreto é que não pode a mesma Casa que derrotou a CPMF aprovar a regulamentação da Emenda 29. É um contra-senso. Para que fazem isso? Para me colocar em xeque? Se eu vou vetar? Não tenham dúvida. Não tenham dúvida de que eu não vacilarei um milímetro para fazer a coisa correta que tem de ser feita em nome deste país. A não ser que eu fosse um total irresponsável e deixasse passar. Aí, quando o outro tomar posse em 2011, o país está quebrado. Eu não vou fazer isso.
Isso vale para o fator previdenciário também?
Isso vale para tudo que for aprovado e não tenha afinidade com o potencial de pagamento do país. Como é que eu posso chegar em casa e prometer para meu filho uma coisa que eu não posso dar? Fazer proselitismo em época de campanha? É realmente triste isso.
O senhor tem assistido ao noticiário da TV Brasil?
Eu não tenho conseguido ver televisão. Quando eu chego em casa, as 11h da noite, eu mal tomo meu banho, tomo uma sopa e vou dormir.
Agora, mesmo sem ver, vou dizer uma coisa: vamos construir uma grande TV pública. Acho que é necessário. Não queremos fazer competição de publicidade com a imprensa privada, mas queremos fazer competição na qualidade da informação, da programação.
Alguns diziam que isso é TV do Lula, mas seria insano eu fazer uma coisa quando estou saindo do governo. Estou fazendo porque acho que o país precisa, porque a gente pode fazer melhor do que a melhor que nós temos no Brasil, que é a TV Cultura. Pode fazer melhor. E passar informações corretas, com jornalistas sérios, sempre mostrando a moeda com as suas duas faces, e nunca com uma face só. Eu sei que não é fácil. Para você lançar um canal de televisão e fazer ele ser visto, leva um tempo.
O senhor ainda pensa que a imprensa burguesa persegue o seu governo?
Houve um momento em que a imprensa brasileira criou a idéia do consenso único, favorável à primeira etapa do Plano Real. Foi um momento difícil em que você não tinha espaço para fazer oposição neste país. Era 100% pensamento único. Eu confesso a você que no meu governo teve 100% de pensamento contra.
Mas é passado?
Eu aprendi a não ficar com raiva da imprensa porque acredito na capacidade de discernimento do leitor, do ouvinte e do telespectador. A prova disso é a minha reeleição. Quando o cidadão é 100% contra, o leitor percebe. Quando ele é 100% a favor, o leitor também percebe. E tanto 100% contra como 100% a favor não têm credibilidade. A imprensa brasileira tem que informar corretamente a opinião pública. Acho que houve um tempo em que era 100% contra.
Como na minha vida eu nunca tive muito afago, aprendi a conviver. E o povo está ficando inteligente. Aquela idéia de que alguém é formador de opinião pública vai por terra se a pessoa não for verdadeira. Por mais que eu tenha queixa da imprensa, e não conheço político que não tenha queixa da imprensa, ela, por bem ou por mal, é um dos pilares da consagração da democracia no país.
Eu acho fantástico o cara que faz manchete no jornal. Gostaria de um cara desses para fazer manchete quando eu fosse candidato, porque às vezes a manchete não tem nada a ver com a matéria. Acho fantástica a criatividade. Obviamente, a manchete é o R$ 1,99, um chamariz para o cara entrar na loja e fazer a compra.”
Segue o texto do Correio Braziliense, em matéria de Josemar Gimenez, Alon Feuerwerker, Daniel Pereira, Baptista Chagas de Almeida e Sérgio Miguel Buarque, do Correio Braziliense, do Estado de Minas e do Diário de Pernambuco:
“ENTREVISTA - LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Ainda que a base se divida em 2010, presidente diz que Planalto trabalhará por um único nome.
O governo terá um único candidato à Presidência da República em 2010, mesmo que os partidos aliados apresentem mais de um concorrente na disputa. Quem avisa é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista exclusiva aos Diários Associados, na última quinta-feira, no terceiro andar do Palácio do Planalto, Lula não chegou a dizer o nome do escolhido, mas deixou claro que trabalhará por ele. “Obviamente, se não for possível construir uma candidatura única da base, pode ficar certo de que o governo terá candidato”, declarou o presidente. “Penso em fazer o sucessor à Presidência da República. Trabalho para isso.”
Acompanhado de Franklin Martins, ministro de Comunicação Social, Lula negou que já tenha escalado a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para enfrentar a oposição, ao alegar que só a “fantástica” capacidade gerencial da auxiliar não basta para lhe garantir o posto.
Afirmou ainda que os competidores governistas terão que sair a campo logo depois das eleições municipais, para não deixar os governadores tucanos José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais) “sozinhos na praia”.
Em tom acima do habitual, o presidente garantiu que não há possibilidade de tentar um terceiro mandato consecutivo. “Isso é uma coisa obscena para a sustentabilidade da democracia no Brasil.”
Bem disposto, apesar de reclamar do cansaço físico decorrente da sessão diária de exercícios, de pouco mais de uma hora de duração, Lula tachou de “pequena” a discussão sobre gastos com cartões corporativos. Informou que instituirá o valor de uma diária para viagens, em resposta à crise. Prometeu punir o responsável pelo vazamento de dados sigilosos do governo anterior. E rechaçou a acusação segundo a qual o governo forjou um dossiê para atingir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a ex-primeira dama Ruth Cardoso.
“Achar que este governo iria fazer um dossiê contra a dona Ruth é não ter a dimensão de que, se eu quisesse fazer dossiê, teria feito em 2005, quando fui triturado por adversários que vocês conhecem bem. Eu posso ter todos os defeitos, mas se tem uma coisa que aprendi na minha vida é ter relação política leal.”
Lula mostrou-se confiante em relação aos desafios na área econômica. Voltou a considerar a pressão inflacionária sobre os alimentos, por exemplo, “um bom desafio” para o Brasil, que teria terra, tecnologia e condições climáticas favoráveis para plantar, ao contrário dos Estados Unidos e da Europa.
Em recado ao Banco Central, declarou que o Brasil não precisa ter medo da inflação, porque os investimentos em curso serão capazes de sustentar o crescimento da demanda. “Nós não queremos truncar o crescimento. Daí, a minha preocupação com os juros”.
Em cerca de uma hora e vinte minutos de entrevista, o presidente esbanjou bom humor. Como de costume, puxou conversa falando de futebol e lamentando o desempenho do Corinthians, seu time de coração. Antes de enfrentar a bateria de perguntas, ainda encontrou tempo para brincar com o hábito de fumar cigarrilhas. “Está na minha mesa, para eu sancionar, um projeto que proíbe fumar em lugares fechados. Que ironia do destino.”
Nas próximas páginas, a íntegra da entrevista.
Que medidas o governo vai adotar para evitar que a comida encareça e enfraqueça o apoio político que o senhor tem entre a população mais pobre?
É injustiça achar que o reconhecimento da população mais pobre se deve só à questão da comida. A comida é um fator preponderante. Agora, é importante ter noção do que foi feito para os setores excluídos da sociedade. Do Bolsa Família ao Programa Luz para Todos, do Pronaf ao crédito consignado, do ProJovem às escolas técnicas. O que permite que você tenha uma densidade de política social como poucas vezes ou nenhuma vez o Brasil teve.
Eu fui um dirigente sindical razoavelmente importante no Brasil, fiz as greves mais importantes, era muito difícil conseguir 1% de aumento real de salário. Hoje, 90% dos sindicatos estão fazendo acordos ganhando aumento de salário.
Tem um conjunto de fatores que permite que a sociedade viva um pouco melhor. E um deles é a comida. Estamos vivendo um momento sui generis no mundo. Milhões de seres humanos começaram a comer nos últimos 10 anos. E a agricultura não cresceu proporcionalmente à demanda. Por isso, eu disse que é um bom desafio. Porque ter mais gente comendo significa que a gente precisa produzir mais. Temos terra para produzir mais, temos tecnologia para produzir mais, temos sol para produzir mais, temos água para produzir mais. Produzir mais alimentos para manter o preço do alimento estável.
Na semana passada, eu dizia para o ministro Guido Mantega que não é mais possível discutir inflação sem colocar na mesa o ministro da Agricultura e o ministro do Desenvolvimento Agrário. Porque tem que ter um jogo combinado. Precisamos aumentar nossa produção. Esse é um desafio que não me preocupa. É um desafio que me alenta a provocar os produtores brasileiros a produzirem muito mais.
Como o governo vai administrar dois projetos que parecem conflitantes, biocombustível e alimento? E como evitar que a cana-de-açúcar para o etanol reproduza o tradicional modelo concentrador de renda?
Primeiro, é inconcebível alguém dizer que a questão do biocombustível tem alguma coisa a ver com o preço dos alimentos, porque o mundo não produz biocombustível e tem 800 milhões de pessoas que vão dormir sem comer. Os que criticam o biocombustível nunca criticaram o preço do petróleo. O mundo desenvolvido importa petróleo sem tarifa e coloca uma tarifa absurda para importar o etanol do Brasil.
No fundo, o Brasil está sendo vítima na medida em que virou artista principal do jogo. Não somos mais coadjuvantes. Somos o maior exportador de café, de suco de laranja, de soja, de carne. O que precisamos, e na política do biodiesel está correto, é o chamado selo social. O produtor que contratar a produção do biodiesel da agricultura familiar tem isenção de impostos, exatamente para a gente não repetir o erro da cana.
Temos dito claramente que, se quisermos ter sucesso (na Rodada de Doha de liberalização do comércio), é preciso que os países ricos flexibilizem nos preços agrícolas para que os produtos dos países mais pobres entrem no mercado rico, senão não há estímulo para os países plantarem.
Então, parem de hipocrisia e comecem a comprar os combustíveis que estamos vendendo. Ou façam parceria com terceiros países. A Europa poderia fazer convênio, como nós fizemos em Gana. Vamos produzir em Gana para vender para a Suécia. Quero dizer uma coisa de coração: se um dia eu chegar à conclusão de que, para encher o tanque de um carro, meu tanque (apontando para a barriga) terá de ficar vazio, vou encher meu tanque primeiro para depois encher o tanque do carro. Não podemos é aceitar a discussão que os países ricos querem nos impor.
Desde pequeno eu ouvia dizer que o Brasil seria o celeiro do mundo. Pois bem, a oportunidade se apresenta agora. A Europa não tem mais condição de aumentar a produção agrícola, são poucos os países que têm terra para aumentar. Quem é que tem? O Brasil, a África e a América Latina.
O senhor tem dito que o biocombustível e a cana-de-açúcar não pressionam a produção de alimento porque o Brasil tem muita terra, especialmente pastos degradados que poderiam ser utilizados. Se está sobrando terra para plantar cana, por que está faltando para a reforma agrária?
Não está faltando terra para a reforma agrária. No governo passado, em oito anos, eles distribuíram 22 milhões de hectares de terra. Nós, em cinco anos, distribuímos 35 milhões de hectares de terra.
Qual é a divergência que tenho com o movimento dos sem-terra? É que acho que o problema não é assentar mais gente. O problema é fazer as pessoas que já estão na terra se tornarem mais produtivas. O que não pode é ficar colocando gente num canto, e eles continuarem tão miseráveis quanto estavam ontem. Precisamos aperfeiçoar a produtividade, a assistência técnica, o equilíbrio dos preços para quem já tem terra. Desse drama eu não sofro.
O dado concreto é que estamos vivendo um bom desafio, e o Brasil não pode ter medo do bom desafio. O ruim seria se o mundo estivesse precisando de alimento e o Brasil não tivesse terra, tecnologia e conhecimento.
Essa escalada no preço dos alimentos deu razão ao Banco Central, que aumentou em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros?
Olha, não me peça para discutir o Banco Central. Você pode discordar da visão que o Banco Central está tendo de que a inflação daqui a um ano será de 6% ou 7%, ou você pode concordar. Então, cabe ao governo, em vez de ficar choramingando, tomar atitudes para evitar que os preços da comida subam. Naquilo que são preços que dependem do governo as coisas estão mais ou menos controladas. Então, eu acho que não há necessidade de a gente ter medo da inflação. A inflação tem que ser controlada porque durante 27 anos da minha vida vivi de salário como trabalhador e sei que a inflação é uma desgraça na vida de um operário. Então, precisamos aumentar a produção.
Uma economia saudável é aquela em que você tem um crescimento da demanda e um crescimento da oferta andando mais ou menos juntos. Se a oferta cresce mais, você expande suas exportações. À medida que a demanda cresce um pouco mais e a oferta não cresce, temos um problema de aumento de preço.
Não está acontecendo isso no Brasil. Não está acontecendo. Porque tem muitos investimentos. Esses investimentos num primeiro momento são consumo, porque você tem que comprar as coisas para construir uma fábrica, mas num segundo momento se tornam oferta. E é com essa idéia que nós trabalhamos para 2009. Os investimentos já estão feitos, já estão acontecendo. Nós passamos 26 anos sem fazer uma fábrica de cimento no Brasil. De repente, fomos obrigados a fazer 10 fábricas de cimento, porque a construção civil foi destravada. E nós não queremos truncar o crescimento. Daí a minha preocupação com o aumento dos juros.
A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, tem a liderança política e a capacidade necessárias para enfrentar os desafios colocados ao país?
Por que você pergunta da Dilma e não do Franklin (Martins, ministro da Comunicação Social)? Eu tenho tido todo o cuidado e tenho consciência de que não é o momento de o presidente da República estar em campanha. Tenho dois anos e oito meses de mandato ainda, tem muita coisa para se fazer neste país, e eu não posso perder tempo fazendo campanha.
Tomei uma decisão de que nas eleições municipais, onde a base estiver com mais de um candidato, não pense que eu vou lá porque eu não vou. Agora, também não pensem… Outro dia não sei quem foi que achou absurdo eu dizer que queria fazer meu sucessor. Houve alguém que ficou estarrecido. Ele deveria ficar estarrecido se eu não quisesse fazer. Penso em fazer o sucessor à Presidência da República. Trabalho para isso. Agora, eu tenho uma base muito heterogênea. Com que o presidente precisa contar neste momento? Com a hipótese de que a gente consiga montar uma chapa única da base aliada.
Como fazer isso?
Nós temos candidato a presidente e a vice, 27 governadores e 54 senadores (nas eleições em 2010). Portanto, temos cargos para contemplar essa base heterogênea. O PSB, por exemplo, é um aliado histórico e tem candidato à Presidência, o deputado Ciro Gomes, um candidato forte porque já foi candidato duas vezes, é uma pessoa conhecida, basta ver nas pesquisas.
Mas também é bem possível que outros partidos queiram lançar candidato. E vocês jamais me verão reclamar de um partido querer lançar candidato. Se o PCdoB quiser ter candidato, se o PDT quiser ter candidato, eu acho normal, porque é o momento de o partido colocar a cara na televisão, de dizer qual é o seu programa, a sua proposta. Então, vocês não me verão nervoso porque os partidos terão candidato próprio.
Obviamente, se não for possível construir uma candidatura única da base, pode ficar certo de que o governo terá candidato.
Por que o senhor escolheu a ministra Dilma?
Eu não estou dizendo que será a Dilma. Não sei quem está dizendo que é a Dilma. É muito difícil a gente tentar lançar alguém candidato sem que tenha uma discussão com o partido ou com os aliados. Se você perguntar das qualidades da Dilma, vou dizer para você uma coisa: existem raríssimas pessoas no Brasil com a capacidade gerencial da companheira Dilma Rousseff. Rarísssimas. A Dilma é de uma capacidade de gerenciamento impecável. E, sobretudo, é aquilo que a gente gosta, ‘Caxias’. Então, eu acho uma figura extraordinária.
Agora, entre ser uma figura extraordinária para gerenciar e ser candidata à Presidência é uma outra conversa, porque aí entra um ingrediente chamado política, que exige outras credenciais. Eu não estou discutindo isso agora. No momento certo, provocarei a discussão.
Quando será o momento?
Será depois das eleições de 2008. Terminada a eleição para as prefeituras, a partir do ano que vem todo mundo tem que saber claramente que vamos começar a campanha de 2010, sem que o presidente participe diretamente, porque tenho muito coisa para fazer, mas os partidos precisarão começar a sair a campo, porque se não fica uma situação desigual. O PSDB tem dois candidatos já postos, o (José) Serra (governador de São Paulo) e o Aécio (Neves, governador de Minas Gerais). Não se sabe se o (Geraldo) Alckmin quer ser ou não. Ou seja, a oposição não pode ficar nadando na praia sozinha. É preciso colocar mais gente nessa praia, e acho que os partidos vão colocar.
O senhor é a favor da aliança do PT com o PSDB em Belo Horizonte? (depois da entrevista, a aliança foi vetada pelo Diretório Nacional do PT)
Cada partido, na sua cidade e no seu estado, tem que determinar a política que ele entende que seja mais conveniente. O que estou entendendo? Que é conveniente para o Aécio fazer a aliança com o Fernando Pimentel (prefeito de Belo Horizonte) e é conveniente para o Pimentel fazer a aliança com o Aécio. Como o Aécio tem o controle do PSDB e o Pimentel mostrou ter o controle do PT, os dois fizeram aliança. Eu acho normal para disputar a prefeitura. A gente não pode também ficar querendo que Roraima e Pernambuco se envolvam no acordo que Minas Gerais fez.
Os ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci não ficaram muito felizes com a aliança.
É normal. Houve dezenas de reuniões, eles não participaram e a gente paga o preço. O Pimentel está há muito tempo na prefeitura, foi secretário do Patrus, foi secretário do Célio (de Castro), foi vice-prefeito, é prefeito duas vezes. Ele só pode ter o controle do partido lá. E também é muito competente. Se tem uma coisa que não falta ao Pimentel é competência.
Essa aliança não tem um significado maior, uma simbologia nacional?
Eu não vejo assim. Obviamente que quem fez pode pensar que tem.
A aliança não pode atrair o PSB em nível nacional?
Não acredito. Ela se deu em Belo Horizonte, mas não se deu em Contagem, em Ipatinga, em Governador Valadares. Ou seja, é uma coisa muito localizada.
Uma das versões sobre a aliança é que o PT está fortalecendo o Aécio porque acha que ele não será o candidato à Presidência do PSDB. Mas se ele for o candidato do PSDB, como é que fica?
Primeiro, não cabe ao PT fortalecer o Aécio. Quem tem que fortalecer o Aécio, em primeiro lugar, é o próprio Aécio e, em segundo lugar, o PSDB.
Mas o senhor disse que a aliança fortalece o Aécio e o Pimentel.
Não sei. Acho que essa aliança não pode ter vinculação com 2010. Todo mundo sabe que o Aécio é um político hábil, inteligente. O Aécio e o Pimentel gostam de viver essa relação muito harmônica. Isso é um problema de Minas Gerais.
O jogo vai começar para 2010 a partir de agora. Obviamente que o Aécio antes de qualquer coisa tem que enfrentar os obstáculos internos, o Serra tem que enfrentar os obstáculos internos. Depois é que eles vão sair na disputa pública para ver quem é quem. Acho que nós precisamos nos preparar. Quem quer que seja o candidato (da oposição), o governo vai ter candidato.
O governador Aécio Neves seria um bom nome da coalizão governista se mudasse para o PMDB?
É muito difícil para o presidente da República discutir em tese. É preciso primeiro saber se o PMDB quer. Segundo, saber qual é o tempo em que ele faria isso, porque isso aos olhos do povo não é uma coisa simples. Eu estou torcendo pelo Garantido (um dos competidores no Festival Folclórico de Parintins-AM) e daqui a pouco o povo me vê no Caprichoso (adversário do Garantido). Não é assim, não é uma coisa simples.
Obviamente que o governador de Minas Gerais tem condições de pleitear ser candidato a presidente, como tem o governador de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Paraná. Agora, primeiro tem o confronto interno, que não é uma coisa fácil. E certamente o Aécio não vai correr do jogo antes de o jogo ser jogado. Ele vai ter que disputar. Se ele perde e depois tenta sair, aí realmente é um tiro pela culatra.
O senhor citou Roraima. O senhor sempre diz que conhece o Brasil, e não apenas de ouvir falar. O senhor, ao longo de sua vida política, já esteve nos quatro cantos do país. Por que o senhor não foi até hoje, em mais de cinco anos de mandato, até Roraima para conhecer a situação pessoalmente e conversar diretamente com a população sobre o conflito fundiário que ocorre naquele estado?
Primeiro, eu já fui muitas vezes a Roraima. Não fui como presidente da República, porque tem um conflito estabelecido. Um grupo de políticos tratou de fazer contra o governo federal uma guerra, quando o que estávamos querendo fazer era a demarcação (da reserva indígena Raposa/Serra do Sol) tal como preconizado no governo passado.
O ministro Márcio Thomaz Bastos (então na Justiça) trabalhou, ouviu quem deveria ouvir, foi lá dezenas de vezes, fez uma demarcação, estabeleceu-se o conflito, e é só você ver a publicidade feita pelos adversários lá que você vai perceber que está estabelecida uma guerra com o governo federal. E por que eu iria lá para aumentar esse conflito?
O senhor não poderia ser um mediador?
Temos tentando mediar daqui. Tudo que fizemos até agora foi acordado na minha mesa. Tudo. Acontece que você faz um acordo aqui e as coisas não acontecem lá.
Agora, eu não quero mais discutir esse assunto porque está no Supremo Tribunal Federal. Eu só posso lhe garantir uma coisa: o Márcio Thomaz Bastos trabalhou nisso com carinho, tivemos deputados e senadores que foram lá, construiu-se uma proposta que era razoável, estabeleceu-se um acordo para distribuir as terras que estão nas mãos do Incra para o estado de Roraima. Tudo isso foi feito.
Ainda assim continua uma guerra. É só você ver a quantidade de outdoors naquela cidade contra o governo federal, enquanto a gente queria encontrar uma solução para o bem de Roraima. Ora, não fui eu que levei os índios para lá. Eles estavam lá antes de chegar o governador, antes de eu ser presidente da República e, eu diria, antes de o Brasil ser descoberto. O que estamos fazendo é dando para eles aquilo que entendemos que é de direito deles. A Suprema Corte vai tomar a decisão. Qualquer que seja a decisão, para mim está resolvido o problema.
Como o senhor recebeu a fala do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, a respeito desse assunto?
Ele disse publicamente que falou em caráter pessoal. À medida que o governo mostrou sua insatisfação, ele disse que não vai falar mais. Para mim, está resolvido o problema. Acho normal que um militar que está na área tenha uma visão que necessariamente não precisa ser a minha. Mas à medida que o governo tem uma decisão, aquela é a decisão do país. Agora, quando vai para a suprema corte, o governo também se subordina à decisão da Suprema Corte.
O senhor aceitaria prorrogar o mandato em mais um ano para viabilizar o fim da reeleição e o mandato presidencial de cinco anos?
Não existe possibilidade. O que eu acho é que o Congresso e os partidos deveriam priorizar a reforma política. Dentro da reforma política, poderiam aumentar o mandato do presidente em um ano e acabar com a reeleição a partir de 2014. O dado concreto é que a reforma política se faz extremamente necessária e eu não sei por que os partidos não querem fazê-la. Às vezes, sou cobrado e fico pensando se é o presidente que tem que fazer uma proposta. Não é o presidente.
Mas o senhor está disposto a apresentar uma proposta?
Eu não quero fazer. Não é papel do Executivo fazer a proposta de reforma política. Aliás, nós tentamos fazer. Tem uma proposta enviada pelo companheiro Márcio Thomaz Bastos ao Congresso que foi para uma comissão, foi discutida e parou. Se você perguntar para mim qual é a reforma mais importante a ser feita no Brasil, eu direi a reforma política. E tenho provocado os partidos para que discutam, que coloquem uma proposta, não façam nada para a próxima eleição. Façam para 2014, para quando quiserem, mas façam. Vamos dar mais estabilidade institucional ao país, valorizar os partidos.
Por que os partidos não votam a reforma?
Porque é sempre muito difícil as pessoas que estão exercendo o cargo quererem mudar as regras do jogo. Se o governo puxa uma proposta de reforma política e os partidos não querem, o governo já sai derrotado no berço. Eu tenho provocado. Já pensei até em convocar os ex-presidentes para que fizessem a proposta política. A impressão que eu tenho é que as pessoas não querem. É uma coisa bonita de falar, fácil de falar, mas na hora de votar ninguém quer. As pessoas acham que as eleições têm que ser do jeito que está.
Quando há interesse, é para propor o terceiro mandato.
O terceiro mandato não está ligado à reforma política. Propor o terceiro mandato é tão pernicioso quanto foi proporem o segundo.
Essa frase é perigosa, presidente, porque o segundo mandato aconteceu.
Aconteceu. Na minha opinião, não foi nenhuma sumidade para o Brasil porque a gente poderia ter mantido o mandato de cinco anos sem reeleição. Por que aconteceu o segundo? Por causa da vaidade de quem está no poder.
Eu acho que é impensável, se você quiser consolidar a democracia no Brasil, pensar em terceiro mandato. Porque hoje você pensa em terceiro mandato, amanhã pensa em quarto mandato, daqui a pouco está pensando em quinto mandato. E isso é uma coisa obscena para a sustentabilidade da democracia no Brasil. As pessoas que discutem terceiro mandato não têm coisa mais séria para discutir. E a gente não pode dar crédito a tudo que a oposição fala. A oposição que está com medo do terceiro mandato é a oposição que achava que meu mandato tinha acabado em 2005.
Há uma CPI mista no Congresso sobre cartões corporativos. A Polícia Federal está investigando uma possível manipulação irregular de informações sigilosas das contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o vazamento desses dados, que estavam sob a guarda da Casa Civil. O senhor acha que esses dados estão seguros aqui no Palácio? O senhor falou tanto da capacidade gerencial da ministra Dilma… Não houve um descontrole nesse assunto?
A maior prova de que não estão seguros é que vazaram. Por que vocês não pegam o caso de que todo vazamento que houve dos cartões corporativos é por causa da divulgação feita pela Controladoria-Geral da União, no Portal da Transparência?
Mas ali não é vazamento.
Mas está tudo lá. Qualquer cidadão pode entrar no portal e pegar as informações. Obviamente que, se eu tirasse a minha camisa aqui e chamasse um de vocês escondido e falasse que essa camisa eu achei no túmulo do (Che) Guevara, a manchete seria: “Lula entrega ao Correio Braziliense a camisa com a qual foi enterrado Guevara”. Até alguém provar que era mentira… Agora, achar que este governo iria fazer um dossiê contra a dona Ruth (Cardoso, ex-primeira-dama), contra o Fernando Henrique Cardoso, é não ter dimensão de que, se eu quisesse fazer dossiê, teria feito em 2005, quando fui triturado por adversários que vocês conhecem. E que certamente, se investigados, teriam muitas coisas… Eu não fiz porque fui vítima disso a vida inteira.
O que estamos fazendo é um banco de dados, para que as pessoas tenham as informações adequadas. E quando eu deixar a Presidência não existirá mais nada meu que não possa ser divulgado.
Agora, se alguém consegue pegar um documento e vender como dossiê, ou entrega para um senador e para um deputado, eu não posso fazer outra (coisa) a não ser apurar, para saber o que aconteceu.
Vamos continuar a fazer banco de dados até 31 de dezembro de 2010. Eu fico triste porque muitas vezes vejo o debate nacional se dar em cima de coisas menores, e não das coisas importantes que a gente deveria discutir. Eu posso ter todos os defeitos, mas se tem uma coisa que eu aprendi na minha vida é ter uma relação política leal. Eu vivi esse preconceito, essa perseguição, no movimento sindical. Minha vida foi futucada nos bancos quando sofri intervenção, e eu nunca mostrei um minuto de raiva ou de vingança. Se eu fosse fazer um dossiê, não seria da dona Ruth.
E se a Polícia Federal chegar à conclusão de que houve manipulação indevida de informações, violando normas vigentes sobre dados sigilosos?
Se se provar que alguém manipulou equivocadamente, esse alguém terá que ser punido. Essa é a prática. A única coisa com que fico triste é alguém tentar passar a idéia de que o governo iria fazer um dossiê contra a dona Ruth. Realmente, não me cabe na cabeça.
O senhor concorda com o ministro da Justiça, Tarso Genro, para quem o governo tem o direito de recolher informações de gestões anteriores e usá-las para reagir a crises políticas?
Mas essas informações estão aí. Se eu quiser pegar o que fez um prefeito há 15 anos, é só ir ao Ministério do Planejamento, está lá o processo. O Tarso não disse que é certo. O Tarso disse que não é um delito. Certamente, o Correio Braziliense tem informações cotidianas dos seus concorrentes. Ou não tem? Ou a Pirelli não tem da Michelin? Ou a Volks não tem da Fiat? Agora, imaginar que você vai utilizar isso para fazer alguma coisa… Agora, quando nós instituímos a CPI… E é importante que isso não se perca de vista, porque de vez em quando a gente perde o momento histórico.
Nós fizemos o primeiro comício das Diretas Já em novembro de 1983 no Pacaembu, quando o Fernando Henrique foi lá anunciar a morte do Teotônio Vilela, e para a opinião pública brasileira o único ato que houve foi o de 25 de janeiro de 1984. Mas o primeiro ato, com a presença até do Fernando Henrique, foi nosso.
O que não quero é que se perca de vista que nós pedimos uma CPI e, como nós pedimos uma CPI para até 10 anos atrás, temos que ter o banco de dados para oferecer para a CPI.
Esse debate sobre cartões corporativos é hipócrita?
Não diria que é hipócrita, diria que é pequeno. Eu era presidente do sindicato quando acabei com nota fiscal no sindicato, porque eu via a briga mesquinha do conselho fiscal para saber se o cara parou no posto ou no motel. Em São Paulo, se você pegar a Via Anhangüera, verá dois ou três restaurantes que são motéis também. Até você provar que tinha sido só almoço era uma guerra. Então, resolvi instituir a diária. Fiz uma média nacional. Se você quiser dormir na sarjeta, dorme. Não precisa prestar contas. Só assina o recibo de que recebeu a diária.
Confesso a vocês que neste país há uma certa hipocrisia. Um ministro de Estado, se for à França, come do bom e do melhor e não põe a mão no bolso. No Brasil, um ministro não pode pagar um café para um convidado. Imagina o ministro da Justiça do Brasil ir jantar com o ministro da Justiça da Colômbia e na hora de pedir a conta falar o seguinte: vamos rachar. É uma hipocrisia.
Vou esperar a CPI terminar e instituir uma diária. Ou verba de representação. Espero que a CPI proponha isso. Se o cidadão pegar a diária e quiser dormir num meia estrela para economizar, o problema é dele. Mas pelo menos você fica tranqüilo e não fica vulnerável a ver manchete de jornal dizendo que o cidadão gastou oito reais com tapioca. Prefiro correr o risco de fazer a coisa séria.
Os gastos de ex-presidentes têm que ser mantidos em sigilo?
Não é todo gasto que é mantido em sigilo, é aquilo que o Gabinete de Segurança Institucional entende que é de segurança da instituição Presidência da República. Só vale para quando você for presidente. Quando eu deixar a Presidência, no dia primeiro de janeiro de 2011, os meus dados serão dados públicos. Não tem mais segurança, não tem mais que alugar carro em meu nome, não tem importância as pessoas saberem em que açougue vai comprar carne. Eu conheço presidente que não toma água que a gente oferece, que não toma café que a gente oferece, que não come a mesma comida que a gente come. Eu como até coisa que me dão no palanque. Se tiver alguma desgraça, eu sei que vou me ferrar. A segurança quando vê toma da minha mão. Eu tenho que pegar sem eles verem.
O ideal para mim ao terminar o mandato é ter clareza de que o Brasil mudou de patamar. Obviamente, eu não carrego a ilusão de que a gente vai transformar o Brasil na grande nação com que todos nós sonhamos em oito anos, 15 anos. É um processo que precisa ter continuidade. Daí a necessidade de o próximo governante ter uma concepção seqüencial, de dar cumprimento às coisas que estamos fazendo.
As discussões que não avançam no Congresso, como a reforma política, têm uma mesma razão embrionária, que é a disputa entre dois núcleos de poder de São Paulo, o PT e o PSDB. Depois de 16 anos, está na hora de mudar esse eixo de poder?
Sempre achei que PT e PSDB pudessem ter muitas convergências e que as coisas não fossem ser radicalizadas da forma que ficaram radicalizadas. Quando o PSDB ganhou as eleições, houve uma tentativa de aproximação com a esquerda, havia até quem dissesse que o Fernando Henrique tinha cooptado o José Genoino, mas isso não aconteceu. Só para você ter uma idéia, eu fui chamado para conversar com o Fernando Henrique (só) em 1998, depois das eleições. Não havia diálogo. E agora também não há, porque o PSDB virou o nosso principal adversário.
É importante lembrar que, em 1994 e 1998, o PT nas duas eleições disputou com o Mário Covas (o governo de São Paulo) e depois teve a responsabilidade de contribuir para a eleição do Covas no segundo turno. Há dentro do PSDB e dentro do PT um espectro de conversações muito amplo. Radicalizou muito nos últimos três anos com algumas pessoas, não todas. A minha convivência com os governadores do PSDB é a melhor possível. Onde está o problema? No Senado.
Por que o governo, em vez de mandar derrubar a regulamentação da Emenda da Saúde, aprovada com o voto do PSDB, não negocia com a Câmara?
O governo não vai mover um dedo. Se eles quiserem negociar na Câmara, que façam. O dado concreto é que não pode a mesma Casa que derrotou a CPMF aprovar a regulamentação da Emenda 29. É um contra-senso. Para que fazem isso? Para me colocar em xeque? Se eu vou vetar? Não tenham dúvida. Não tenham dúvida de que eu não vacilarei um milímetro para fazer a coisa correta que tem de ser feita em nome deste país. A não ser que eu fosse um total irresponsável e deixasse passar. Aí, quando o outro tomar posse em 2011, o país está quebrado. Eu não vou fazer isso.
Isso vale para o fator previdenciário também?
Isso vale para tudo que for aprovado e não tenha afinidade com o potencial de pagamento do país. Como é que eu posso chegar em casa e prometer para meu filho uma coisa que eu não posso dar? Fazer proselitismo em época de campanha? É realmente triste isso.
O senhor tem assistido ao noticiário da TV Brasil?
Eu não tenho conseguido ver televisão. Quando eu chego em casa, as 11h da noite, eu mal tomo meu banho, tomo uma sopa e vou dormir.
Agora, mesmo sem ver, vou dizer uma coisa: vamos construir uma grande TV pública. Acho que é necessário. Não queremos fazer competição de publicidade com a imprensa privada, mas queremos fazer competição na qualidade da informação, da programação.
Alguns diziam que isso é TV do Lula, mas seria insano eu fazer uma coisa quando estou saindo do governo. Estou fazendo porque acho que o país precisa, porque a gente pode fazer melhor do que a melhor que nós temos no Brasil, que é a TV Cultura. Pode fazer melhor. E passar informações corretas, com jornalistas sérios, sempre mostrando a moeda com as suas duas faces, e nunca com uma face só. Eu sei que não é fácil. Para você lançar um canal de televisão e fazer ele ser visto, leva um tempo.
O senhor ainda pensa que a imprensa burguesa persegue o seu governo?
Houve um momento em que a imprensa brasileira criou a idéia do consenso único, favorável à primeira etapa do Plano Real. Foi um momento difícil em que você não tinha espaço para fazer oposição neste país. Era 100% pensamento único. Eu confesso a você que no meu governo teve 100% de pensamento contra.
Mas é passado?
Eu aprendi a não ficar com raiva da imprensa porque acredito na capacidade de discernimento do leitor, do ouvinte e do telespectador. A prova disso é a minha reeleição. Quando o cidadão é 100% contra, o leitor percebe. Quando ele é 100% a favor, o leitor também percebe. E tanto 100% contra como 100% a favor não têm credibilidade. A imprensa brasileira tem que informar corretamente a opinião pública. Acho que houve um tempo em que era 100% contra.
Como na minha vida eu nunca tive muito afago, aprendi a conviver. E o povo está ficando inteligente. Aquela idéia de que alguém é formador de opinião pública vai por terra se a pessoa não for verdadeira. Por mais que eu tenha queixa da imprensa, e não conheço político que não tenha queixa da imprensa, ela, por bem ou por mal, é um dos pilares da consagração da democracia no país.
Eu acho fantástico o cara que faz manchete no jornal. Gostaria de um cara desses para fazer manchete quando eu fosse candidato, porque às vezes a manchete não tem nada a ver com a matéria. Acho fantástica a criatividade. Obviamente, a manchete é o R$ 1,99, um chamariz para o cara entrar na loja e fazer a compra.”
sábado, 26 de abril de 2008
EUA DESTINAM PORTA-AVIÕES NUCLEAR “CONTRATERRORISMO” NA AMÉRICA LATINA!
A Marinha norte-americana anunciou que está recriando sua “Quarta Frota”, que será responsável pelos navios, submarinos e aeronaves dos EUA em operação na América do Sul, Central e no Caribe. A esquadra somente existiu na década da Segunda Guerra Mundial, entre 1943 e 1950.
A nova força deverá ser liderada por um porta-aviões nuclear.
Essa notícia consta no jornal Folha de São Paulo de hoje, em texto de Sérgio D’Ávila, de Washington.
É um exercício de imaginação desafiador para especialistas da área conceber como um porta-aviões nuclear poderá ser empregado em ações “contraterrorismo” aqui na América do Sul. O governo dos EUA já externou que considera a nossa região de Foz do Iguaçu (e Itaipu), a "tríplice fronteira", como "foco de terrorismo" (ver artigos da nossa série "Guerras recentes dos EUA").
Como a reciprocidade é a boa norma das relações internacionais, a Marinha do Brasil deveria também destacar uma frota para ações 'contraterrorismo' e para nossa proteção contra a 'corrida armamentista' na América do Norte.
A reportagem de hoje da Folha justifica a medida dos EUA de modo mais enigmático ainda: “ela (a Marinha dos EUA) mandará uma mensagem”. Acrescenta o jornal:
“O interesse norte-americano foi evidenciado por fatos recentes, como:
--a ação da Colômbia contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no Equador;
--o que os EUA chamam de "corrida armamentista" patrocinada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez;
--e a sugestão do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de que seja criado um Conselho Regional de Defesa na América do Sul".
Muito intrigante.
A Folha e a Marinha dos EUA 'esqueceram' de listar dois reais motivos:
--o petróleo venezuelano;
--as megas reservas petrolíferas recém-descobertas no litoral brasileiro.
Transcrevo parte da notícia da Folha:
“EUA RECRIAM FROTA PARA AMÉRICA LATINA
"A região é muito importante para nós", justifica-se a Marinha (dos EUA), que fala em ‘maior agilidade’ e nega conotação política na decisão”
“A Marinha norte-americana anunciou que está recriando sua Quarta Frota, que será responsável pelos navios, submarinos e aeronaves do país em operação na América do Sul, Central e no Caribe. A esquadra existiu entre 1943 e 1950 e sua volta agora é uma ‘decisão administrativa, não política’, defende o Pentágono.
O anúncio chega num momento em que a atividade militar na América Latina volta a despertar a atenção do mundo.
O interesse foi evidenciado por fatos recentes como a ação da Colômbia contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no Equador, o que os EUA chamam de "corrida armamentista" patrocinada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, e a sugestão do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de que seja criado um Conselho Regional de Defesa na América do Sul.
A nova força "mandará uma mensagem", "trará mais estatura à área e aumentará nossa capacidade de ação", disse o almirante Gary Roughead, ao anunciar a recriação da esquadra, anteontem. "Essa mudança aumenta nossa ênfase em ‘empregar forças navais na região para construir confiança’ entre os países, por meio de esforços de uma segurança marítima coletiva, focada nas ameaças em comum."
Contraterrorismo
Em depoimento recente ao Congresso americano, o almirante James Stavridis, chefe do Comando Sul (divisão do Pentágono responsável pela região), havia dito que apoiava o aumento das embarcações em atividade na América Latina, atualmente 11, e que a nova força deveria ser liderada por um porta-aviões nuclear.
O objetivo, afirmou então o militar, seria auxiliar os EUA nas atividades de contraterrorismo.”
A nova força deverá ser liderada por um porta-aviões nuclear.
Essa notícia consta no jornal Folha de São Paulo de hoje, em texto de Sérgio D’Ávila, de Washington.
É um exercício de imaginação desafiador para especialistas da área conceber como um porta-aviões nuclear poderá ser empregado em ações “contraterrorismo” aqui na América do Sul. O governo dos EUA já externou que considera a nossa região de Foz do Iguaçu (e Itaipu), a "tríplice fronteira", como "foco de terrorismo" (ver artigos da nossa série "Guerras recentes dos EUA").
Como a reciprocidade é a boa norma das relações internacionais, a Marinha do Brasil deveria também destacar uma frota para ações 'contraterrorismo' e para nossa proteção contra a 'corrida armamentista' na América do Norte.
A reportagem de hoje da Folha justifica a medida dos EUA de modo mais enigmático ainda: “ela (a Marinha dos EUA) mandará uma mensagem”. Acrescenta o jornal:
“O interesse norte-americano foi evidenciado por fatos recentes, como:
--a ação da Colômbia contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no Equador;
--o que os EUA chamam de "corrida armamentista" patrocinada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez;
--e a sugestão do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de que seja criado um Conselho Regional de Defesa na América do Sul".
Muito intrigante.
A Folha e a Marinha dos EUA 'esqueceram' de listar dois reais motivos:
--o petróleo venezuelano;
--as megas reservas petrolíferas recém-descobertas no litoral brasileiro.
Transcrevo parte da notícia da Folha:
“EUA RECRIAM FROTA PARA AMÉRICA LATINA
"A região é muito importante para nós", justifica-se a Marinha (dos EUA), que fala em ‘maior agilidade’ e nega conotação política na decisão”
“A Marinha norte-americana anunciou que está recriando sua Quarta Frota, que será responsável pelos navios, submarinos e aeronaves do país em operação na América do Sul, Central e no Caribe. A esquadra existiu entre 1943 e 1950 e sua volta agora é uma ‘decisão administrativa, não política’, defende o Pentágono.
O anúncio chega num momento em que a atividade militar na América Latina volta a despertar a atenção do mundo.
O interesse foi evidenciado por fatos recentes como a ação da Colômbia contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no Equador, o que os EUA chamam de "corrida armamentista" patrocinada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, e a sugestão do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, de que seja criado um Conselho Regional de Defesa na América do Sul.
A nova força "mandará uma mensagem", "trará mais estatura à área e aumentará nossa capacidade de ação", disse o almirante Gary Roughead, ao anunciar a recriação da esquadra, anteontem. "Essa mudança aumenta nossa ênfase em ‘empregar forças navais na região para construir confiança’ entre os países, por meio de esforços de uma segurança marítima coletiva, focada nas ameaças em comum."
Contraterrorismo
Em depoimento recente ao Congresso americano, o almirante James Stavridis, chefe do Comando Sul (divisão do Pentágono responsável pela região), havia dito que apoiava o aumento das embarcações em atividade na América Latina, atualmente 11, e que a nova força deveria ser liderada por um porta-aviões nuclear.
O objetivo, afirmou então o militar, seria auxiliar os EUA nas atividades de contraterrorismo.”
A CONTRADIÇÃO MOVE A HISTÓRIA
No blog “De um sem-mídia” (ver em "recomendamos") li hoje (26/04) um interessante artigo sobre diversos paradoxos encontrados ao longo da história da humanidade.
O autor é o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Hughes Galeano, nascido em Montevidéu em 3 de setembro de 1940.
O texto foi extraído, pelo blog de “um sem-mídia”, do blog “Abaixo e à esquerda”.
Vejamos o texto de Galeano:
“O PARADOXO AMBULANTE”
“A cada dia, lendo os jornais, assisto a uma aula de história. Os jornais me ensinam pelo que dizem e pelo que calam.
A história é um paradoxo ambulante. A contradição move-lhe as pernas.
Talvez por isso seus silêncios dizem mais que suas palavras, e com freqüência suas palavras revelam, mentindo, a verdade.
Daqui a pouco será publicado meu livro que se chama “Espejos” (“Espelhos”). É algo assim como uma história universal, e perdão pelo atrevimento. "Eu posso resistir a tudo, menos à tentação", dizia Oscar Wilde, e confesso que sucumbi à tentação de contar alguns episódios da aventura humana no mundo, desde o ponto de vista dos que não saíram na foto. Para dizer de outra maneira, trata-se de fatos não muito conhecidos.Aqui resumo alguns, apenas alguns.
Quando foram desalojados do Paraíso, Adão e Eva mudaram-se para a África, não a Paris. Algum tempo depois, quando seus filhos já haviam se lançado nos caminhos do mundo, inventou-se a escrita. No Iraque, não no Texas.Também a álgebra foi inventada no Iraque. Fundou-a Mohamed al Jwarizmi, há mil e duzentos anos, e as palavras algorítmo e algarismo derivam de seu nome.
Os nomes costumam não coincidir com o que nomeiam.
No Museu Britânico, tomemos como exemplo as esculturas do Partenon que se chamam "mármores de Elgin", mas são mármores de Fídias. Elgin era o nome do inglês que as vendeu ao museu.
As três novidades que tornaram possível o Renascimento europeu, a bússola, a pólvora e a imprensa, haviam sido inventadas pelos chineses, que também inventaram quase tudo o que a Europa reinventou.
Os hindus sabiam antes de qualquer um que a Terra era redonda e os maias haviam criado o calendário mais exato de todos os tempos.
Em 1493, o Vaticano presenteou a Espanha com a América e obsequiou a África negra a Portugal, "para que as nações bárbaras sejam reduzidas à fé católica". Então, a América tinha quinze vezes mais habitantes que a Espanha, e a África negra cem vezes mais que Portugal.
Tal como havia determinado o Papa, as nações bárbaras foram reduzidas. E muito.
Tenochtitlán, o centro do império asteca, era de água. Hernán Cortés demoliu a cidade, pedra por pedra, e com os escombros tapou os canais por onde navegavam duzentas mil canoas. Esta foi a primeira guerra da água na América. Agora Tenochtitlán chama-se México DF. Por onde corria a água, correm os automóveis.
O monumento mais alto da Argentina foi erigido em homenagem ao general Roca, que no século dezenove exterminou os índios da Patagônia.
A maior avenida do Uruguai leva o nome do general Rivera, que, no século dezenove, exterminou os últimos índios charruas.
John Locke, o filósofo da liberdade, era acionista da Royal Africa Company, que comprava e vendia escravos.
Enquanto nascia o século dezoito, o primeiro dos Bourbons, Felipe V, estreou seu trono assinando um contrato com seu primo, o rei da França, para que a Compagnie de Guinée vendesse negros na América. Cada monarca levava uns 25 por cento do lucro. Nomes de alguns navios negreiros: Voltaire, Rousseau, Jesus, Esperança, Igualdade, Amizade.
Dois dos Pais Fundadores dos Estados Unidos desvaneceram-se na névoa da história oficial. Ninguém recorda de Robert Carter nem de Gouverner Morris. A amnésia recompensou seus atos. Carter foi o único prócer da independência que libertou seus escravos. Morris, redator da Constituição, opôs-se à cláusula que estabeleceu que um escravo equivalia às três quintas partes de uma pessoa.
"O nascimento de uma nação", a primeira superprodução de Hollywood, estreou em 1915, na Casa Branca. O presidente, Woodrow Wilson, aplaudiu-a em pé. Ele era o autor dos textos do filme, um hino racista de louvor a Ku Klux Klan.
Algumas datas: Desde o ano 1234, e durante os sete séculos seguintes, a Igreja Católica proibiu que as mulheres cantassem nos templos. Suas vozes eram impuras, por aquele assunto de Eva e o pecado original.
No ano 1783, o rei da Espanha decretou que não eram desonrosos os trabalhos manuais, os chamados "ofícios vis", que até então implicavam perda da fidalguia.
Até o ano 1986, foi legal o castigo das crianças nas escolas da Inglaterra, com correias, varas e porretes.
Em nome da liberdade, a igualdade e a fraternidade, a Revolução Francesa proclamou em 1793 a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Então, a militante revolucionária Olympia de Gouges propôs a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. A guilhotina cortou-lhe a cabeça.
Meio século depois, outro governo revolucionário, durante a Primeira Comuna de Paris, proclamou o sufrágio universal. Ao mesmo tempo, negou o direito de voto às mulheres, por unanimidade menos um: 899 votos contra, um a favor.
A imperatriz cristã Teodora nunca disse ser revolucionária, nem algo no estilo. Mas, há mil e quinhentos anos, o império bizantino foi, graças a ela, o primeiro lugar do mundo onde o aborto e o divórcio foram direitos das mulheres.
O general Ulisses Grant, vencedor na guerra do norte industrial contra o sul escravista, foi a seguir presidente dos Estados Unidos. Em 1875, respondendo às pressões britânicas, respondeu:– Dentro de duzentos anos, quando obtivermos do protecionismo tudo o que nos pode oferecer, nós também adotaremos a liberdade de comércio.
Assim, pois, no ano 2075, a nação mais protecionista do mundo adotará a liberdade de comércio.
Lootie, "Botincito", foi o primeiro cão pequinês que chegou à Europa. Viajou para Londres em 1860. Os ingleses batizaram-no desse modo porque era parte do botim arrancado da China, ao cabo das duas longas guerras do ópio. Vitória, a rainha narcotraficante, impusera o ópio a tiros de canhão. A China foi convertida em uma nação de drogados, em nome da liberdade, a liberdade de comércio.
Em nome da liberdade, a liberdade de comércio, o Paraguai foi aniquilado em 1870. No fim de uma guerra de cinco anos, este país, o único país das Américas que não devia um centavo a ninguém, inaugurou sua dívida externa. Às suas ruínas fumegantes chegou, de Londres, o primeiro empréstimo. Foi destinado a pagar uma enorme indenização para o Brasil, a Argentina e o Uruguai. O país assassinado pagou aos países assassinos pelo trabalho que tiveram assassinando-o.
O Haiti também pagou uma enorme indenização. Desde que, em 1804, conquistou sua independência, a nova nação arrasada teve que pagar uma fortuna à França, durante um século e meio, para expiar o pecado de sua liberdade.
As grandes empresas têm direitos humanos nos Estados Unidos. Em 1886, a Suprema Corte de Justiça estendeu os direitos humanos às corporações privadas, e assim segue sendo. Poucos anos depois, em defesa dos direitos humanos de suas empresas, os Estados Unidos invadiram dez países, em diversos mares do mundo. Então, Mark Twain, dirigente da Liga Antiimperialista, propôs uma nova bandeira, com caveirinhas no lugar de estrelas, e outro escritor, Ambrose Bierce, comprovou:– A guerra é o caminho que Deus elegeu para nos ensinar geografia.
Os campos de concentração nasceram na África. Os ingleses iniciaram o experimento, e os alemães o desenvolveram. Depois Hermann Göring aplicou, na Alemanha, o modelo que seu papai havia ensaiado, em 1904, na Namíbia. Os mestres de Joseph Mengele haviam estudado, no campo de concentração da Namíbia, a anatomia das raças inferiores. Todos os negros eram cobaias.
Em 1936, o Comitê Olímpico Internacional não tolerava insolências. Nas Olimpíadas de 1936, organizadas por Hitler, a seleção de futebol do Peru derrotou por 4 a 2 a seleção da Áustria, o país natal do Führer. O Comitê Olímpico anulou a partida. Não faltavam amigos para Hitler.
A Rockefeller Foundation financiou investigações raciais e racistas da medicina nazi.
A Coca-Cola inventou a Fanta, em plena guerra, para o mercado alemão.
A IBM tornou possível a identificação e classificação dos judeus, e esta foi a primeira façanha em grande escala do sistema de cartões perfurados.
Em 1953, explodiu o protesto operário na Alemanha comunista. Os trabalhadores lançaram-se às ruas e os tanques soviéticos ocuparam-se em lhes calar a boca. Então Bertolt Brecht propôs: “Não seria mais fácil o governo dissolver o povo e escolher outro?”
Operações de marketing. A opinião pública é o target. As guerras vendem-se mentindo, como se vendem os automóveis.
Em 1964, os Estados Unidos invadiram o Vietnã, porque o Vietnã havia atacado dois navios dos Estados Unidos no golfo de Tonquin. Quando a guerra já havia destripado a uma multidão de vietnamitas, o ministro de Defesa, Robert McNamara, reconheceu que o ataque de Tonquin não existira.
Quarenta anos depois, a história se repetiu no Iraque. Milhares de anos antes que a invasão norte-americana levasse a civilização ao Iraque, nesta terra bárbara havia nascido o primeiro poema de amor da história universal. Em língua suméria, escrito no barro, o poema narrou o encontro de uma deusa e um pastor. Inanna, a deusa, naquela noite amou como se fosse mortal. Dumuzi, o pastor, foi imortal enquanto durou essa noite.
Paradoxos ambulantes, paradoxos estimulantes.
O Aleijadinho, o homem mais feio do Brasil, criou as mais belas esculturas da era colonial americana.
O livro de viagens de Marco Polo, aventura da liberdade, foi escrito no cárcere de Gênova.
Dom Quixote de La Mancha, outra aventura da liberdade, nasceu no cárcere de Sevilha.
Foram netos de escravos os negros que geraram o jazz, a mais livre das músicas. Um dos melhores guitarristas de jazz, o cigano Django Reinhardt, tinha não mais que dois dedos em sua mão esquerda.
Não tinha mãos Grimod de la Reynière, o grande mestre da cozinha francesa. Com ganchos escrevia, cozinhava e comia.”
O autor é o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Hughes Galeano, nascido em Montevidéu em 3 de setembro de 1940.
O texto foi extraído, pelo blog de “um sem-mídia”, do blog “Abaixo e à esquerda”.
Vejamos o texto de Galeano:
“O PARADOXO AMBULANTE”
“A cada dia, lendo os jornais, assisto a uma aula de história. Os jornais me ensinam pelo que dizem e pelo que calam.
A história é um paradoxo ambulante. A contradição move-lhe as pernas.
Talvez por isso seus silêncios dizem mais que suas palavras, e com freqüência suas palavras revelam, mentindo, a verdade.
Daqui a pouco será publicado meu livro que se chama “Espejos” (“Espelhos”). É algo assim como uma história universal, e perdão pelo atrevimento. "Eu posso resistir a tudo, menos à tentação", dizia Oscar Wilde, e confesso que sucumbi à tentação de contar alguns episódios da aventura humana no mundo, desde o ponto de vista dos que não saíram na foto. Para dizer de outra maneira, trata-se de fatos não muito conhecidos.Aqui resumo alguns, apenas alguns.
Quando foram desalojados do Paraíso, Adão e Eva mudaram-se para a África, não a Paris. Algum tempo depois, quando seus filhos já haviam se lançado nos caminhos do mundo, inventou-se a escrita. No Iraque, não no Texas.Também a álgebra foi inventada no Iraque. Fundou-a Mohamed al Jwarizmi, há mil e duzentos anos, e as palavras algorítmo e algarismo derivam de seu nome.
Os nomes costumam não coincidir com o que nomeiam.
No Museu Britânico, tomemos como exemplo as esculturas do Partenon que se chamam "mármores de Elgin", mas são mármores de Fídias. Elgin era o nome do inglês que as vendeu ao museu.
As três novidades que tornaram possível o Renascimento europeu, a bússola, a pólvora e a imprensa, haviam sido inventadas pelos chineses, que também inventaram quase tudo o que a Europa reinventou.
Os hindus sabiam antes de qualquer um que a Terra era redonda e os maias haviam criado o calendário mais exato de todos os tempos.
Em 1493, o Vaticano presenteou a Espanha com a América e obsequiou a África negra a Portugal, "para que as nações bárbaras sejam reduzidas à fé católica". Então, a América tinha quinze vezes mais habitantes que a Espanha, e a África negra cem vezes mais que Portugal.
Tal como havia determinado o Papa, as nações bárbaras foram reduzidas. E muito.
Tenochtitlán, o centro do império asteca, era de água. Hernán Cortés demoliu a cidade, pedra por pedra, e com os escombros tapou os canais por onde navegavam duzentas mil canoas. Esta foi a primeira guerra da água na América. Agora Tenochtitlán chama-se México DF. Por onde corria a água, correm os automóveis.
O monumento mais alto da Argentina foi erigido em homenagem ao general Roca, que no século dezenove exterminou os índios da Patagônia.
A maior avenida do Uruguai leva o nome do general Rivera, que, no século dezenove, exterminou os últimos índios charruas.
John Locke, o filósofo da liberdade, era acionista da Royal Africa Company, que comprava e vendia escravos.
Enquanto nascia o século dezoito, o primeiro dos Bourbons, Felipe V, estreou seu trono assinando um contrato com seu primo, o rei da França, para que a Compagnie de Guinée vendesse negros na América. Cada monarca levava uns 25 por cento do lucro. Nomes de alguns navios negreiros: Voltaire, Rousseau, Jesus, Esperança, Igualdade, Amizade.
Dois dos Pais Fundadores dos Estados Unidos desvaneceram-se na névoa da história oficial. Ninguém recorda de Robert Carter nem de Gouverner Morris. A amnésia recompensou seus atos. Carter foi o único prócer da independência que libertou seus escravos. Morris, redator da Constituição, opôs-se à cláusula que estabeleceu que um escravo equivalia às três quintas partes de uma pessoa.
"O nascimento de uma nação", a primeira superprodução de Hollywood, estreou em 1915, na Casa Branca. O presidente, Woodrow Wilson, aplaudiu-a em pé. Ele era o autor dos textos do filme, um hino racista de louvor a Ku Klux Klan.
Algumas datas: Desde o ano 1234, e durante os sete séculos seguintes, a Igreja Católica proibiu que as mulheres cantassem nos templos. Suas vozes eram impuras, por aquele assunto de Eva e o pecado original.
No ano 1783, o rei da Espanha decretou que não eram desonrosos os trabalhos manuais, os chamados "ofícios vis", que até então implicavam perda da fidalguia.
Até o ano 1986, foi legal o castigo das crianças nas escolas da Inglaterra, com correias, varas e porretes.
Em nome da liberdade, a igualdade e a fraternidade, a Revolução Francesa proclamou em 1793 a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Então, a militante revolucionária Olympia de Gouges propôs a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. A guilhotina cortou-lhe a cabeça.
Meio século depois, outro governo revolucionário, durante a Primeira Comuna de Paris, proclamou o sufrágio universal. Ao mesmo tempo, negou o direito de voto às mulheres, por unanimidade menos um: 899 votos contra, um a favor.
A imperatriz cristã Teodora nunca disse ser revolucionária, nem algo no estilo. Mas, há mil e quinhentos anos, o império bizantino foi, graças a ela, o primeiro lugar do mundo onde o aborto e o divórcio foram direitos das mulheres.
O general Ulisses Grant, vencedor na guerra do norte industrial contra o sul escravista, foi a seguir presidente dos Estados Unidos. Em 1875, respondendo às pressões britânicas, respondeu:– Dentro de duzentos anos, quando obtivermos do protecionismo tudo o que nos pode oferecer, nós também adotaremos a liberdade de comércio.
Assim, pois, no ano 2075, a nação mais protecionista do mundo adotará a liberdade de comércio.
Lootie, "Botincito", foi o primeiro cão pequinês que chegou à Europa. Viajou para Londres em 1860. Os ingleses batizaram-no desse modo porque era parte do botim arrancado da China, ao cabo das duas longas guerras do ópio. Vitória, a rainha narcotraficante, impusera o ópio a tiros de canhão. A China foi convertida em uma nação de drogados, em nome da liberdade, a liberdade de comércio.
Em nome da liberdade, a liberdade de comércio, o Paraguai foi aniquilado em 1870. No fim de uma guerra de cinco anos, este país, o único país das Américas que não devia um centavo a ninguém, inaugurou sua dívida externa. Às suas ruínas fumegantes chegou, de Londres, o primeiro empréstimo. Foi destinado a pagar uma enorme indenização para o Brasil, a Argentina e o Uruguai. O país assassinado pagou aos países assassinos pelo trabalho que tiveram assassinando-o.
O Haiti também pagou uma enorme indenização. Desde que, em 1804, conquistou sua independência, a nova nação arrasada teve que pagar uma fortuna à França, durante um século e meio, para expiar o pecado de sua liberdade.
As grandes empresas têm direitos humanos nos Estados Unidos. Em 1886, a Suprema Corte de Justiça estendeu os direitos humanos às corporações privadas, e assim segue sendo. Poucos anos depois, em defesa dos direitos humanos de suas empresas, os Estados Unidos invadiram dez países, em diversos mares do mundo. Então, Mark Twain, dirigente da Liga Antiimperialista, propôs uma nova bandeira, com caveirinhas no lugar de estrelas, e outro escritor, Ambrose Bierce, comprovou:– A guerra é o caminho que Deus elegeu para nos ensinar geografia.
Os campos de concentração nasceram na África. Os ingleses iniciaram o experimento, e os alemães o desenvolveram. Depois Hermann Göring aplicou, na Alemanha, o modelo que seu papai havia ensaiado, em 1904, na Namíbia. Os mestres de Joseph Mengele haviam estudado, no campo de concentração da Namíbia, a anatomia das raças inferiores. Todos os negros eram cobaias.
Em 1936, o Comitê Olímpico Internacional não tolerava insolências. Nas Olimpíadas de 1936, organizadas por Hitler, a seleção de futebol do Peru derrotou por 4 a 2 a seleção da Áustria, o país natal do Führer. O Comitê Olímpico anulou a partida. Não faltavam amigos para Hitler.
A Rockefeller Foundation financiou investigações raciais e racistas da medicina nazi.
A Coca-Cola inventou a Fanta, em plena guerra, para o mercado alemão.
A IBM tornou possível a identificação e classificação dos judeus, e esta foi a primeira façanha em grande escala do sistema de cartões perfurados.
Em 1953, explodiu o protesto operário na Alemanha comunista. Os trabalhadores lançaram-se às ruas e os tanques soviéticos ocuparam-se em lhes calar a boca. Então Bertolt Brecht propôs: “Não seria mais fácil o governo dissolver o povo e escolher outro?”
Operações de marketing. A opinião pública é o target. As guerras vendem-se mentindo, como se vendem os automóveis.
Em 1964, os Estados Unidos invadiram o Vietnã, porque o Vietnã havia atacado dois navios dos Estados Unidos no golfo de Tonquin. Quando a guerra já havia destripado a uma multidão de vietnamitas, o ministro de Defesa, Robert McNamara, reconheceu que o ataque de Tonquin não existira.
Quarenta anos depois, a história se repetiu no Iraque. Milhares de anos antes que a invasão norte-americana levasse a civilização ao Iraque, nesta terra bárbara havia nascido o primeiro poema de amor da história universal. Em língua suméria, escrito no barro, o poema narrou o encontro de uma deusa e um pastor. Inanna, a deusa, naquela noite amou como se fosse mortal. Dumuzi, o pastor, foi imortal enquanto durou essa noite.
Paradoxos ambulantes, paradoxos estimulantes.
O Aleijadinho, o homem mais feio do Brasil, criou as mais belas esculturas da era colonial americana.
O livro de viagens de Marco Polo, aventura da liberdade, foi escrito no cárcere de Gênova.
Dom Quixote de La Mancha, outra aventura da liberdade, nasceu no cárcere de Sevilha.
Foram netos de escravos os negros que geraram o jazz, a mais livre das músicas. Um dos melhores guitarristas de jazz, o cigano Django Reinhardt, tinha não mais que dois dedos em sua mão esquerda.
Não tinha mãos Grimod de la Reynière, o grande mestre da cozinha francesa. Com ganchos escrevia, cozinhava e comia.”
A IMPRENSA E A OPOSIÇÃO QUEREM A CRISE BRASIL x PARAGUAI
Este blog já abordou as reivindicações do recém-eleito presidente do Paraguai a respeito de preços da energia oriunda da usina hidrelétrica de Itaipu, ainda a maior do mundo em quantidade de energia gerada. Foi no artigo de segunda-feira última, 21 de abril, intitulado “Entrevista com o novo presidente paraguaio, Fernando Lugo”.
Posteriormente, na quinta-feira, 24 de abril, publicamos outro ponto-de-vista sobre o tema, na postagem “Polêmica sobre Itaipu”. No referido artigo, transcrevemos que o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, disse que o reajuste não seria justo para o consumidor brasileiro e que, para o Paraguai, a construção de Itaipu foi um grande negócio. "O Paraguai nesse processo entrou apenas com a água, com metade do rio. A usina foi construída com a alavancagem de recursos obtida pelo Brasil e com o know-how do Brasil. A metade do empreendimento equivale a algumas vezes o PIB do Paraguai, sendo que a contribuição dele para o processo foi o fato de estar na fronteira com o Brasil".
Hoje, trago para os leitores uma perspicaz abordagem do problema feita pelo jornalista Paulo Henrique Amorim (PHA) no seu blog “Conversa Afiada”.
Com as suas típicas sátira, sagacidade e ironia, PHA revela qual a razão de a grande mídia brasileira (por ele batizada de Partido da Imprensa Golpista-PIG) estar estimulando a discórdia entre os dois países.
O objetivo é a volta do PSDB e DEM-PFL ao poder. O retorno, com todos aqueles princípios “neoliberais” que marcaram o governo FHC. Um aspecto pertinente do governo tucanopefelento a relembrar era o desestímulo ao Mercosul, em coerência com o desejo de grandes potências, especialmente os EUA.
Transcrevo o artigo de Paulo Henrique Amorim:
“PIG QUER OUTRA GUERRA DO PARAGUAI”
"O Presidente eleito Fernando Lugo, do Paraguai, anunciou na campanha que queria mais dinheiro de Itaipu para o Paraguai.
Você, caro leitor, se fosse paraguaio, como reagiria ao fato de o Paraguai ser sócio da maior hidrelétrica do mundo e não ter energia de qualidade para fazer uma fábrica rodar direito?
Em quem você votaria?
Você, caro leitor, como brasileiro, prefere que os países vizinhos sejam amigos e prósperos, ou prefere países vizinhos hostis, pobres e ponto de distribuição de drogas, armas, munição e contrabando?
Vamos ver o que disse o Ministro Celso Amorim, em Acra, em Gana, onde acompanhava o Presidente Lula numa Conferência da Unctad:
“... continuar discutindo com o Paraguai, normalmente, sobre como ele obter uma remuneração adequada para sua energia. Isso é justo. Agora, a maneira de fazer, nós vamos discutir.”
Amorim também falou em o Brasil financiar a construção de linhas de transmissão, para o Paraguai aproveitar melhor a energia de Itaipu. E, provavelmente, através do BNDES, financiar empresas brasileiras que invistam no Paraguai.
Amorim também disse: “compensar a energia paraguaia por uma defasagem, se se comparar com o que recebem usinas hidrelétricas brasileiras, esse tipo de coisa a gente pode ver”. (Uso as declarações de Amorim a partir de uma transcrição feita pela assessoria de imprensa do Itamaraty).
Mexer no Tratado de Itaipu não passa pela cabeça de ninguém. O Tratado é o “garante” para o financiamento de Itaipu, que gerou uma dívida de cerca de US$ 20 bilhões.
Mexer na forma de fixar a tarifa pode não ser uma boa idéia.
Mas, compensar o Paraguai por atraso na fixação da tarifa; financiar a construção de uma linha de transmissão, ou um Pró-Álcool no Paraguai – tudo isso faz muito sentido.
Não é o que o PiG tem dito.
O Globo de hoje (23/04), numa página interna, anuncia: “Governo já fala em mudar tarifa”.
Quem disse isso? Ninguém.
O Ministro Amorim não disse.
O Presidente Lula não disse.
O Ministro das Minas, Edson Lobão, é contra.
Quem diz é o Globo: “Uma possível (possível!) negociação com o Paraguai, com aumento da tarifa para o Brasil, foi tema de uma reunião da coordenação política (?) do Governo ontem, com a presença do Presidente Lula.”
Portanto, quem diz é o Globo.
O Estadão, a Folha e, especialmente, o Globo assumiram a liderança de uma nova Guerra do Paraguai, ‘remember’ Cerro Corá.
O PiG tem como objetivo final derrubar o Presidente Lula.
A nova Guerra do Paraguai ajudaria a atingir esse objetivo, respeitadas as seguintes etapas:
1) Demonstrar que o Brasil se curvará diante do Paraguai, como se curvou diante da Bolívia, no gás natural;
2) Que o Presidente Lula é um frouxo com os vizinhos e o Itamaraty idem;
3) Que o Presidente Lula não sabe defender o interesse nacional;
4) Que o consumidor brasileiro não vai mais usufruir da água de Itaipu, tanto quanto cessou o fornecimento de gás da Bolívia;
5) Que o consumidor brasileiro vai pagar o pato; e a energia de Itaipu vai custar preços astronômicos, como se observou com o gás boliviano;
6) Pressionado pelo PiG, o Brasil vai invadir o Paraguai;
7) E, em Cerro Corá, as tropas paraguaias derrotarão as desmoralizadas tropas brasileiras.
Ipso facto, o Presidente Lula cai e o presidente eleito, José Serra, finalmente assume.
A derrota em Cerro Corá é a crise do PiG da semana.”
Posteriormente, na quinta-feira, 24 de abril, publicamos outro ponto-de-vista sobre o tema, na postagem “Polêmica sobre Itaipu”. No referido artigo, transcrevemos que o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, disse que o reajuste não seria justo para o consumidor brasileiro e que, para o Paraguai, a construção de Itaipu foi um grande negócio. "O Paraguai nesse processo entrou apenas com a água, com metade do rio. A usina foi construída com a alavancagem de recursos obtida pelo Brasil e com o know-how do Brasil. A metade do empreendimento equivale a algumas vezes o PIB do Paraguai, sendo que a contribuição dele para o processo foi o fato de estar na fronteira com o Brasil".
Hoje, trago para os leitores uma perspicaz abordagem do problema feita pelo jornalista Paulo Henrique Amorim (PHA) no seu blog “Conversa Afiada”.
Com as suas típicas sátira, sagacidade e ironia, PHA revela qual a razão de a grande mídia brasileira (por ele batizada de Partido da Imprensa Golpista-PIG) estar estimulando a discórdia entre os dois países.
O objetivo é a volta do PSDB e DEM-PFL ao poder. O retorno, com todos aqueles princípios “neoliberais” que marcaram o governo FHC. Um aspecto pertinente do governo tucanopefelento a relembrar era o desestímulo ao Mercosul, em coerência com o desejo de grandes potências, especialmente os EUA.
Transcrevo o artigo de Paulo Henrique Amorim:
“PIG QUER OUTRA GUERRA DO PARAGUAI”
"O Presidente eleito Fernando Lugo, do Paraguai, anunciou na campanha que queria mais dinheiro de Itaipu para o Paraguai.
Você, caro leitor, se fosse paraguaio, como reagiria ao fato de o Paraguai ser sócio da maior hidrelétrica do mundo e não ter energia de qualidade para fazer uma fábrica rodar direito?
Em quem você votaria?
Você, caro leitor, como brasileiro, prefere que os países vizinhos sejam amigos e prósperos, ou prefere países vizinhos hostis, pobres e ponto de distribuição de drogas, armas, munição e contrabando?
Vamos ver o que disse o Ministro Celso Amorim, em Acra, em Gana, onde acompanhava o Presidente Lula numa Conferência da Unctad:
“... continuar discutindo com o Paraguai, normalmente, sobre como ele obter uma remuneração adequada para sua energia. Isso é justo. Agora, a maneira de fazer, nós vamos discutir.”
Amorim também falou em o Brasil financiar a construção de linhas de transmissão, para o Paraguai aproveitar melhor a energia de Itaipu. E, provavelmente, através do BNDES, financiar empresas brasileiras que invistam no Paraguai.
Amorim também disse: “compensar a energia paraguaia por uma defasagem, se se comparar com o que recebem usinas hidrelétricas brasileiras, esse tipo de coisa a gente pode ver”. (Uso as declarações de Amorim a partir de uma transcrição feita pela assessoria de imprensa do Itamaraty).
Mexer no Tratado de Itaipu não passa pela cabeça de ninguém. O Tratado é o “garante” para o financiamento de Itaipu, que gerou uma dívida de cerca de US$ 20 bilhões.
Mexer na forma de fixar a tarifa pode não ser uma boa idéia.
Mas, compensar o Paraguai por atraso na fixação da tarifa; financiar a construção de uma linha de transmissão, ou um Pró-Álcool no Paraguai – tudo isso faz muito sentido.
Não é o que o PiG tem dito.
O Globo de hoje (23/04), numa página interna, anuncia: “Governo já fala em mudar tarifa”.
Quem disse isso? Ninguém.
O Ministro Amorim não disse.
O Presidente Lula não disse.
O Ministro das Minas, Edson Lobão, é contra.
Quem diz é o Globo: “Uma possível (possível!) negociação com o Paraguai, com aumento da tarifa para o Brasil, foi tema de uma reunião da coordenação política (?) do Governo ontem, com a presença do Presidente Lula.”
Portanto, quem diz é o Globo.
O Estadão, a Folha e, especialmente, o Globo assumiram a liderança de uma nova Guerra do Paraguai, ‘remember’ Cerro Corá.
O PiG tem como objetivo final derrubar o Presidente Lula.
A nova Guerra do Paraguai ajudaria a atingir esse objetivo, respeitadas as seguintes etapas:
1) Demonstrar que o Brasil se curvará diante do Paraguai, como se curvou diante da Bolívia, no gás natural;
2) Que o Presidente Lula é um frouxo com os vizinhos e o Itamaraty idem;
3) Que o Presidente Lula não sabe defender o interesse nacional;
4) Que o consumidor brasileiro não vai mais usufruir da água de Itaipu, tanto quanto cessou o fornecimento de gás da Bolívia;
5) Que o consumidor brasileiro vai pagar o pato; e a energia de Itaipu vai custar preços astronômicos, como se observou com o gás boliviano;
6) Pressionado pelo PiG, o Brasil vai invadir o Paraguai;
7) E, em Cerro Corá, as tropas paraguaias derrotarão as desmoralizadas tropas brasileiras.
Ipso facto, o Presidente Lula cai e o presidente eleito, José Serra, finalmente assume.
A derrota em Cerro Corá é a crise do PiG da semana.”
sexta-feira, 25 de abril de 2008
EUA, “CAIAM FORA DO IRAQUE!” DISSE MICHAEL MOORE HÁ UM ANO E MEIO ATRÁS
Em 27/11/2006, há um ano e cinco meses atrás, Michael Moore dirigiu uma carta ao Congresso dos EUA e ao povo norte-americano, alertando que "a única coisa a fazer é cair fora do Iraque".
Além de propugnar pela retirada total e imediata das tropas americanas de ocupação do Iraque, também defendeu que o país árabe fosse indenizado pela ocupação.
Hoje, aquelas posturas de Moore se tornaram ainda mais sensatas e urgentes.
Na Wikipedia, obtive os seguintes dados sobre o autor do alerta: o escritor e cineasta norte-americano Michael Francis Moore nasceu em Flint, EUA, em 23 de abril de 1954. É conhecido pelos seus posicionamentos socialdemocratas e por sua crítica sobre as políticas do governo de George W. Bush.
Entre os seus filmes mais famosos estão “Fahrenheit 9/11”, de 2004, onde critica George Bush; “Bowling for Columbine” (no Brasil: “Tiros em Columbine”) (2002) onde aborda a obsessão por armas nos Estados Unidos da América, relacionando-a com o “Massacre de Columbine” ocorrido numa escola.
Leiamos abaixo a íntegra da carta de Michael Moore, cuja mensagem é ainda mais atual do que na época em que foi escrita:
"Amigos,
Hoje (27/11/2006) marca o dia em que permanecemos no Iraque mais tempo que aquele que levamos para combater na Segunda Guerra Mundial. É isso mesmo.
Nós fomos competentes para derrotar a Alemanha Nazista, Mussolini e o Império Japonês inteiro em menos tempo que a única superpotência mundial gastou para tentar tornar segura a estrada que liga o aeroporto de Bagdá ao centro da cidade. E nós não conseguimos fazer isso.
Após 1.437 dias, no mesmo tempo que levamos para irromper pela África do Norte, conquistar as praias da Itália, conquistar o Pacífico Sul e libertar toda a Europa Ocidental, nós não pudemos, após 3 anos e meio, conquistar sequer uma simples estrada e proteger a nós mesmos de bombas caseiras, feita de latinhas, colocadas em buracos nas rodovias. Sem contar que uma viagem de táxi do aeroporto até Bagdá, de 25 minutos, custa 35 mil dólares e o motorista não lhe dá sequer um mísero capacete para sua proteção.
A culpa desse fracasso se deve a nossas tropas? Dificilmente. Não importa o quanto de tropas, de helicópteros ou de democracias nós cuspamos das nossas armas, nada irá "vencer a guerra no Iraque". Ela é uma guerra perdida.
Perdida porque jamais teve o direito de ser vencida, perdida porque começou por homens que jamais estiveram em uma guerra, homens que se escondem atrás daqueles que foram enviados para lutar e morrer.
Vamos ouvir o que o povo iraquiano está dizendo, de acordo com uma pesquisa recente feita pela Universidade de Martland:
• 71% de todos os iraquianos querem os EUA fora do Iraque.
• 61% de todos os iraquianos apóiam os ataques da resistência contra as tropas americanas. Sim, a vasta maioria dos cidadãos iraquianos acha que nossos soldados devem ser mortos e massacrados!
Então, o que diabos nós ainda estamos fazendo lá? Vamos interpretar como se não tivéssemos compreendido a deixa?
Existem diversos modos de libertar um país.
Freqüentemente os cidadãos se rebelam e se libertam a si próprios. Foi assim que nós fizemos. E você também pode fazer isso de modo não violento, usando a desobediência civil. Foi assim que a Índia fez.
Você pode também fazer com que o mundo inteiro boicote o regime de um país até que ele caia no ostracismo e capitule. Foi isso que aconteceu com a África do Sul.
Ou, você pode simplesmente esperar que eles cansem e caiam fora, cedo ou tarde, como as legiões do rei fizeram (algumas só porque estavam com muito frio). Isso aconteceu no vizinho Canadá.
O único modo que não funciona é invadir um país e dizer a seu povo "Estamos aqui para libertar vocês", enquanto eles não faziam nada para libertar-se.
Onde estavam todos esses homens suicidas enquanto Saddam Hussein oprimia o povo? Onde estavam os "insurgentes" que plantam bombas nas estradas quando o comboio do maligno Saddam Hussein passeava por elas? E acho que o velho Saddam era um déspota cruel - mas não tão cruel a ponto de milhares arriscarem seus pescoços contra ele. "Ah não Mike, eles não podiam fazer isso! Saddam os mataria!" Sério? Você acha que o rei George não mataria quem se insurgisse contra ele?
Você acha que Patrick Henry e Tom Paine tinham medo? Isso não os impediu de lutar. Quando dezenas de milhares de pessoas não têm a inclinação de sair às ruas e derramar seu sangue para remover um ditador, isso deve servir como uma boa pista de que eles não estão desejando participar de alguma libertação promovida de fora.
Uma nação pode ajudar outro povo a remover um tirano (foi o que os franceses fizeram por nós em nossa revolução), mas depois disso, você cai fora. Imediatamente! Os franceses não ficaram e nos disseram como deveríamos constituir nosso governo. Eles não disseram "não estamos indo embora porque nós queremos os seus recursos naturais". Eles nos deixaram à nossa própria sorte e nós levamos seis anos para fazer uma eleição depois da partida deles.
E daí tivemos uma sangrenta guerra civil. Isso foi o que aconteceu e a História está cheia desses exemplos. Os franceses não disseram: "Oh, é melhor ficar na América, de outro modo eles vão se matar uns aos outros discutindo essa história de escravagismo".
O único caminho que leva uma guerra de libertação ao sucesso é ter por trás dela o apoio de seus próprios cidadãos e um numeroso grupo de Washingtons, Jeffersons, Franklins, Gandhis e Mandelas liderando a insurreição. Onde estão esses faróis da liberdade no Iraque?
Essa é uma piada e tem sido uma piada desde o início. Sim, nós éramos a piada, mas com 655.000 iraquianos mortos como resultado da nossa invasão segundo a Universidade John Hopkins. Eu acho que a piada de mau gosto agora é deles. Pelo menos eles foram libertados, permanentemente.
Por isso não quero ouvir nenhuma outra palavra sobre enviar ainda mais tropas (acorda Estados Unidos, John McCain está maluco!), ou sobre "realocá-las", ou esperar mais quatro meses para começar a " vencer o prazo" delas.
Só existe uma única solução e ela é simples: retirada! Agora. Comecem hoje à noite. Vamos cair fora de lá o mais rápido que pudermos.
Quanto mais pessoas de boa vontade e consciência não quiserem acreditar nisso, quanto mais mortes nós teremos para aceitar a derrota, nada poderemos fazer para reparar o dano que cometemos.
O que aconteceu, aconteceu. Se você dirigiu bêbado, atropelou e matou uma criança, não haverá nada no mundo que você possa fazer para devolver a vida àquela criança. Se você invadiu e destruiu um país, lançando o povo a uma guerra civil, não há nada que você possa fazer até que a fumaça dissipe e o sangue derramado seque.
Então, talvez, você possa acordar e ver a atrocidade que cometeu e depois ajudar os sobreviventes a tentar melhorar suas vidas.
A União Soviética caiu fora do Afeganistão em 36 semanas. Saíram assim e tiveram perdas pesadas na retirada. Eles compreenderam o erro que cometeram e removeram suas tropas. Depois, veio uma guerra civil. Os maus venceram. Mais tarde, nós derrubamos os maus e tudo viveu melhor depois disso (sic?). Veja! No fim, a coisa funciona!
A responsabilidade pelo fim dessa guerra cabe agora aos democratas. O Congresso puxa as cordinhas e a Constituição diz que só o Congresso pode declarar a guerra. O senhor Reid e a senhora Nancy Pelosi têm agora o poder para colocar um fim a essa loucura. Se fracassarem nisso, a ira dos eleitores recairá sobre eles.
Nós não estamos brincando senhores democratas e se vocês não acreditam em nós, toquem em frente e continuem essa guerra por outro mês. Nós lutaremos contra vocês ainda mais forte do que fizemos contra os republicanos. A página de abertura de meu site na Internet tem uma foto de Nancy Pelosi e Henry Reid, feitas a partir de fotos de soldados americanos que morreram lutando a Guerra de Bush.
Mas que será a partir de agora a Guerra de Bush contra os Democratas, a menos que alguma outra rápida ação seja tomada?
Essas são nossas exigências:
1 - Tragam as tropas para casa já! Não em seis meses. Agora! Deixem de procurar um meio de vencer. Nós não podemos vencer. Nós perdemos. Às vezes se perde. Essa é uma dessas vezes. Sejam corajosos e admitam isso.
2 - Peçam desculpas a nossos soldados e façam melhor. Digam a eles que nos desculpem porque eles foram usados para lutar uma guerra que não tinha nada a ver com a nossa segurança nacional. Nós precisamos assegurar que cuidaremos deles e que eles sofrerão o mínimo possível. Os soldados incapacitados física e psicologicamente receberão os melhores cuidados e uma compensação financeira significante. As famílias dos soldados que morreram merecem as maiores desculpas e precisam ser cuidadas para o resto das suas vidas.
3 - Devemos nos expiar das atrocidades que perpetramos contra o povo do Iraque. Há poucos males piores que fazer a guerra baseados em uma mentira, invadir outro país porque você quer o que é deles e que está enterrado no solo. Agora, muitos mais irão morrer. Seu sangue estará em nossas mãos, não interessa em quem votamos. Se você paga impostos, contribuiu para os 3 bilhões de dólares por semana que gastamos para levar o Iraque para o inferno onde está o país agora. Quando a guerra civil tiver terminado, nós deveremos ajudar a reconstruir o Iraque. Nós não podemos nos redimir se não fizermos isso.
Por último, há uma coisa que eu sei. Nós, americanos, somos melhores do que as coisas que fizeram em nosso nome. A maioria de nós ficou estarrecida e zangada com o que aconteceu em 11 de setembro e perdeu a cabeça.
Nós não pensamos direito e jamais olhamos um mapa. Porque somos mantidos na estupidez graças ao nosso sistema patético de educação e à nossa mídia preguiçosa, não sabemos nada de História. Nós não sabemos que somos os caras que financiaram e armaram Saddam Hussein por muitos anos, inclusive quando ele massacrou os curdos. Ele era o nosso cara. Nós não sabíamos o que era um sunita ou um xiita, sequer havíamos escutado essas palavras. De acordo com o National Geographic, 80% dos adultos do nosso país não sabem localizar o Iraque no globo terrestre.
Nossos líderes jogaram com nossa estupidez, nos manipularam com suas mentiras e nos amedrontaram até a morte.
Mas, no fundo, somos um povo de bom coração. Aprendemos devagar, mas a bandeira de "missão cumprida" nos atingiu de modo ímpar e cedo começamos a fazer algumas perguntas. Depois, começamos a ficar espertos. No último dia 7 de novembro, nós ficamos loucos e tentamos consertar nossos erros.
A maioria agora conhece a verdade. A maioria agora sente uma tristeza e culpa profundas e uma esperança de qualquer coisa que seja feita, será melhor e colocará tudo nos eixos.
Infelizmente, não é assim. Então precisamos aceitar as conseqüências de nossas ações e fazer o melhor para que o povo iraquiano possa até pensar em pedir auxílio a nós no futuro. Pedimos a eles que nos perdoem.
Pedimos aos democratas que nos escutem e que saiamos do Iraque agora!
Do seu,
Michael Moore".
Os apelos de Michael Moore não foram ouvidos pelo Congresso dos EUA. Desde então, o governo Bush, com o aval do congresso, enviou para o Iraque ainda mais tropas e mais contigentes de empresas civis “de segurança” (pagas pelo Pentágono), mercenários em quantidades ainda maiores do que a de militares norte-americanos no Iraque.
A situação está cada vez mais grave do que aquela descrita por Michael Moore. Em nossa postagem de 01/04 último, colocamos um trecho de notícia publicada poucos minutos antes pelo portal UOL Últimas notícias:
“Número de mortos no Iraque cresceu 50% em março”
"O número de mortos no Iraque no mês de março aumentou 50% em comparação com o mês anterior, segundo estimativas do governo iraquiano.
De acordo com os dados, 1.082 iraquianos, incluindo 925 civis, morreram vítimas de atentados a bomba e confrontos entre insurgentes e tropas iraquianas. Em fevereiro, o número de baixas foi de 721.
Ainda segundo as autoridades iraquianas, o mês de março ainda registrou um aumento no número de ataques à bomba e confrontos entre milícias xiitas e forças do governo.”
Além de propugnar pela retirada total e imediata das tropas americanas de ocupação do Iraque, também defendeu que o país árabe fosse indenizado pela ocupação.
Hoje, aquelas posturas de Moore se tornaram ainda mais sensatas e urgentes.
Na Wikipedia, obtive os seguintes dados sobre o autor do alerta: o escritor e cineasta norte-americano Michael Francis Moore nasceu em Flint, EUA, em 23 de abril de 1954. É conhecido pelos seus posicionamentos socialdemocratas e por sua crítica sobre as políticas do governo de George W. Bush.
Entre os seus filmes mais famosos estão “Fahrenheit 9/11”, de 2004, onde critica George Bush; “Bowling for Columbine” (no Brasil: “Tiros em Columbine”) (2002) onde aborda a obsessão por armas nos Estados Unidos da América, relacionando-a com o “Massacre de Columbine” ocorrido numa escola.
Leiamos abaixo a íntegra da carta de Michael Moore, cuja mensagem é ainda mais atual do que na época em que foi escrita:
"Amigos,
Hoje (27/11/2006) marca o dia em que permanecemos no Iraque mais tempo que aquele que levamos para combater na Segunda Guerra Mundial. É isso mesmo.
Nós fomos competentes para derrotar a Alemanha Nazista, Mussolini e o Império Japonês inteiro em menos tempo que a única superpotência mundial gastou para tentar tornar segura a estrada que liga o aeroporto de Bagdá ao centro da cidade. E nós não conseguimos fazer isso.
Após 1.437 dias, no mesmo tempo que levamos para irromper pela África do Norte, conquistar as praias da Itália, conquistar o Pacífico Sul e libertar toda a Europa Ocidental, nós não pudemos, após 3 anos e meio, conquistar sequer uma simples estrada e proteger a nós mesmos de bombas caseiras, feita de latinhas, colocadas em buracos nas rodovias. Sem contar que uma viagem de táxi do aeroporto até Bagdá, de 25 minutos, custa 35 mil dólares e o motorista não lhe dá sequer um mísero capacete para sua proteção.
A culpa desse fracasso se deve a nossas tropas? Dificilmente. Não importa o quanto de tropas, de helicópteros ou de democracias nós cuspamos das nossas armas, nada irá "vencer a guerra no Iraque". Ela é uma guerra perdida.
Perdida porque jamais teve o direito de ser vencida, perdida porque começou por homens que jamais estiveram em uma guerra, homens que se escondem atrás daqueles que foram enviados para lutar e morrer.
Vamos ouvir o que o povo iraquiano está dizendo, de acordo com uma pesquisa recente feita pela Universidade de Martland:
• 71% de todos os iraquianos querem os EUA fora do Iraque.
• 61% de todos os iraquianos apóiam os ataques da resistência contra as tropas americanas. Sim, a vasta maioria dos cidadãos iraquianos acha que nossos soldados devem ser mortos e massacrados!
Então, o que diabos nós ainda estamos fazendo lá? Vamos interpretar como se não tivéssemos compreendido a deixa?
Existem diversos modos de libertar um país.
Freqüentemente os cidadãos se rebelam e se libertam a si próprios. Foi assim que nós fizemos. E você também pode fazer isso de modo não violento, usando a desobediência civil. Foi assim que a Índia fez.
Você pode também fazer com que o mundo inteiro boicote o regime de um país até que ele caia no ostracismo e capitule. Foi isso que aconteceu com a África do Sul.
Ou, você pode simplesmente esperar que eles cansem e caiam fora, cedo ou tarde, como as legiões do rei fizeram (algumas só porque estavam com muito frio). Isso aconteceu no vizinho Canadá.
O único modo que não funciona é invadir um país e dizer a seu povo "Estamos aqui para libertar vocês", enquanto eles não faziam nada para libertar-se.
Onde estavam todos esses homens suicidas enquanto Saddam Hussein oprimia o povo? Onde estavam os "insurgentes" que plantam bombas nas estradas quando o comboio do maligno Saddam Hussein passeava por elas? E acho que o velho Saddam era um déspota cruel - mas não tão cruel a ponto de milhares arriscarem seus pescoços contra ele. "Ah não Mike, eles não podiam fazer isso! Saddam os mataria!" Sério? Você acha que o rei George não mataria quem se insurgisse contra ele?
Você acha que Patrick Henry e Tom Paine tinham medo? Isso não os impediu de lutar. Quando dezenas de milhares de pessoas não têm a inclinação de sair às ruas e derramar seu sangue para remover um ditador, isso deve servir como uma boa pista de que eles não estão desejando participar de alguma libertação promovida de fora.
Uma nação pode ajudar outro povo a remover um tirano (foi o que os franceses fizeram por nós em nossa revolução), mas depois disso, você cai fora. Imediatamente! Os franceses não ficaram e nos disseram como deveríamos constituir nosso governo. Eles não disseram "não estamos indo embora porque nós queremos os seus recursos naturais". Eles nos deixaram à nossa própria sorte e nós levamos seis anos para fazer uma eleição depois da partida deles.
E daí tivemos uma sangrenta guerra civil. Isso foi o que aconteceu e a História está cheia desses exemplos. Os franceses não disseram: "Oh, é melhor ficar na América, de outro modo eles vão se matar uns aos outros discutindo essa história de escravagismo".
O único caminho que leva uma guerra de libertação ao sucesso é ter por trás dela o apoio de seus próprios cidadãos e um numeroso grupo de Washingtons, Jeffersons, Franklins, Gandhis e Mandelas liderando a insurreição. Onde estão esses faróis da liberdade no Iraque?
Essa é uma piada e tem sido uma piada desde o início. Sim, nós éramos a piada, mas com 655.000 iraquianos mortos como resultado da nossa invasão segundo a Universidade John Hopkins. Eu acho que a piada de mau gosto agora é deles. Pelo menos eles foram libertados, permanentemente.
Por isso não quero ouvir nenhuma outra palavra sobre enviar ainda mais tropas (acorda Estados Unidos, John McCain está maluco!), ou sobre "realocá-las", ou esperar mais quatro meses para começar a " vencer o prazo" delas.
Só existe uma única solução e ela é simples: retirada! Agora. Comecem hoje à noite. Vamos cair fora de lá o mais rápido que pudermos.
Quanto mais pessoas de boa vontade e consciência não quiserem acreditar nisso, quanto mais mortes nós teremos para aceitar a derrota, nada poderemos fazer para reparar o dano que cometemos.
O que aconteceu, aconteceu. Se você dirigiu bêbado, atropelou e matou uma criança, não haverá nada no mundo que você possa fazer para devolver a vida àquela criança. Se você invadiu e destruiu um país, lançando o povo a uma guerra civil, não há nada que você possa fazer até que a fumaça dissipe e o sangue derramado seque.
Então, talvez, você possa acordar e ver a atrocidade que cometeu e depois ajudar os sobreviventes a tentar melhorar suas vidas.
A União Soviética caiu fora do Afeganistão em 36 semanas. Saíram assim e tiveram perdas pesadas na retirada. Eles compreenderam o erro que cometeram e removeram suas tropas. Depois, veio uma guerra civil. Os maus venceram. Mais tarde, nós derrubamos os maus e tudo viveu melhor depois disso (sic?). Veja! No fim, a coisa funciona!
A responsabilidade pelo fim dessa guerra cabe agora aos democratas. O Congresso puxa as cordinhas e a Constituição diz que só o Congresso pode declarar a guerra. O senhor Reid e a senhora Nancy Pelosi têm agora o poder para colocar um fim a essa loucura. Se fracassarem nisso, a ira dos eleitores recairá sobre eles.
Nós não estamos brincando senhores democratas e se vocês não acreditam em nós, toquem em frente e continuem essa guerra por outro mês. Nós lutaremos contra vocês ainda mais forte do que fizemos contra os republicanos. A página de abertura de meu site na Internet tem uma foto de Nancy Pelosi e Henry Reid, feitas a partir de fotos de soldados americanos que morreram lutando a Guerra de Bush.
Mas que será a partir de agora a Guerra de Bush contra os Democratas, a menos que alguma outra rápida ação seja tomada?
Essas são nossas exigências:
1 - Tragam as tropas para casa já! Não em seis meses. Agora! Deixem de procurar um meio de vencer. Nós não podemos vencer. Nós perdemos. Às vezes se perde. Essa é uma dessas vezes. Sejam corajosos e admitam isso.
2 - Peçam desculpas a nossos soldados e façam melhor. Digam a eles que nos desculpem porque eles foram usados para lutar uma guerra que não tinha nada a ver com a nossa segurança nacional. Nós precisamos assegurar que cuidaremos deles e que eles sofrerão o mínimo possível. Os soldados incapacitados física e psicologicamente receberão os melhores cuidados e uma compensação financeira significante. As famílias dos soldados que morreram merecem as maiores desculpas e precisam ser cuidadas para o resto das suas vidas.
3 - Devemos nos expiar das atrocidades que perpetramos contra o povo do Iraque. Há poucos males piores que fazer a guerra baseados em uma mentira, invadir outro país porque você quer o que é deles e que está enterrado no solo. Agora, muitos mais irão morrer. Seu sangue estará em nossas mãos, não interessa em quem votamos. Se você paga impostos, contribuiu para os 3 bilhões de dólares por semana que gastamos para levar o Iraque para o inferno onde está o país agora. Quando a guerra civil tiver terminado, nós deveremos ajudar a reconstruir o Iraque. Nós não podemos nos redimir se não fizermos isso.
Por último, há uma coisa que eu sei. Nós, americanos, somos melhores do que as coisas que fizeram em nosso nome. A maioria de nós ficou estarrecida e zangada com o que aconteceu em 11 de setembro e perdeu a cabeça.
Nós não pensamos direito e jamais olhamos um mapa. Porque somos mantidos na estupidez graças ao nosso sistema patético de educação e à nossa mídia preguiçosa, não sabemos nada de História. Nós não sabemos que somos os caras que financiaram e armaram Saddam Hussein por muitos anos, inclusive quando ele massacrou os curdos. Ele era o nosso cara. Nós não sabíamos o que era um sunita ou um xiita, sequer havíamos escutado essas palavras. De acordo com o National Geographic, 80% dos adultos do nosso país não sabem localizar o Iraque no globo terrestre.
Nossos líderes jogaram com nossa estupidez, nos manipularam com suas mentiras e nos amedrontaram até a morte.
Mas, no fundo, somos um povo de bom coração. Aprendemos devagar, mas a bandeira de "missão cumprida" nos atingiu de modo ímpar e cedo começamos a fazer algumas perguntas. Depois, começamos a ficar espertos. No último dia 7 de novembro, nós ficamos loucos e tentamos consertar nossos erros.
A maioria agora conhece a verdade. A maioria agora sente uma tristeza e culpa profundas e uma esperança de qualquer coisa que seja feita, será melhor e colocará tudo nos eixos.
Infelizmente, não é assim. Então precisamos aceitar as conseqüências de nossas ações e fazer o melhor para que o povo iraquiano possa até pensar em pedir auxílio a nós no futuro. Pedimos a eles que nos perdoem.
Pedimos aos democratas que nos escutem e que saiamos do Iraque agora!
Do seu,
Michael Moore".
Os apelos de Michael Moore não foram ouvidos pelo Congresso dos EUA. Desde então, o governo Bush, com o aval do congresso, enviou para o Iraque ainda mais tropas e mais contigentes de empresas civis “de segurança” (pagas pelo Pentágono), mercenários em quantidades ainda maiores do que a de militares norte-americanos no Iraque.
A situação está cada vez mais grave do que aquela descrita por Michael Moore. Em nossa postagem de 01/04 último, colocamos um trecho de notícia publicada poucos minutos antes pelo portal UOL Últimas notícias:
“Número de mortos no Iraque cresceu 50% em março”
"O número de mortos no Iraque no mês de março aumentou 50% em comparação com o mês anterior, segundo estimativas do governo iraquiano.
De acordo com os dados, 1.082 iraquianos, incluindo 925 civis, morreram vítimas de atentados a bomba e confrontos entre insurgentes e tropas iraquianas. Em fevereiro, o número de baixas foi de 721.
Ainda segundo as autoridades iraquianas, o mês de março ainda registrou um aumento no número de ataques à bomba e confrontos entre milícias xiitas e forças do governo.”
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