segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O MENSALÃO DO PSDB É LINDO


Por Paulo Moreira Leite, na revista "IstoÉ"

“Num país onde os três poderes devem conviver em harmonia, gostaríamos que o STF fosse dotado de forças especiais?

O mensalão do PSDB-MG é mesmo um caso especial.

Criado em 1998 para [inicialmente] ajudar a campanha de Eduardo Azeredo ao governo de Minas, até hoje o julgamento não ocorreu.

A primeira e única condenação acaba de sair. Atingiu um banqueiro do “Rural”, condenado a 9 anos. Mas a lei lhe confere o direito de pedir recurso, o que quer dizer que tem 50% de chances matemáticas de provar sua inocência em segunda instância. Ninguém ficou indignado com isso, nem achou que seria "uma ameaça às instituições" ou um "estímulo à criminalidade".

Tudo em paz, ao contrário do que ocorreu com os petistas, que não têm direito a apresentar um recurso pleno, equivalente a um segundo julgamento. Mesmo assim, fez-se um escândalo contra os embargos infringentes.





Leio [domingo] um artigo que classifica a decisão sobre os embargos como um “segundo roubo.” Um historiador diz nos jornais, hoje, que os embargos infringentes ameaçam transformar o STF numa instituição igual ao Legislativo e ao Executivo.

A pergunta é saber se, num país onde os três poderes devem conviver em harmonia, gostaríamos que o STF fosse dotado de forças [super]especiais, um anacrônico Poder Moderador, no estilo de Pedro I durante no império, ou das Forças Armadas em tantas ditaduras, que se consideravam autodestinadas a resolver impasses políticos às costas do eleitorado.

Respeito o direito de todos à opinião, mas acho que estamos a caminho de formar uma escola de cinismo à brasileira.

Isso acontece quando se impõem tratamentos diferentes para situações iguais. Os dois lados sabem que estão diante de uma mentira, na qual fingem acreditar. Um lado, porque lhe convém. O outro, porque não tem força para assegurar que a falsidade seja desmascarada.

Os réus do mensalão PSDB-MG tiveram direito ao desmembramento, que não foi oferecido aos petistas. Só isso seria suficiente para definir um abismo – mas não é só. Sua apuração é tão vagarosa que acaba de ser anunciado, oficialmente, que o caso deve ser julgado em 2015. Então fica combinado: um crime quatro anos mais velho será julgado três anos mais tarde.




Enquanto os [atuais] réus do STF já poderão estar atrás das grades, como querem nossos indignados de plantão, os mineiros estarão ouvindo depoimento, fazendo sua defesa – e ganhando tempo para prescrições.

Ninguém conhece muitos detalhes do mensalão PSDB-MG por um bom punhado de razões. Uma boa apuração levaria a nomes e pessoas que ninguém tem interesse de colocar sob os holofotes. Quem? Homens de confiança do PSDB instalados no Banco do Brasil. Quem mais? Figurões do PSDB em atividade política, tanto os responsáveis pelas nomeações no Banco do Brasil como os beneficiários do dinheiro recebido.

Lucas Figueiredo diz, no livro “O Operador”, que a conta do mensalão PSDB-MG foi de R$ 40 milhões.

Pergunto: além de Eduardo Azeredo, derrotado em 1998, quem mais foi ouvido a respeito, como aconteceu com Lula?

A fábula do mensalão petista diz que o dinheiro para “comprar deputados” saiu da empresa Visanet e, de lá, foi desviado para Delúbio Soares e Marcos Valério. É assim que se procura provar a tese – falsa, na minha opinião – de que houve "desvio de dinheiro público".

Como é inevitável numa fábula, havia um vilão necessário no centro dessa operação, Henrique Pizzolato, petista histórico, diretor do Banco do Brasil. Ele foi condenado como responsável pelos pagamentos. Mas essa visão só pode ser sustentada quando se deixa o mensalão PSDB-MG de lado.

Pizzolato nunca foi o principal responsável pelos pagamentos as agências de Valério. Sequer tomou, solitariamente, qualquer decisão que poderia beneficiar a DNA. Nem estava autorizado a isso. Uma auditoria interna demonstrou que outro diretor, chamado Leo Batista, sem qualquer ligação com o PT, é que tinha a responsabilidade legal de fazer os pagamentos. Se era o caso de acusar alguém sozinho, teria de ser ele. Se era para acusar meia dúzia, deveria estar no meio. Nem era preciso invocar a teoria do domínio do fato. Seu nome está lá, nos papéis oficiais, com atribuições e assinaturas correspondentes. Mas não se fez uma coisa nem outra.

O problema é que Leo Batista e os colegas de diretoria eram, todos, remanescentes do governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso, quando o PSDB nomeava cargos de confiança no Banco do Brasil. Esse fato foi descoberto por um auditoria feita pelo banco, logo depois que o escândalo estourou.

Os diretores foram ouvidos e investigados. Mas, "curiosamente", o inquérito que apura suas responsabilidades foi mantido em segredo. Sequer foi levado em tempo hábil ao conhecimento dos advogados de Pizzolato, embora pudesse ter sido útil para sua defesa. O próprio Pizzolato só tomou conhecimento da existência do inquérito "secreto" quando o julgamento estava em curso, em condições extremamente desfavoráveis.

Claro que você tem todo direito de perguntar o que esses diretores faziam por ali, naqueles anos todos. Abasteciam as agências de Marcos Valério com recursos do Visanet para ajudar a pagar as contas da campanha [estadual e nacional] de 1998 do PSDB. Está lá, na CPMI dos Correios, para quem o esquema tucano levantou R$ 200 milhões.




Imagine, então, o que teria acontecido se todos os réus, acusados do mesmo crime, tivessem sido julgados no mesmo tribunal, com base numa mesma denúncia. O STF seria obrigado a condenar petistas e tucanos pela mesma melodia, decisão que teria coerência com os fatos e provas reconhecidas pelos ministros – mas teria o inconveniente de esvaziar qualquer esforço para criminalizar [somente] o PT e o governo Lula.

Em vez de fazer piadinhas e comentários altamente politizados sobre o “maior escândalo de corrupção da história”, nossos ministros teriam de dizer a mesma coisa sobre os tucanos.

Imagine se Marcos Valério resolvesse colaborar e tentar uma delação premiada para alcançar o PSDB? Quais histórias poderia contar após tantos anos de convívio? Quais casos poderia relatar?

Do ponto de vista da investigação policial, o mensalão "mineiro" [do PSDB] seria pura delícia. É que coube ao candidato vitorioso na campanha mineira de 1998, Itamar Franco, receber boa parte dos pagamentos devidos à DNA. Itamar morreu sem falar publicamente sobre o assunto. Mas seu governo nada tinha a ver com o esquema. Eu já ouvi de um secretario de Itamar um relato consistente sobre tentativas de convencer Itamar, rompido com o PSDB, a honrar compromissos deixados pelos tucanos. Imagine se ele fosse ouvido. Seria um depoimento melhor que o de Roberto Jefferson, podem acreditar.




Mas vamos seguindo a história para chegar ao final. Com início diferente e tratamento diferente, o mensalão PSDB-MG irá terminar, certamente, com outro final. As penas duríssimas da Ação penal 470 dificilmente irão se repetir. Varias razões contribuem para isso. Se hoje um número crescente de advogados de primeira linha já questiona as condenações, imagine o que irá ocorrer com o passar do tempo. O saldo político dos embargos infringentes não é favorável a novos linchamentos exemplares.

Quem conhece as relações entre os meios de comunicação de Minas Gerais e o governo de Estado, butim da campanha de 1998, sabe que não se pode esperar nada igual ao que se viu durante o julgamento da ação penal 470.

No julgamento dos petistas, os meios de comunicação assumiram a dianteira da denúncia e colocaram o STF atrás. Preste atenção: em certa medida, não foi o Supremo que assumiu o protagonismo neste episódio. Isso é o que dizem os jornais e a TV. Na verdade, foram eles, os meios de comunicação, que assumiram um papel central em todo o processo, levando o STF atrás de si.


Os jornalistas nunca tiveram dúvida sobre a culpa dos réus e, do ponto de vista legal, nem seriam obrigados a tê-las, já que não são juízes. Com base no veredicto de seus “repórteres investigativos” jornais e revistas cobraram punições exemplares. Quando ficou claro que não havia provas objetivas, deram sustentação à "teoria do domínio do fato". Empurrou o tribunal no caminho de condenações pesadas sob ameaça de acusar todo mundo de fazer pizza. O STF veio atrás, como o presidente Ayres Britto deixou claro ao prefaciar o livro de um jornalista que simbolizou essa postura duríssima dos meios de comunicação.

É curioso notar que apenas no julgamento dos embargos infringentes a Corte demonstrou uma postura diversa daquela assumida pelos meios de comunicação. Em mais de 60 sessões, foi a primeira decisão divergente. Tanto a pancadaria a que foi submetido Celso de Mello, como o esforço de outros ministros para dizer que não se fez nada demais são duas faces de uma mesma moeda. É um aperitivo para o que deve ocorrer caso os embargos possam beneficiar os réus.

Imagine se teremos a mesma indignação no mensalão PSDB-MG...

Meus leitores sabem que estou convencido de que as principais denúncias do mensalão não foram provadas nem demonstradas. Advogados de cultura jurídica muito maior, como Celso Antônio Bandeira de Mello, Yves Gandra Martins, para citar polos ideologicamente opostos do Direito brasileiro, pensam da mesma forma.

Tenho a mesma visão sobre o mensalão PSDB-MG. Temos verbas de campanhas, que se constituem crime de "caixa 2", mas condenações menores.

Eu acredito que o interesse político em criminalizar Lula e o PT permitiram uma condenação sem provas. Mas será possível fazer a mesma coisa quando esse interesse político não existir?

É claro que não. E é por isso que o mensalão PSDB-MG deve ficar para longe, bem longe.”

FONTE: escrito por Paulo Moreira Leite, Diretor da Sucursal da revista “ISTOÉ” em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na “VEJA” e na “Época”. Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa". Artigo transcrito no “Jornal GGN”   (http://jornalggn.com.br/noticia/o-mensalao-psdb-mg-e-lindo-por-paulo-moreira-leite) [Imagens do Google e trechos entre colchetes adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

Entrevista com Lula: "NÃO FOI JULGAMENTO, MAS SIM LINCHAMENTO"


Do “Brasil 247”

“Em entrevista a Tereza Cruvinel e Leonardo Cavalcanti, do ‘Correio Braziliense’, o ex-presidente Lula fala pela primeira vez sobre a Ação Penal 470 e diz que o caso não terá impacto nas eleições de 2014. Ele diz que está pronto para 2014, mas revela a dificuldade de "desencarnar" do cargo. Segundo ele, o "Volta, Lula" ficou para trás no evento dos 10 anos de governos do PT: "Quando eu disse que a Dilma era minha candidata, eu queria tirar de vez da minha cabeça a história de voltar a ser candidato. Antes que os outros insistissem, antes que o PT viesse com gracinhas, eu resolvi dar um basta". 


Leia a íntegra:

"No escritório do Instituto que leva seu nome, Luiz Inácio Lula da Silva mantém uma agenda digna de presidente da República. Ele trabalha quase 10 horas por dia com um objetivo maior em mente: reeleger a presidente Dilma Rousseff. "Se houver alguém que se diz lulista e não dilmista, eu o dispenso de ser lulista", diz o ex-presidente. Em entrevista aos repórteres Tereza Cruvinel e Leonardo Cavalcanti, do “Correio Braziliense”, ele confessa com certa melancolia que sente falta de Brasília: "O nascer e o pôr do sol no Alvorada são inesquecíveis"; e que, para evitar a tentação de dar palpites sobre o novo governo, disse que decidiu visitar 32 países nos primeiros 10 primeiros meses de 2011, até que o câncer foi descoberto, no dia de seu aniversário, 27 de outubro.



Leia a íntegra da entrevista, que acaba de ser postada no blog da jornalista Tereza Cruvinel:

LULA PRONTO PARA ENTRAR NO RINGUE

São Paulo - A casa discreta no tradicional bairro do Ipiranga em nada lembra os palácios de Brasília, mas seu principal inquilino ali trabalha cerca de 10 horas por dia, com a mesma disposição que, nos oito anos em que governou o Brasil, extenuava auxiliares - hoje reduzidos a uma pequena equipe.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levanta-se em São Bernardo do Campo às seis horas da manhã, faz duas horas de exercícios físicos, toma café e chega ao instituto que leva seu nome por volta das 9h, raramente saindo antes das 20h. Ali recebe políticos, empresários, sindicalistas, intelectuais, agentes sociais e personalidades em busca de seu apoio a uma causa ou projeto. Quase três anos após deixar a Presidência e depois da vitória contra o câncer, Lula declara-se completamente "desencarnado" do cargo e com a saúde restaurada, o que a voz, agora limpa das sequelas do tratamento, confirma.

Por telefone, ele é alcançado também por interlocutores de diferentes países, por convites para viagens e palestras no Brasil e no exterior. No ano que vem, o ritmo vai cair, pois ele vai ajudar, "como puder", na campanha da sucessora Dilma pela reeleição. "Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste", disse o ex-presidente.

Nas instalações simples da casa no Ipiranga, o que denuncia o inquilino são as fotografias nas paredes, de momentos especiais da Presidência, selecionadas pelo fotógrafo Ricardo Stuckert, que continua a seu lado, assim como os assessores Clara Ant, Luiz Dulci e Paulo Okamoto. Na sala de trabalho, em vez das cigarrilhas, chicletes sabor canela. Foi lá que, na quinta, 26, Lula recebeu o “Correio” para uma entrevista de duas horas em que não parou de falar. Da vida no poder e fora dele, da disputa eleitoral do ano que vem, passando por espionagem, “Mais Médicos”, “mensalão” e novos partidos.

Lula também falou, pela primeira vez, sobre a “Operação Porto Seguro”, a investigação da Polícia Federal, que revelou um esquema de favorecimentos em altos cargos do governo federal e provocou a demissão de Rosemary Noronha, a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo. E disse ter saudades de Brasília: "O nascer e o pôr do sol no Alvorada são inesquecíveis".

Considerado um eleitor de 58 milhões de votos por conta do total de apoios conquistados na última eleição que disputou, em 2006, Lula confessou, sem dissimulação, que deixar o poder foi "como se me tivessem desligado da tomada". E que não foi fácil aprender a ser ex-presidente. Para evitar a tentação de dar palpites sobre o novo governo, disse que decidiu visitar 32 países nos primeiros 10 primeiros meses de 2011, até que o câncer foi descoberto, no dia de seu aniversário, 27 de outubro.

Vencido o calvário do tratamento, ele voltou à rotina no Instituto, vacinou-se contra o "Volta Lula", antecipando o lançamento da candidatura Dilma, e agora se prepara para mais uma campanha eleitoral. Ele acha que a presidente será reeleita, lamenta o desenlace da aliança com Eduardo Campos. Embora reconheça as qualidades do governador para a disputa, evita especular sobre o destino dos votos de Marina Silva, caso ela saia da corrida, e parece revelar preferência por José Serra como adversário tucano, ao dizer que o PSDB terá mais trabalho para tornar Aécio Neves conhecido. Uma contradição com o que ele mesmo fez, ao lançar uma também desconhecida Dilma como candidata em 2010. Uma coisa é certa. "Desencarnado" e em plena forma, Lula será um "grande eleitor" em 2014.

-Deixar de ser presidente trouxe alívio ou pesar?

Não é fácil falar sobre isso. Eu achava que seria simples deixar a Presidência. O (João) Figueiredo, que saiu pela porta dos fundos, até pediu para ser esquecido. Quando a pessoa não sai bem, quer esquecer mesmo. Mas eu saí no momento mais auspicioso da vida de um governante. Eu brincava com o Franklin (Martins): se eu ficar mais alguns meses, vou ultrapassar os 100% de aprovação. Foi como se me desligassem de uma tomada. Num dia você é rei, no outro dia não é nada. Depois de entregar o cargo, cheguei a São Bernardo e havia um comício, organizado por amigos e pessoas do sindicato. O Sarney me acompanhou. Antes, visitei o Zé Alencar, choramos juntos. Eu fiquei danado da vida porque achava que ele deveria ter ido à posse e subido a rampa de maca, mas os médicos não deixaram. Participei do comício e, quando deu 11 horas da noite, eu subi para o apartamento. Ao me despedir dos que trabalharam comigo na segurança e voltariam a Brasília, o general me disse: "Olha presidente, daqui a três dias os celulares da Presidência serão desligados e os carros serão recolhidos". Mas levaram apenas três minutos para me desconectarem. Esse é o lado hilário da coisa. Mas ser ex-presidente é um aprendizado sobre como se comportar, evitando interferir no novo governo. Quem sai precisa limpar a cabeça, assimilar que não é mais presidente. Mas é difícil sair de um dia a dia alucinante, acordar de manhã e perguntar: e agora?

-Mas como conseguiu resolver o "desligamento"?


Entre março de 2011 e a descoberta do meu câncer, em outubro, eu fiz 36 viagens internacionais, visitei dezenas de países africanos e latino-americanos. Eu queria ficar fora do Brasil para vencer a tentação de ficar dando palpites. Decidi voltar para o Instituto, que eu já tinha, e comecei a trabalhar aqui. No dia do meu aniversario, fui levar a Marisa para fazer um exame, mas acabaram descobrindo o câncer em mim. E aí foi um ano de tortura. Nunca pensei que fosse tão difícil fazer quimioterapia e radioterapia. A doença, a internação, o fato de não poder falar ajudaram no desligamento. Fui desencarnando e, hoje, isso está bem resolvido na minha cabeça. Este ano, no evento dos 10 anos de governos do PT, quando eu disse que a Dilma era minha candidata, eu queria tirar de vez da minha cabeça a história de voltar a ser candidato. Antes que os outros insistissem, antes que o PT viesse com gracinhas, antes que os adversários da Dilma viessem para o meu lado, eu resolvi dar um basta e fim de papo.

-Mesmo com eventuais "Volta Lula", com manifestações, crises?


Mesmo. Hoje, há pessoas defendendo o fim da reeleição. Eu sempre fui contra a reeleição, mas hoje posso dizer que ela é um beneficio, uma das poucas coisas boas que copiamos dos americanos. Em quatro anos, você não consegue realizar uma única obra estruturante no país. Depois, o eleitor pode julgar o governante no meio do período. Bush pai não se reelegeu, Carter não se reelegeu. Mas foi bom para os Estados Unidos o Clinton ter governado oito anos.

-O senhor não ficou tentado a buscar o terceiro mandato, quando o deputado Devanir apresentou aquela emenda?

Eu fui contra. Chamei o partido e disse: não quero brincar com a democracia. Se eu conseguir o terceiro, amanhã virá alguém querendo o quarto, o quinto. Sou amplamente favorável à alternância no poder, de pessoas e de segmentos sociais. Comigo, pela primeira vez um operário chegou à presidência. Com a Dilma, a primeira mulher. Quer mais mudança do que isso? Quero que o povo continue mudando. Para errar ou acertar, não importa.

-Deixar o poder traz mais liberdade?

Eu nunca tive liberdade, nem antes nem depois. Fiquei oito anos em Brasília sem ir a um restaurante, a um aniversário, a um casamento, porque tinha medo daquele mundo futriqueiro de Brasília. Mesmo hoje, prefiro passar o final de semana em casa, de bermudas.

-Mas afora os problemas do poder, alguma saudade de Brasília?

Olha, o nascer e o pôr do sol no Alvorada são, para mim, inesquecíveis. Todos os domingos de manhã, eu e Marisa pescávamos. Há um lago no Torto, outro no Alvorada, e há o Lago Paranoá. Houve um dia em que a Marisa pegou 26 tucunarés, ali no píer onde fica o barco da Presidência. Disso, eu tenho saudade. Não pude conviver, por precaução minha. Mas o céu de Brasília é muito bonito. O clima é extraordinário, o padrão de vida do Plano Piloto é invejável. Não é mais aquela cidade criticada porque não tinha esquinas. O povo soube fazer suas esquinas.

-O que considera como mudanças importantes deixadas por seu governo?

As coisas que foram feitas, se em algum momento foram negadas, a verdade foi mais forte que a versão. A ONU acaba de reconhecer, com dados irrefutáveis, que o Brasil foi o país que mais combateu e reduziu a pobreza nos últimos 10 anos. Eu queria provar que, quando o Estado assume a responsabilidade de cuidar dos pobres, isso tem efeitos. Tenho muito orgulho de ter sido um presidente que, sem ter diploma universitário, foi o que mais criou universidades no Brasil, o que mais fez escolas técnicas, o que colocou mais pobres na universidade... Já houve presidentes da República que tinham diplomas e mais diplomas, mas fizeram muito pouco pela educação. Nós provamos que era possível fazer porque decidimos que educação não era gasto, era investimento. A outra coisa de que muito orgulho é de ter sido o primeiro presidente que fez com que o povo se sentisse na Presidência.

-E o quê o senhor considera o maior erro de seu governo?

Certamente, cometi muitos erros. Os adversários devem se lembrar mais deles do que eu. Mas fiz as coisas que achava que poderia fazer. Há quem me pergunte se não me arrependo de ter indicado tais pessoas para a Suprema Corte. Eu não me arrependo de nada. Se eu tivesse que indicar hoje, com as informações que eu tinha na época, indicaria novamente.

-E com as informações atuais?

Eu teria mais critério. Um presidente recebe listas e mais listas com nomes, indicados por governadores, deputados, senadores, advogados, ministros de tribunais. E é preciso ter quem ajude a pesquisar e avaliar as pessoas indicadas. Eu tinha o Márcio Tomas Bastos no Ministério da Justiça, o (Dias) Toffoli na Casa Civil... Uma coisa que lamento é não ter aprovado a reforma tributária, e tentei duas vezes. Hoje, estou convencido de que não poderá ser feita como pacote, mas fatiada, tema por tema. Eu mandava um projeto com apoio de todo mundo, mas as “forças ocultas” de que falava o Jânio se apresentavam nas comissões do Congresso e paravam tudo. Eu receava também que o segundo mandato fosse repetitivo, com ministros não querendo trabalhar. Foi aí que tivemos a ideia do PAC. Mas acho que poucos conseguirão repetir o que fizemos entre 2007 e 2010. Era o time do Barcelona jogando. Tudo fluiu bem. Posso ter errado, mas não tenho arrependimentos. Tenho frustração de não ter feito mais.

-Voltando à indicação dos ministros do STF. Hoje, se o senhor pudesse voltar no tempo...

Nem podemos pensar nisso. Eu não sou mais presidente, eles já estão indicados e irão se aposentar lá.

-O senhor continua fazendo palestras?

Tenho feito, mas vou reduzir. No ano que vem, vou me dedicar um pouco à campanha. Vocês sabem que um ex-presidente da República não tem aposentadoria. Não tendo aposentadoria de outra origem, terá que ser mantido pelo partido dele ou terá que se virar. Mas você só é convidado para fazer palestras se tiver sido exitoso no governo. O Fernando Henrique inovou e passou a fazer palestras. O PT ofereceu-me um salário e eu agradeci [dispensei]. Eu mesmo iria tratar da minha sobrevivência.

-O que acha das críticas de que existiria conflito de interesses quando as empresas têm contratos com o governo?

Acho uma cretinice. Primeiro, porque não faço nada além do que eu fazia como presidente. Eu tinha orgulho de chegar a qualquer país e falar da soja, do etanol, da carne, da fruta, da engenharia, dos aviões da Embraer... Eu vendia isso com o maior prazer do mundo. Com orgulho. Eu achava que isso era papel do presidente da Republica. Quando Bush veio aqui, fomos a um posto que vendia etanol. E havia lá um carro da Ford e outro da GM. Chamei o Bush para tirarmos uma foto e ele disse que não podia fazer ‘merchandising’ de carro americano. Só que ele estava com um capacete da Petrobras na cabeça. Eu falei: "Então, fica você aqui que eu vou lá". Se eu puder vender as empresas brasileiras na Nigéria, no Catar, na Líbia, no Iraque, na África, eu vou vender. Essas críticas também refletem o complexo de vira-lata. É não compreender o sentido disso. Tenho orgulho de saber que, quando cheguei à Presidência, não havia uma só fábrica brasileira na Colômbia e hoje existem 44. Havia duas no Peru e hoje são 66. De termos ampliado nossa presença na Argentina e na África. Se não formos nós, serão os chineses, os ingleses, os franceses. E não são apenas empresas de engenharia. Hoje, temos fábrica de retrovirais em Moçambique, o SENAI e escolinhas de futebol do Corinthians em mais de 13 países africanos. Agora mesmo, me pediram para tentar levar o vôlei para a África, onde o esporte não existe. E vou ajudar com o maior prazer. Só não vou jogar porque tenho bursite. Mas veja a malandragem. Todas as empresas, inclusive as de jornais e de televisão, têm lobistas em Brasília. Mas são chamados de “diretor corporativo” ou “institucional”. Agora, se alguém faz pelo país, é “lobista”. Faz parte da pequenez brasileira. Veja o caso da Copa do Mundo. Todo país quer sediar uma Copa do Mundo. O Brasil não pode. Ah, porque temos problemas de saúde e moradia! Todos os países têm problemas, e por não pode ter Copa do Mundo e Olimpíada? E o quanto uma nação ganha com isso, do ponto de vista cultural, do ponto de vista do desenvolvimento? Qual é a denúncia contra as obras?

-Nos protestos, a crítica era ao custo das obras...


Ora, se em 1960 o Brasil pôde fazer um estádio para a Copa do Mundo, em 2013 não podemos fazer outros? Pergunto qual é a denúncia? Eu deixei dois decretos, um sobre a Copa outro sobre a Olimpíada, que estão no site da CGU. Perguntem ao Jorge Hage onde tem corrupção na Copa. O TCU designou um ministro, o Valmir Campelo, encarregado de fiscalizar especificamente os gastos com a Copa. Perguntem a ele onde há corrupção. A Copa está marcada e tem que ser feita com a maior grandeza. Se alguém praticar corrupção, que seja posto na cadeia. Já conversei com os patrocinadores sobre a necessidade de uma narrativa diferente para a Copa do Mundo. Vi na TV pessoas chorando no Japão, que vai sediar uma Olimpíada. E vi um jornalista dizer que tudo bem, o Japão está retomando o crescimento, diferentemente do Brasil, que ainda é pobre. Então, Olimpíada é só para países do G-8? E ainda que fosse, o Brasil está no G-6... Não me conformo com o complexo de vira-lata e com o denuncismo infundado. Precisamos de uma lei que puna também o autor de denúncia falsa.

-Falando nas manifestações, o que mudou com elas no Brasil?

Eu acho que fizeram muito bem ao Brasil. Com exceção dos mascarados. Todas as reivindicações que apresentaram, um dia nós também pedimos. Veja o discurso de (Fernando) Haddad na campanha de São Paulo: "Da porta da casa para dentro, a vida melhorou, mas da porta para fora, ainda precisa melhorar." Hoje muito mais gente anda de carro, mas o transporte público não melhorou. Eu andava de ônibus lotados como latas de sardinha em 1959, e continua a mesma coisa. O Haddad agora me disse: "Precisando de tanto dinheiro, conseguimos reduzir em 50 minutos o tempo de viagem só com latas de tinta". As faixas exclusivas para ô ônibus tiveram aprovação de 93% das pessoas. O povo nos disse o seguinte: "Já conquistamos algumas coisas e queremos mais". As pessoas querem mais, mais salário, mais transporte, melhorias na rua, e isso é extraordinário. Nem dá mais para ficar dividindo tarefa: isso é com o prefeito, isso com o governador, aquilo com o presidente. Agora é tudo junto.

-Haddad não errou, quando demorou a recuar na tarifa?


Houve muita gente ponderando para o Haddad que era preciso recuar. Se ele tivesse dado o aumento em janeiro, não teria acontecido o que aconteceu. Ele e o prefeito do Rio foram convencidos de que, adiando o aumento, ajudariam no controle da inflação. Eles concordaram e tudo caiu nas costas deles. Meu primeiro movimento foi mostrar ao Haddad que aquilo não era contra ele, que ainda estava muito novo no cargo: "Haddad, levante a cabeça, tira proveito disso, que bom que o povo esta se manifestando". Acho que ele demorou uns dois ou três dias, mas foi correto. E o transporte é caro mesmo... Enfim, as manifestações nos ensinaram que o desejo do povo de mudar as coisas é infinito. Nós todos queremos sempre mais. Quem consegue um aumento de 10% nos salários logo depois quer outro. Quem consegue comprar carne de segunda passa a querer carne de primeira. Tínhamos 48 milhões de pessoas que andavam de avião em 2007. Em 2012, eram 103 milhões. Hoje, tem gente que entra no avião e não sabe nem guardar a mala. Alguns acham isso ruim. Eu acho ótimo. Tem mais gente indo a restaurantes, a museus, a institutos de beleza, e isso é bom sinal. A única coisa que eu critico é a negação da política. Ela [a negação] sempre resulta em algo pior, como o fascismo, o nazismo. Tenho dito ao PT para enfrentar o debate. Vamos perguntar aos tucanos por que eles derrotaram a CPMF, tirando R$ 40 bilhões da saúde por ano em meu governo, achando que iriam me prejudicar. E eu disse: quem vai pagar é o povo.

-E o programa “Mais médicos”, é uma boa solução?


É uma coisa fantástica, mas vai fazer com que o povo fique ainda mais exigente com a saúde. O sujeito vai subir o primeiro degrau. Vai ter um médico que vai lhe pedir os primeiros exames, e a saúde vai ser problema outra vez. Discutir saúde sem discutir dinheiro, não acredito. E não adianta dizer, como fazem os hipócritas, que o problema é só de gestão. Chamem os 10 melhores gestores do planeta e perguntem como oferecer tomografia, ressonância, tratamento de câncer, sem dinheiro. O hipócrita diz: "Eu pago caro por um plano de saúde, porque o SUS não me entende". Mas quando ele vai fazer a declaração de renda, desconta tudo do imposto a pagar. Então, quem paga a alta complexidade para ele é o povo brasileiro. E aí veio a FIESP [Obs deste blog: +PSDB, DEM e PPS e mídia em geral]  fazer campanha para acabar com a CPMF. Não foi para reduzir custos, mas para tirar do governo o instrumento de combate à sonegação.[Obs. deste blog: em resumo, a derrubada da CPMF foi manobra para beneficiar os sonegadores].

-O “Mais Médicos” é uma marca de governo para Dilma?


Os médicos brasileiros que protestaram sabem que cometeram um erro gravíssimo. O (Alexandre) Padilha tem dito, corretamente: "Não queremos tirar o emprego de médico brasileiro. Queremos trazer médicos para atender nos locais onde faltam médicos brasileiros". Em vez de protestar, eles deveriam ter feito um comitê de recepção aos colegas estrangeiros. E Deus queira que um dia o Brasil forme tantos médicos que possa mandar médicos para um país africano. É admirável que um país pequeno como Cuba, que sofre um embargo comercial há 60 anos, tenha médicos para nos ceder. Hoje, há máquinas que descobrem o câncer com menos de um milímetro. Mas quantos têm acesso a isso? Saúde boa e barata não existe, alguém tem que pagar a conta. 

Num país em construção, como o nosso, sempre haverá protestos. Temos de consolidar a democracia, sabendo que ela não pode ser exercitada fora da política. Tem gente que diz "eu não sou político" e começa a dar palpite na política. Esse é o pior político. Como eu fui ignorante, dou meu exemplo. Em 1978, no auge das greves do ABC, eu achava o máximo dizer: "Não gosto de política nem de quem gosta de política". A imprensa paulista me tratava como herói. Eu era "o metalúrgico". Dois meses depois, eu estava fazendo campanha para Fernando Henrique, que disputava o Senado por uma sublegenda do MDB. Dois anos depois, eu estava criando um partido político. Ninguém deve ser como o analfabeto político do Bertolt Brecht. Não se muda o país sem política.


SEGUNDA PARTE

Em segunda parte da entrevista exclusiva concedida ao “Correio”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que Marina Silva tem o direito de ser candidata à Presidência. Porém, o líder histórico do PT afirma que, caso o projeto da ex-colega de partido dê errado, é necessário brigar pelos votos que ela receberia.

Além disso, Lula também falou sobre temas sensíveis, como a reforma política, a divisão interna do Partido dos Trabalhadores e sobre o escândalo envolvendo a ex-chefe do Gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha.

-Na semana passada, foram criados dois novos partidos políticos, houve um grande troca-troca de deputados, para lá e para cá. Como você vê isso?

O fato de você legalizar um partido é o menos importante. Levar 10, 15 deputados, também. Eu quero saber é se, na próxima eleição, esses partidos passarão pelo teste das urnas.

-Marina Silva talvez não consiga registrar o partido dela.. 


Quando nós fomos construir o PT, as exigências legais eram até maiores. Na primeira eleição, eu achava que seria eleito governador de São Paulo. Eu era uma figura estranha, um metalúrgico, levava muita gente aos comícios. Fiquei em quarto lugar. O “Estadão” fez uma pesquisa, dizendo que eu tinha 10%. Eu logo xinguei a imprensa burguesa (risos). E eu tive exatamente 10% (risos). Então, essas pessoas que estão criando partidos vão ter de trabalhar muito. E precisamos evitar as legendas de aluguel. Não serei contra, depois de tudo que fiz pela criação do PT. Eu não sei se a Marina vai cumprir as exigências legais. Ela é uma personalidade política do país, tem todo direito de criar um partido. Agora, tem de ter coragem de dizer que é partido, não tem que inventar outro nome, dizer que não é partido, é uma “rede”. É partido e vai ter deputado, como todo partido. Mas o que vai contar nas eleições de 2014 são os partido existentes, o PT, o PMDB, o PSB, o PSDB e outros mais.

-Agora, sem a candidatura de Marina, a disputa presidencial se alteraria, não?

Ela ainda tem tempo. Ela tem de assistir o dia final do julgamento com a ficha de um outro partido do lado. Eu acho que a Marina tem o direito de ser candidata. Marina é um quadro político importante para o país. Caso ela não consiga o partido e não seja candidata, será importante saber para onde irão os votos dela. Ninguém pode perder o pé da realidade do país, achar-se melhor que o Congresso, que lá só tem corrupto, como vejo alguns dizerem.

-O senhor mesmo já falou, quando disse que no Congresso havia 300 picaretas...

O Congresso é a cara da sociedade brasileira. Ulysses Guimarães dizia: "Toda vez que a sociedade começa a falar em muita mudança no Congresso, o Congresso piora".

-Quase 300, na realidade 280 deputados, foram responsáveis de alguma forma pela absolvição do deputado Natan Donadon em plenário...

Veja que eu não errei. O que acontece no Congresso acontece num clube de futebol, acontece no condomínio que a gente mora, na sauna... Você tem gente de qualidade, você tem gente de menos qualidade, gente comprometida com os setores mais à esquerda, gente comprometida com os setores mais à direita. Se as pessoas fossem de direita ou de esquerda, era melhor do que serem simplesmente fisiológicas. O que eu acho que mata na política é o fisiologismo. E você não vai acabar com isso. É uma cultura política que está estabelecida no mundo, não é só no Brasil. E não é uma questão nacional, senão a Itália não teria o Berlusconi.

-Mas o senhor defende a reforma política, não é buscando superar esses problemas?

Eu defendo a reforma política, mas acho que ela só virá quando tivermos Constituinte própria para fazê-la. O Congresso [atual] não vai aprovar. Pode fazer uma mudança aqui, outra ali, mas não uma reforma profunda. Defendo o financiamento público porque eu acho que é a forma mais barata e mais honesta de fazer campanha. Por que os empresários não defendem o financiamento público? Não seria melhor para eles, não ter que dar dinheiro para candidato? Mas eles preferem que os políticos dependam deles. Eu li a biografia do Juscelino, os dois volumes do (Getúlio) Vargas, do Lira Neto (escritor cearense), estou lendo a biografia de Napoleão Bonaparte e a do Padre Cícero. A política é sempre a mesma. Nos Estados Unidos, Abraham Lincoln precisou vencer os mesmo obstáculos. Penso que, com partidos mais sérios e valorizados, com mais seriedade nas campanhas, a política irá se qualificando e motivando mais. Eu sempre digo aos jovens: mesmo que você não acredite em mais ninguém, e ache que todos são corruptos, não desista. O político honesto que você procura pode estar dentro de você. Ao invés de negar a política, entre na política.

-O momento mais delicado da Dilma ocorreu durante as manifestações. E naquele momento, o PMDB, o principal aliado do PT, tentou emparedar a presidente no Congresso...

O ideal de um partido político é eleger um presidente da República, eleger a maioria dos governadores, eleger a maioria dos senadores, a maioria dos deputados federais. Isso é o ideal. Não parece maravilhoso? Pois bem, em 1987, o PMDB teve isso. O PMDB elegeu 306 constituintes e 23 governadores. O (José) Sarney teve moleza? Não teve. O principal adversário do Sarney era Ulysses Guimarães. Por isso, eu prezo a democracia. Eu fico imaginando se o PT tivesse 400 deputados, 79 senadores. Iria ser fácil? Temos de aprender a lidar com a realidade. Angela Merkel acabou de ganhar as eleições na Alemanha, mas, para governar, terá que fazer aliança.

-E a divisão interna dentro do PT, entre lulistas e dilmistas?

Se houver alguém que se diz lulista e não dilmista, eu o dispenso de ser lulista. A Dilma é a presidenta da República e ela representa o PT. Eu não estou pedindo que as pessoas gostem de Dilma. Eu quero que as pessoas a respeitem na função institucional e saibam que o PT está lá para apoiá-la. O povo de Brasília votou no (José Roberto) Arruda porque acreditou que o Arruda iria fazer as mudanças prometidas. Não deu certo. Você vai dizer que o eleitor do Roriz era pior do que o eleitor do Agnelo? Não era. O eleitor vota esperando que as coisas melhorem. Se tivermos agora como candidatos Dilma, Aécio, Eduardo Campos e Marina, o Brasil está qualificado. Todos candidatos de centro-esquerda para a esquerda.

-O senhor tentou evitar o rompimento de Eduardo Campos com o governo. Agora que aconteceu, como ficará esse relacionamento. Ele pode sair do campo de sua influência, o campo da esquerda? 


Eu não tenho influência. Mas eu gostaria que não tivesse acontecido o que aconteceu.

-Quem errou?

Não sei, acho que todo mundo errou. E eu posso estar errado também. Pode ser que o governo e o Eduardo estejam certos no rompimento, e eu errado. Mas eu não dou de barato que o Eduardo é candidato. Ele tem potencial? Ele tem estrutura, sabedoria política? Tem. Ele pode ser candidato, como o Aécio, a Marina. Eu só acho que foi um prejuízo para a gente ter o PSB, e sobretudo o Eduardo Campos, do outro lado. Isso aconteceu apenas quando o Garotinho foi candidato contra mim, em 2002. Se ele vai ser candidato, nós temos de ter uma regra de comportamento. Se a eleição não terminar no primeiro turno, poderemos ter aliança no segundo turno. Ma eu não dou de barato que as coisas estão definidas na eleição. Nem para o Eduardo Campos ser candidato, nem para o Aécio ser candidato. Sabe-se lá o que o Serra vai tramar contra o Aécio? Nem para a Marina. Eu acho que a gente tem de ver o seguinte: temos de esperar, até março do próximo ano. São mais seis meses pela frente, até as pessoas anunciarem de fato suas candidaturas. Sei apenas que, entre todos, a Dilma é a que tem mais credenciais e é mais qualificada para governar o Brasil. Eu vou percorrer o Brasil como se eu fosse candidato.

-Qual será a diferença, na disputa com o PSDB, em ter o Aécio como candidato, e não o Serra?

Eu acho que vai trazer mais dificuldades para o PSDB. O Aécio vai ter que se tornar conhecido. O Serra já é conhecido, tem o ‘recall’ de outras disputas. Não é fácil criar um candidato novo num país do tamanho do Brasil. Então, eu não sei como o PSDB vai conseguir se livrar do Serra ou se o Serra vai conseguir provar que tem mais qualidades para ser candidato. Mas o PT não pode escolher adversário. Tem que enfrentar quem aparecer, e acho que pode ganhar dos dois.

-Sua participação na campanha da Dilma agora será diferente da que teve em 2010?

Tem de ser diferente. Em 2010, a Dilma não era conhecida. Fizemos uma campanha para que ela se tornasse conhecida, e para mostrar ao eleitor o grau de confiança que eu tinha nela. Obviamente que, depois de quatro anos de governo, a Dilma passou a ser muito conhecida e conseguiu construir a sua própria personalidade. Então, já tem muita gente que vai votar na Dilma independentemente de o Lula pedir. Naquilo que eu tiver influência, nas pessoas que eu tiver influência, eu vou pedir para votar na Dilma. O que eu vou fazer na campanha depende dela. Eu não quero estar na coordenação, eu quero ser a metamorfose ambulante da Dilma. Estou disposto. Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste. Isso quem vai determinar é ela. Eu tenho vontade de falar, a garganta está boa. Eu estou com mais disposição, mais jovem. Apesar da idade, eu estou fisicamente mais preparado. Estou com muita saudade de falar. Faz tempo que eu não pego um microfone na rua para falar. Conversar um pouco com o povo brasileiro. Vou ajudar. Se for importante ficar quieto, eu vou ficar quieto. A única que coisa que eu não vou fazer é cantar, porque eu sou desafinado, mas no resto, ela pode contar comigo.

-A prorrogação do julgamento do “mensalão”, levando as prisões de petistas no próximo ano, em plena campanha, pode atrapalhar os candidatos do PT e a própria Dilma?


Eu não acredito, não. As pessoas têm o hábito de menosprezar a inteligência do povo. A história não é contada no dia seguinte, a história é contada 50 anos depois. E eu acho que a história vai mostrar de que, mais do que um julgamento, o que nós tivemos foi um linchamento por uma parte da imprensa brasileira, no julgamento. Eu tenho me recusado a falar disso porque sou ex-presidente, indiquei os ministros. Vou falar quando o julgamento terminar. Uma coisa eu não posso deixar de criticar. Se pegar o último julgamento agora (dos embargos infringentes), o que a imprensa fez com o Celso de Mello foi uma coisa desrespeitosa à instituição da Suprema Corte, que é o último voto. Ou seja, depois dela, ninguém mais pode falar. Eu fiquei irritado certa vez, quando eu era presidente, o (Sepúlveda) Pertence tomou uma decisão e alguém escreveu que José Dirceu tinha ganhado no tapetão, sem nenhum respeito a uma figura como o Pertence. Veja a arrogância e a petulância de algumas pessoas. Elas, amanhã, poderão ser julgadas e vão querer o direito de defesa. A sociedade brasileira já aprendeu a separar o joio do trigo, inclusive pelo que tentaram fazer comigo em 2006, na campanha. Ninguém poderia ter sido mais violento comigo do que foi o (Geraldo) Alckmin. Todo mundo sabe o que aconteceu na véspera da eleição, quando o delegado da Polícia Federal mentiu que tinham roubado a fita (na realidade, um CD), sendo que ele mesmo fez a entrega para quatro jornalistas. (Aqui, Lula se refere ao "Escândalo dos aloprados" e ao vazamento das fotos do dinheiro usado para comprar "falsos" [seriam?] dossiês contra José Serra e Geraldo Alckmin). Todo mundo sabe o que houve na eleição do (Fernando) Haddad. Aquele julgamento (do mensalão) no meio da eleição, qual era o objetivo? Tudo isso o povo percebe.

-Então o senhor acha que não terá efeito?

O povo sabe separar as coisas. Agora, o que não se pode é negar o direito das pessoas de exigirem provas. Eu sinceramente tenho muita vontade de falar, mas eu preciso me calar. Alguns companheiros estão condenados. Se amanhã a Justiça falar que absolveu, estarão condenados do mesmo jeito. Ninguém se dá conta do que aconteceu com a família das pessoas, com os filhos das pessoas. Essa substituição da informação pela versão que interessa não pode ser adequada à construção de um país democrático.

-Voltando à questão eleitoral, o senhor disse em determinado momento que não podia trincar a relação com o PMDB, mas ela tem problemas. O senhor está ajudando a montar essas alianças nos estados?


Não. Não sou eu. O PT vai ter as coordenações regionais, a coordenação de campanha e a direção nacional. Aliás, o PT sozinho não pode cuidar disso. Tem de ser cuidado junto com o PMDB. Não é a primeira vez que a gente faz uma campanha com dois palanques. Houve estados em que não fui durante determinada campanha porque tinha problemas entre os aliados. Em 2010, em Pernambuco, por exemplo, construímos uma coisa sui generis, que foi colocar dois candidatos no mesmo palanque. Eu ia lá e falava com os dois do meu lado. Se fosse possível repetir isso sem tiroteio, seria ótimo. Mas eu acho que vamos ter problemas em vários estados. Temos que dar tempo ao tempo, esperar as divergências diminuírem para a gente poder construir a unidade. Em março, o quadro estará mais claro.

-No Rio de Janeiro inclusive?

Sim. Nós temos de saber quem são os nossos adversários e construir, a partir daí, as nossas alianças regionais. Mas como é que você vai convencer uma pessoa que quer ser candidato a governador a não ser candidato?

-Isso vale para o senador Lindbergh Farias?


Não é só o Lindbergh. Vamos entrar na cabeça do Lindbergh. Ele tem o mandato de oito anos e tem um intervalo agora no meio. Se concorrer, ele não perde nada, ele só ganha. Como funciona a cabeça dele: se não for candidato agora, em 2018 terá de disputar com o Eduardo Paes ou com o Sérgio Cabral, sei lá. Ele acha, então, que o momento dele é agora. Como você vai tentar convencê-lo? O cara tem oito anos de mandato, não tem nada a perder... Na pior das hipóteses, se ele perder, estará fazendo campanha para ele mesmo ao Senado em 2018. Isso vale para todos. Vai convencer no Pará que o cidadão não deve ser candidato. Ele pode ter 1% nas pesquisas e fala (Lula bate no peito): "Eu vou ganhar". Em janeiro do ano passado, eu estava em casa todo inchado, quase sem poder falar, e implorei ao Humberto Costa não ser candidato a prefeito em Recife. "Humberto, pelo amor de Deus, o povo te elegeu senador. É um mandato de oito anos, você vai virar uma figura nacional. O PT precisa de você. Você quer voltar para Recife para fazer o quê, Humberto?" Ele então disse: "Se é assim que o senhor pensa, não serei candidato". E quem foi o candidato? Humberto. Foi candidato na pior situação (Humberto perdeu no primeiro turno para Geraldo Júlio, do PSB). Quando a pessoa quer, é difícil evitar. Vocês acham que eu aprovei o Wellington (Dias) ter sido candidato a prefeito de Teresina? Um cara que saiu com quase 80% de aprovação, que o povo elegeu para senador, que desgraça ele tinha de ser candidato a prefeito de Teresina? Mas ele foi. Aí, quando toma a porrada que tomou, ele fala: (Lula faz careta e imita voz chorona:) “É, você tinha razão". Então, vamos dar tempo ao tempo. A única certa é que a Dilma é uma candidata com amplas condições de ganhar as eleições. Ela vai ter mais o que mostrar. A economia vai estar numa situação melhor.

-O tema econômico da hora são as concessões. Na eleição, a oposição não irá explorá-las como uma forma de privatização feita pelo PT, que combateu as privatizações tucanas?


Não é privatização. Deixa eu dizer uma coisa: é urgente mudar a lei 8666/93,que regula as licitações neste país, se quisermos que as coisas aconteçam. Hoje, para fazer uma obra, são tantos os obstáculos, como eu já disse...TCU, IBAMA, CGU, IPHAN...Uma verdadeira máquina de fiscalização que emperra a máquina da execução. Então, é melhor passar pelo crivo uma só vez e entregar o serviço para a iniciativa privada explorar, com mais facilidade e rapidez. A segunda coisa é que o Estado também não tem recursos. As concessões são um convite à iniciativa privada, que pode suprir a deficiência do Estado para investir. A Dilma estava na casa Civil, nós reuníamos os ministros e órgãos envolvidos nos projetos. Eu falava todos os palavrões que tinha de falar, mas as coisas não andavam. Um problema aqui, outro ali. Temos que encontrar uma solução. A Dilma anunciou as concessões em junho do ano passado e os leilões só estão saindo agora. Se estivéssemos em 1955, começando a construir Brasília, nem a picada para o avião do JK pousar teria saído.

-Como o senhor avalia a decisão da CGU de pedir a destituição do serviço público da ex-chefe do Gabinete da Presidência de São Paulo, Rosemary Noronha, por 11 irregularidades, incluindo propina, tráfico de influência e falsificação de documentos?


Ela já estava demitida. O que a CGU fez foi confirmar o que todo mundo já sabia o que iria acontecer.

-Mas tudo ocorreu dentro de um escritório da Presidência, em São Paulo...

Deixa eu falar uma coisa. A CGU julgou um relatório feito pela Casa Civil. E, pelo o que eu vi do relatório, ele confirma as conclusões da Casa Civil. Todo servidor que comete algum ilícito tem de ser exonerado. O que valeu para o escritório vale para qualquer lugar no Brasil, no setor público. Vale para banco, vale para a Receita Federal. Vejo isso com muita tranquilidade (Lula se vira para o assessor de imprensa e pergunta:) "Não foi exonerado esses dias um companheiro que trabalhava com a Ideli (Salvatti)?" (Lula se refere ao assessor da Subchefia de Assuntos Federativos, Idaílson Vilas Boas Macedo, após notícias de que faria parte do esquema de lavagem de dinheiro descoberto pela Polícia Federal na “Operação Miqueias”).

-O que o senhor achou da reação do governo brasileiro em relação à espionagem norte-americana?


Dilma agiu certo. O que não poderia aceitar é a ideia que o (Barack) Obama tentou passar, de que não aconteceu nada. Com aquele jeitão imperial do Obama falar.

-Quase três anos depois de deixar a Presidência, como o senhor gostaria de ser lembrado?

O que me importa é a forma como serei lembrado pelas pessoas. Algo que me marcou foi meu último encontro com os catadores de material reciclado e moradores de rua de São Paulo. Uma menina, afrodescendente, pegou o microfone e perguntou: "presidente, você sabe o que mudou na minha vida nestes oito anos?" Eu não sabia. E ela disse: "Não foi o dinheiro que eu ganhei, nem as cooperativas que organizei. Foi o direito de andar de cabeça erguida que o senhor me restituiu. Hoje, não tenho vergonha de andar com o carrinho catando papelão na rua. Sinto-me tão importante quanto os que passam de carro ao meu lado". Nada é mais gratificante que isso. Foi o que me inspirou a pedir ao Fernando Morais para tentar fazer uma biografia do meu governo, conversando com quem ele quiser: banqueiro, dono de jornal, metalúrgico, bancário, catador de papel. Ouvir o que as pessoas pensam é mais importante, pois todo mundo tem tendência a falar bem de si mesmo.”


FONTE: do jornal online “Brasil 247” (http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/116247/Lula-n%C3%A3o-foi-julgamento-mas-sim-linchamento.htm). [Pequenos trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'. 2ª imagem obtida no blog "Os amigos do Presidente Lula"].

Stédile: “FHC CRIOU MENSALÃO AO COMPRAR SUA REELEIÇÃO”


Do “Brasil 247”

“Às vésperas do outubro vermelho, quando o ‘Movimento dos Trabalhadores Sem Terra’ promete fazer invasões de terra, fechar estradas e promover protestos pela reforma agrária por todo o País, João Pedro Stédile liga sua metralhadora verbal. Além de criticar o ex-presidente FHC, diz que a presidente Dilma precisa "sair da retórica e fazer mais desapropriações" e condena o Judiciário, após vencer processo contra a revista “Veja” em duas instâncias e perder no STF: "O Poder Judiciário ainda é monárquico, não passou pela República"

Sobrou para o ex-presidente Fernando Henrique. Ao ligar sua metralhadora verbal giratória, em entrevista ao jornalista Renato Dias, do “Diário da Manhã”, de Goiânia, o coordenador do “Movimento dos Trabalhadores Sem Terra” (MST), João Pedro Stédile, disse com todas as letras o que parecia esquecido:

- “Fernando Henrique inventou o 'mensalão' ao compra sua reeleição”, disse Stédile, referindo-se às "manobras" [$$$] no Congresso, em 1997, executadas para aprovar a mudança na legislação.

O líder do MST também fez críticas ao governo Dilma Rousseff, afirmando que, nos últimos dois anos, não houve nenhuma grande desapropriação de terra. No momento, segundo ele, 100 mil famílias de Sem Terra vivem acampadas no interior do Brasil.

- “O ministro Guido Mantega e o presidente do Banco Central (Alexandre Tombini) precisam suspender imediatamente a política de realização de superávit primário, que significa uma farra para os banqueiros”.

Para o mês de outubro, o MST planeja uma série de ações pelo Brasil, cobrando mais atos pela reforma agrária do governo.

- “A presidente Dilma fez autocrítica reconhecendo que precisa ouvir mais a voz das ruas, mas isso é pouco. Ela tem de recuperar o tempo que perdeu na reforma agrária e, efetivamente, dar um caráter popular ao seu governo. Todos estamos cansados de retórica apenas”.

Em razão de uma experiência pessoal recém vivida com um processo aberto por ele contra a revista “Veja” na Justiça, Stédile também disparou contra o sistema judiciário. Ele venceu nas duas primeiras instâncias, mas perdeu no STF:

- “A verdade é que o Poder Judiciário ainda não aceitou que estamos numa República. Continua monárquico, como se o Brasil não tivesse avançado para uma democracia”.

FONTE: jornal online “Brasil 247”  (http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/116257/MST-%E2%80%9CFHC-criou-mensal%C3%A3o-ao-comprar-reelei%C3%A7%C3%A3o%E2%80%9D.htm).

EMBRAER VAI TER EMPRESA DE INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS



Por Virginia Silveira, no jornal “Valor”

A Embraer está criando uma nova empresa na área de integração de sistemas, com foco nos segmentos de petróleo e gás e naval. 

O jornal “Valor” apurou que o engenheiro Daniel Noczydlower, recém-contratado pela Embraer, foi nomeado CEO da nova empresa. Procurada, a Embraer não se manifestou sobre o assunto.

A primeira aparição pública do executivo, de acordo com informações apuradas pelo “Valor”, aconteceu [em setembro], durante a “3ª Conferência de Inovação Brasil-EUA”, no Rio de Janeiro. A Embraer foi uma das cerca de 20 empresas participantes do evento, promovido pela “Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial” (ABDI), o “Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social” (BNDES), “Movimento Brasil Competitivo” (MBC) e “US Council on Competitiviness” (CoC).

A criação da nova empresa, de acordo com fontes ligadas à Embraer, faz parte da estratégia de diversificação de negócios da companhia, a exemplo do que já aconteceu por meio da aquisição de outras empresas, como a ATECH (tecnologias críticas) a ORBISAT (radares) e também a criação da HARPIA com a AEL Sistemas (veículos aéreos não-tripulados), do consórcio TEPRO (gestão integrada de projetos de monitoramento e controle de fronteiras) e da VISIONA, uma associação com a TELEBRAS, para a gestão de projetos espaciais.

A empresa vai atuar, por exemplo, com tecnologia embarcada para o gerenciamento de operações de navios e plataformas.

A Embraer, segundo informações, também não teria desistido de entrar no mercado de helicópteros, apesar de sua parceria com a italiana “Agusta” não ter dado certo. A fabricante americana “Sikorsky”, de acordo com fontes consultadas pelo “Valor”, é uma das empresas que estariam sendo analisadas pela Embraer para eventual parceria nesse segmento.

Líder mundial na fabricação de jatos comerciais de até 120 assentos, área que ainda responde por mais de 50% da sua receita global, a Embraer tem investido pesado na diversificação do seu portfólio de negócios e na expansão global. Em entrevista recente, o diretor-presidente da companhia, Frederico Fleury Curado, disse ao “Valor” que, quanto mais a empresa cresce e se diversifica, maior e mais acirrada é a competição que encontra internacionalmente.

Atualmente, a empresa conta com três unidades de negócios: aviação comercial, aviação executiva e defesa e segurança. A participação do mercado da aviação executiva cresceu de 14,1% das unidades entregues no mundo em 2011 para 14,9% em 2012. Na Embraer Defesa e Segurança, segundo a empresa, a receita foi 44% superior ao ano anterior.

No segmento de aviação comercial, a Embraer contabilizou este ano a venda de 130 E-Jets da atual família. Somado com as encomendas dos E-Jets da nova geração, o total de pedidos firmes em 2013 é da ordem de 330 aeronaves.

Os Estados Unidos continuam sendo o principal mercado para os E-Jets da companhia, mercado onde ela acredita que exista potencial de vendas de 400 aeronaves para as linhas aéreas americanas nos próximos dois a três anos.

A Embraer mantém-se na liderança do mercado de aviação comercial, com mais de 50% de participação em vendas e 63% das entregas. A empresa também reafirmou a previsão de entrega de 90 a 95 jatos comerciais em 2013.”

FONTE: escrito por Virginia Silveira, no jornal “Valor”   (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?page=notimp#).

COMO O BRASIL, A ÍNDIA TAMBÉM TEVE SUA SOBERANIA VIOLADA POR ESPIONAGEM DOS EUA


Jornalista norte-americano Glenn Greewald 

NÃO É SURPRESA QUE A ÍNDIA TENHA VIRADO ALVO TÃO IMPORTANTE DE VIGILÂNCIA, diz Greenwald


"Quanto mais os EUA souberem sobre o que os outros países estão fazendo – não só seus governos, mas suas empresas e sua população – mais poder os EUA têm sobre aquele país." De acordo com o jornalista norte-americano, é por isso que os EUA investigam a emergente Índia e "eliminam a privacidade do mundo".

Por Shobhan Saxena

Já faz algum tempo que as pessoas no mundo todo suspeitam que seus emails são lidos e seus telefones estão grampeados por agências governamentais. Os piores medos de todo mundo se tornaram realidade em junho quando Edward Snowden, um administrador de sistema da “National Security Agency” dos EUA, revelou informações sobre programas de vigilância eletrônica em massa feitos pela agência desde 2007. Glenn Greewald deu o furo da história no jornal inglês “The Guardian”.

Desde então, o jornalista norte-americano, que vive no Rio de Janeiro, informou uma série de histórias bombásticas, que expuseram até onde ia o alcance das operações secretas de vigilância da NSA. A revelação feita por ele de que a NSA espionou telefonemas e emails da presidenta Dilma Rousseff fizeram com que fosse cancelada uma viagem dela aos EUA em que ela visitaria a Casa Branca.

Agora colaborando com o “The Hindu” em uma série de matérias sobre a espionagem da NSA na Índia, o Sr. Greenwald conversou com Shobhan Saxena durante encontros em lobbies de hotéis e em sua casa, que ele divide com seu companheiro, David Miranda, dez cachorros e um gato, no meio da Floresta da Tijuca, no Rio. Veja alguns trechos da conversa:

-Qual você acha que foi o impacto mais importante que suas histórias trouxeram? 


É que não só os norte-americanos, mas pessoas do mundo todo, agora sabem os verdadeiros objetivos do sistema de vigilância dos EUA: coletar e armazenar toda forma de comunicação entre seres humanos. Em outras palavras, o objetivo é, por definição, eliminar a privacidade no mundo. E essa percepção tem produzido debates intensos e profundos em todos os continentes sobre o valor da privacidade e da liberdade da internet, os perigos representados pela vigilância secreta dos EUA e, mais amplamente, o papel que os EUA desempenham no mundo.

-Suas matérias revelaram que os EUA são um enorme estado de vigilância. Essa é uma imagem bem diferente das que os EUA têm de si mesmo, de um “farol da liberdade individual” e “protetor da liberdade e privacidade”. Como essas revelações afetaram a imagem dos EUA no mundo?

No começo, as pessoas presumiram que o foco das nossas matérias seria no que a “National Security Agency” estava fazendo e no que é a política de vigilância dos EUA, e o que mudaria seria como os norte-americanos pensavam na espionagem e como as pessoas no mundo viam a questão da privacidade. Mas o que mais mudou a partir dessas histórias é como as pessoas veem os EUA – exatamente do jeito que você falou na sua pergunta.

Essas histórias revelaram um programa de vigilância que funcionava não apenas sem o conhecimento das pessoas ao redor do mundo, mas dos próprios americanos, que supostamente têm poder sobre seu governo eleito democraticamente; está claro que os EUA não respeitam nenhum limite ético ou legal em sua busca por poder. É completamente contrário à imagem que eles mostram para o mundo.

-Como republicanos e democratas falam a mesma língua no que diz respeito às questões de segurança nacional, será esse processo irreversível? Pelo jeito como a administração Obama reagiu às matérias, parece não haver nenhuma vontade de se refletir sobre tudo isso internamente.

Eu não acho que nada seja irreversível quando se fala de tendências políticas. Nós vimos como, nos últimos três ou quatro anos, as tiranias mais enraizadas do mundo árabe se enfraqueceram, foram subvertidas e até mesmo destronadas. Há todo tipo de exemplo na história de mudanças radicais que as pessoas sequer esperavam. Então, não acho que seja irreversível. Eu acho que é muito difícil mudar por causa dessa incorporação dos dois partidos não só nos assuntos de segurança nacional em geral, mas também no papel dos EUA no mundo como um império. Mas uma das coisas que já se pode ver é que, nas cinco a seis semanas que nós temos publicado essas matérias, tem havido uma confusão na divisão partidária. Então, metade dos apoios mais contundentes a essas histórias vem dos republicanos, tanto os mais conservadores quanto os mais liberais; a outra metade vem de liberais e de pessoas de esquerda.

Isso realmente embaralhou as categorias normais de ideologia de uma maneira nunca vista; também se pode ver nas pesquisas de opinião pública que há aumento no número de pessoas seriamente preocupadas com os excessos do estado de vigilância, os abusos das liberdades civis e os ataques à privacidade. Tudo isso sugere que mudanças serão inevitáveis.

-Seu companheiro David Miranda foi detido em Londres por conta de uma lei antiterrorismo. Você acha que eles estavam mesmo atrás dos documentos que ele tinha com ele ou eles queriam intimidar você?

Não há dúvida de que o principal objetivo deles era intimidar. Se eles quisessem confiscar o que ele estava levando, eles poderiam tê-lo detido por nove minutos. Mas eles o detiveram por nove horas, o máximo permitido pela lei. E eles não só o detiveram, fizeram isso usando uma lei “antiterrorismo”. Especialmente para quem não é cidadão nem dos EUA nem da Inglaterra, é muito aterrorizante ouvir que você está sendo detido por conta de uma investigação de “terrorismo”, devido aos péssimos registros no que diz respeito aos direitos humanos no país nos últimos dez anos.

Um membro do governo dos EUA disse à [agência norte-americana de notícias] “Reuters” que o propósito da detenção de David era de “mandar uma mensagem” para nós, que falávamos dessas histórias, pararmos. Foi um ataque bruto contra a liberdade de imprensa.

-Tem havido tentativas, nos EUA, de criminalizar o jornalismo, como aconteceu no caso da “Fox News” e da “AP”? Isso não te incomoda? 


Eles têm tido sucesso em criar um clima de medo entre denunciantes e fontes. Por isso, alguns advogados federais me disseram, pelo menos por enquanto, que eu não deveria voltar para os EUA, eu não devo tentar entrar no país. É algo muito extraordinário para um advogado norte-americano falar para um jornalista norte-americano que ele não deve tentar entrar de novo no seu próprio país, pois eles podem tentar prender você.

-Então, você não foi mais aos EUA desde que começou a publicar essas matérias?


Não, não fui. Eu fui para Hong Kong e voltei para o Brasil por Dubai. Não estou dizendo que eu vou ser preso, mas o fato de ser motivo de discussão, e muita gente se sentir livre para defender isso publicamente sem perder sua posição ou sua credibilidade, já fazem disso uma possibilidade real. Quando se fala de ser processado pelos EUA por espionagem, não é um risco que você pode lidar com leveza.

-Por que você acha que a NSA mirou na missão diplomática e em interesses da Índia, um país com quem os EUA têm laços de amizade estreitos?

A Índia é um país com cada vez mais importância em diversas áreas: econômica, política, diplomática e militar. O objetivo dos EUA é submeter virtualmente todo mundo à vigilância em massa, mas não é nenhuma surpresa que a Índia tenha se tornado um alvo tão importante dessa vigilância. Em última instância, é uma questão de poder: quanto mais os EUA souberem sobre o que os outros países estão fazendo – não só seus governos, mas suas empresas e sua população – mais poder os EUA têm sobre aquele país.

-Uma das revelações mais chocantes de suas matérias foi o envolvimento de diversas democracias ocidentais, como Inglaterra e Alemanha, nos programas secretos de vigilância. Parece que há bem poucos países dispostos a enfrentar os EUA.

Acho que o mundo pode ser dividido, de maneira muito ampla, no que diz respeito às relações com os EUA, em três categorias. Uma é de países extremamente subservientes aos EUA, que sempre capitulam aos seus ditames. Uma segunda categoria é de países que são abertamente hostis aos EUA. Então, há a grande maioria que fica no meio, de países independentes. Eles se aliam aos EUA se eles têm interesse, e ficam contra se acham que devem.

A maioria dos países europeus fica bem posicionada na primeira categoria, de governos que capitulam sem nenhuma força, de maneira subserviente, aos ditames dos EUA. Então, se viu muita raiva fingida e indignação artificial quando essas revelações vieram à tona, porque os cidadãos europeus foram alvo e eles se importam com a privacidade. Então, seus governos precisavam fingir que estavam bravos, mas pode-se ver suas verdadeiras cores quando os EUA mandaram que eles negassem passagem pelo espaço aéreo ao presidente da Bolívia, Evo Morales. Eles obedeceram direitinho, ao extremo, negando passagem ao presidente de um país soberano. Eles fizeram isso porque são cúmplices, virtualmente todos esses governos europeus. Ao passo que, na América Latina e em alguma medida na Ásia, e certamente em alguns países do Oriente Médio, há muito mais independência. Então, a raiva expressa é, em alguma medida, falsa, mas também é mais genuína.

-Para não haver quase nenhuma indignação com empresas de tecnologia como “Facebook”, “Skype”, “Google”, que praticamente colaboraram com o governo dos EUA na coleta de informações sobre pessoas no mundo todo. Agora, essas empresas dizem que não tiveram escolha. Elas poderiam ter dito “não” para a NSA?

Há enquadramentos legais que exigem que elas colaborem com os programas de vigilância do governo dos EUA, mas elas fizeram muito mais do que a lei exigia, como as empresas de telecomunicação fizeram na era Bush. O motivo é que elas se beneficiam de todas as formas possíveis por terem boas relações com o governo dos EUA. Só os benefícios dessa colaboração com o governo dos EUA nos termos desse programa de vigilância massiva compensam de longe o que eles consideram como custo das relações com o consumidor ou da imagem deles no mundo. Uma das razões que fez com que eles chegassem a essas contas é que eles pensaram que tudo isso seria feito secretamente; ninguém sabia que eles colaboravam tanto, e um dos benefícios de se revelar o que eles têm feito é que isso altera o cálculo deles, se as pessoas começam a perceber que eles são tão cúmplices do governo e que suas comunicações não são assim tão seguras, e elas podem começar a buscar alternativas.

O problema agora é que “Facebook”, “Skype” e “Google” são tão gigantes que é quase impossível não usar nenhuma delas. Se você tem 22 anos, você pode até se incomodar com o fato de o “Facebook” invadir sua privacidade, mas quando todos os seus amigos, todo mundo que você conhece, seus patrões estão no “Facebook” e exigem que você esteja, é muito difícil seguir os seus princípios e dizer “não uso mais o Facebook e o Skype”.

-Suas matérias expuseram também o que se pode chamar de grande mídia, como o “New York Times” e a “CNN”, que publicaram muito mais histórias sobre a vida pessoal de Snowden do que sobre os programas de vigilância. Até você foi atacado em algumas colunas. Você acha que o espaço para o jornalismo bom e investigativo está diminuindo na mídia global?

Sim e não. Acho que era completamente previsível o que eles fariam. Mesmo antes de revelarmos a identidade de Snowden, eu escrevi um artigo predizendo que eles tentariam tirar a atenção das denúncias, porque servir ao governo é sua função. Eles iriam demonizá-lo, bem como a qualquer pessoa, incluindo jornalistas, que trabalhassem com ele por transparência. Foi isso que eles fizeram em cada um dos casos. Eles fizeram isso com Daniel Ellsberg há 30,40 anos atrás. Fizeram com o “Wikileaks”, com Bradley Manning. Nós sabíamos que eles fariam isso com Snowden e, eventualmente, comigo.

Mas não importou muito. De alguma forma, o espaço para o jornalismo investigativo diminuiu por causa do que a mídia corporativa de massa virou, mas como a internet abriu espaço para todo tipo de mídia alternativa, o espaço para um jornalismo investigativo está maior do que nunca. Eu sou uma criatura da internet. Eu comecei meu próprio blog sete anos atrás e, mesmo hoje, trabalhando para o “Guardian”, eu topei exigindo total liberdade editorial. Eu tenho minha própria voz e eu não estou preocupado. Minha carreira não depende de favores dos poderosos. Eu pude desenvolver esse modelo alternativo por causa do poder da internet, de encontrar meus próprios leitores e não depender dessas grandes instituições. Há várias pessoas fazendo esse tipo de coisa em diversas áreas, em todas as culturas, em todo canto do planeta e isso mudou definitivamente o jornalismo. Há muita autorreflexão acontecendo agora dentro do “New York Times” e outros veículos sobre por que eles ficaram completamente de fora de um dos maiores – se não o maior – escândalo da mídia em muitos anos. E o motivo é que Snowden não confiava neles para contar a história de verdade. Ele não confiava que eles fossem resistir às exigências do governo, assim como Bradley Manning não confiou no “New York Times” e no “Washington Post” e foi para o “Wikileaks”. Então, vamos ver cada vez mais isso acontecendo à medida que mais histórias vão parar em gente como eu, ou como o “Wikileaks”, e não nas mãos do “New York Times” ou do “Washington Post”. O modelo de jornalismo dele vai perder cada vez mais a credibilidade. Isso já está acontecendo.

-Você está trabalhando num livro sobre todo esse caso. O livro é sobre Edward Snowden?

Só uma parte do livro vai falar sobre mim, sobre como eu me envolvi nessa história, e como eu desenvolvi uma relação de fonte com Snowden, como eu consegui os documentos, como eu escrevi as matérias, minha experiência em Hong Kong e depois disso. Mas o grosso do livro vai ser sobre como os EUA construíram esse estado de vigilância e quais são as consequências e os riscos disso. Vai haver também novas revelações, baseadas nos documentos.

-Algumas pessoas sugeriram que Snowden poderia ainda ser um agente disfarçado. Naomi Wolf até escreveu um artigo dizendo que poderia ser tudo um grande esquema. Você teve alguma dúvida sobre Snowden ou sobre a autenticidade dos documentos antes de sentar para escrever suas matérias?

Não. Cair nessa teoria seria tão imbecil que eu não gastei um segundo do meu tempo nisso. Parte do que fazemos como seres humanos se baseia na intuição. Você precisa julgar quem está mentindo para você e quem está contando a verdade, quem não merece crédito, quem está enganando você e quem está sendo verdadeiro. Quando eu fui para Hong Kong, meu primeiro objetivo nos primeiros quatro ou cindo dias era entender tudo que eu poderia saber sobre Edward Snowden e me certificar que ele não estava escondendo nada e que ele era sincero nas alegações dele. Como eu nunca havia encontrado com ele, eu passei horas e horas sozinho com ele na primeira semana. Falando frente a frente com ele – a dois metros dele, olhando nos meus olhos – e eu não tive dúvidas sobre quem ele era e do que ele estava falando. Eu prefiro que as pessoas sejam céticas em excesso do que ingênuas em excesso, mas essa teoria em particular não merece nenhuma atenção.

-Você mora no Rio de Janeiro há oito anos. Como se sente morando no Brasil?

Eu amo o Brasil. Por isso que eu moro aqui há tanto tempo. Claro, eu vim para cá por causa da lei de imigração discriminatória dos EUA, que impede que meu parceiro vá para lá, ainda que eu pudesse emigrar para cá.

Mas há forte presença da CIA no Rio de Janeiro; a polícia do Rio e de todo o Brasil é, notoriamente, muito agressiva em seus métodos. Então, eu presumo que eu tenha sido espionado e monitorado. Tivemos um incidente, quando o laptop do meu companheiro sumiu de casa. Mas eu me sinto tão seguro aqui quanto em qualquer outro lugar. Não me sinto especialmente inseguro aqui. Você não tem como estar muito seguro carregando dez mil documentos altamente secretos da agência mais secreta do governo mais poderoso do mundo. Não há segurança completa, mas não me sinto muito inseguro também.”

FONTE: reportagem de Shobhan Saxena publicada no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22780).

Síria: VITÓRIAS DA MULTIPOLARIDADE MUNDIAL


Por Emir Sader

“O que parecia impossível há três semanas, agora é realidade consolidada. O Conselho de Segurança da ONU aprovou o acordo da Rússia com os EUA para a crise síria.

O último obstáculo foi superado, de forma favorável à Rússia, concedendo apenas formalmente aos EUA, à Grã Bretanha e à França. Foi incluído um capitulo do regulamento da ONU, que prevê ações armadas, caso o governo da Síria não obedeça às demandas do acordo. Mas a Rússia conseguiu o essencial para ela: só haveria uma ação armada como produto de nova decisão, o que possibilitará à Rússia exercer o seu direito de veto.

A Rússia e a China aprenderam do caso da Líbia – que poderia ter sido evitado, como o está sendo o da Síria -, quando os EUA, a Grã Bretanha e a França se valeram de uma vaga resolução do Conselho de Segurança, autorizando ações de “proteção da população civil”, para que a OTAN bombardeasse indiscriminadamente o país [Líbia] durante meses, até à queda do regime.

Desta vez, a Rússia e a China se opuseram a algo similar, até que o governo russo pegou pela palavra do Secretário de Estado John Kerry, formulou uma proposta de acordo e conseguiu o apoio do governo sírio.

A proposta prosperou porque Obama não conseguiu gerar as condições políticas para o bombardeio, com o qual já se tinha comprometido com o apoio solitário da França. De repente, foi se consolidando um marco de negociação entre a Rússia e os EUA. [Os EUA], depois de suspenderem reunião de Obama com Puttin pelo caso Snowden, tiveram que se dirigir, mesmo a contragosto, à reunião de Kerry com o Ministro de Relações Exteriores da Rússia.

Somada a essa grande vitória das soluções políticas, pacificas, negociadas – que o Brasil, entre outros países, sempre pregou -, está a retomada de relações entre os EUA e o Irã. Juntos, configuram novo cenário internacional, com o avanço da multipolaridade, em detrimento das vias bélicas usadas pelos EUA.

Perdem Israel, a oposição síria, a Arábia Saudita, o Qatar. Ganham os que pregam o enfraquecimento da hegemonia norte-americana em favor da multipolaridade mundial.”

FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=1329).

domingo, 29 de setembro de 2013

VINGANÇA MESQUINHA DOS ESTADOS UNIDOS E CANADÁ É CONTRA OS POBRES DO BRASIL

Estados Unidos e Canadá querem a extinção desses programas, porque Dilma reclamou da espionagem

ESTADOS UNIDOS E CANADÁ QUEREM (na OMC) QUE O BRASIL ACABE COM OS PROGRAMAS DE MERENDA ESCOLAR E AGRICULTURA FAMILIAR !

Brasil se posiciona sobre espionagem ianque e EUA faz ofensiva

“Depois do discurso firme da presidenta Dilma Rousseff na abertura da 68ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, onde repudiou a espionagem estadunidense, o governo dos Estados Unidos faz ofensiva ao questionar os programas sociais e de ajuda alimentar a famílias pobres no Brasil. De acordo com os EUA, seria “uma estratégia para subsidiar de forma indireta a agricultura e produtores rurais”, o “que violaria regras internacionais”.

Na quinta-feira (26), dois dias depois do discurso da presidenta brasileira, a Casa Branca foi à “Organização Mundial do Comércio” (OMC) cobrar transparência do Brasil sobre quanto o governo tem de fato usado na distribuição de alimentos que foram expandidos nos últimos anos. O governo americano questiona até mesmo o “Programa Nacional de Alimentação Escolar”, que estabelece fundos para a merenda.

Tanto o governo dos EUA quanto o do Canadá levantaram o debate durante reuniões regulares do “Comitê de Agricultura da OMC”. Ottawa e Washington já haviam questionado outros aspectos dos incentivos fiscais que o Brasil dá a seus produtores.

Washington se referiu ao programa expandido no Brasil em 2009, quando a merenda escolar passou a utilizar volume maior da agricultura familiar, instituindo que governos municipais e estaduais são obrigados a usar no mínimo 30% dos recursos repassados pelo governo federal para alimentação escolar para comprar produtos da agricultura familiar.

Na época, o Ministério do Desenvolvimento Agrário disse que a lei da merenda escolar abriu mercado a produtos com dificuldades de comercialização. Cerca de R$ 3 bilhões já foram usados para atender a 44 milhões de crianças na rede pública. Para os EUA, essa seria uma “forma indireta de apoio ao produtor agrícola”.

Na quinta-feira (26), o governo americano pediu que o Brasil forneça dados completos sobre quanto foi usado para comprar a produção local e o detalhamento dos setores beneficiados. Os EUA pediram explicações do Brasil sobre o fato de que o volume de dinheiro público no “Programa de Aquisição de Alimentos” (PAA) tenha crescido de forma substancial em 2010 e pediu que o País reapresente seus cálculos de quanto gasta à OMC.

O Itamaraty justificou que não havia por que reapresentar os dados e disse que o aumento era apenas resultado de uma contabilidade que passou a incluir os gastos do Ministério do Desenvolvimento Social. Comunicados do governo indicam que, em dez anos, o PAA recebeu R$ 5 bilhões em investimentos. A presidente Dilma já indicou que seu governo comprou 830 mil toneladas de alimentos, com investimentos de R$ 1,75 bilhão. Para 2013, a previsão de investimento é de R$ 1,4 bilhão.

O governo do Canadá, fazendo coro com o [aliado] país vizinho, também insistiu em obter detalhes de como funciona o “Plano Brasil Maior” e o fato de que produtores estariam sendo beneficiados por isenções fiscais. Ottawa pediu uma explicação do Brasil sobre o impacto financeiro dessa ajuda governamental.”

FONTE: portal “Vermelho” com dados da “Agência Estado” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=225389&id_secao=1). [Título, subtítulo e imagem do Google e sua legenda adicionados por este blog ‘democracia&política’].

A EVOLUÇÃO DO DESEMPREGO NO BRASIL


PNAD: A EVOLUÇÃO DO DESEMPREGO EM 10 ANOS

“Interessante observar o gráfico acima (aplicar zoom para visualizar), publicado no site do “Estadão”, com base em dados do último PNAD do IBGE. Ele mostra bem o que foi o governo FHC, até hoje incensado pela mídia e pelas elites. Foi um período de aumento constante das taxas de desemprego, o qual só começou a declinar após a chegada de Lula ao poder.”

FONTE: escrito pelo jornalista Miguel do Rosário no blog “Tijolaço” (http://tijolaco.com.br/index.php/pnad-a-evolucao-do-desemprego-em-10-anos/).