Li hoje no site “vermelho” o seguinte artigo de Sérgio Barroso. O autor é médico, doutorando em economia Social e do Trabalho (Unicamp, diretor de Estudos e Pesquisas da Fundação Maurício Grabois:
“De viés mais teórico, o artigo enfoca a grande crise capitalista dos nossos dias: a) revendo aspectos centrais da teoria ciclo-crise em Marx; b) sublinha igualmente o caráter financeiro na origem da crise atual, em consonância com o padrão de acumulação contemporâneo marcado pela “financeirização da riqueza” ou pela “finança mundializada”, ou ainda pela “financeirização com sistema de poder”, no capitalismo contemporâneo 1; e, c) levanta reflexões sobre os traços das crises financeiras que levaram a bancarrota o padrão neoliberal de acumulação.
Em Marx, a valorização do valor (da mais-valia) como objetivo central da produção capitalista resulta, do ponto de vista sistêmico, sempre em superacumulação, fundamentalmente superprodução de capital (e também de mercadorias) - capital compreendendo máquinas, equipamentos, instalações, matérias-primas e ativos financeiros. Em seu móvel de acumular por acumular, o capital jamais se interessa pelas “necessidades sociais” das massas trabalhadoras. Portanto, são utópicas as interpretações das crises como sendo de “subconsumo das massas”
Além de superprodução e superacumulação, devemos insistir em que a desproporção entre os departamentos e a lei de tendência de queda da taxa de lucro são igualmente fenômenos expressivos da dinâmica da crise. Crises que, conforme Marx, em última instância tem como determinação originária o antagonismo irresoluto: apropriação cada vez mais privada X produção cada vez mais expansivamente social.
Inobstante, para Marx, a conseqüência decisiva do desenvolvimento capitalista converge para o que denomina de “moderno sistema de crédito”. Ou seja, na medida em que: (i) a concentração (e centralização|) de capitais; e, (ii) o moderno sistema de crédito são por ele considerados as principais “alavancas da acumulação capitalista”, ali localiza os pressupostos sobre o impulso à superacumulação de capital tendo por base a dinâmica permanente do capital financeiro (capital-dinheiro ou capital monetário). Noutras palavras:
“Se o sistema de crédito é o propulsor principal da superprodução e da especulação excessiva... (...) acelera o desenvolvimento material das forças produtivas e a formação do mercado mundial... (...) Ao mesmo tempo, o crédito acelera as erupções violentas dessa contradição, as crises... (...) levando a um sistema puro e gigantesco de especulação e jogo” (Marx, O Capital, Livro 3).
De outra parte, discorrendo Marx sobre o movimento do capital fictício, simultaneamente desvela já então um aspecto estrutural (e contemporâneo!) que integra as crises financeiras:
“Esse capital fictício reduz-se enormemente nas crises, e em conseqüência o poder dos respectivos aos proprietários de obter com ele no mercado. A baixa nominal desses valores mobiliários no boletim da Bolsa não tem relação com o capital real que representam, mas tem muito que ver com a solvência do proprietário”.
Importa notar que, em definições mais precisas, (i) Marx alude a dois tipos de capital financeiro: o portador de juros e o fictício; (ii) o capital fictício consistindo em títulos negociáveis no futuro (para ele composto por ações ordinárias das Bolsas, títulos públicos e a própria moeda de crédito (bancária).
FINANCEIRIZAÇÃO E CRISE GLOBAL
Consistem em fatos históricos reconhecidos e fartamente analisados a regulamentação do comércio e das finanças internacionais, institucionalizada pelo sistema de Bretton Woods (1944), e também por restrições ao livre movimento de capitais. Gestada pela desregulamentação e liberalização dos sistemas financeiros nacionais, a partir da crise capitalista dos anos 70 passados, forjou-se, a partir dos EUA, um padrão de acumulação baseado num supermonopólio e hiper-especulação das finanças.
O que significou, para François Chesnais 6, o “predomínio financeiro puro” do ressurgimento das formas do “capital-dinheiro concentrado”, a manejar as alavancas de controle do sistema capitalista mundial, o que também “acentuou o processo de financeirização crescente dos grupos industriais”. Conforme Peter Gowan, a estratégia original do grande capital financeiro norte-americano e britânico, impunha a inflação baixa para manter a função da moeda “como um padrão fixo de valor de acordo com os interesses do capital-dinheiro”, tendo sido esta a “verdadeira base para a inauguração do neoliberalismo do Atlântico”.
Vê-se que a globalização financeira adveio da liberalização do movimento de capitais e transposição de fronteiras econômicas. Cada vez mais intensa, a instabilidade do sistema tende a ser permanente, obstando a taxa de investimento, o que pode reduzir o ritmo da acumulação e do crescimento econômico no centro capitalista e em parte da periferia do sistema. Simultaneamente, um padrão sistêmico esse neoliberal que determinou as últimas décadas “como as mais tumultuosas da história monetária internacional, em termos de número, escopo e gravidade das crises financeiras” – enfatizam Kindlerberger e Aliber.
Assim, as crises financeiras desse estágio do capitalismo monopolista - e fortemente oligopolizado do ponto de vista do poder financeiro -, mantêm a mesma lógica - numa vertente fortemente influenciada pelo caráter fictício da acumulação financeira - da crise de superprodução de capitais, refletindo o excesso de valorização do capital em relação à determinada taxa de juros; mas exacerbam-se a rapidez da propagação e recorrência. O que significa, por sua vez, ser decorrente da quantidade das transações com ativos financeiros, cada vez mais abrangentes, se propagando mais rapidamente pelos mercados nacionais e alcançando facilmente regiões inteiras ou mesmo o mundo.
TENDÊNCIAS DEPRESSIVAS9: IMPOSSÍVEL MANTER TAL PADRÃO
Na crise financeira que eclodiu em agosto de 2007, nos EUA, a orgia especulativa foi ampliada pelo crédito abundante - insuflando maior liquidez e euforia -, à baixíssima taxa de juros, e imensa alavancagem derivativa por sobre as hipotecas ''subprime''. [Note-se então que, o capital, neste preciso caso, encontra-se nas hipotecas (títulos), como capital portador de juros – e não em outro lugar]. Ademais, tudo isso passou abrigado pela burla do descontrole regulatório do sistema bancário internacional e pela absoluta falência das agências de “risco”. Chegou-se à anarquia completa de não se ter a mínima idéia da precificação de ativos “podres” e generalizadamente contaminadores.
O resultado? “Lamento dizê-lo, mas apostaria que haverá depressão e que durará alguns anos. Estamos entrando em depressão”, sentenciou Eric Hobsbawm, o historiador que destrinchou as duas grandes e depressões (1873-96 e 1929-33).
É evidente que esse padrão “financeirizado” de acumulação do capital não sobreviverá mais. Questão bem distinta do “fim do capitalismo”.”
quinta-feira, 30 de abril de 2009
CRISE NÃO QUEBROU O PAÍS PORQUE ECONOMIA ESTÁ MAIS FORTE, AFIRMA DILMA
Li hoje no site “vermelho” o seguinte texto oriundo da Agência Brasil:
“A atual crise financeira internacional tem uma característica diferente em comparação a outras crises já vivenciadas pelo Brasil, que está economicamente mais forte em comparação a outros momentos da história nacional. A afirmação foi feita ontem pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que visita Manaus para acompanhar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"Antigamente, qualquer crise quebrava o país porque estávamos nas mãos do FMI [Fundo Monetário Internacional]. A dependência era muito grande e não tínhamos reservas financeiras. Hoje, temos US$ 200 bilhões em reservas. Estamos mais fortes", avaliou a ministra.
Dilma chegou à capital amazonense na segunda-feira e, apesar da notícia sobre a retirada de um câncer linfático, ela mostrou-se totalmente disposta e acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em várias atividades. Em seu segundo dia de viagem, ela participou de uma conferência com autoridades e prefeitos dos municípios do estado para tratar de assuntos relacionados ao PAC e aos impactos socioeconômicos da crise financeira internacional.
GRIPE SUÍNA
A ministra falou para quase 500 pessoas por quase uma hora na Assembleia Legislativa do Amazonas. Para ela, o Brasil representa para o mundo possibilidades de solução para a crise e os financiamentos empreendidos com o PAC comprovam a capacidade " inigualável " do país de tocar obras de infraestrutura. "A atual crise não vai fazer com que o governo federal corte os investimentos do PAC. A importância desse programa está em dar o peixe e ensinar o brasileiro a pescar", acrescentou a ministra.
Lançado há dois anos, o PAC prevê investimentos da ordem de R$ 646 bilhões até 2010. No Amazonas, o programa vai injetar nesse período R$ 9 bilhões. Dilma Roussef também falou sobre a gripe suína. Ela reiterou as palavras do presidente Lula quanto ao preparo do país para lidar com o problema, caso a doença chegue ao Brasil, e considerou que a situação está sendo tratada de forma cuidadosa."
“A atual crise financeira internacional tem uma característica diferente em comparação a outras crises já vivenciadas pelo Brasil, que está economicamente mais forte em comparação a outros momentos da história nacional. A afirmação foi feita ontem pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que visita Manaus para acompanhar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"Antigamente, qualquer crise quebrava o país porque estávamos nas mãos do FMI [Fundo Monetário Internacional]. A dependência era muito grande e não tínhamos reservas financeiras. Hoje, temos US$ 200 bilhões em reservas. Estamos mais fortes", avaliou a ministra.
Dilma chegou à capital amazonense na segunda-feira e, apesar da notícia sobre a retirada de um câncer linfático, ela mostrou-se totalmente disposta e acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em várias atividades. Em seu segundo dia de viagem, ela participou de uma conferência com autoridades e prefeitos dos municípios do estado para tratar de assuntos relacionados ao PAC e aos impactos socioeconômicos da crise financeira internacional.
GRIPE SUÍNA
A ministra falou para quase 500 pessoas por quase uma hora na Assembleia Legislativa do Amazonas. Para ela, o Brasil representa para o mundo possibilidades de solução para a crise e os financiamentos empreendidos com o PAC comprovam a capacidade " inigualável " do país de tocar obras de infraestrutura. "A atual crise não vai fazer com que o governo federal corte os investimentos do PAC. A importância desse programa está em dar o peixe e ensinar o brasileiro a pescar", acrescentou a ministra.
Lançado há dois anos, o PAC prevê investimentos da ordem de R$ 646 bilhões até 2010. No Amazonas, o programa vai injetar nesse período R$ 9 bilhões. Dilma Roussef também falou sobre a gripe suína. Ela reiterou as palavras do presidente Lula quanto ao preparo do país para lidar com o problema, caso a doença chegue ao Brasil, e considerou que a situação está sendo tratada de forma cuidadosa."
A DÉBÂCLE DA FSP
Li hoje no site “Carta Maior” o seguinte artigo do filósofo e cientista político Emir Sader:
“A Folha era um jornal totalmente inexpressivo até a década de 70. Havia uma supremacia clara do Estadão, a Folha não tinha cara definida. Participou do coro de conclamação de toda a imprensa brasileira – menos a Ultima Hora - ao golpe militar de 1964, contribuindo à construção do plano de desestabilização do governo legitimamente eleito que teve a participação direta do governo dos EUA, assim como da hierarquia da Igreja Católica, dos partidos de oposição e das grandes entidades empresariais. Uma vez dado o golpe, o apoiou, assim como a instalação da ditadura militar, acobertou todos os crimes da repressão, reproduzindo as mentirosas versões oficiais, assim como todos os outros jornais.
Nos anos 70, Claudio Abramo assumiu a direção do jornal, na tentativa da família Frias de conquistar graus de credibilidade, que o jornal nunca tinha tido. A nova orientação, valendo-se da hegemonia da orientação liberal que triunfava na oposição, levou o jornal a ganhar uma identidade de jornal democrático, pluralista.
A abertura gradual de espaços opositores, depois da derrota da resistência armada, e o caráter conservador do Estadão, possibilitaram a aparição de um espaço que a FSP soube aproveitar.
A imagem da FSP como expressão da “sociedade civil” ficou graficada nas fotos que o jornal fazia anualmente com representantes dela, que eram fotografados encima do prédio do jornal, pretendendo consolidar a marca do jornal como representante orgânico da sociedade civil, espaço opositor ao regime. Colunistas progressistas se somavam a espaços para artigos na pagina 3 de intelectuais e dirigentes opositores consolidaram essa imagem do jornal. A campanha pelas eleições diretas teve no jornal seu instrumento mais direto, enquanto as lutas sociais encontravam cobertura antes restrita à imprensa alternativa.
Essa imagem se consolidou e se prolongou mais além da direção de Claudio Abramo. Ao longo da década de 80 o jornal se beneficiou dessa imagem, que se firmou quando o jornal se colocou na oposição ao governo Collor, diferenciando-se do resto dos jornais. Foi o seu momento de maior prestígio e de maior tiragem. Dos seus leitores vinculados a partidos, a maioria era do PT. Tinha colunistas, às segundas-feiras, como Marilena Chaui, Florestan Fernandes, Paulo Sergio Pinheiro, Darcy Ribeiro, abrigava outros intelectuais de esquerda na sua página 3, dava cobertura jornalística que o diferenciava claramente do Estadão e do Globo.
O declínio da FSP veio com a ascensão de FHC ao Ministério de Economia do governo de Itamar e com o lançamento do Plano Real. Nesse momento o jornal já era dirigido por Otavio Frias Filho, acompanhando o mesmo mecanismo de oligarquia familiar que se dá no Globo, na Editora Abril, no Estadão. A combinação desses fatores apontou para a decadência irreversível do jornal desde o governo FHC, consolidando-se no governo Lula.
A identificação com a elite branca dos jardins paulistanos – em que coincide rigorosamente com a elite tucana – foi fazendo do jornal um componente essencial da nova direita brasileira. Neoliberal na economia, liberal com os traços autoritários e discriminatórios no social e no político, pretensamente sofisticado, mas na verdade provinciano no plano cultural.
A adesão expressa ao tucanato fez com que o jornal baixasse de mais de 600 mil exemplares de tiragem, a menos de 300 mil em 10 anos, com uma queda que não se detêm – apesar do esforço desesperado do apelo aos brindes. Além de que o publico do jornal ficou muito seletivo – centralmente tucanos e classe média alta e burguesia.
A adesão aos tucanos e a feroz e obscurantista oposição ao governo Lula fez com que o jornalismo perdesse toda qualidade. Tudo passou a ser editorializado no jornal. Todos os colunistas – à exceção de José Simão – passaram a ser iguais. O jornal chegou a cobrir as eleições internas do PT sob a rubrica do “mensalão”, a grande sacada jornalística do jornal, com que acreditou que derrubaria a Lula. Na sua histeria chegou a publicar na primeira página o artigo de um suposto psicanalista, que dizia que o governo Lula tinha assassinado a mais de 100 pessoas no acidente da Tam em Congonhas.
Houve uma radical perda de credibilidade da FSP, que era seu diferencial, tornando-se um jornal tucano e serrista, que editorializa todo o jornal, revelando uma incapacidade para compreender o governo Lula e sua imensa popularidade, assim como as transformações que o país vive. (O Força Serra Presidente é uma sacada muito real para caracterizar o tucanalhanato de todo o jornal, em particular da editoria política e dos cronistas políticos, assim como da família proprietária da empresa.) Alguns cronistas tentam enganar que fazem criticas de esquerda ao governo, mas não conseguem esconder suas penugens tucanas.
Intelectuais de esquerda são entrevistados a cada tanto tempo ou se lhes dá espaço de artigo, contanto que se reservem a criticar o governo e o PT, sem qualquer critica à direita, menos ainda ao monopólio de imprensa da direita.
O FSP (Força Serra Presidente) revela que vai jogar ainda mais pesado na campanha presidencial, em que seu candidato e eterno colunista será o candidato da direita. O episódio da “ditabranda” e o da publicação de uma ficha falsa da Dilma, retirada de um site de extrema direita, de ex-oficiais das FFAA a favor da ditadura, confirmam isso. A perda de assinaturas e de tiragem do jornal os exaspera, a crise econômica vai chegar em cheio a toda a imprensa escrita – já chegou à Editora Abril, salva por enquanto por Serra com a compra dos fascículos -, que tira muito menos do que dizem e se dão conta que vai minguando cada vez mais também as publicidades.
É o episódio final, sem pena nem glória, de uma imprensa que chancelou o golpe e a ditadura militar, foi o sustento central do governo FHC, foi derrotada duas vezes por Lula e se desespera com a hipótese de ter que ficar na oposição outro período mais. Nunca confessou, mas confirmou com o silêncio, ter emprestado carros da empresa para a repressão da ditadura. (Como se sentem supostos esquerdistas que trabalhar lá diante disso? Nem se pronunciaram sobre a “ditabranda”, revelando que já não lhes sobra nada de caráter, que estão plenamente comprometidos com a empresa, à qual muitos emprestam seus nomes para constar no comitê editorial.)
O filho do proprietário original é eleito e reeleito como editor chefe do jornal, reproduzindo o mecanismo de uma empresa de oligarquia familiar. Ele só ocupa esse cargo, porque é filho do seu pai, como seu nome indica. Nenhum outro mérito, salvo membro a segunda geração de uma empresa familiar. Nenhuma democracia rege na redação do jornal. O consolo é que, ainda que tivesse filho, não poderia colocar a sucedê-lo, porque é a ultima geração dessa imprensa escrita no Brasil.”
“A Folha era um jornal totalmente inexpressivo até a década de 70. Havia uma supremacia clara do Estadão, a Folha não tinha cara definida. Participou do coro de conclamação de toda a imprensa brasileira – menos a Ultima Hora - ao golpe militar de 1964, contribuindo à construção do plano de desestabilização do governo legitimamente eleito que teve a participação direta do governo dos EUA, assim como da hierarquia da Igreja Católica, dos partidos de oposição e das grandes entidades empresariais. Uma vez dado o golpe, o apoiou, assim como a instalação da ditadura militar, acobertou todos os crimes da repressão, reproduzindo as mentirosas versões oficiais, assim como todos os outros jornais.
Nos anos 70, Claudio Abramo assumiu a direção do jornal, na tentativa da família Frias de conquistar graus de credibilidade, que o jornal nunca tinha tido. A nova orientação, valendo-se da hegemonia da orientação liberal que triunfava na oposição, levou o jornal a ganhar uma identidade de jornal democrático, pluralista.
A abertura gradual de espaços opositores, depois da derrota da resistência armada, e o caráter conservador do Estadão, possibilitaram a aparição de um espaço que a FSP soube aproveitar.
A imagem da FSP como expressão da “sociedade civil” ficou graficada nas fotos que o jornal fazia anualmente com representantes dela, que eram fotografados encima do prédio do jornal, pretendendo consolidar a marca do jornal como representante orgânico da sociedade civil, espaço opositor ao regime. Colunistas progressistas se somavam a espaços para artigos na pagina 3 de intelectuais e dirigentes opositores consolidaram essa imagem do jornal. A campanha pelas eleições diretas teve no jornal seu instrumento mais direto, enquanto as lutas sociais encontravam cobertura antes restrita à imprensa alternativa.
Essa imagem se consolidou e se prolongou mais além da direção de Claudio Abramo. Ao longo da década de 80 o jornal se beneficiou dessa imagem, que se firmou quando o jornal se colocou na oposição ao governo Collor, diferenciando-se do resto dos jornais. Foi o seu momento de maior prestígio e de maior tiragem. Dos seus leitores vinculados a partidos, a maioria era do PT. Tinha colunistas, às segundas-feiras, como Marilena Chaui, Florestan Fernandes, Paulo Sergio Pinheiro, Darcy Ribeiro, abrigava outros intelectuais de esquerda na sua página 3, dava cobertura jornalística que o diferenciava claramente do Estadão e do Globo.
O declínio da FSP veio com a ascensão de FHC ao Ministério de Economia do governo de Itamar e com o lançamento do Plano Real. Nesse momento o jornal já era dirigido por Otavio Frias Filho, acompanhando o mesmo mecanismo de oligarquia familiar que se dá no Globo, na Editora Abril, no Estadão. A combinação desses fatores apontou para a decadência irreversível do jornal desde o governo FHC, consolidando-se no governo Lula.
A identificação com a elite branca dos jardins paulistanos – em que coincide rigorosamente com a elite tucana – foi fazendo do jornal um componente essencial da nova direita brasileira. Neoliberal na economia, liberal com os traços autoritários e discriminatórios no social e no político, pretensamente sofisticado, mas na verdade provinciano no plano cultural.
A adesão expressa ao tucanato fez com que o jornal baixasse de mais de 600 mil exemplares de tiragem, a menos de 300 mil em 10 anos, com uma queda que não se detêm – apesar do esforço desesperado do apelo aos brindes. Além de que o publico do jornal ficou muito seletivo – centralmente tucanos e classe média alta e burguesia.
A adesão aos tucanos e a feroz e obscurantista oposição ao governo Lula fez com que o jornalismo perdesse toda qualidade. Tudo passou a ser editorializado no jornal. Todos os colunistas – à exceção de José Simão – passaram a ser iguais. O jornal chegou a cobrir as eleições internas do PT sob a rubrica do “mensalão”, a grande sacada jornalística do jornal, com que acreditou que derrubaria a Lula. Na sua histeria chegou a publicar na primeira página o artigo de um suposto psicanalista, que dizia que o governo Lula tinha assassinado a mais de 100 pessoas no acidente da Tam em Congonhas.
Houve uma radical perda de credibilidade da FSP, que era seu diferencial, tornando-se um jornal tucano e serrista, que editorializa todo o jornal, revelando uma incapacidade para compreender o governo Lula e sua imensa popularidade, assim como as transformações que o país vive. (O Força Serra Presidente é uma sacada muito real para caracterizar o tucanalhanato de todo o jornal, em particular da editoria política e dos cronistas políticos, assim como da família proprietária da empresa.) Alguns cronistas tentam enganar que fazem criticas de esquerda ao governo, mas não conseguem esconder suas penugens tucanas.
Intelectuais de esquerda são entrevistados a cada tanto tempo ou se lhes dá espaço de artigo, contanto que se reservem a criticar o governo e o PT, sem qualquer critica à direita, menos ainda ao monopólio de imprensa da direita.
O FSP (Força Serra Presidente) revela que vai jogar ainda mais pesado na campanha presidencial, em que seu candidato e eterno colunista será o candidato da direita. O episódio da “ditabranda” e o da publicação de uma ficha falsa da Dilma, retirada de um site de extrema direita, de ex-oficiais das FFAA a favor da ditadura, confirmam isso. A perda de assinaturas e de tiragem do jornal os exaspera, a crise econômica vai chegar em cheio a toda a imprensa escrita – já chegou à Editora Abril, salva por enquanto por Serra com a compra dos fascículos -, que tira muito menos do que dizem e se dão conta que vai minguando cada vez mais também as publicidades.
É o episódio final, sem pena nem glória, de uma imprensa que chancelou o golpe e a ditadura militar, foi o sustento central do governo FHC, foi derrotada duas vezes por Lula e se desespera com a hipótese de ter que ficar na oposição outro período mais. Nunca confessou, mas confirmou com o silêncio, ter emprestado carros da empresa para a repressão da ditadura. (Como se sentem supostos esquerdistas que trabalhar lá diante disso? Nem se pronunciaram sobre a “ditabranda”, revelando que já não lhes sobra nada de caráter, que estão plenamente comprometidos com a empresa, à qual muitos emprestam seus nomes para constar no comitê editorial.)
O filho do proprietário original é eleito e reeleito como editor chefe do jornal, reproduzindo o mecanismo de uma empresa de oligarquia familiar. Ele só ocupa esse cargo, porque é filho do seu pai, como seu nome indica. Nenhum outro mérito, salvo membro a segunda geração de uma empresa familiar. Nenhuma democracia rege na redação do jornal. O consolo é que, ainda que tivesse filho, não poderia colocar a sucedê-lo, porque é a ultima geração dessa imprensa escrita no Brasil.”
A CARTA QUE NÃO FOI PUBLICADA
Li hoje no site do jornalista Luis Nassif o seguinte texto escrito por Dilma Rousseff:
“Senhor Jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, Ombudsmann da Folha de São Paulo,
1. Em 30/03/2009, a jornalista Fernanda Odilla entrevistou-me, por telefone, a pedido do chefe de redação da Folha de São Paulo, em Brasília, Melchíades Filho, acerca das minhas atividades na resistência à ditadura militar.
2. Naquela ocasião ela me informou que para a realização da matéria jornalística, que foi publicada dia 05/04/09, tinha estado no Superior Tribunal Militar – STM. No entanto, eu soube posteriormente que, com o argumento de pesquisar sobre o Sr. Antonio Espinosa, do qual detinha autorização expressa para tal , aproveitara a oportunidade e pesquisara informações sobre os meus processos, retirando cópias de documentos que diziam respeito exclusivamente a mim, sem a minha devida autorização
3. A repórter esteve também no Arquivo Público de São Paulo, onde requereu pesquisa nos documentos e processos que me mencionavam, relativos ao período em que militei na resistência à ditadura militar. Neste caso, é política do Arquivo de São Paulo disponibilizar livremente todos os dados arquivados e, em caso de fotocópia, autenticar a cópia no verso com os dizeres “confere com o original”, com a data e a assinatura do funcionário responsável pela liberação do documento.
4. Os documentos pesquisados pela jornalista foram aqueles relativos ao Prontuário nº 76.346 e as OSs 0975 e 0029, sendo também solicitadas extrações de cópias.
5. Apesar da minha negativa durante a entrevista telefônica de 30/03 sobre minha participação ou meu conhecimento do suposto seqüestro de Delfim Neto, a matéria publicada tinha como título de capa “Grupo de Dilma planejou seqüestro do Delfim”. O título, que não levou em consideração a minha veemente negativa, tem características de “factóide”, uma vez que o fato, que teria se dado há 40 anos, simplesmente não ocorreu. Tal procedimento não parece ser o padrão da Folha de São Paulo.
6. O mais grave é que o jornal Folha de São Paulo estampou na página A10, acompanhando o texto da reportagem, uma ficha policial falsa sobre mim. Essa falsificação circula pelo menos desde 30 de novembro do ano passado na internet, postada no site www.ternuma.com.br (“terrorismo nunca mais”), atribuindo-me diversas ações que não cometi e pelas quais nunca respondi, nem nos constantes interrogatórios, nem nas sessões de tortura a que fui submetida quando fui presa pela ditadura. Registre-se também que nunca fui denunciada ou processada pelos atos mencionados na ficha falsa.
7. Após a publicação, questionei por inúmeras vezes a Folha de São Paulo sobre a origem de tal ficha, especificamente o Sr. Melchiades Filho, diretor da sucursal de Brasília. Ele me informou que a jornalista Fernanda Odilla havia obtido a cópia da ficha em processo arquivado no DEOPS – Arquivo Público de São Paulo. Ficou de enviar-me a prova.
8. Como isso não aconteceu, solicitei formalmente os documentos sob a guarda do Arquivo Público de São Paulo que dizem respeito a minha pessoa e, em especial, cópia da referida ficha. Na pesquisa, não foi encontrada qualquer ficha com o rol de ações como a publicada na edição de 05/04/2009. Cabe destacar que os assaltos e ações armadas que constam da ficha veiculada pela Folha de São Paulo foram de responsabilidade de organizações revolucionárias nas quais não militei. Além disso, elas ocorreram em São Paulo em datas em que eu morava em Belo Horizonte ou no Rio de Janeiro. Ressalte-se que todas essas ações foram objeto de processos judiciais nos quais não fui indiciada e, portanto, não sofri qualquer condenação. Repito, sequer fui interrogada, sob tortura ou não, sobre aqueles fatos.
9. Mais estranho ainda é que a legenda da ficha publicada pela Folha dizia: “Ficha de Dilma após ser presa com crimes atribuídos a ela, mas que ela não cometeu”. Ora, se a Folha sabia que os chamados crimes atribuídos a mim não foram por mim cometidos, por que publicar a ficha? Se optasse pela publicação, como ocorreu, por que não informar ao leitor de onde vinha a certeza da falsidade? Se esta certeza decorria de investigações específicas realizadas pela Folha, por que não informar ao leitor os fatos?
10. O Arquivo Público de São Paulo também disponibilizou cópia do termo de compromisso assinado pela jornalista quando de sua pesquisa, ficando evidente que a repórter não teve acesso a nenhum processo que tivesse qualquer ficha igual à publicada no jornal.
11. Mais ainda: a referida não existe em nenhum dos arquivos pesquisados pela jornalista, seja o STM, seja o Arquivo Público de São Paulo. O fato é que até o momento a Folha de São Paulo não conseguiu demonstrar efetivamente a origem do documento.
12. Considero ainda que a matéria publicada na sexta-feira,17 de março, em que a Folha relata as minhas declarações ao jornalista Eduardo Costa, da rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, não esclarece o cerne da questão sobre a responsabilidade do jornal no lamentável e até agora estranho episódio: de onde veio a ficha que afirmo ser falsa?
13. Após 21 dias de espera, não acredito ser necessária uma grande investigação para responder à seguintes questões: em que órgão público a Folha de São Paulo obteve a ficha falsa? A quem interessa essa manipulação? Parece-me óbvio que a certeza sobre a origem de documentos publicados como oficiais é um pré-requisito para qualquer publicação responsável.
14. Transcrevo abaixo o texto literal do termo de responsabilidade assinado pela jornalista em 22/01/09:
“Declaro, para todos os fins de Direito, assumir plena e exclusiva responsabilidade, no âmbito civil e criminal, por quaisquer danos morais ou materiais que possa causar a terceiros a divulgação de informações contidas em documentos por mim examinados e a que eu tenha dado causa. Ficam, portanto, o Governo do Estado de São Paulo e o Arquivo do Estado de São Paulo exonerados de qualquer responsabilidade relativa a esta minha solicitação.
Declaro, ainda, estar ciente da legislação em vigor atinente ao uso de documentos públicos, em especial com relação aos artigos 138 e 145 (calúnia, injúria e difamação) do Código Penal Brasileiro.
Assumo, finalmente, o compromisso de citar a fonte dos documentos (Arquivo do Estado de São Paulo) nos casos de divulgação por qualquer meio (imprensa escrita, radiofônica ou televisiva, internet, livros, teses, etc).” (Cópia em anexo)
15. Por último, cabe deixar claro que a ficha falsa foi divulgada em vários sites de extrema direita, como: a) Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), blog de apoio ao Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra, ficha falsa postada em 30 de novembro de 2008; b) Coturno Noturno – Blog do Coronel: ficha falsa postada em 27 de março de 2009 (a ficha está “atualizada” apresentando uma foto atual) (http://coturnonoturno.blogspot.com/2009/04/desta-parte-dilma-lembra-tudo.html). A partir daí, outros sites na internet também divulgaram a ficha: a) http://fórum.hardmob.com.Br/showthread.php; b) http:/www.viomundo.com.Br/blog/dilma-terrorista/
16. Estou anexando a este memorial cópia de alguns documentos que considero importantes para sua avaliação:
➢ Termo de responsabilidade assinado pela jornalista no Arquivo de SP;
➢ Cópia de fichas onde consta a foto (ou idêntica) à utilizada para montagem da ficha usada pela Folha de São Paulo
➢ Cópia da solicitação da jornalista Fernanda Odilla ao STM de acesso a informações sobre Antonio Espinosa
➢ Autorização do Sr. Antonio Espinosa para acesso aos seus documentos
➢ Termo de Compromisso assinado pela jornalista Fernanda Odilla junto ao STM.”
“Senhor Jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, Ombudsmann da Folha de São Paulo,
1. Em 30/03/2009, a jornalista Fernanda Odilla entrevistou-me, por telefone, a pedido do chefe de redação da Folha de São Paulo, em Brasília, Melchíades Filho, acerca das minhas atividades na resistência à ditadura militar.
2. Naquela ocasião ela me informou que para a realização da matéria jornalística, que foi publicada dia 05/04/09, tinha estado no Superior Tribunal Militar – STM. No entanto, eu soube posteriormente que, com o argumento de pesquisar sobre o Sr. Antonio Espinosa, do qual detinha autorização expressa para tal , aproveitara a oportunidade e pesquisara informações sobre os meus processos, retirando cópias de documentos que diziam respeito exclusivamente a mim, sem a minha devida autorização
3. A repórter esteve também no Arquivo Público de São Paulo, onde requereu pesquisa nos documentos e processos que me mencionavam, relativos ao período em que militei na resistência à ditadura militar. Neste caso, é política do Arquivo de São Paulo disponibilizar livremente todos os dados arquivados e, em caso de fotocópia, autenticar a cópia no verso com os dizeres “confere com o original”, com a data e a assinatura do funcionário responsável pela liberação do documento.
4. Os documentos pesquisados pela jornalista foram aqueles relativos ao Prontuário nº 76.346 e as OSs 0975 e 0029, sendo também solicitadas extrações de cópias.
5. Apesar da minha negativa durante a entrevista telefônica de 30/03 sobre minha participação ou meu conhecimento do suposto seqüestro de Delfim Neto, a matéria publicada tinha como título de capa “Grupo de Dilma planejou seqüestro do Delfim”. O título, que não levou em consideração a minha veemente negativa, tem características de “factóide”, uma vez que o fato, que teria se dado há 40 anos, simplesmente não ocorreu. Tal procedimento não parece ser o padrão da Folha de São Paulo.
6. O mais grave é que o jornal Folha de São Paulo estampou na página A10, acompanhando o texto da reportagem, uma ficha policial falsa sobre mim. Essa falsificação circula pelo menos desde 30 de novembro do ano passado na internet, postada no site www.ternuma.com.br (“terrorismo nunca mais”), atribuindo-me diversas ações que não cometi e pelas quais nunca respondi, nem nos constantes interrogatórios, nem nas sessões de tortura a que fui submetida quando fui presa pela ditadura. Registre-se também que nunca fui denunciada ou processada pelos atos mencionados na ficha falsa.
7. Após a publicação, questionei por inúmeras vezes a Folha de São Paulo sobre a origem de tal ficha, especificamente o Sr. Melchiades Filho, diretor da sucursal de Brasília. Ele me informou que a jornalista Fernanda Odilla havia obtido a cópia da ficha em processo arquivado no DEOPS – Arquivo Público de São Paulo. Ficou de enviar-me a prova.
8. Como isso não aconteceu, solicitei formalmente os documentos sob a guarda do Arquivo Público de São Paulo que dizem respeito a minha pessoa e, em especial, cópia da referida ficha. Na pesquisa, não foi encontrada qualquer ficha com o rol de ações como a publicada na edição de 05/04/2009. Cabe destacar que os assaltos e ações armadas que constam da ficha veiculada pela Folha de São Paulo foram de responsabilidade de organizações revolucionárias nas quais não militei. Além disso, elas ocorreram em São Paulo em datas em que eu morava em Belo Horizonte ou no Rio de Janeiro. Ressalte-se que todas essas ações foram objeto de processos judiciais nos quais não fui indiciada e, portanto, não sofri qualquer condenação. Repito, sequer fui interrogada, sob tortura ou não, sobre aqueles fatos.
9. Mais estranho ainda é que a legenda da ficha publicada pela Folha dizia: “Ficha de Dilma após ser presa com crimes atribuídos a ela, mas que ela não cometeu”. Ora, se a Folha sabia que os chamados crimes atribuídos a mim não foram por mim cometidos, por que publicar a ficha? Se optasse pela publicação, como ocorreu, por que não informar ao leitor de onde vinha a certeza da falsidade? Se esta certeza decorria de investigações específicas realizadas pela Folha, por que não informar ao leitor os fatos?
10. O Arquivo Público de São Paulo também disponibilizou cópia do termo de compromisso assinado pela jornalista quando de sua pesquisa, ficando evidente que a repórter não teve acesso a nenhum processo que tivesse qualquer ficha igual à publicada no jornal.
11. Mais ainda: a referida não existe em nenhum dos arquivos pesquisados pela jornalista, seja o STM, seja o Arquivo Público de São Paulo. O fato é que até o momento a Folha de São Paulo não conseguiu demonstrar efetivamente a origem do documento.
12. Considero ainda que a matéria publicada na sexta-feira,17 de março, em que a Folha relata as minhas declarações ao jornalista Eduardo Costa, da rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, não esclarece o cerne da questão sobre a responsabilidade do jornal no lamentável e até agora estranho episódio: de onde veio a ficha que afirmo ser falsa?
13. Após 21 dias de espera, não acredito ser necessária uma grande investigação para responder à seguintes questões: em que órgão público a Folha de São Paulo obteve a ficha falsa? A quem interessa essa manipulação? Parece-me óbvio que a certeza sobre a origem de documentos publicados como oficiais é um pré-requisito para qualquer publicação responsável.
14. Transcrevo abaixo o texto literal do termo de responsabilidade assinado pela jornalista em 22/01/09:
“Declaro, para todos os fins de Direito, assumir plena e exclusiva responsabilidade, no âmbito civil e criminal, por quaisquer danos morais ou materiais que possa causar a terceiros a divulgação de informações contidas em documentos por mim examinados e a que eu tenha dado causa. Ficam, portanto, o Governo do Estado de São Paulo e o Arquivo do Estado de São Paulo exonerados de qualquer responsabilidade relativa a esta minha solicitação.
Declaro, ainda, estar ciente da legislação em vigor atinente ao uso de documentos públicos, em especial com relação aos artigos 138 e 145 (calúnia, injúria e difamação) do Código Penal Brasileiro.
Assumo, finalmente, o compromisso de citar a fonte dos documentos (Arquivo do Estado de São Paulo) nos casos de divulgação por qualquer meio (imprensa escrita, radiofônica ou televisiva, internet, livros, teses, etc).” (Cópia em anexo)
15. Por último, cabe deixar claro que a ficha falsa foi divulgada em vários sites de extrema direita, como: a) Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), blog de apoio ao Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra, ficha falsa postada em 30 de novembro de 2008; b) Coturno Noturno – Blog do Coronel: ficha falsa postada em 27 de março de 2009 (a ficha está “atualizada” apresentando uma foto atual) (http://coturnonoturno.blogspot.com/2009/04/desta-parte-dilma-lembra-tudo.html). A partir daí, outros sites na internet também divulgaram a ficha: a) http://fórum.hardmob.com.Br/showthread.php; b) http:/www.viomundo.com.Br/blog/dilma-terrorista/
16. Estou anexando a este memorial cópia de alguns documentos que considero importantes para sua avaliação:
➢ Termo de responsabilidade assinado pela jornalista no Arquivo de SP;
➢ Cópia de fichas onde consta a foto (ou idêntica) à utilizada para montagem da ficha usada pela Folha de São Paulo
➢ Cópia da solicitação da jornalista Fernanda Odilla ao STM de acesso a informações sobre Antonio Espinosa
➢ Autorização do Sr. Antonio Espinosa para acesso aos seus documentos
➢ Termo de Compromisso assinado pela jornalista Fernanda Odilla junto ao STM.”
PERGUNTAS TOLAS, INVASIVAS E INAPROPRIADAS. A COLETIVA DE DILMA”
Li hoje no blog “De um sem mídia” o seguinte texto escrito por Magda Almeida, do site Observatório da Imprensa::
“Ouvi, pela Bandeirantes FM, de Porto Alegre, a íntegra da entrevista coletiva da ministra Dilma Rousseff no sábado (25/4), onde o assunto foi o bombástico comunicado oficial de seu câncer. Dilma não é uma pessoa simpática e carece de algumas habilidades para lidar com a imprensa. Tenta, tenta, mas não consegue. É visível o seu pavor, que ela busca esconder atrás daquela máscara de auto-suficiência. Mas, corajosamente e muito ao seu modo, falou de sua doença. Seguiram-se as explicações do médico-chefe, com a usual e natural precaução.
Eu estava lavando a louça do almoço quando veio a primeira pergunta do grupo de jornalistas convocados para a entrevista coletiva: "Doutor, qual é o grau de agressividade desse câncer da ministra?" Por pouco o prato não caiu da minha mão. E seguiram-se outras, como: "Como ela adquiriu esse câncer?" e coisas que tais. O meu medo era que um coleguinha fosse direto ao ponto: "Doutor, quanto tempo de vida tem a ministra Dilma?"; ou, "Ministra, quem o PT agora vai escolher para vice-presidente?"
Como estava ouvindo a entrevista, e não vendo a televisão, fiquei imaginando como estariam se sentindo os médicos e a própria paciente, diante daquelas perguntas que a muitos ali, certamente, pareciam tolas, invasivas e inapropriadas numa situação tão delicada como aquela.
Até onde vão nossos limites?
Passei toda a tarde mergulhada nessas reflexões. Larguei a louça pra lá e fui procurar um canto solitário para, mais uma vez, pensar melhor sobre a profissão que há 46 anos escolhi num momento de surto ou de bem-aventurança. E me perguntei se, fazendo parte daquele grupo de coleguinhas, e mesmo tendo a fama que sempre tive de "ousada", abriria mão de um mínimo de sensibilidade profissional a fim de garantir a primeira página de amanhã.
Ou, refletindo melhor sobre aquele especial momento, deixaria aquelas perguntas infames para uma entrevista pessoal com o médico-chefe, poupando a ministra de mais uma dose no seu já grande sofrimento. Não conheço a ministra Dilma, o que sei dela é o que leio nos jornais e revistas. Não terá o meu voto, mas tem todo o meu respeito e torço para que supere, com a coragem que nunca lhe faltou, os momentos difíceis que encontrará pela frente.
E aí vem a pergunta que não quer calar, com desculpa pelo chavão: como separar a pessoa humana do profissional que precisa voltar à redação com o maior número possível de respostas às suas perguntas? Tem o repórter, naqueles seus 15 minutos de fama, o direito de perguntar o que lhe vem à cabeça, sem o menor respeito pela "vítima", ali na sua frente, ou, antes, pode ser ele mais sutil e, quem sabe, mais esperto, e conseguir uma entrevista mais completa mais tarde, a sós com, no caso, o médico-chefe?
Não me lembro de terem feito perguntas tão agressivas ao nosso simpático vice-presidente, a cada vez que entra e/ou sai do hospital depois de uma temporada de quimioterapia e radioterapia. Ou mesmo quando foi, pela primeira vez, anunciada a sua doença.
Não tenho resposta para qualquer dessas perguntas. Minha única preocupação continua sendo a ética mais elementar, o respeito indispensável ao próximo, não importa quem seja e onde esteja, na condução dessa tão complexa profissão. Até onde vão os nossos limites? Ou já não os temos mais?
Num país sem noção do que chamamos de limites, eu não deveria estranhar o inusitado, o endiabrado. Afinal, não existe o acaso e tudo é consequência de tudo.”
“Ouvi, pela Bandeirantes FM, de Porto Alegre, a íntegra da entrevista coletiva da ministra Dilma Rousseff no sábado (25/4), onde o assunto foi o bombástico comunicado oficial de seu câncer. Dilma não é uma pessoa simpática e carece de algumas habilidades para lidar com a imprensa. Tenta, tenta, mas não consegue. É visível o seu pavor, que ela busca esconder atrás daquela máscara de auto-suficiência. Mas, corajosamente e muito ao seu modo, falou de sua doença. Seguiram-se as explicações do médico-chefe, com a usual e natural precaução.
Eu estava lavando a louça do almoço quando veio a primeira pergunta do grupo de jornalistas convocados para a entrevista coletiva: "Doutor, qual é o grau de agressividade desse câncer da ministra?" Por pouco o prato não caiu da minha mão. E seguiram-se outras, como: "Como ela adquiriu esse câncer?" e coisas que tais. O meu medo era que um coleguinha fosse direto ao ponto: "Doutor, quanto tempo de vida tem a ministra Dilma?"; ou, "Ministra, quem o PT agora vai escolher para vice-presidente?"
Como estava ouvindo a entrevista, e não vendo a televisão, fiquei imaginando como estariam se sentindo os médicos e a própria paciente, diante daquelas perguntas que a muitos ali, certamente, pareciam tolas, invasivas e inapropriadas numa situação tão delicada como aquela.
Até onde vão nossos limites?
Passei toda a tarde mergulhada nessas reflexões. Larguei a louça pra lá e fui procurar um canto solitário para, mais uma vez, pensar melhor sobre a profissão que há 46 anos escolhi num momento de surto ou de bem-aventurança. E me perguntei se, fazendo parte daquele grupo de coleguinhas, e mesmo tendo a fama que sempre tive de "ousada", abriria mão de um mínimo de sensibilidade profissional a fim de garantir a primeira página de amanhã.
Ou, refletindo melhor sobre aquele especial momento, deixaria aquelas perguntas infames para uma entrevista pessoal com o médico-chefe, poupando a ministra de mais uma dose no seu já grande sofrimento. Não conheço a ministra Dilma, o que sei dela é o que leio nos jornais e revistas. Não terá o meu voto, mas tem todo o meu respeito e torço para que supere, com a coragem que nunca lhe faltou, os momentos difíceis que encontrará pela frente.
E aí vem a pergunta que não quer calar, com desculpa pelo chavão: como separar a pessoa humana do profissional que precisa voltar à redação com o maior número possível de respostas às suas perguntas? Tem o repórter, naqueles seus 15 minutos de fama, o direito de perguntar o que lhe vem à cabeça, sem o menor respeito pela "vítima", ali na sua frente, ou, antes, pode ser ele mais sutil e, quem sabe, mais esperto, e conseguir uma entrevista mais completa mais tarde, a sós com, no caso, o médico-chefe?
Não me lembro de terem feito perguntas tão agressivas ao nosso simpático vice-presidente, a cada vez que entra e/ou sai do hospital depois de uma temporada de quimioterapia e radioterapia. Ou mesmo quando foi, pela primeira vez, anunciada a sua doença.
Não tenho resposta para qualquer dessas perguntas. Minha única preocupação continua sendo a ética mais elementar, o respeito indispensável ao próximo, não importa quem seja e onde esteja, na condução dessa tão complexa profissão. Até onde vão os nossos limites? Ou já não os temos mais?
Num país sem noção do que chamamos de limites, eu não deveria estranhar o inusitado, o endiabrado. Afinal, não existe o acaso e tudo é consequência de tudo.”
LULA DIZ QUE "PIOR DA CRISE PASSOU" E ESPERA FIM DE ANO "CONFORTÁVEL"
Li ontem no portal UOL a seguinte reportagem da Agência Folha, em Manaus:
"Olhando pelos números do Brasil, eu acho que o pior já passou." Foi dessa forma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu, em Manaus, a questionamentos sobre o impacto da crise no Brasil.
O presidente afirmou que a crise é originária de um país rico e que nem o próprio presidente Barack Obama sabia de sua dimensão.
"Acho que o povo brasileiro não tem motivo para ter medo", declarou. "Olhando pelos números do Brasil, eu acho que o pior já passou, nós estamos vendo vários setores da economia se recuperarem."
Apesar de falar em reaquecimento da economia, Lula reconheceu que o ritmo ainda é lento. "Óbvio que essas coisas começam lentamente. Espero um final do ano com uma situação mais confortável. As medidas que o governo tomou têm surtido efeito. A indústria automobilística e sua cadeia produtiva já começaram a se recuperar, a Zona Franca já está se recuperando", discursou.”
"Olhando pelos números do Brasil, eu acho que o pior já passou." Foi dessa forma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu, em Manaus, a questionamentos sobre o impacto da crise no Brasil.
O presidente afirmou que a crise é originária de um país rico e que nem o próprio presidente Barack Obama sabia de sua dimensão.
"Acho que o povo brasileiro não tem motivo para ter medo", declarou. "Olhando pelos números do Brasil, eu acho que o pior já passou, nós estamos vendo vários setores da economia se recuperarem."
Apesar de falar em reaquecimento da economia, Lula reconheceu que o ritmo ainda é lento. "Óbvio que essas coisas começam lentamente. Espero um final do ano com uma situação mais confortável. As medidas que o governo tomou têm surtido efeito. A indústria automobilística e sua cadeia produtiva já começaram a se recuperar, a Zona Franca já está se recuperando", discursou.”
O FRACASSO DOS EMBARGOS
O jornal espanhol El Pais publicou ontem a seguinte reportagem de Andrea Rizzi (li no UOL, em tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves):
“Quase 25 séculos depois de o ateniense Péricles ter castigado as intemperanças da cidade de Megara, ditando por decreto o primeiro grande embargo em estilo moderno - e quase meio século depois de Dwight Eisenhower e John F. Kennedy infligirem a Cuba o mesmo destino -, a história dessa ferramenta de pressão internacional se encontra diante de um ponto de inflexão. A época dos embargos comerciais e financeiros gerais parece em seu ocaso, em favor de medidas mais específicas, criadas para atingir os regimes sem prejudicar de maneira indiscriminada as populações civis.
A transição, em fermentação há alguns anos, hoje se consolida com os novos ventos que sopram dos EUA, a potência que mais recorreu ao uso da asfixia econômica com fins políticos no último século. Estas palavras indicam bem a situação: "Depois de 47 anos, o embargo unilateral a Cuba fracassou em conseguir o objetivo de 'levar a democracia à população cubana'. Temos de reconhecer a ineficácia de nossa política".
A relevância dessas frases está em sua autoria, até mais que em seu conteúdo: não foram pronunciadas pelo grande messias da mudança, Barack Obama. Foram redigidas por Richard Lugar, senador republicano e representante máximo na Comissão de Assuntos Exteriores do Senado do partido que defendeu o isolamento de Cuba.
Lugar se atreveu a sentenciar assim meio século de política americana em relação a Havana em fevereiro, antes que o governo Obama decidisse dar um primeiro passo levantando restrições às viagens e ao envio de remessas para a ilha. O senador deu voz a uma virada cada vez mais aceita nas vísceras de seu partido, outrora o grande guardião do embargo a Cuba e berço ideológico de outras sanções semelhantes, hoje disposto a colaborar na tarefa de levantamento do mesmo. O novo plano dos republicanos justifica a expectativa de mudança mais que os discursos do próprio presidente.
A reflexão sobre os embargos no século 21 começa aí, pelo regime castrista no poder depois de 47 anos de bloqueio econômico, e com a lembrança de Saddam Hussein, que conseguiu resistir ao mais duro embargo da história, entre 1990 e 2003. Foram necessários aviões F-16 para derrubá-lo, depois que a população iraquiana sofreu inutilmente um tremendo estrangulamento internacional com base em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.
As sanções econômicas também não derrubaram o ditador norte-coreano Kim Jong-il, que continua bebendo seu amado conhaque em Pyongyang enquanto seu povo passa fome, nem detiveram o programa nuclear da República Islâmica do Irã. A lista de países submetidos a embargos ou sanções comerciais e financeiras nas últimas décadas é muito longa: infelizmente, a dos regimes que sobreviveram a eles tem praticamente o mesmo tamanho, sendo a única exceção de destaque a África do Sul do apartheid.
"É verdade que embargos e sanções econômicas não foram eficazes para derrubar regimes de ditadores. Os fracassos em casos de perfil elevado projetam a sensação de ineficácia absoluta, mas essa é uma percepção distorcida da realidade", argumenta Gary Hufbauer, analista do Instituto Peterson e autor de "Economic Sanctions Reconsidered" [Sanções econômicas reconsideradas], um estudo detalhado sobre a matéria.
"Estudamos cerca de 200 casos de embargos e sanções econômicas de envergadura desde a Primeira Guerra Mundial", continua Hufbauer. "Nossa conclusão é que em 34% das vezes as medidas foram pelo menos parcialmente bem-sucedidas. Com frequência com êxitos marginais. Mas às vezes muito substanciais. Os objetivos estratégicos dos bloqueios vão além da derrubada de um regime."
"A Líbia é o exemplo perfeito", indica Kimberly Elliott, coautora do livro. "As sanções não derrubaram Khadafi, mas contribuíram significativamente para uma mudança de atitude do regime. As sanções sem dúvida têm uma capacidade limitada, mas alcançaram objetivos no passado e poderão continuar atingindo-os."
Mas, comprovada a incapacidade de se obter o objetivo supremo - a derrubada de ditadores -, é suficiente a esporádica obtenção de fins estratégicos secundários para justificar o grande sofrimento que os embargos infligem às populações civis? Até que ponto vai a responsabilidade de uma população pelo fato de seu país ser governado por um determinado regime?
"Sem dúvida a comunidade internacional está progressivamente se afastando do modelo de sanção econômica geral em favor de pressões mais perfiladas, dirigidas especificamente aos responsáveis e que afetam menos a população civil", observa Richard Gowan, analista do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR na sigla em inglês), especializado no estudo do Conselho de Segurança da ONU. "As medidas gerais foram muitas vezes ineficazes e às vezes até contraproducentes, ao criar uma síndrome de encurralamento no país afetado que aglutina a população ao redor do regime", prossegue Gowan.
"Concordo que essa transição para medidas mais refinadas está em andamento", diz Hufbauer. Os cinco especialistas consultados para este artigo concordaram nesse ponto. "Para isso há razões humanitárias e também de 'real politik'. Um embargo total também causa muito dano aos parceiros comerciais do país atingido."
Diante das sanções gerais - como os bloqueios totais a exportações, importações e fluxos financeiros -, as medidas específicas ou "refinadas" impõem o congelamento de determinadas contas bancárias e ativos financeiros, embargos a produtos específicos ou armas, obstáculos a viagens e sanções destinadas a golpear exclusivamente os hierarcas dos regimes e suas funções.
Essas medidas cumprem adequadamente uma das principais funções das sanções econômicas: enviar uma mensagem. Ao público mundial - aliados e inimigos -, ou ao eleitorado interno.
"Mandar sinais sempre é uma parte importante desses processos, e o objetivo nem sempre é de caráter internacional. Cuba é um exemplo. Uma sanção que surgiu com um objetivo de política externa se manteve durante o tempo, fundamentalmente por motivos de política interna, pensando em certos grupos de pressão", argumenta Elliott, que trabalha para o Centro para o Desenvolvimento Global.
A ironia do líder liberal britânico David Lloyd George esculpiu em 1935 a relevância dessa função dos embargos, com uma referência ferina à reação tardia do Executivo de Londres diante da invasão italiana na Abissínia [atual Etiópia]. "[As sanções] chegaram tarde demais para salvar a Abissínia da subjugação italiana... mas a tempo de salvar o governo britânico!", declarou Lloyd George no Parlamento. A inação pode ter custos muito elevados e, entre indiferença e ação militar, as sanções econômicas são uma boa opção.
"O problema das sanções específicas é que são muito complexas de se implementar e precisam de um difícil e constante acompanhamento", observa Paul Holtom, especialista em embargos de armas do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri na sigla em inglês).
"Trata-se de ferramentas mais sofisticadas, mas mais frágeis e, na maioria dos casos, não idôneas para conseguir objetivos estratégicos consideráveis", indica Elliott.
A diferença de peso é evidente. Os bloqueios comerciais e financeiros impostos de 1915 em diante custaram aos países alvo das medidas cerca de 4% do PIB anual em média. No caso iraquiano, devido à enorme adesão ao embargo contra Saddam promovido pela ONU, a queda foi de 54% anuais em média, segundo "Economic Sanctions Reconsidered". Brutal. Sanções específicas não podem alcançar nem de longe esse nível de pressão.
"Mas em nossas pesquisas comprovamos que a equação 'sanção mais dura igual a melhor resultado' não é tão automática quanto se poderia pensar. O próprio caso iraquiano o sugere", indica Hufbauer. "Infelizmente, os regimes autocráticos normalmente conseguem proteger seu entorno, isolá-lo do impacto e transferir o sofrimento para a população."
Exatamente a reflexão sobre o caso iraquiano promoveu uma transição para novos horizontes. Agora a polêmica nos EUA sobre o outro grande embargo simbólico do mundo, o de Cuba, parece afiançar definitivamente a mudança.
A passagem não está isenta de obstáculos. Há quem interprete certas opções políticas menos agressivas como sinais de fraqueza. A ofensiva do ex-vice-presidente americano Richard Cheney contra Obama esta semana resume bem esse antagonismo. "Tanto nossos amigos como nossos adversários aproveitarão rapidamente a situação se pensarem que estão diante de um presidente fraco", disse Cheney, criticando a atitude de Obama em seus giros internacionais, o excesso de mãos apertadas (como a de Hugo Chávez) e "esse frequente tom de desculpas". "Não creio que os EUA tenham muito a se desculpar."
Mas hoje os falcões parecem mais isolados que nunca. "Diante do que aconteceu nos últimos anos, o embargo a Cuba parece realmente um resíduo de outra era. Na Europa a transição para sanções específicas está consolidada. Às vezes há divergências entre países que defendem o diálogo a todo custo e outros mais inclinados à sanção... mas sem dúvida está consolidada a preferência por medidas pontuais contra as gerais", comenta Anthony Dworkin, colega de Gowan no ECFR e analista especializado em direito humanitário.
Quase toda a questão se encontra no terreno das opiniões. Mas certos fatos parecem lições, embora remontem ao século 5º antes de Cristo. Assim relata Aristófanes a história do decreto megarense de Péricles em um trecho de sua obra "Os Acarnenses": "Então Péricles decretou que os megarenses não entrassem em nosso território, e em nossos mercados, por mar ou por terra. Os megarenses, que já morriam de fome, pediram que o decreto fosse retirado. Nós rejeitamos, apesar de eles terem pedido muitas vezes. Então veio o estrondo das armas". A guerra do Peloponeso.”
“Quase 25 séculos depois de o ateniense Péricles ter castigado as intemperanças da cidade de Megara, ditando por decreto o primeiro grande embargo em estilo moderno - e quase meio século depois de Dwight Eisenhower e John F. Kennedy infligirem a Cuba o mesmo destino -, a história dessa ferramenta de pressão internacional se encontra diante de um ponto de inflexão. A época dos embargos comerciais e financeiros gerais parece em seu ocaso, em favor de medidas mais específicas, criadas para atingir os regimes sem prejudicar de maneira indiscriminada as populações civis.
A transição, em fermentação há alguns anos, hoje se consolida com os novos ventos que sopram dos EUA, a potência que mais recorreu ao uso da asfixia econômica com fins políticos no último século. Estas palavras indicam bem a situação: "Depois de 47 anos, o embargo unilateral a Cuba fracassou em conseguir o objetivo de 'levar a democracia à população cubana'. Temos de reconhecer a ineficácia de nossa política".
A relevância dessas frases está em sua autoria, até mais que em seu conteúdo: não foram pronunciadas pelo grande messias da mudança, Barack Obama. Foram redigidas por Richard Lugar, senador republicano e representante máximo na Comissão de Assuntos Exteriores do Senado do partido que defendeu o isolamento de Cuba.
Lugar se atreveu a sentenciar assim meio século de política americana em relação a Havana em fevereiro, antes que o governo Obama decidisse dar um primeiro passo levantando restrições às viagens e ao envio de remessas para a ilha. O senador deu voz a uma virada cada vez mais aceita nas vísceras de seu partido, outrora o grande guardião do embargo a Cuba e berço ideológico de outras sanções semelhantes, hoje disposto a colaborar na tarefa de levantamento do mesmo. O novo plano dos republicanos justifica a expectativa de mudança mais que os discursos do próprio presidente.
A reflexão sobre os embargos no século 21 começa aí, pelo regime castrista no poder depois de 47 anos de bloqueio econômico, e com a lembrança de Saddam Hussein, que conseguiu resistir ao mais duro embargo da história, entre 1990 e 2003. Foram necessários aviões F-16 para derrubá-lo, depois que a população iraquiana sofreu inutilmente um tremendo estrangulamento internacional com base em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.
As sanções econômicas também não derrubaram o ditador norte-coreano Kim Jong-il, que continua bebendo seu amado conhaque em Pyongyang enquanto seu povo passa fome, nem detiveram o programa nuclear da República Islâmica do Irã. A lista de países submetidos a embargos ou sanções comerciais e financeiras nas últimas décadas é muito longa: infelizmente, a dos regimes que sobreviveram a eles tem praticamente o mesmo tamanho, sendo a única exceção de destaque a África do Sul do apartheid.
"É verdade que embargos e sanções econômicas não foram eficazes para derrubar regimes de ditadores. Os fracassos em casos de perfil elevado projetam a sensação de ineficácia absoluta, mas essa é uma percepção distorcida da realidade", argumenta Gary Hufbauer, analista do Instituto Peterson e autor de "Economic Sanctions Reconsidered" [Sanções econômicas reconsideradas], um estudo detalhado sobre a matéria.
"Estudamos cerca de 200 casos de embargos e sanções econômicas de envergadura desde a Primeira Guerra Mundial", continua Hufbauer. "Nossa conclusão é que em 34% das vezes as medidas foram pelo menos parcialmente bem-sucedidas. Com frequência com êxitos marginais. Mas às vezes muito substanciais. Os objetivos estratégicos dos bloqueios vão além da derrubada de um regime."
"A Líbia é o exemplo perfeito", indica Kimberly Elliott, coautora do livro. "As sanções não derrubaram Khadafi, mas contribuíram significativamente para uma mudança de atitude do regime. As sanções sem dúvida têm uma capacidade limitada, mas alcançaram objetivos no passado e poderão continuar atingindo-os."
Mas, comprovada a incapacidade de se obter o objetivo supremo - a derrubada de ditadores -, é suficiente a esporádica obtenção de fins estratégicos secundários para justificar o grande sofrimento que os embargos infligem às populações civis? Até que ponto vai a responsabilidade de uma população pelo fato de seu país ser governado por um determinado regime?
"Sem dúvida a comunidade internacional está progressivamente se afastando do modelo de sanção econômica geral em favor de pressões mais perfiladas, dirigidas especificamente aos responsáveis e que afetam menos a população civil", observa Richard Gowan, analista do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR na sigla em inglês), especializado no estudo do Conselho de Segurança da ONU. "As medidas gerais foram muitas vezes ineficazes e às vezes até contraproducentes, ao criar uma síndrome de encurralamento no país afetado que aglutina a população ao redor do regime", prossegue Gowan.
"Concordo que essa transição para medidas mais refinadas está em andamento", diz Hufbauer. Os cinco especialistas consultados para este artigo concordaram nesse ponto. "Para isso há razões humanitárias e também de 'real politik'. Um embargo total também causa muito dano aos parceiros comerciais do país atingido."
Diante das sanções gerais - como os bloqueios totais a exportações, importações e fluxos financeiros -, as medidas específicas ou "refinadas" impõem o congelamento de determinadas contas bancárias e ativos financeiros, embargos a produtos específicos ou armas, obstáculos a viagens e sanções destinadas a golpear exclusivamente os hierarcas dos regimes e suas funções.
Essas medidas cumprem adequadamente uma das principais funções das sanções econômicas: enviar uma mensagem. Ao público mundial - aliados e inimigos -, ou ao eleitorado interno.
"Mandar sinais sempre é uma parte importante desses processos, e o objetivo nem sempre é de caráter internacional. Cuba é um exemplo. Uma sanção que surgiu com um objetivo de política externa se manteve durante o tempo, fundamentalmente por motivos de política interna, pensando em certos grupos de pressão", argumenta Elliott, que trabalha para o Centro para o Desenvolvimento Global.
A ironia do líder liberal britânico David Lloyd George esculpiu em 1935 a relevância dessa função dos embargos, com uma referência ferina à reação tardia do Executivo de Londres diante da invasão italiana na Abissínia [atual Etiópia]. "[As sanções] chegaram tarde demais para salvar a Abissínia da subjugação italiana... mas a tempo de salvar o governo britânico!", declarou Lloyd George no Parlamento. A inação pode ter custos muito elevados e, entre indiferença e ação militar, as sanções econômicas são uma boa opção.
"O problema das sanções específicas é que são muito complexas de se implementar e precisam de um difícil e constante acompanhamento", observa Paul Holtom, especialista em embargos de armas do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri na sigla em inglês).
"Trata-se de ferramentas mais sofisticadas, mas mais frágeis e, na maioria dos casos, não idôneas para conseguir objetivos estratégicos consideráveis", indica Elliott.
A diferença de peso é evidente. Os bloqueios comerciais e financeiros impostos de 1915 em diante custaram aos países alvo das medidas cerca de 4% do PIB anual em média. No caso iraquiano, devido à enorme adesão ao embargo contra Saddam promovido pela ONU, a queda foi de 54% anuais em média, segundo "Economic Sanctions Reconsidered". Brutal. Sanções específicas não podem alcançar nem de longe esse nível de pressão.
"Mas em nossas pesquisas comprovamos que a equação 'sanção mais dura igual a melhor resultado' não é tão automática quanto se poderia pensar. O próprio caso iraquiano o sugere", indica Hufbauer. "Infelizmente, os regimes autocráticos normalmente conseguem proteger seu entorno, isolá-lo do impacto e transferir o sofrimento para a população."
Exatamente a reflexão sobre o caso iraquiano promoveu uma transição para novos horizontes. Agora a polêmica nos EUA sobre o outro grande embargo simbólico do mundo, o de Cuba, parece afiançar definitivamente a mudança.
A passagem não está isenta de obstáculos. Há quem interprete certas opções políticas menos agressivas como sinais de fraqueza. A ofensiva do ex-vice-presidente americano Richard Cheney contra Obama esta semana resume bem esse antagonismo. "Tanto nossos amigos como nossos adversários aproveitarão rapidamente a situação se pensarem que estão diante de um presidente fraco", disse Cheney, criticando a atitude de Obama em seus giros internacionais, o excesso de mãos apertadas (como a de Hugo Chávez) e "esse frequente tom de desculpas". "Não creio que os EUA tenham muito a se desculpar."
Mas hoje os falcões parecem mais isolados que nunca. "Diante do que aconteceu nos últimos anos, o embargo a Cuba parece realmente um resíduo de outra era. Na Europa a transição para sanções específicas está consolidada. Às vezes há divergências entre países que defendem o diálogo a todo custo e outros mais inclinados à sanção... mas sem dúvida está consolidada a preferência por medidas pontuais contra as gerais", comenta Anthony Dworkin, colega de Gowan no ECFR e analista especializado em direito humanitário.
Quase toda a questão se encontra no terreno das opiniões. Mas certos fatos parecem lições, embora remontem ao século 5º antes de Cristo. Assim relata Aristófanes a história do decreto megarense de Péricles em um trecho de sua obra "Os Acarnenses": "Então Péricles decretou que os megarenses não entrassem em nosso território, e em nossos mercados, por mar ou por terra. Os megarenses, que já morriam de fome, pediram que o decreto fosse retirado. Nós rejeitamos, apesar de eles terem pedido muitas vezes. Então veio o estrondo das armas". A guerra do Peloponeso.”
quarta-feira, 29 de abril de 2009
MIKHAIL GORBACHEV - DANDO AS BOAS VINDAS AO G20
Li hoje no site Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes, o seguinte artigo publicado no jornal norte-americano The New York Times. O autor, Mikhail Gorbachev, foi líder da extinta União Soviética de 1985 até o seu colapso em 1991. Laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 1990, ele é atualmente o presidente da Fundação Internacional de Estudos Socioeconômicos e Políticos (A Fundação Gorbachev):
“O G20 já teve duas reuniões, incluindo a última em Londres. Ele se tornou um fórum estabelecido, um reconhecimento, tardio na minha opinião, de que o mundo mudou e que as instituições antigas não acompanharam as necessidades que crescem rapidamente.
Antes tarde do que nunca, claro. Ainda assim, há dúvidas sobre o conteúdo e o funcionamento deste novo órgão - perguntas que devem ser respondidas o mais rápido possível.
A primeira pergunta é se as decisões adotadas no encontro em Londres podem estancar a crise econômica e financeira global, colocando a economia mundial novamente em um espiral de crescimento.
Uma resposta definitiva só deve surgir com o tempo, mas a minha impressão inicial é que as decisões tomadas em Londres podem ser um bom começo. Estas decisões representam concessões, o que é normal. Ainda assim, necessitamos de pontos de referência mais claros sobre a estrutura do sistema de governança financeira e econômica e das tarefas do grupo.
Prevenir crises como esta não deveria ser a única ou principal preocupação do G-20. O que precisamos é de uma transição para um modelo novo, integrando fatores sociais, ambientais e econômicos.
A segunda pergunta diz respeito ao lugar do G-20 dentro do sistema de instituições globais. O que é este grupo: Um "politburo global", um "clube dos poderosos", um protótipo para um governo mundial? Como será a interação com as Nações Unidas - a organização mundial universal?
Estou convencido de que nenhum grupo de países, mesmo que eles representem 90 por cento da economia mundial, deveria substituir ou sobrepujar as Nações Unidas. Mas claramente, o G-20 poderia reivindicar uma liderança coletiva sobre os problemas mundiais se administrar com respeito a opinião dos não membros. A presença de países no G-20 que representam diferentes regiões geográficas, diferentes níveis de desenvolvimento e diferentes culturas é um sinal de esperança.
Ainda assim, este grupo não passa de uma improvisação pressionada por condições extremas de um inesperado levante global. Ele não inclui alguns países bastante influentes, regionalmente ou até de forma mais ampla, como o Egito, a Nigéria ou o Iran. E o grupo também não foi claro quanto a seus métodos.
Para evitar erros, o G-20 deve ser muito transparente e trabalhar junto às Nações Unidas. Pelo menos uma vez ao ano, suas reuniões devem acontecer na sede da ONU. Ela deveria submeter um relatório à Assembléia Geral da ONU, para ser discutido de forma substancial.
Por fim, há a questão da abrangência desta nova instituição. Será que ela deveria ficar restrita às questões econômico-financeiras ou, mais cedo ou mais tarde, deverá também abordar questões políticas? A resposta, da qual muito depende, não é óbvia.
Aqueles que são contra um papel de ação política para o G-20 diriam que a comunidade mundial conferiu ao Conselho de Segurança da ONU a responsabilidade principal para manter a paz e a segurança mundial. Portanto, nossa preocupação principal deve ser fortalecer o papel daquele órgão. É verdade que todas as tentativas de ignorar ou contorná-lo, seja no Oriente Médio, Europa ou qualquer outro lugar, acabou sempre mal.
No entanto, é também verdade que o papel principal do Conselho de Segurança é reagir de imediato a crises perigosas. Sabemos por experiência que ele não está preparado para abordar questões conceituais e de longo prazo. Além disso, a longa demora em reformar este órgão da ONU o deixou, francamente, menos representativo que o G-20, que é particularmente bem equipado para abortar questões políticas ligadas aos desafios globais de segurança, pobreza e o meio ambiente. Além do mais, as outras organizações e grupos, como o G-8 ou a OTAN, discutem problemas políticos.
Eu acredito que, com uma abordagem equilibrada e bem pensada, o G-20 pode encontrar um lugar privilegiado na arquitetura da política mundial. Se ele ajudar a reverter a crise econômica, ganhará a credibilidade para liderar.
Um dos problemas prontos para o debate político é a militarização da política e da economia mundial - a militarização do pensamento. Nós a herdamos do século XX, talvez o mais sangrento e trágico da história.
É um emaranhado de problemas: A militarização desvia fundos da economia real, estimula conflitos e cria uma ilusão de que as soluções militares, em vez de políticas, é que são viáveis. Ao iniciar uma séria discussão sobre o tópico dentro do G-20 e assumindo uma posição política sobre ele, os líderes mundiais poderiam preparar o terreno para aqueles órgãos da ONU que são responsáveis pelo progresso da área - o Conselho de Segurança e a Conferência de Desarmamento em Genebra.
Depois da reunião em Londres, o primeiro ministro britânico, Gordon Brown, chamou a reunião de um passo em direção à nova ordem mundial e uma "nova era moderna de cooperação internacional".
Apesar de ainda haver muito que fazer antes que isto se torne realidade, é esta a direção que devemos seguir.”
“O G20 já teve duas reuniões, incluindo a última em Londres. Ele se tornou um fórum estabelecido, um reconhecimento, tardio na minha opinião, de que o mundo mudou e que as instituições antigas não acompanharam as necessidades que crescem rapidamente.
Antes tarde do que nunca, claro. Ainda assim, há dúvidas sobre o conteúdo e o funcionamento deste novo órgão - perguntas que devem ser respondidas o mais rápido possível.
A primeira pergunta é se as decisões adotadas no encontro em Londres podem estancar a crise econômica e financeira global, colocando a economia mundial novamente em um espiral de crescimento.
Uma resposta definitiva só deve surgir com o tempo, mas a minha impressão inicial é que as decisões tomadas em Londres podem ser um bom começo. Estas decisões representam concessões, o que é normal. Ainda assim, necessitamos de pontos de referência mais claros sobre a estrutura do sistema de governança financeira e econômica e das tarefas do grupo.
Prevenir crises como esta não deveria ser a única ou principal preocupação do G-20. O que precisamos é de uma transição para um modelo novo, integrando fatores sociais, ambientais e econômicos.
A segunda pergunta diz respeito ao lugar do G-20 dentro do sistema de instituições globais. O que é este grupo: Um "politburo global", um "clube dos poderosos", um protótipo para um governo mundial? Como será a interação com as Nações Unidas - a organização mundial universal?
Estou convencido de que nenhum grupo de países, mesmo que eles representem 90 por cento da economia mundial, deveria substituir ou sobrepujar as Nações Unidas. Mas claramente, o G-20 poderia reivindicar uma liderança coletiva sobre os problemas mundiais se administrar com respeito a opinião dos não membros. A presença de países no G-20 que representam diferentes regiões geográficas, diferentes níveis de desenvolvimento e diferentes culturas é um sinal de esperança.
Ainda assim, este grupo não passa de uma improvisação pressionada por condições extremas de um inesperado levante global. Ele não inclui alguns países bastante influentes, regionalmente ou até de forma mais ampla, como o Egito, a Nigéria ou o Iran. E o grupo também não foi claro quanto a seus métodos.
Para evitar erros, o G-20 deve ser muito transparente e trabalhar junto às Nações Unidas. Pelo menos uma vez ao ano, suas reuniões devem acontecer na sede da ONU. Ela deveria submeter um relatório à Assembléia Geral da ONU, para ser discutido de forma substancial.
Por fim, há a questão da abrangência desta nova instituição. Será que ela deveria ficar restrita às questões econômico-financeiras ou, mais cedo ou mais tarde, deverá também abordar questões políticas? A resposta, da qual muito depende, não é óbvia.
Aqueles que são contra um papel de ação política para o G-20 diriam que a comunidade mundial conferiu ao Conselho de Segurança da ONU a responsabilidade principal para manter a paz e a segurança mundial. Portanto, nossa preocupação principal deve ser fortalecer o papel daquele órgão. É verdade que todas as tentativas de ignorar ou contorná-lo, seja no Oriente Médio, Europa ou qualquer outro lugar, acabou sempre mal.
No entanto, é também verdade que o papel principal do Conselho de Segurança é reagir de imediato a crises perigosas. Sabemos por experiência que ele não está preparado para abordar questões conceituais e de longo prazo. Além disso, a longa demora em reformar este órgão da ONU o deixou, francamente, menos representativo que o G-20, que é particularmente bem equipado para abortar questões políticas ligadas aos desafios globais de segurança, pobreza e o meio ambiente. Além do mais, as outras organizações e grupos, como o G-8 ou a OTAN, discutem problemas políticos.
Eu acredito que, com uma abordagem equilibrada e bem pensada, o G-20 pode encontrar um lugar privilegiado na arquitetura da política mundial. Se ele ajudar a reverter a crise econômica, ganhará a credibilidade para liderar.
Um dos problemas prontos para o debate político é a militarização da política e da economia mundial - a militarização do pensamento. Nós a herdamos do século XX, talvez o mais sangrento e trágico da história.
É um emaranhado de problemas: A militarização desvia fundos da economia real, estimula conflitos e cria uma ilusão de que as soluções militares, em vez de políticas, é que são viáveis. Ao iniciar uma séria discussão sobre o tópico dentro do G-20 e assumindo uma posição política sobre ele, os líderes mundiais poderiam preparar o terreno para aqueles órgãos da ONU que são responsáveis pelo progresso da área - o Conselho de Segurança e a Conferência de Desarmamento em Genebra.
Depois da reunião em Londres, o primeiro ministro britânico, Gordon Brown, chamou a reunião de um passo em direção à nova ordem mundial e uma "nova era moderna de cooperação internacional".
Apesar de ainda haver muito que fazer antes que isto se torne realidade, é esta a direção que devemos seguir.”
O QUE FALTA PARA A ECONOMIA BRASILEIRA
Li hoje no site Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes, o seguinte artigo de Julio Gomes de Almeida. O autor é professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda:
“Todo o cuidado é pouco com interpretações pretensamente definitivas em um contexto de crise econômica porque estas costumam alternar momentos melhores e piores. Isso é particularmente verdadeiro se a crise tem matriz global e, no plano das economias centrais, é de gravidade comparável com a grande crise de 1929. A economia brasileira vivencia um momento em que se avolumam sinais de melhora, sem que, inequivocamente, se possa falar em recuperação.
Para a indústria, afora uma nova rodada de crise, a tendência é de um gradativo aumento do nível de produção (que em fevereiro era 17% inferior com relação ao auge anterior à crise) para ir recuperando o terreno perdido, algo que pode ser concluído nos meses finais do ano. No mês de março é esperado um avanço do setor em bases superiores ao crescimento da produção de janeiro e fevereiro (+2,2% e +1,8% com relação ao mês anterior). Na comparação com março de 2008, a indústria deve recuperar parte do terreno perdido, mas isto deverá ser interpretado com cautela porque a base de referência, o mesmo mês do ano passado, teve um desempenho desfavorável e, além disso, contou com dois dias úteis a menos do que março último.
O que pode reverter esse processo é uma piora na queda das exportações de manufaturados (o que parece estar ocorrendo) combinado com uma perda de mercados internos em função de uma concorrência muito forte de produtos importados decorrente do excesso de capacidade produtiva a nível mundial causada pela crise internacional. O dumping que acompanha em muitos casos essa maior concorrência deve ser combatido por uma política de valoração aduaneira e agilização dos processos anti-dumping.
No comércio, os últimos dados do IBGE mostram que pelo segundo mês consecutivo (janeiro e fevereiro) há avanço marginal no setor (+1,8% e +1,5%, respectivamente), indicando também uma melhora gradativa. Esse avanço tem sido determinado em larga escala pelo desempenho do setor de alimentos e bebidas, decorrente do fato de que o rendimento médio da população manteve-se relativamente preservado por mecanismos institucionais (salário mínimo, programas sociais) e de mercado (o rendimento real médio das pessoas ocupadas parou de crescer, mas ainda não mostra sinais de declínio). Também foi beneficiado por um deslocamento do consumo de bens de maior valor unitário para bens de menor valor, em função do receio do consumidor em assumir compromissos a prazo e da escassez e encarecimento do crédito.
No mês de março contra o mesmo mês de 2008, as vendas reais do varejo podem retroceder. Um efeito calendário - qual seja, a Páscoa que caíra em 2008 no mês de março e que em 2009 ficou para abril - concorrerá para isso, mas, o varejo poderá começar a sentir os efeitos da retração do consumo popular decorrente do aumento do desemprego na passagem de 2008 para 2009, combinado com o esgotamento do efeito deslocamento do consumo dos produtos de maior valor unitário dependentes do crédito para produtos de menor valor, que beneficiava o comércio de produtos básicos.
No emprego, os dados do Caged, o cadastro do emprego formal, dão indicação de que o impacto da crise sobre o emprego formal está se tornando progressivamente menos intenso, de forma que em março (seguindo fevereiro), já há um modesta retomada das contratações. As contratações líquidas foram de 34.818 pessoas (contra 206.556 em março do ano passado).
Considerando como critério de aferição de melhora/piora da situação do emprego formal a diferença entre os saldos líquidos de contratações formais no mês de referência com relação a esse mesmo mês do ano anterior, são observadas as seguintes etapas durante os meses de crise: esta inicialmente reduz o saldo de contratações com relação ao ano anterior que era de 105.794 em agosto para 31.673 em setembro; valores negativos começam em outubro (-143.859) e são crescentes até dezembro (-335.532); refluem desde então até o valor ainda negativo, porém muito mais baixo de -171.738 em março último.
Aqui vale também a advertência de que a menos que ocorra um agravamento da crise externa, o processo de gradativa recomposição do mercado de trabalho formal avançará ao longo do ano, porém nesse caso, os níveis de contratação anteriores à crise dificilmente serão alcançados em 2009.
Uma última referência é para o setor externo. O Brasil sofreu uma "fuga de capitais" nos momentos mais agudos da crise internacional nos meses finais do ano passado e com menor intensidade nos meses iniciais de 2009. Um elevado volume de reservas internacionais impediu que esse processo causasse, ao contrário de episódios anteriores de crise, problemas cambiais mais sérios. Mas, o que o mês de março registrou para o balanço de pagamentos do país foi o retorno para valores positivos dos fluxos líquidos de capitais. O processo ainda é muito incipiente, podendo sofrer novo retrocesso sem aviso prévio e, além disso, está muito longe de recompor os fluxos anteriores de entrada de recursos e está restrito à entrada de capitais estrangeiros de curto prazo. Mas é uma sinalização relevante de que, não se agravando o quadro financeiro internacional, o Brasil preservará sua solidez externa mesmo diante de uma situação tão adversa como a crise atual.
O que falta para consolidar esse quadro mais favorável da economia é uma ação forte do governo onde o impacto negativo da situação externa ainda não foi revertido e os sinais de melhora chegam muito devagar, vale dizer, na questão da disponibilidade e do custo do crédito. Havendo progresso nesse tema, a economia poderá sair mais rápido e de forma mais equilibrada da retração imposta pela atual crise internacional.”
“Todo o cuidado é pouco com interpretações pretensamente definitivas em um contexto de crise econômica porque estas costumam alternar momentos melhores e piores. Isso é particularmente verdadeiro se a crise tem matriz global e, no plano das economias centrais, é de gravidade comparável com a grande crise de 1929. A economia brasileira vivencia um momento em que se avolumam sinais de melhora, sem que, inequivocamente, se possa falar em recuperação.
Para a indústria, afora uma nova rodada de crise, a tendência é de um gradativo aumento do nível de produção (que em fevereiro era 17% inferior com relação ao auge anterior à crise) para ir recuperando o terreno perdido, algo que pode ser concluído nos meses finais do ano. No mês de março é esperado um avanço do setor em bases superiores ao crescimento da produção de janeiro e fevereiro (+2,2% e +1,8% com relação ao mês anterior). Na comparação com março de 2008, a indústria deve recuperar parte do terreno perdido, mas isto deverá ser interpretado com cautela porque a base de referência, o mesmo mês do ano passado, teve um desempenho desfavorável e, além disso, contou com dois dias úteis a menos do que março último.
O que pode reverter esse processo é uma piora na queda das exportações de manufaturados (o que parece estar ocorrendo) combinado com uma perda de mercados internos em função de uma concorrência muito forte de produtos importados decorrente do excesso de capacidade produtiva a nível mundial causada pela crise internacional. O dumping que acompanha em muitos casos essa maior concorrência deve ser combatido por uma política de valoração aduaneira e agilização dos processos anti-dumping.
No comércio, os últimos dados do IBGE mostram que pelo segundo mês consecutivo (janeiro e fevereiro) há avanço marginal no setor (+1,8% e +1,5%, respectivamente), indicando também uma melhora gradativa. Esse avanço tem sido determinado em larga escala pelo desempenho do setor de alimentos e bebidas, decorrente do fato de que o rendimento médio da população manteve-se relativamente preservado por mecanismos institucionais (salário mínimo, programas sociais) e de mercado (o rendimento real médio das pessoas ocupadas parou de crescer, mas ainda não mostra sinais de declínio). Também foi beneficiado por um deslocamento do consumo de bens de maior valor unitário para bens de menor valor, em função do receio do consumidor em assumir compromissos a prazo e da escassez e encarecimento do crédito.
No mês de março contra o mesmo mês de 2008, as vendas reais do varejo podem retroceder. Um efeito calendário - qual seja, a Páscoa que caíra em 2008 no mês de março e que em 2009 ficou para abril - concorrerá para isso, mas, o varejo poderá começar a sentir os efeitos da retração do consumo popular decorrente do aumento do desemprego na passagem de 2008 para 2009, combinado com o esgotamento do efeito deslocamento do consumo dos produtos de maior valor unitário dependentes do crédito para produtos de menor valor, que beneficiava o comércio de produtos básicos.
No emprego, os dados do Caged, o cadastro do emprego formal, dão indicação de que o impacto da crise sobre o emprego formal está se tornando progressivamente menos intenso, de forma que em março (seguindo fevereiro), já há um modesta retomada das contratações. As contratações líquidas foram de 34.818 pessoas (contra 206.556 em março do ano passado).
Considerando como critério de aferição de melhora/piora da situação do emprego formal a diferença entre os saldos líquidos de contratações formais no mês de referência com relação a esse mesmo mês do ano anterior, são observadas as seguintes etapas durante os meses de crise: esta inicialmente reduz o saldo de contratações com relação ao ano anterior que era de 105.794 em agosto para 31.673 em setembro; valores negativos começam em outubro (-143.859) e são crescentes até dezembro (-335.532); refluem desde então até o valor ainda negativo, porém muito mais baixo de -171.738 em março último.
Aqui vale também a advertência de que a menos que ocorra um agravamento da crise externa, o processo de gradativa recomposição do mercado de trabalho formal avançará ao longo do ano, porém nesse caso, os níveis de contratação anteriores à crise dificilmente serão alcançados em 2009.
Uma última referência é para o setor externo. O Brasil sofreu uma "fuga de capitais" nos momentos mais agudos da crise internacional nos meses finais do ano passado e com menor intensidade nos meses iniciais de 2009. Um elevado volume de reservas internacionais impediu que esse processo causasse, ao contrário de episódios anteriores de crise, problemas cambiais mais sérios. Mas, o que o mês de março registrou para o balanço de pagamentos do país foi o retorno para valores positivos dos fluxos líquidos de capitais. O processo ainda é muito incipiente, podendo sofrer novo retrocesso sem aviso prévio e, além disso, está muito longe de recompor os fluxos anteriores de entrada de recursos e está restrito à entrada de capitais estrangeiros de curto prazo. Mas é uma sinalização relevante de que, não se agravando o quadro financeiro internacional, o Brasil preservará sua solidez externa mesmo diante de uma situação tão adversa como a crise atual.
O que falta para consolidar esse quadro mais favorável da economia é uma ação forte do governo onde o impacto negativo da situação externa ainda não foi revertido e os sinais de melhora chegam muito devagar, vale dizer, na questão da disponibilidade e do custo do crédito. Havendo progresso nesse tema, a economia poderá sair mais rápido e de forma mais equilibrada da retração imposta pela atual crise internacional.”
ROUBINI: ''CAPITALISMO SELVAGEM DO OCIDENTE JÁ ESTÁ FALIDO''
Li hoje no site “Vermelho” o seguinte texto de Laura Britt, publicado no Monitor Mercantil:
''Os donos do capital incentivarão a classe trabalhadora a adquirir, cada vez mais, bens caros, casas e tecnologia, impulsionando-a cada vez mais ao caro endividamento, até que sua dívida se torne insuportável'', profetizou Karl Marx, em 1867. O mercado jamais levou seus aforismos a sério. Após 150 anos, Nouriel Roubini chega à mesma conclusão quando convidado a explicar a crise cada vez maior nos mercados e economias do planeta.
''Não são uma crise de crédito ou muito menos a desaceleração econômica as causadoras do problema. Ambas são sintomas de uma correção mais ampla no consumo mundial, algo inevitável após o acúmulo tão grande de dívidas entre 2001 e 2007'', afirma. Roubini usa o termo ''desmanipulação'' do consumo. ''O que observamos no último tempo - destaca - não é apenas o desinflar da bolha de crédito, criada por capitais manipulados (quer dizer, endividamento) dos bancos. É uma ''desmanipulação'', em larga escala, de um modelo de vida. Durante longos anos, os consumidores contraíam dívidas para adquirirem equipamentos elétricos, automóveis, casas, férias e outros bens'', diz.
''Por sua vez, as empresas e os mercados basearam-se nesta demanda ignorando os alicerces (de crédito) podres. Este superendividamento dos consumidores, os bancos alimentavam com capitais ''manipulados'', e surgiu a bolha no mercado norte-americano de imóveis'', continuou. Este foi o motivo que fez com que o professor até então relativamente desconhecido da Universidade de Nova York fosse o primeiro a prever a iminente crise.
''Por isso os bancos não são os únicos responsáveis pela falta de fluxo de liquidez no mercado. Atrás de tudo isso oculta-se a grande ''desmanipulação'' do consumo, que deixa produtos nas prateleiras e depósitos, sem venda, resultando no fato de as empresas suspenderem seus planos de expansão e não buscarem financiamentos nos mercados de crédito'', ressaltou. De acordo com Roubini, ''são os próprios consumidores que retiram seus recursos do consumo e os ''estacionam'' em contas de poupança, e os bancos hesitam atirá-los para a economia real, preocupando-se com a própria suficiência de capital. Isto é, sua possibilidade para cobrir as obrigações de resgate de seus próprios empréstimos''.
''A própria ''desmanipulação'' do consumo, revelada grande pela contração do Produto Interno Bruto (PIB) de duas superpotências exportadoras no quarto trimestre, a do Japão em 12,7% e a de Taiwan em 8,36%, oculta-se também atrás da correção das bolsas de valores'', afirma Roubini. E destaca que ''o mergulho do indicador Dow Jones abaixo das 7.500 unidades comprova que o mercado começa gradualmente a reconhecer a ''desmanipulação'' do consumo''. Paralelamente, diz que ''começa a perceber que Washington não está disposta a distribuir dinheiro público sem pensar''.
Os pontos obscuros do revisado plano de ajuda aos bancos norte-americanos, anunciado há cerca de 20 dias pelo secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, dizem respeito às hesitações do governo Obama de liberar mais dinheiro público para salvar ''papéis queimados''. ''Se o ativo dos bancos norte-americanos fosse desvalorizado com base nos atuais preços no mercado, a maioria deles seria tomadora de empréstimos de alto risco e rumaria para a falência'', comentou Roubini.
Por isso, ele recomenda ao governo Obama estatizá-los com base nos preços atuais de mercado, e assim sanear de forma mais indolor possível seus ativos dos produtos de investimentos e empréstimos tóxicos, e em seguida privatizá-los novamente. ''O capitalismo selvagem do Ocidente fracassou, e por isso o day after deve encontrar os governos dispostos a adotarem medidas drásticas, fora das restrições de doutrinas e percepções e que tenham como finalidade única o enfrentamento da crise'', diz.
''Neste sentido, a Europa, diferenciada do modelo financeiro anglo-saxão, pode desempenhar papel de liderança. Basta encontrar saídas para os seus sérios problemas. A crise é o primeiro teste essencial de resistência da Zona do Euro'', estabelece Roubini.
E, conforme destaca, ''muitos países possuem um setor bancário muito maior do que podem salvar sozinhos, e isto constitui o maior problema para a sobrevivência da União Monetária. O aumento de custo do endividamento para muitos países da Zona do Euro aumenta as pressões para a saída de vários deles da Zona do Euro''. Esta perspectiva pode parecer distante por ora, ''mas se a médio prazo algo não mudar, a dissolução da Zona do Euro não deve ser excluída'', sentencia Roubini, encerrando esta entrevista.”
''Os donos do capital incentivarão a classe trabalhadora a adquirir, cada vez mais, bens caros, casas e tecnologia, impulsionando-a cada vez mais ao caro endividamento, até que sua dívida se torne insuportável'', profetizou Karl Marx, em 1867. O mercado jamais levou seus aforismos a sério. Após 150 anos, Nouriel Roubini chega à mesma conclusão quando convidado a explicar a crise cada vez maior nos mercados e economias do planeta.
''Não são uma crise de crédito ou muito menos a desaceleração econômica as causadoras do problema. Ambas são sintomas de uma correção mais ampla no consumo mundial, algo inevitável após o acúmulo tão grande de dívidas entre 2001 e 2007'', afirma. Roubini usa o termo ''desmanipulação'' do consumo. ''O que observamos no último tempo - destaca - não é apenas o desinflar da bolha de crédito, criada por capitais manipulados (quer dizer, endividamento) dos bancos. É uma ''desmanipulação'', em larga escala, de um modelo de vida. Durante longos anos, os consumidores contraíam dívidas para adquirirem equipamentos elétricos, automóveis, casas, férias e outros bens'', diz.
''Por sua vez, as empresas e os mercados basearam-se nesta demanda ignorando os alicerces (de crédito) podres. Este superendividamento dos consumidores, os bancos alimentavam com capitais ''manipulados'', e surgiu a bolha no mercado norte-americano de imóveis'', continuou. Este foi o motivo que fez com que o professor até então relativamente desconhecido da Universidade de Nova York fosse o primeiro a prever a iminente crise.
''Por isso os bancos não são os únicos responsáveis pela falta de fluxo de liquidez no mercado. Atrás de tudo isso oculta-se a grande ''desmanipulação'' do consumo, que deixa produtos nas prateleiras e depósitos, sem venda, resultando no fato de as empresas suspenderem seus planos de expansão e não buscarem financiamentos nos mercados de crédito'', ressaltou. De acordo com Roubini, ''são os próprios consumidores que retiram seus recursos do consumo e os ''estacionam'' em contas de poupança, e os bancos hesitam atirá-los para a economia real, preocupando-se com a própria suficiência de capital. Isto é, sua possibilidade para cobrir as obrigações de resgate de seus próprios empréstimos''.
''A própria ''desmanipulação'' do consumo, revelada grande pela contração do Produto Interno Bruto (PIB) de duas superpotências exportadoras no quarto trimestre, a do Japão em 12,7% e a de Taiwan em 8,36%, oculta-se também atrás da correção das bolsas de valores'', afirma Roubini. E destaca que ''o mergulho do indicador Dow Jones abaixo das 7.500 unidades comprova que o mercado começa gradualmente a reconhecer a ''desmanipulação'' do consumo''. Paralelamente, diz que ''começa a perceber que Washington não está disposta a distribuir dinheiro público sem pensar''.
Os pontos obscuros do revisado plano de ajuda aos bancos norte-americanos, anunciado há cerca de 20 dias pelo secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, dizem respeito às hesitações do governo Obama de liberar mais dinheiro público para salvar ''papéis queimados''. ''Se o ativo dos bancos norte-americanos fosse desvalorizado com base nos atuais preços no mercado, a maioria deles seria tomadora de empréstimos de alto risco e rumaria para a falência'', comentou Roubini.
Por isso, ele recomenda ao governo Obama estatizá-los com base nos preços atuais de mercado, e assim sanear de forma mais indolor possível seus ativos dos produtos de investimentos e empréstimos tóxicos, e em seguida privatizá-los novamente. ''O capitalismo selvagem do Ocidente fracassou, e por isso o day after deve encontrar os governos dispostos a adotarem medidas drásticas, fora das restrições de doutrinas e percepções e que tenham como finalidade única o enfrentamento da crise'', diz.
''Neste sentido, a Europa, diferenciada do modelo financeiro anglo-saxão, pode desempenhar papel de liderança. Basta encontrar saídas para os seus sérios problemas. A crise é o primeiro teste essencial de resistência da Zona do Euro'', estabelece Roubini.
E, conforme destaca, ''muitos países possuem um setor bancário muito maior do que podem salvar sozinhos, e isto constitui o maior problema para a sobrevivência da União Monetária. O aumento de custo do endividamento para muitos países da Zona do Euro aumenta as pressões para a saída de vários deles da Zona do Euro''. Esta perspectiva pode parecer distante por ora, ''mas se a médio prazo algo não mudar, a dissolução da Zona do Euro não deve ser excluída'', sentencia Roubini, encerrando esta entrevista.”
FANTASMA PEGA COM A MÃO NA CUMBUCA PEDE PARA SAIR
Li hoje no blog “Por um novo Brasil” o seguinte texto que o blog do Josias de Souza ontem publicou:
FILHA DE FHC PEDE DEMISSÃO DO GABINETE DE HERÁCLITO
“Em carta endereçada a Heráclito Fortes (DEM-PI), primeiro-secretário do Senado, Luciana Cardoso pediu demissão.
Luciana é filha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Recebia contracheque do Senado desde 2003. Coisa de R$ 7,6 mensais.
Deveria despachar no gabinete do senador. Mas não dava as caras. Pilhada pela coluna da repórter Mônica Bergamo, Luciana vocalizou emendas que pioraram o soneto.
"Trabalho mais em casa, na casa do senador. Como faço coisas particulares e aquele Senado é uma bagunça e o gabinete é mínimo, eu vou lá de vez em quando”.
Perguntou-se a Luciana se já havia entrado no gabinete de Heráclito. E ela: “Cabe não, meu filho! É um trem mínimo e a bagunça, eterna”.
Na carta a Heráclito, Luciana anotou que decidiu se demitir para “evitar constrangimentos” ao pseudochefe. A certa altura do texto, a filha de FHC escreve:
“Sou testemunha de seus esforços para aprimorar a administração do Senado...”
“...Por isso mesmo, não quero que pairem dúvidas sobre seus propósitos nem sobre minha conduta”.
Em verdade, o afastamento de Luciana livra de “constrangimentos”, além do senador, o pai da demissionária.
Dias antes de Luciana ganhar o noticiário na condição de servidora fantasma, FHC discursara na Associação Comercial de São Paulo.
Discorrera sobre um fenômeno que, na opinião dele, alastra-se sob Lula: a “cupinização” do Estado brasileiro.
Pela lógica, nada poderia deixar FHC mais contrafeito do que ver uma Cardoso na condição de xilófaga, a roer a bolsa da Viúva sem a contrapartida do suor.
Corre no TCU uma representação em que o representante do Ministério Público no Tribunal, Marinus Eduardo Marcico, pede a devolução do dinheiro que o Senado borrifou na conta bancária de Luciana Cardoso.”
FILHA DE FHC PEDE DEMISSÃO DO GABINETE DE HERÁCLITO
“Em carta endereçada a Heráclito Fortes (DEM-PI), primeiro-secretário do Senado, Luciana Cardoso pediu demissão.
Luciana é filha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Recebia contracheque do Senado desde 2003. Coisa de R$ 7,6 mensais.
Deveria despachar no gabinete do senador. Mas não dava as caras. Pilhada pela coluna da repórter Mônica Bergamo, Luciana vocalizou emendas que pioraram o soneto.
"Trabalho mais em casa, na casa do senador. Como faço coisas particulares e aquele Senado é uma bagunça e o gabinete é mínimo, eu vou lá de vez em quando”.
Perguntou-se a Luciana se já havia entrado no gabinete de Heráclito. E ela: “Cabe não, meu filho! É um trem mínimo e a bagunça, eterna”.
Na carta a Heráclito, Luciana anotou que decidiu se demitir para “evitar constrangimentos” ao pseudochefe. A certa altura do texto, a filha de FHC escreve:
“Sou testemunha de seus esforços para aprimorar a administração do Senado...”
“...Por isso mesmo, não quero que pairem dúvidas sobre seus propósitos nem sobre minha conduta”.
Em verdade, o afastamento de Luciana livra de “constrangimentos”, além do senador, o pai da demissionária.
Dias antes de Luciana ganhar o noticiário na condição de servidora fantasma, FHC discursara na Associação Comercial de São Paulo.
Discorrera sobre um fenômeno que, na opinião dele, alastra-se sob Lula: a “cupinização” do Estado brasileiro.
Pela lógica, nada poderia deixar FHC mais contrafeito do que ver uma Cardoso na condição de xilófaga, a roer a bolsa da Viúva sem a contrapartida do suor.
Corre no TCU uma representação em que o representante do Ministério Público no Tribunal, Marinus Eduardo Marcico, pede a devolução do dinheiro que o Senado borrifou na conta bancária de Luciana Cardoso.”
POR QUE O MERCADO DERRUBOU DONA LEITÃO
Li hoje no blog “Grupo Beatrice” o seguinte artigo escrito por Ricardo Berzoini. O autor é presidente nacional do PT, deputado federal por SP e funcionário do Banco do Brasil desde 12/07/1978.
FEBEACON (Festival de Besteira que Assola os Colunistas Neoliberais):
A colunista econômica Mirian Leitão escreveu um artigo, após a mudança de comando no Banco do Brasil, intitulado "Por que a demissão derruba as ações do BB". Conhecida defensora das teses neoliberais que arruinaram o Brasil sob FHC, dona Leitão não se conformava com o exercício, pelo acionista majoritário, do direito de mudar a presidência da empresa. Para dona Leitão, o BB é do "mercado" e os minoritários (que ninguém consultou para saber se seriam contrários à mudança) devem mandar no majoritário.
Curioso é lembrar que, nos casos Encol e Maxblue, não vimos dona Leitão criticar os tucanos (à época legitimamente exercendo o papel de acionista majoritário) pela gestão temerária.
Disse dona Leitão em seu texto: "O Banco do Brasil é empresa de capital aberto. O governo não é o dono, é o maior acionista. Por isso, a demissão assusta e derruba as cotações. O spread bancário é um problema grave, mas o presidente da República não pode administrar um banco de economia mista. É um disparate. Nenhuma intenção de defender o presidente do Banco do Brasil que foi demitido, apenas é preciso entender como a economia funciona: se o BB tem acionistas privados, ele tem que operar com as regras do mercado, buscando lucro e competindo com os outros bancos. Se ele vai ser administrado pelo presidente da República ou pela chefe da Casa Civil, então não pode ter ações no mercado. Ou uma coisa ou outra."
De fato, o governo não é o dono do BB, mas o Estado brasileiro é o acionista amplamente majoritário. Quem compra ações do BB sabe disso, sabe inclusive que é um banco que não quebra. O acionista do BB não corre o risco que atingiu os cotistas do Banco Nacional, do Bamerindus, do Econômico ou do Lehman Brothers. Ele deve sim, óbvio, dar lucro. Mas quem disse que deve dar uma rentabilidade de 30% ao ano? Onde está escrito isso?
Recentemente, o presidente da Petrobrás (não é Petrobrax, como queriam os amigos de dona Leitão), Sérgio Gabrieli, foi incluído entre os finalistas do Premio Platts de Energia, na categoria "CEO do Ano" (executivo-chefe do ano). Gabrieli é filiado ao PT e reconhecido mundialmente como um dos melhores gestores do setor. A Petrobrás é uma das ações mais valorizadas dos últimos seis anos.
Não há contradição em ser uma empresa estatal e ter ações na bolsa. E não há problema quando o acionista majoritário anuncia que tem diretrizes para a empresa que não se restringem à busca de remuneração para os acionistas. Quem compra ações sabe que em qualquer empresa o majoritário manda, no que não contraria as leis e o estatuto da companhia.
Dona Leitão também sabe disso. Mas é preciso criticar o governo Lula. E defender o neoliberalismo.
O problema é que dona Leitão não entende nem mesmo de mercado. Depois de anunciada a mudança no BB, dia 8 de abril, as ações do banco, de fato, caíram 8,15 % no primeiro dia, e 2,8% no segundo. Hoje, no momento em que escrevo esse artigo, as ações estão praticamente no mesmo valor que tinham no dia 7 de abril. Alguns especuladores devem ter vendido ações no dia 8, prevendo já os artigos iluminados dos neoliberais.
Talvez tenham recomprado dias depois, embolsado um lucrinho. Talvez vendam na semana que vem e comprem daqui a um mês. Assim é o mercado.
Mas não pensem que dona Leitão fará autocrítica. Ela prosseguirá dizendo que é preciso cortar os gastos, que o Estado é um mal e que só o mercado salvará a humanidade. Nós, do PT, nunca negamos que o mercado deve ser fortalecido. Em 2002, debatemos com o grupo de diretrizes do mercado de capitais, na BOVESPA, as medidas que o governo Lula tomaria para fortalecer as regras e o funcionamento do mercado acionário e de títulos. Nós entendemos de mercado. E sabemos que as flutuações momentâneas só enganam os tolos. E alimentam os discursos dos "espertos".
Mas nós, do PT, sempre dissemos o que agora parece claro, até para alguns liberais. Sem um poder público forte, democrático e transparente, que regule e supervisione o mercado e atue em certas áreas diretamente, a conta vai para o povo, que sofre as consequências da esperteza alheia.
Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) era funcionário do BB. Grande escriba, produziu o FEBEAPA, coletânea de crônicas sobre o Festival de Besteira que Assola o País. Se estivesse vivo, poderia escrever o FEBEACON (Festival de Besteira que Assola os Colunistas Neoliberais).”
FEBEACON (Festival de Besteira que Assola os Colunistas Neoliberais):
A colunista econômica Mirian Leitão escreveu um artigo, após a mudança de comando no Banco do Brasil, intitulado "Por que a demissão derruba as ações do BB". Conhecida defensora das teses neoliberais que arruinaram o Brasil sob FHC, dona Leitão não se conformava com o exercício, pelo acionista majoritário, do direito de mudar a presidência da empresa. Para dona Leitão, o BB é do "mercado" e os minoritários (que ninguém consultou para saber se seriam contrários à mudança) devem mandar no majoritário.
Curioso é lembrar que, nos casos Encol e Maxblue, não vimos dona Leitão criticar os tucanos (à época legitimamente exercendo o papel de acionista majoritário) pela gestão temerária.
Disse dona Leitão em seu texto: "O Banco do Brasil é empresa de capital aberto. O governo não é o dono, é o maior acionista. Por isso, a demissão assusta e derruba as cotações. O spread bancário é um problema grave, mas o presidente da República não pode administrar um banco de economia mista. É um disparate. Nenhuma intenção de defender o presidente do Banco do Brasil que foi demitido, apenas é preciso entender como a economia funciona: se o BB tem acionistas privados, ele tem que operar com as regras do mercado, buscando lucro e competindo com os outros bancos. Se ele vai ser administrado pelo presidente da República ou pela chefe da Casa Civil, então não pode ter ações no mercado. Ou uma coisa ou outra."
De fato, o governo não é o dono do BB, mas o Estado brasileiro é o acionista amplamente majoritário. Quem compra ações do BB sabe disso, sabe inclusive que é um banco que não quebra. O acionista do BB não corre o risco que atingiu os cotistas do Banco Nacional, do Bamerindus, do Econômico ou do Lehman Brothers. Ele deve sim, óbvio, dar lucro. Mas quem disse que deve dar uma rentabilidade de 30% ao ano? Onde está escrito isso?
Recentemente, o presidente da Petrobrás (não é Petrobrax, como queriam os amigos de dona Leitão), Sérgio Gabrieli, foi incluído entre os finalistas do Premio Platts de Energia, na categoria "CEO do Ano" (executivo-chefe do ano). Gabrieli é filiado ao PT e reconhecido mundialmente como um dos melhores gestores do setor. A Petrobrás é uma das ações mais valorizadas dos últimos seis anos.
Não há contradição em ser uma empresa estatal e ter ações na bolsa. E não há problema quando o acionista majoritário anuncia que tem diretrizes para a empresa que não se restringem à busca de remuneração para os acionistas. Quem compra ações sabe que em qualquer empresa o majoritário manda, no que não contraria as leis e o estatuto da companhia.
Dona Leitão também sabe disso. Mas é preciso criticar o governo Lula. E defender o neoliberalismo.
O problema é que dona Leitão não entende nem mesmo de mercado. Depois de anunciada a mudança no BB, dia 8 de abril, as ações do banco, de fato, caíram 8,15 % no primeiro dia, e 2,8% no segundo. Hoje, no momento em que escrevo esse artigo, as ações estão praticamente no mesmo valor que tinham no dia 7 de abril. Alguns especuladores devem ter vendido ações no dia 8, prevendo já os artigos iluminados dos neoliberais.
Talvez tenham recomprado dias depois, embolsado um lucrinho. Talvez vendam na semana que vem e comprem daqui a um mês. Assim é o mercado.
Mas não pensem que dona Leitão fará autocrítica. Ela prosseguirá dizendo que é preciso cortar os gastos, que o Estado é um mal e que só o mercado salvará a humanidade. Nós, do PT, nunca negamos que o mercado deve ser fortalecido. Em 2002, debatemos com o grupo de diretrizes do mercado de capitais, na BOVESPA, as medidas que o governo Lula tomaria para fortalecer as regras e o funcionamento do mercado acionário e de títulos. Nós entendemos de mercado. E sabemos que as flutuações momentâneas só enganam os tolos. E alimentam os discursos dos "espertos".
Mas nós, do PT, sempre dissemos o que agora parece claro, até para alguns liberais. Sem um poder público forte, democrático e transparente, que regule e supervisione o mercado e atue em certas áreas diretamente, a conta vai para o povo, que sofre as consequências da esperteza alheia.
Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) era funcionário do BB. Grande escriba, produziu o FEBEAPA, coletânea de crônicas sobre o Festival de Besteira que Assola o País. Se estivesse vivo, poderia escrever o FEBEACON (Festival de Besteira que Assola os Colunistas Neoliberais).”
O FUTURO DO BRASIL É A AMÉRICA LATINA
Li ontem no blog do jornalista Luis Nassif a seguinte entrevista do embaixador na Argentina, José Botafogo Gonçalves, para Ariel Palácios do Estadão:
AS RELAÇÕES COMERCIAIS
“O nível de relacionamento é hoje muito intenso. Existe grande crescimento no setor dos investimentos das indústrias brasileiras na Argentina. Além disso, o país tem significativo consumo de produtos brasileiros. No mercado argentino, o Brasil consegue até competir com produtos da China. Além disso, as relações financeiras são intensas. E mesmo no setor agropecuário, por exemplo, vemos os casos de vários frigoríficos que atualmente estão em mãos brasileiras na Argentina. Tudo isso faz com que as relações entre os dois países não sejam resolvidas apenas pelo aspecto comercial de uma série de produtos, os chamados produtos sensíveis. Mas, ainda que seja compreensível essa atitude, falta, em ambos lados, uma visão integracionista.
A DESCOORDENAÇÃO NOS FÓRUNS
Na época em que eu estava no governo, o Mercosul falava com uma só voz, tinha representação unificada. Mas, no caso da OMC, jamais os quatro países aceitaram falar com uma única voz. O bloco jamais se fez presente em Genebra. Cada um fala por sua conta.
As relações com a China e a Índia devem ser vistas a longo prazo. Isso ainda não foi decidido no Brasil. Há uma crescente discussão, muitas vezes atada ao curto prazo. Quando se fala em China, as pessoas logo pensam em invasão de produtos chineses. Não se pensa a longo prazo.
SOBRE O G-20
O G-20 tem uma perspectiva interessante. Veja que há uma proliferação de “Gs”. É que o mundo está se reestruturando. Não dá para organizar o mundo ao redor dos grupos de antes. Por isso, os Brics (grupo que reúne o Brasil, Rússia, Índia e China) ocuparão cada vez mais espaço.
SOBRE BRASIL E AMÉRICA DO SUL
O teatro das operações da diplomacia brasileira no século 21 será a América do Sul.
O crescimento da economia do Brasil se intensificará mais ainda. Mesmo que a integração seja exasperadamente lenta, o Mercosul é uma unidade que vai se preservar. E os dois países associados ao Mercosul, o Chile e a Bolívia, vão gravitar ao redor do Mercosul. No caso da Venezuela, enquanto estiver a política bolivariana de Hugo Chávez, as coisas serão complicadas. O Brasil não tem nada de anti-Venezuela. Mas é o presidente Hugo Chávez que tem uma política anti-integração. Ele é quem não quer saber nada de mercado.”
AS RELAÇÕES COMERCIAIS
“O nível de relacionamento é hoje muito intenso. Existe grande crescimento no setor dos investimentos das indústrias brasileiras na Argentina. Além disso, o país tem significativo consumo de produtos brasileiros. No mercado argentino, o Brasil consegue até competir com produtos da China. Além disso, as relações financeiras são intensas. E mesmo no setor agropecuário, por exemplo, vemos os casos de vários frigoríficos que atualmente estão em mãos brasileiras na Argentina. Tudo isso faz com que as relações entre os dois países não sejam resolvidas apenas pelo aspecto comercial de uma série de produtos, os chamados produtos sensíveis. Mas, ainda que seja compreensível essa atitude, falta, em ambos lados, uma visão integracionista.
A DESCOORDENAÇÃO NOS FÓRUNS
Na época em que eu estava no governo, o Mercosul falava com uma só voz, tinha representação unificada. Mas, no caso da OMC, jamais os quatro países aceitaram falar com uma única voz. O bloco jamais se fez presente em Genebra. Cada um fala por sua conta.
As relações com a China e a Índia devem ser vistas a longo prazo. Isso ainda não foi decidido no Brasil. Há uma crescente discussão, muitas vezes atada ao curto prazo. Quando se fala em China, as pessoas logo pensam em invasão de produtos chineses. Não se pensa a longo prazo.
SOBRE O G-20
O G-20 tem uma perspectiva interessante. Veja que há uma proliferação de “Gs”. É que o mundo está se reestruturando. Não dá para organizar o mundo ao redor dos grupos de antes. Por isso, os Brics (grupo que reúne o Brasil, Rússia, Índia e China) ocuparão cada vez mais espaço.
SOBRE BRASIL E AMÉRICA DO SUL
O teatro das operações da diplomacia brasileira no século 21 será a América do Sul.
O crescimento da economia do Brasil se intensificará mais ainda. Mesmo que a integração seja exasperadamente lenta, o Mercosul é uma unidade que vai se preservar. E os dois países associados ao Mercosul, o Chile e a Bolívia, vão gravitar ao redor do Mercosul. No caso da Venezuela, enquanto estiver a política bolivariana de Hugo Chávez, as coisas serão complicadas. O Brasil não tem nada de anti-Venezuela. Mas é o presidente Hugo Chávez que tem uma política anti-integração. Ele é quem não quer saber nada de mercado.”
SUPERÁVIT COMERCIAL ACUMULADO É 35,7% MAIOR QUE EM 2008
Li hoje no blog do Favre o seguinte texto de Renata Veríssimo, do jornal O Estado de São Paulo:
“O superávit da balança comercial acumulado no ano, até a quarta semana de abril, totaliza US$ 5,56 bilhões, 35,7% maior que no mesmo período do ano passado, quando fechou em US$ 4,09 bilhões. O resultado deve-se à retração do comércio mundial, que levou a uma queda nas exportações e nas importações brasileiras. As vendas externas, no período, caíram 17,3% pela média diária, totalizando US$ 40,67 bilhões. Já as importações diminuíram 22,3%, somando US$ 35,11bilhões.
Somente na quarta semana de abril, cujos dados foram divulgados ontem, a balança comercial apresentou exportações de US$ 2,49 bilhões e importações de US$ 1,61 bilhão, produzindo um superávit de US$ 880 milhões. Com isso, as vendas externas somam US$ 9,49 bilhões no acumulado deste mês e as importações, US$ 6,95 bilhões, com superávit de US$ 2,54 bilhões. Em relação a abril do ano passado, a média diária das exportações, de US$ 593,4 milhões, caiu 11,4%. A média das importações, de US$ 434,3 milhões, diminuiu 26%.
Os produtos básicos são os únicos a apresentar expansão nas exportações brasileiras em abril. Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, a média diária das vendas externas de básicos, até a quarta semana deste mês, cresceu 25% em relação à média diária de abril de 2008. Os destaques são as vendas de petróleo em bruto, minério de ferro, algodão em bruto, farelo de soja, carne de frango e soja em grão.
As vendas de manufaturados caíram 29,9% no mesmo período e as exportações de semimanufaturados recuaram 24,8%. Nas importações, houve redução nas compras de adubos e fertilizantes, combustíveis e lubrificantes, borracha e obras, aeronaves e peças e equipamentos eletroeletrônicos.”
“O superávit da balança comercial acumulado no ano, até a quarta semana de abril, totaliza US$ 5,56 bilhões, 35,7% maior que no mesmo período do ano passado, quando fechou em US$ 4,09 bilhões. O resultado deve-se à retração do comércio mundial, que levou a uma queda nas exportações e nas importações brasileiras. As vendas externas, no período, caíram 17,3% pela média diária, totalizando US$ 40,67 bilhões. Já as importações diminuíram 22,3%, somando US$ 35,11bilhões.
Somente na quarta semana de abril, cujos dados foram divulgados ontem, a balança comercial apresentou exportações de US$ 2,49 bilhões e importações de US$ 1,61 bilhão, produzindo um superávit de US$ 880 milhões. Com isso, as vendas externas somam US$ 9,49 bilhões no acumulado deste mês e as importações, US$ 6,95 bilhões, com superávit de US$ 2,54 bilhões. Em relação a abril do ano passado, a média diária das exportações, de US$ 593,4 milhões, caiu 11,4%. A média das importações, de US$ 434,3 milhões, diminuiu 26%.
Os produtos básicos são os únicos a apresentar expansão nas exportações brasileiras em abril. Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, a média diária das vendas externas de básicos, até a quarta semana deste mês, cresceu 25% em relação à média diária de abril de 2008. Os destaques são as vendas de petróleo em bruto, minério de ferro, algodão em bruto, farelo de soja, carne de frango e soja em grão.
As vendas de manufaturados caíram 29,9% no mesmo período e as exportações de semimanufaturados recuaram 24,8%. Nas importações, houve redução nas compras de adubos e fertilizantes, combustíveis e lubrificantes, borracha e obras, aeronaves e peças e equipamentos eletroeletrônicos.”
terça-feira, 28 de abril de 2009
LULA DIZ QUE PÂNICO CONTAMINOU ECONOMIA BRASILEIRA
Li hoje no site “Vermelho”:
"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na segunda-feira que o pânico de uma parcela da população foi uma das causas da contaminação da economia brasileira pela crise financeira global. Para o presidente, notícias sobre a situação dos Estados Unidos, Europa e Japão influenciaram os consumidores.
Em seu programa semanal de rádio, o presidente disse que, “sem nenhum otimismo”, vê melhora na situação da economia brasileira. Para ele, o fato é reconhecido também por instituições multilaterais de financiamento, por governos e pelo sistema financeiro internacional.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (27) que, “sem nenhum otimismo”, vê melhora na situação da economia brasileira. “Estamos mostrando que o Brasil estava mais preparado”, disse Lula em seu programa semanal de rádio Café com o Presidente. Para ele, o fato é reconhecido também por instituições multilaterais de financiamento, por governos e pelo sistema financeiro internacional.
“Precisamos ter tranqüilidade, continuar trabalhando com muita seriedade, saber que a crise é profunda, que é delicada e que o Brasil precisa continuar agindo da forma que está agindo para que a gente sofra menos e possa sair rapidamente dela, fazendo com que o Brasil dê um salto de qualidade.”
De acordo com o presidente, dados apresentados pela indústria automobilística brasileira – que apresentou produção maior em março deste ano do que no mesmo período do ano passado – justificam a recuperação da economia. Ele destacou ainda a decisão de que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) passem a funcionar em dois turnos, alternativa que ajudou a gerar empregos.
Para Lula, o que existe são “medidas concretas” para motivar o brasileiro a consumir, o comércio a vender e a indústria a produzir. Ele admitiu, entretanto, estar “torcendo” para que a crise nos Estados Unidos, na Europa e no Japão diminua, uma vez que representam grandes exportadores, produtores e consumidores.
“Se eles estiverem bem, a economia mundial tende a estar melhor. E o Brasil, eu posso assegurar, continua sendo um país com maiores possibilidades de sair dessa crise muito fortalecido.”
LEIA ABAIXO A ÍNTEGRA DO PROGRAMA CAFÉ COM O PRESIDENTE DESTA SEGUNDA-FEIRA:
PRESIDENTE LULA FAZ ANÁLISE DO ATUAL MOMENTO ECONÔMICO
APRESENTADOR: OLÁ VOCÊ EM TODO O BRASIL. EU SOU LUCIANO SEIXAS E COMEÇA AGORA O PROGRAMA CAFÉ COM O PRESIDENTE, O PROGRAMA DE RÁDIO DO PRESIDENTE LULA. OLÁ, PRESIDENTE, COMO VAI? TUDO BEM?
Presidente: Tudo bem, Luciano.
APRESENTADOR: PRESIDENTE, ALGUNS INDICADORES ECONÔMICOS MOSTRAM QUE O BRASIL DÁ SINAIS DE MELHORA. PODEMOS AFIRMAR QUE O PAÍS ENTROU EM UM PROCESSO DE RECUPERAÇÃO?
Presidente: Luciano, primeiro é sempre importante a gente reiterar ao povo brasileiro que a crise chegou ao Brasil mais tarde do que chegou em outros países e a crise chegou, eu diria, muito mais por conta da ausência de crédito no mercado internacional.
Nós tínhamos trinta por cento do crédito brasileiro tomado em dólares por empresas brasileiras, e que de repente esses dólares desapareceram, as empresas brasileiras se voltaram para o mercado interno, e nós não tínhamos dinheiro pra todo mundo. Além disso, os bancos ficaram seletivos e, pelo fato de ficarem seletivos, eles começaram a fazer mais exigências para evitar riscos e aumentaram o spread bancário. Isso causou um problema muito sério. Uma outra coisa que aconteceu, e que eu não canso de repetir, é que houve um pânico na sociedade.
Ou seja, de tanto se falar em crise e mostrar o que estava acontecendo nos Estados Unidos, na Europa, no Japão, houve, por parte de uma parte dos brasileiros, um certo bloqueio na compra de produtos que numa situação normal eles continuariam comprando.
Ora, quando o governo se deu conta disso, o governo tomou todas as medidas necessárias para que a crise fosse amenizada e começássemos a estirpar a crise no Brasil. Você está lembrado que nós tomamos a primeira medida de liberar o compulsório para que melhorássemos o financiamento, depois nós aportamos cem bilhões de reais ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), depois nós tomamos medida para ajudar a indústria automobilística voltar a produzir e, consequentemente, voltar a vender, porque esse era um problema sério.
O Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa em São Paulo, comprou cinqüenta por cento do Banco Votorantim. Colocamos dinheiro para ajudar os bancos pequenos a voltarem a funcionar o setor produtivo, sobretudo o capital de giro, colocamos dinheiro na agricultura brasileira, mantivemos todas as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e aumentamos os investimentos da Petrobras, numa demonstração de que era necessário para enfrentar a crise fazermos mais investimentos, termos mais ousadia do que se teve em qualquer outro momento da história do Brasil.
Você está lembrado que acabamos de lançar um programa habitacional de um milhão de casas para ajudar a reativar a indústria da construção civil e, ao mesmo tempo, para diminuir o déficit habitacional no Brasil.
Essas coisas são extremamente importantes, porque, antigamente, quando tinha uma crise, o quê acontecia? Acontecia que o governo parava de investir, aí aumentava-se juro, aumentava-se spread bancário, ou seja, e o Brasil entrava em crise porque diminuiu o emprego. Nós tomamos todas as medidas para evitar que isso acontecesse. Nós estamos, sem nenhum otimismo, vendo melhoras na situação da economia brasileira.
APRESENTADOR: VOCÊ ESTÁ OUVINDO O CAFÉ COM O PRESIDENTE, O PROGRAMA DE RÁDIO DO PRESIDENTE LULA, HOJE FAZENDO UMA AVALIAÇÃO DA ECONOMIA. PRESIDENTE, O SENHOR MOSTROU AÍ UM RETRATO DE COMO A CRISE ATINGIU O NOSSO PAÍS E AS MEDIDAS ADOTADAS PARA FORTALECER O BRASIL. QUE NÚMEROS MOSTRAM A MELHORA DA ECONOMIA?
Presidente: Olha, os números que mostram a melhora da economia são, por exemplo, a indústria automobilística brasileira. Ela voltou a produzir em março mais do que ela produziu em março do ano passado.
A Caixa Econômica Federal contratou no primeiro trimestre o dobro do que ela contratou no primeiro trimestre do ano passado. Os programas que nós lançamos, e o fato de nós termos decidido que várias obras do PAC vão começar a trabalhar em dois turnos, pra gente gerar mais empregos, e o crescimento do varejo, ou seja, o varejo no Brasil não decresceu. Ele cresceu. As pessoas estão comprando.
Mais recentemente nós anunciamos a redução de imposto para geladeira, fogão, ou seja, numa demonstração de que o governo está com muita disposição de fazer com que a economia volte a crescer rapidamente, porque não existe milagre. O que existe são medidas concretas para motivar o consumidor brasileiro a consumir, o comércio vender e a indústria produzir. Isso vai gerar emprego, vai gerar renda.
Obviamente, que, ao mesmo tempo, Luciano, nós estamos torcendo para que a crise nos Estados Unidos diminua, para que a crise na Europa diminua, para que a crise no Japão diminua, porque são países, sabe, grandes exportadores, grandes produtores, grandes consumidores, e se eles estiverem bem, a economia mundial tende a estar melhor.
E o Brasil, eu posso assegurar, continua sendo um país com maiores possibilidades de sair dessa crise muito fortalecido, porque a crise chegou aqui, mas não chegou na intensidade que ela está nos Estados Unidos ou que ela está na Europa. Ou seja, nós estamos mostrando que o Brasil estava mais preparado.
E isso não é reconhecido por mim. Isso é reconhecido por todas as instituições multilaterais de financiamento, é conhecido por todos os governos, é conhecido pelo sistema financeiro internacional, de forma que nós precisamos ter tranqüilidade, continuar trabalhando com muita seriedade, saber que a crise é profunda, que é delicada e que o Brasil precisa continuar agindo da forma que está agindo para que a gente sofra menos e possa sair rapidamente dela, fazendo com que o Brasil dê um salto de qualidade.
APRESENTADOR: MUITO OBRIGADO PRESIDENTE LULA. ATÉ A SEMANA QUE VEM.
Presidente: Obrigado, você, Luciano, e até a próxima semana”.
"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na segunda-feira que o pânico de uma parcela da população foi uma das causas da contaminação da economia brasileira pela crise financeira global. Para o presidente, notícias sobre a situação dos Estados Unidos, Europa e Japão influenciaram os consumidores.
Em seu programa semanal de rádio, o presidente disse que, “sem nenhum otimismo”, vê melhora na situação da economia brasileira. Para ele, o fato é reconhecido também por instituições multilaterais de financiamento, por governos e pelo sistema financeiro internacional.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (27) que, “sem nenhum otimismo”, vê melhora na situação da economia brasileira. “Estamos mostrando que o Brasil estava mais preparado”, disse Lula em seu programa semanal de rádio Café com o Presidente. Para ele, o fato é reconhecido também por instituições multilaterais de financiamento, por governos e pelo sistema financeiro internacional.
“Precisamos ter tranqüilidade, continuar trabalhando com muita seriedade, saber que a crise é profunda, que é delicada e que o Brasil precisa continuar agindo da forma que está agindo para que a gente sofra menos e possa sair rapidamente dela, fazendo com que o Brasil dê um salto de qualidade.”
De acordo com o presidente, dados apresentados pela indústria automobilística brasileira – que apresentou produção maior em março deste ano do que no mesmo período do ano passado – justificam a recuperação da economia. Ele destacou ainda a decisão de que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) passem a funcionar em dois turnos, alternativa que ajudou a gerar empregos.
Para Lula, o que existe são “medidas concretas” para motivar o brasileiro a consumir, o comércio a vender e a indústria a produzir. Ele admitiu, entretanto, estar “torcendo” para que a crise nos Estados Unidos, na Europa e no Japão diminua, uma vez que representam grandes exportadores, produtores e consumidores.
“Se eles estiverem bem, a economia mundial tende a estar melhor. E o Brasil, eu posso assegurar, continua sendo um país com maiores possibilidades de sair dessa crise muito fortalecido.”
LEIA ABAIXO A ÍNTEGRA DO PROGRAMA CAFÉ COM O PRESIDENTE DESTA SEGUNDA-FEIRA:
PRESIDENTE LULA FAZ ANÁLISE DO ATUAL MOMENTO ECONÔMICO
APRESENTADOR: OLÁ VOCÊ EM TODO O BRASIL. EU SOU LUCIANO SEIXAS E COMEÇA AGORA O PROGRAMA CAFÉ COM O PRESIDENTE, O PROGRAMA DE RÁDIO DO PRESIDENTE LULA. OLÁ, PRESIDENTE, COMO VAI? TUDO BEM?
Presidente: Tudo bem, Luciano.
APRESENTADOR: PRESIDENTE, ALGUNS INDICADORES ECONÔMICOS MOSTRAM QUE O BRASIL DÁ SINAIS DE MELHORA. PODEMOS AFIRMAR QUE O PAÍS ENTROU EM UM PROCESSO DE RECUPERAÇÃO?
Presidente: Luciano, primeiro é sempre importante a gente reiterar ao povo brasileiro que a crise chegou ao Brasil mais tarde do que chegou em outros países e a crise chegou, eu diria, muito mais por conta da ausência de crédito no mercado internacional.
Nós tínhamos trinta por cento do crédito brasileiro tomado em dólares por empresas brasileiras, e que de repente esses dólares desapareceram, as empresas brasileiras se voltaram para o mercado interno, e nós não tínhamos dinheiro pra todo mundo. Além disso, os bancos ficaram seletivos e, pelo fato de ficarem seletivos, eles começaram a fazer mais exigências para evitar riscos e aumentaram o spread bancário. Isso causou um problema muito sério. Uma outra coisa que aconteceu, e que eu não canso de repetir, é que houve um pânico na sociedade.
Ou seja, de tanto se falar em crise e mostrar o que estava acontecendo nos Estados Unidos, na Europa, no Japão, houve, por parte de uma parte dos brasileiros, um certo bloqueio na compra de produtos que numa situação normal eles continuariam comprando.
Ora, quando o governo se deu conta disso, o governo tomou todas as medidas necessárias para que a crise fosse amenizada e começássemos a estirpar a crise no Brasil. Você está lembrado que nós tomamos a primeira medida de liberar o compulsório para que melhorássemos o financiamento, depois nós aportamos cem bilhões de reais ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), depois nós tomamos medida para ajudar a indústria automobilística voltar a produzir e, consequentemente, voltar a vender, porque esse era um problema sério.
O Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa em São Paulo, comprou cinqüenta por cento do Banco Votorantim. Colocamos dinheiro para ajudar os bancos pequenos a voltarem a funcionar o setor produtivo, sobretudo o capital de giro, colocamos dinheiro na agricultura brasileira, mantivemos todas as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e aumentamos os investimentos da Petrobras, numa demonstração de que era necessário para enfrentar a crise fazermos mais investimentos, termos mais ousadia do que se teve em qualquer outro momento da história do Brasil.
Você está lembrado que acabamos de lançar um programa habitacional de um milhão de casas para ajudar a reativar a indústria da construção civil e, ao mesmo tempo, para diminuir o déficit habitacional no Brasil.
Essas coisas são extremamente importantes, porque, antigamente, quando tinha uma crise, o quê acontecia? Acontecia que o governo parava de investir, aí aumentava-se juro, aumentava-se spread bancário, ou seja, e o Brasil entrava em crise porque diminuiu o emprego. Nós tomamos todas as medidas para evitar que isso acontecesse. Nós estamos, sem nenhum otimismo, vendo melhoras na situação da economia brasileira.
APRESENTADOR: VOCÊ ESTÁ OUVINDO O CAFÉ COM O PRESIDENTE, O PROGRAMA DE RÁDIO DO PRESIDENTE LULA, HOJE FAZENDO UMA AVALIAÇÃO DA ECONOMIA. PRESIDENTE, O SENHOR MOSTROU AÍ UM RETRATO DE COMO A CRISE ATINGIU O NOSSO PAÍS E AS MEDIDAS ADOTADAS PARA FORTALECER O BRASIL. QUE NÚMEROS MOSTRAM A MELHORA DA ECONOMIA?
Presidente: Olha, os números que mostram a melhora da economia são, por exemplo, a indústria automobilística brasileira. Ela voltou a produzir em março mais do que ela produziu em março do ano passado.
A Caixa Econômica Federal contratou no primeiro trimestre o dobro do que ela contratou no primeiro trimestre do ano passado. Os programas que nós lançamos, e o fato de nós termos decidido que várias obras do PAC vão começar a trabalhar em dois turnos, pra gente gerar mais empregos, e o crescimento do varejo, ou seja, o varejo no Brasil não decresceu. Ele cresceu. As pessoas estão comprando.
Mais recentemente nós anunciamos a redução de imposto para geladeira, fogão, ou seja, numa demonstração de que o governo está com muita disposição de fazer com que a economia volte a crescer rapidamente, porque não existe milagre. O que existe são medidas concretas para motivar o consumidor brasileiro a consumir, o comércio vender e a indústria produzir. Isso vai gerar emprego, vai gerar renda.
Obviamente, que, ao mesmo tempo, Luciano, nós estamos torcendo para que a crise nos Estados Unidos diminua, para que a crise na Europa diminua, para que a crise no Japão diminua, porque são países, sabe, grandes exportadores, grandes produtores, grandes consumidores, e se eles estiverem bem, a economia mundial tende a estar melhor.
E o Brasil, eu posso assegurar, continua sendo um país com maiores possibilidades de sair dessa crise muito fortalecido, porque a crise chegou aqui, mas não chegou na intensidade que ela está nos Estados Unidos ou que ela está na Europa. Ou seja, nós estamos mostrando que o Brasil estava mais preparado.
E isso não é reconhecido por mim. Isso é reconhecido por todas as instituições multilaterais de financiamento, é conhecido por todos os governos, é conhecido pelo sistema financeiro internacional, de forma que nós precisamos ter tranqüilidade, continuar trabalhando com muita seriedade, saber que a crise é profunda, que é delicada e que o Brasil precisa continuar agindo da forma que está agindo para que a gente sofra menos e possa sair rapidamente dela, fazendo com que o Brasil dê um salto de qualidade.
APRESENTADOR: MUITO OBRIGADO PRESIDENTE LULA. ATÉ A SEMANA QUE VEM.
Presidente: Obrigado, você, Luciano, e até a próxima semana”.
CALIFÓRNIA DÁ AVAL AO ETANOL FEITO DE CANA
Li hoje no blog do Luis Favre:
"O governo da Califórnia aprovou, na quinta-feira à noite, a regulamentação de um Padrão de Combustível de Baixa Emissão de Carbono (ou LCFS), que reconhece a redução nas emissões de carbono proporcionadas pelo etanol à base de cana. A decisão do Conselho de Qualidade do Ar do Estado da Califórnia (CARB) deverá beneficiar diretamente o etanol brasileiro.
O anúncio foi comemorado pelas usinas de álcool do país, uma vez que deverá favorecer o acesso do etanol brasileiro nos EUA, os maiores produtores de álcool à base de milho, de acordo com a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar). Os EUA são os maiores importadores do combustível brasileiro. No ano passado, o país exportou cerca de 5 bilhões de litros, dos quais dois terços tiveram como destino o mercado americano.
Nos EUA, a decisão não agradou a Associação dos Combustíveis Renováveis (RFA , na sigla em inglês). Para o presidente da associação, Bob Dinneen, a aprovação desta decisão estabelece um “perigoso precedente sobre a aplicação de uma ciência não provada em todo o país”.
"O governo da Califórnia aprovou, na quinta-feira à noite, a regulamentação de um Padrão de Combustível de Baixa Emissão de Carbono (ou LCFS), que reconhece a redução nas emissões de carbono proporcionadas pelo etanol à base de cana. A decisão do Conselho de Qualidade do Ar do Estado da Califórnia (CARB) deverá beneficiar diretamente o etanol brasileiro.
O anúncio foi comemorado pelas usinas de álcool do país, uma vez que deverá favorecer o acesso do etanol brasileiro nos EUA, os maiores produtores de álcool à base de milho, de acordo com a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar). Os EUA são os maiores importadores do combustível brasileiro. No ano passado, o país exportou cerca de 5 bilhões de litros, dos quais dois terços tiveram como destino o mercado americano.
Nos EUA, a decisão não agradou a Associação dos Combustíveis Renováveis (RFA , na sigla em inglês). Para o presidente da associação, Bob Dinneen, a aprovação desta decisão estabelece um “perigoso precedente sobre a aplicação de uma ciência não provada em todo o país”.
O BRASIL REARMA A DEFESA
A revista Isto É Dinheiro desta semana publicou a seguinte reportagem:
“COM NOVAS ENCOMENDAS DAS FORÇAS ARMADAS E DO EXTERIOR, INDÚSTRIA NACIONAL DE MATERIAL BÉLICO DÁ SINAIS DE RETOMADA
“Uma série de lançamentos movimentou a indústria brasileira de defesa nos últimos dias, indicando que a ambiciosa Estratégia Nacional de defesa, lançada pelos ministros Nelson Jobim e Mangabeira Unger no final do ano passado, começa a tirar o setor do atoleiro em que se encontrava. Prova disso é o recente e portentoso contrato de US$ 1,3 bilhão que a Embraer fechou com a Força Aérea para o desenvolvimento de uma nova aeronave de transporte militar, o KC-390, além de um pacote de modernização de 12 caças da Marinha, no valor de US$ 140 milhões. O novo cargueiro a ser produzido pela empresa de São José dos Campos é uma antiga reivindicação dos militares, que já viam os antigos Hércules defasados. Bom para a Força Aérea, melhor para o setor. O contrato abrirá a possibilidade de a Embraer competir em um mercado estimado em US$ 18 bilhões e 700 aeronaves, num prazo de dez anos. E outros pacotes devem vir por aí. “É uma fase de mudanças que mostram que a Estratégia Nacional de defesa não veio para ficar no papel”, disse Jobim, no encerramento da Feira Latino- Americana da Indústria Aeroespacial e de defesa (Laad), realizada no Rio de Janeiro, há duas semanas.
Também em São José dos Campos, outra empresa aproveita a boa fase. A Avibras, única fabricante nacional de sistemas de artilharia e que já foi dada como falida, conseguiu ressurgir no setor com contratos internacionais, como um de R$ 500 milhões com a Malásia. Ainda às voltas com o processo judicial que poderá passar ao governo 30% do controle da empresa, a Avibras está investindo também em contratos nacionais. Há poucos dias, a empresa recebeu R$ 18 milhões para desenvolver um veículo aéreo não tripulado. Outros R$ 80 milhões deverão ser aplicados para tirar o projeto da prancheta e desbravar um mercado avaliado em US$ 8 bilhões por ano. No setor de blindados a previsão também é auspiciosa. O desenvolvimento do novo Urutu – que nos anos 1970, produzido pela extinta Engesa, transformou-se num sucesso internacional de vendas -- pela Iveco, apresentado também na Laad, começa a atrair outros players para o setor. Apesar de não comentar oficialmente os valores da negociação, a Iveco, do Grupo Fiat, deve receber cerca de US$ 1,8 milhão por cada uma das 17 unidades que serão compradas pelo Exército. O primeiro protótipo já está sendo construído na fábrica de Sete Lagoas, em Minas Gerais, e deve ficar pronto em 2010, a tempo de participar da parada de 7 de setembro. Até 2011, os outros blindados serão entregues. Em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, a Agrale tem colocado a sua linha de jipes militares Marruá em grandes contratos. Cerca de 250 unidades foram vendidas à Marinha no ano passado e há negociações com a Argentina e o Equador. “Também estamos em estágio avançado com o Peru e a Colômbia”, afirma Flavio Crossa, diretor de vendas e marketing da Agrale.”
“COM NOVAS ENCOMENDAS DAS FORÇAS ARMADAS E DO EXTERIOR, INDÚSTRIA NACIONAL DE MATERIAL BÉLICO DÁ SINAIS DE RETOMADA
“Uma série de lançamentos movimentou a indústria brasileira de defesa nos últimos dias, indicando que a ambiciosa Estratégia Nacional de defesa, lançada pelos ministros Nelson Jobim e Mangabeira Unger no final do ano passado, começa a tirar o setor do atoleiro em que se encontrava. Prova disso é o recente e portentoso contrato de US$ 1,3 bilhão que a Embraer fechou com a Força Aérea para o desenvolvimento de uma nova aeronave de transporte militar, o KC-390, além de um pacote de modernização de 12 caças da Marinha, no valor de US$ 140 milhões. O novo cargueiro a ser produzido pela empresa de São José dos Campos é uma antiga reivindicação dos militares, que já viam os antigos Hércules defasados. Bom para a Força Aérea, melhor para o setor. O contrato abrirá a possibilidade de a Embraer competir em um mercado estimado em US$ 18 bilhões e 700 aeronaves, num prazo de dez anos. E outros pacotes devem vir por aí. “É uma fase de mudanças que mostram que a Estratégia Nacional de defesa não veio para ficar no papel”, disse Jobim, no encerramento da Feira Latino- Americana da Indústria Aeroespacial e de defesa (Laad), realizada no Rio de Janeiro, há duas semanas.
Também em São José dos Campos, outra empresa aproveita a boa fase. A Avibras, única fabricante nacional de sistemas de artilharia e que já foi dada como falida, conseguiu ressurgir no setor com contratos internacionais, como um de R$ 500 milhões com a Malásia. Ainda às voltas com o processo judicial que poderá passar ao governo 30% do controle da empresa, a Avibras está investindo também em contratos nacionais. Há poucos dias, a empresa recebeu R$ 18 milhões para desenvolver um veículo aéreo não tripulado. Outros R$ 80 milhões deverão ser aplicados para tirar o projeto da prancheta e desbravar um mercado avaliado em US$ 8 bilhões por ano. No setor de blindados a previsão também é auspiciosa. O desenvolvimento do novo Urutu – que nos anos 1970, produzido pela extinta Engesa, transformou-se num sucesso internacional de vendas -- pela Iveco, apresentado também na Laad, começa a atrair outros players para o setor. Apesar de não comentar oficialmente os valores da negociação, a Iveco, do Grupo Fiat, deve receber cerca de US$ 1,8 milhão por cada uma das 17 unidades que serão compradas pelo Exército. O primeiro protótipo já está sendo construído na fábrica de Sete Lagoas, em Minas Gerais, e deve ficar pronto em 2010, a tempo de participar da parada de 7 de setembro. Até 2011, os outros blindados serão entregues. Em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, a Agrale tem colocado a sua linha de jipes militares Marruá em grandes contratos. Cerca de 250 unidades foram vendidas à Marinha no ano passado e há negociações com a Argentina e o Equador. “Também estamos em estágio avançado com o Peru e a Colômbia”, afirma Flavio Crossa, diretor de vendas e marketing da Agrale.”
A TORTURA NO GOVERNO BUSH
O jornal O Estado de São Paulo publicou ontem em seu editorial:
“Um dilema que lembra o dos países que passaram da ditadura à democracia confronta a primeira grande nação democrática da história. Os Estados Unidos, com efeito, discutem se, como e até onde devem ser investigadas as torturas sistemáticas contra suspeitos de terrorismo, praticadas pela Agência Central de Inteligência (CIA) em Guantánamo e nos seus centros secretos de detenção no exterior com autorização escrita do governo Bush. Um amargo debate instalou-se na semana passada quando, diante de uma ação judicial da União Americana pelas Liberdades Civis, com base na Lei de Liberdade de Informação, a Casa Branca divulgou quatro documentos preparados entre 2002 e 2005 pela Consultoria Jurídica do Departamento de Justiça, que detém a última palavra no Executivo em matéria de interpretação das leis.
Os memorandos, dirigidos à CIA, regulamentam o emprego de 14 técnicas brutais de interrogatório, detalhadamente descritas. Os textos asseguram que as violências seriam compatíveis com as leis americanas e o direito internacional. (Para não ser acusado de violar, entre outros tratados assinados pelos Estados Unidos, as Convenções de Genebra sobre o tratamento de prisioneiros de guerra, o governo Bush decidiu que os terroristas eram "combatentes ilegais".) A modalidade mais citada de tortura, a simulação de afogamento, foi usada nos anos 1940 por militares japoneses depois considerados criminosos de guerra e pelo Khmer Rouge, no Camboja, na década de 1970. Um prisioneiro da CIA sofreu o suplício 183 vezes em um mês. Outros métodos incluíam a privação de sono por 11 dias seguidos e duchas a 5 graus Celsius.
Assim que assumiu, o presidente Barack Obama revogou os pareceres que legitimavam a tortura, ordenou o fim das prisões secretas e o fechamento de Guantánamo em um ano. Mas, ao tornar públicas as provas cabais da negação, sob o bushismo, dos valores fundamentais dos Estados Unidos, ele prometeu que nenhum agente da CIA será processado se tiver agido de acordo com tais pareceres e argumentou que "nada se ganhará gastando tempo e energia para estabelecer as culpas do passado". Obama instruiu os líderes democratas no Congresso a se opor à proposta do presidente da Comissão de Justiça do Senado, o também democrata Patrick Leahy, de criação de uma comissão independente para investigar a conduta do governo Bush em relação à tortura. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, outra democrata, apoia a ideia.
As entidades de defesa dos direitos humanos, por sua vez, pedem a designação de um promotor especial para apurar em toda a extensão o que o próprio Obama chamou de "um capítulo tenebroso" da história americana. Por enquanto, apenas o Escritório de Responsabilidade Profissional do Departamento de Justiça investiga a conduta dos autores dos memorandos. A Comissão de Inteligência do Senado deverá fazer uma apuração preliminar, cujos resultados deverão sair perto do fim do ano. No editorial O manifesto dos torturadores, transcrito sexta-feira neste jornal, o New York Times, depois de elogiar o presidente pela divulgação dos memorandos, sustenta que, se o Executivo não conduzir uma investigação exaustiva do assunto, o Congresso terá o dever constitucional de responsabilizá-lo pela omissão.
A rigor, o que está em jogo vai além da tortura - que, de mais a mais, se revelou ineficaz, segundo especialistas em contraterrorismo, e prejudicou a cooperação entre os Estados Unidos e alguns de seus aliados europeus, como a Alemanha, no combate ao inimigo comum. Sob os auspícios de Bush e invocando o imperativo da segurança nacional, o seu círculo íntimo - o vice Dick Cheney, o conselheiro Karl Rove, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e o da Justiça, Alberto Gonzales - tentou transformar os EUA em um Estado policial. As suas tendências ditatoriais foram exacerbadas, mas não criadas pelo 11 de Setembro. Com o Congresso e a imprensa acoelhados, instalaram um regime que dotou o presidente de poderes extraordinários, quando não secretos, de controle da sociedade. Bush autorizou o grampo das comunicações de quem quer que o governo quisesse, numa escala que superou até os amplos limites da autorização legislativa recebida. Estiveram próximos de desfigurar o país.”
“Um dilema que lembra o dos países que passaram da ditadura à democracia confronta a primeira grande nação democrática da história. Os Estados Unidos, com efeito, discutem se, como e até onde devem ser investigadas as torturas sistemáticas contra suspeitos de terrorismo, praticadas pela Agência Central de Inteligência (CIA) em Guantánamo e nos seus centros secretos de detenção no exterior com autorização escrita do governo Bush. Um amargo debate instalou-se na semana passada quando, diante de uma ação judicial da União Americana pelas Liberdades Civis, com base na Lei de Liberdade de Informação, a Casa Branca divulgou quatro documentos preparados entre 2002 e 2005 pela Consultoria Jurídica do Departamento de Justiça, que detém a última palavra no Executivo em matéria de interpretação das leis.
Os memorandos, dirigidos à CIA, regulamentam o emprego de 14 técnicas brutais de interrogatório, detalhadamente descritas. Os textos asseguram que as violências seriam compatíveis com as leis americanas e o direito internacional. (Para não ser acusado de violar, entre outros tratados assinados pelos Estados Unidos, as Convenções de Genebra sobre o tratamento de prisioneiros de guerra, o governo Bush decidiu que os terroristas eram "combatentes ilegais".) A modalidade mais citada de tortura, a simulação de afogamento, foi usada nos anos 1940 por militares japoneses depois considerados criminosos de guerra e pelo Khmer Rouge, no Camboja, na década de 1970. Um prisioneiro da CIA sofreu o suplício 183 vezes em um mês. Outros métodos incluíam a privação de sono por 11 dias seguidos e duchas a 5 graus Celsius.
Assim que assumiu, o presidente Barack Obama revogou os pareceres que legitimavam a tortura, ordenou o fim das prisões secretas e o fechamento de Guantánamo em um ano. Mas, ao tornar públicas as provas cabais da negação, sob o bushismo, dos valores fundamentais dos Estados Unidos, ele prometeu que nenhum agente da CIA será processado se tiver agido de acordo com tais pareceres e argumentou que "nada se ganhará gastando tempo e energia para estabelecer as culpas do passado". Obama instruiu os líderes democratas no Congresso a se opor à proposta do presidente da Comissão de Justiça do Senado, o também democrata Patrick Leahy, de criação de uma comissão independente para investigar a conduta do governo Bush em relação à tortura. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, outra democrata, apoia a ideia.
As entidades de defesa dos direitos humanos, por sua vez, pedem a designação de um promotor especial para apurar em toda a extensão o que o próprio Obama chamou de "um capítulo tenebroso" da história americana. Por enquanto, apenas o Escritório de Responsabilidade Profissional do Departamento de Justiça investiga a conduta dos autores dos memorandos. A Comissão de Inteligência do Senado deverá fazer uma apuração preliminar, cujos resultados deverão sair perto do fim do ano. No editorial O manifesto dos torturadores, transcrito sexta-feira neste jornal, o New York Times, depois de elogiar o presidente pela divulgação dos memorandos, sustenta que, se o Executivo não conduzir uma investigação exaustiva do assunto, o Congresso terá o dever constitucional de responsabilizá-lo pela omissão.
A rigor, o que está em jogo vai além da tortura - que, de mais a mais, se revelou ineficaz, segundo especialistas em contraterrorismo, e prejudicou a cooperação entre os Estados Unidos e alguns de seus aliados europeus, como a Alemanha, no combate ao inimigo comum. Sob os auspícios de Bush e invocando o imperativo da segurança nacional, o seu círculo íntimo - o vice Dick Cheney, o conselheiro Karl Rove, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e o da Justiça, Alberto Gonzales - tentou transformar os EUA em um Estado policial. As suas tendências ditatoriais foram exacerbadas, mas não criadas pelo 11 de Setembro. Com o Congresso e a imprensa acoelhados, instalaram um regime que dotou o presidente de poderes extraordinários, quando não secretos, de controle da sociedade. Bush autorizou o grampo das comunicações de quem quer que o governo quisesse, numa escala que superou até os amplos limites da autorização legislativa recebida. Estiveram próximos de desfigurar o país.”
A INDÚSTRIA DE DEFESA E O PROGRESSO NACIONAL
Li ontem no jornal Gazeta Mercantil o seguinte artigo de Ozires Silva. Segundo o Wikipedia, o autor é oficial da Aeronáutica e engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Destaca-se por sua contribuição no desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira. Capitaneou a equipe que projetou e construiu o avião Bandeirante. Liderou em 1970 o grupo que promoveu a criação da Embraer, uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo. Deu início à produção industrial de aviões no Brasil. Presidiu a empresa até 1986, quando aceitou o desafio de ser presidente da Petrobras, onde atuou até 1989. Em 1990, assumiu o Ministério da Infra-estrutura e, em 1991, retornou à Embraer, desempenhando um papel importante na condução do processo de privatização da empresa, concluído em 1994. Também atuou como presidente da Varig por três anos (2000-2003) e criou em 2003 a Pele Nova Biotecnologia, primeiro fruto da Academia Brasileira de Estudos Avançados, empresa focada em saúde humana cuja missão é a pesquisa, desenvolvimento e produção de tecnologias inovadoras na área de regeneração e engenharia tecidual.
“PARA CUMPRIR OS SEUS OBJETIVOS, AS FORÇAS ARMADAS PRECISAM SER REEQUIPADAS
As despesas para reequipar e garantir a operacionalidade das Forças armadas é uma tarefa dos governos, sobretudo entre os mais democráticos, como rezam as mais importantes constituições federais dos países, sobretudo dos mais avançados.
Todavia, apesar da existência tradicional das organizações militares, não é pequena a parcela da população que julga essas despesas como não justificáveis, como também não é menor a sensação de que seus gastos deveriam ser reduzidos.
No caso brasileiro, por surpreendente que pareça, embora as percepções acima, pesquisas públicas divulgadas pelo Ibope Opinião constatam, em rodadas mais recentes de levantamento de julgamento pela população, que a instituição em que os brasileiros mais confiam é a médica, mencionada por 85% dos entrevistados. Em segundo lugar estão os militares e as Forças armadas (75%) e em terceiro, os jornais (74%).
No entanto, em que pesem esses aspectos, aparentemente contraditórios, é claro que as Forças armadas estão ligadas ao dever constitucional de proteger o País e suas instituições, garantindo as decisões dos governos legitimamente eleitos, independentemente de qualquer conotação de caráter político. Para o cumprimento dessas missões fundamentais, estabelecidas na nossa lei maior e em toda a infraestrutura legal, as Forças armadas precisam contar com efetivos humanos em qualidade, competência e número necessários, bem como com material de defesa e equipamentos militares essenciais ao desempenho de suas atribuições.
A maioria das nações, conscientes dos custos orçamentários essenciais para garantir a operacionalidade das Forças armadas, procura minimizá-los buscando fórmulas de produzir na indústria doméstica o que seja necessário para equipar as unidades militares. Com isso, são estimulados projetos de busca de novos conhecimentos, ampliando os horizontes das pesquisas científicas e tecnológicas. Do mesmo modo, procuram comprar o máximo que seja possível no mercado doméstico, abrindo possibilidades para que métodos e processos sempre necessários à produção de material bélico sejam transferidos para as empresas em geral, gerando empregos e capacidade marginal de exportação. Adicionalmente, modernamente são comuns alternativas de uso das tecnologias duais, isto é, conhecimentos que podem ser igualmente utilizados, ou para a produção de artigos para a defesa, ou destinados para a fabricação de produtos civis na atualidade profusamente vendidos em todos os mercados mundiais.
Em documento aprovado pelo presidente da República, o Ministério da Defesa do Brasil divulgou, no final de 2008, a Estratégia de Defesa Nacional, enfatizando em vários momentos a acentuada importância de uma indústria local, produtora de material e de equipamentos de defesa. Tudo absolutamente real e constatado. Hoje, podemos concordar que a ausência ou a insuficiência das compras no mercado doméstico levou ao que vemos na atualidade, a extinção das iniciativas empresariais que mostravam grandes horizontes de progresso na década de 1970, algumas iniciativas chegando até os anos 1980.
A atual decisão do governo de lançar uma política de defesa se justifica. Ela coloca em evidência prioridades, e uma delas é claramente reconhecida pelos especialistas, por meio da qual é reconhecido que nossas Forças armadas não estão devidamente equipadas. Isso, além de frustrar alguns alicerces constitucionais, também as impede de alimentar uma indústria de base, capaz de aumentar a oferta de empregos e o uso do poder de compra governamental para o desenvolvimento econômico da nação.
O mundo demonstra, de forma realmente generalizada, que há uma significativa necessidade de os países ganharem posições comerciais e competitivas no mercado externo com marcas nacionais. Este é um fator que determina as empresas se engajarem a criar e trabalhar com tecnologias próprias. No entanto, isto somente pode ocorrer se houver contratos de pesquisas e desenvolvimento, nos quais os riscos de produzir e vender estejam colocados em níveis possíveis. Muitos desses contratos normalmente têm origem nas compras militares, e já se demonstraram essenciais nos países de maior êxito industrial.
Recentemente, divulgações locais publicam que expressivas aquisições de material militar no exterior foram e serão autorizadas pelo governo brasileiro. Realmente, é amplamente reconhecido que nossas Forças armadas precisam ser reequipadas. No entanto, se tais compras não oferecerem metas e estímulos para o desenvolvimento da nossa indústria de defesa, pode-se afirmar que, pelo menos nos próximos oito a dez anos, não poderemos pensar em ganhar alguma autonomia produtiva, com isso perdendo oportunidades e empregos, num momento em que uma crise internacional preocupa a todos.
No futuro, os processos de reequipamento das nossas Forças armadas tendem a se complicar, quer por restrições de ordem política internacional, quer pelas crescentes dificuldades para se pagarem preços cada vez mais elevados para o material militar necessário. As fontes de recursos para isso são necessariamente o orçamento nacional que, necessitando moedas de trânsito mundial, aumenta a pressão sobre os resultados do nosso balanço de comércio exterior, cujas projeções atuais são preocupantes. E mais, perde-se não se comprando no mercado interno, pois os empregos e oportunidades que deveriam beneficiar nossos conterrâneos serão transferidos para o exterior.”
“PARA CUMPRIR OS SEUS OBJETIVOS, AS FORÇAS ARMADAS PRECISAM SER REEQUIPADAS
As despesas para reequipar e garantir a operacionalidade das Forças armadas é uma tarefa dos governos, sobretudo entre os mais democráticos, como rezam as mais importantes constituições federais dos países, sobretudo dos mais avançados.
Todavia, apesar da existência tradicional das organizações militares, não é pequena a parcela da população que julga essas despesas como não justificáveis, como também não é menor a sensação de que seus gastos deveriam ser reduzidos.
No caso brasileiro, por surpreendente que pareça, embora as percepções acima, pesquisas públicas divulgadas pelo Ibope Opinião constatam, em rodadas mais recentes de levantamento de julgamento pela população, que a instituição em que os brasileiros mais confiam é a médica, mencionada por 85% dos entrevistados. Em segundo lugar estão os militares e as Forças armadas (75%) e em terceiro, os jornais (74%).
No entanto, em que pesem esses aspectos, aparentemente contraditórios, é claro que as Forças armadas estão ligadas ao dever constitucional de proteger o País e suas instituições, garantindo as decisões dos governos legitimamente eleitos, independentemente de qualquer conotação de caráter político. Para o cumprimento dessas missões fundamentais, estabelecidas na nossa lei maior e em toda a infraestrutura legal, as Forças armadas precisam contar com efetivos humanos em qualidade, competência e número necessários, bem como com material de defesa e equipamentos militares essenciais ao desempenho de suas atribuições.
A maioria das nações, conscientes dos custos orçamentários essenciais para garantir a operacionalidade das Forças armadas, procura minimizá-los buscando fórmulas de produzir na indústria doméstica o que seja necessário para equipar as unidades militares. Com isso, são estimulados projetos de busca de novos conhecimentos, ampliando os horizontes das pesquisas científicas e tecnológicas. Do mesmo modo, procuram comprar o máximo que seja possível no mercado doméstico, abrindo possibilidades para que métodos e processos sempre necessários à produção de material bélico sejam transferidos para as empresas em geral, gerando empregos e capacidade marginal de exportação. Adicionalmente, modernamente são comuns alternativas de uso das tecnologias duais, isto é, conhecimentos que podem ser igualmente utilizados, ou para a produção de artigos para a defesa, ou destinados para a fabricação de produtos civis na atualidade profusamente vendidos em todos os mercados mundiais.
Em documento aprovado pelo presidente da República, o Ministério da Defesa do Brasil divulgou, no final de 2008, a Estratégia de Defesa Nacional, enfatizando em vários momentos a acentuada importância de uma indústria local, produtora de material e de equipamentos de defesa. Tudo absolutamente real e constatado. Hoje, podemos concordar que a ausência ou a insuficiência das compras no mercado doméstico levou ao que vemos na atualidade, a extinção das iniciativas empresariais que mostravam grandes horizontes de progresso na década de 1970, algumas iniciativas chegando até os anos 1980.
A atual decisão do governo de lançar uma política de defesa se justifica. Ela coloca em evidência prioridades, e uma delas é claramente reconhecida pelos especialistas, por meio da qual é reconhecido que nossas Forças armadas não estão devidamente equipadas. Isso, além de frustrar alguns alicerces constitucionais, também as impede de alimentar uma indústria de base, capaz de aumentar a oferta de empregos e o uso do poder de compra governamental para o desenvolvimento econômico da nação.
O mundo demonstra, de forma realmente generalizada, que há uma significativa necessidade de os países ganharem posições comerciais e competitivas no mercado externo com marcas nacionais. Este é um fator que determina as empresas se engajarem a criar e trabalhar com tecnologias próprias. No entanto, isto somente pode ocorrer se houver contratos de pesquisas e desenvolvimento, nos quais os riscos de produzir e vender estejam colocados em níveis possíveis. Muitos desses contratos normalmente têm origem nas compras militares, e já se demonstraram essenciais nos países de maior êxito industrial.
Recentemente, divulgações locais publicam que expressivas aquisições de material militar no exterior foram e serão autorizadas pelo governo brasileiro. Realmente, é amplamente reconhecido que nossas Forças armadas precisam ser reequipadas. No entanto, se tais compras não oferecerem metas e estímulos para o desenvolvimento da nossa indústria de defesa, pode-se afirmar que, pelo menos nos próximos oito a dez anos, não poderemos pensar em ganhar alguma autonomia produtiva, com isso perdendo oportunidades e empregos, num momento em que uma crise internacional preocupa a todos.
No futuro, os processos de reequipamento das nossas Forças armadas tendem a se complicar, quer por restrições de ordem política internacional, quer pelas crescentes dificuldades para se pagarem preços cada vez mais elevados para o material militar necessário. As fontes de recursos para isso são necessariamente o orçamento nacional que, necessitando moedas de trânsito mundial, aumenta a pressão sobre os resultados do nosso balanço de comércio exterior, cujas projeções atuais são preocupantes. E mais, perde-se não se comprando no mercado interno, pois os empregos e oportunidades que deveriam beneficiar nossos conterrâneos serão transferidos para o exterior.”
PAÍSES EMERGENTES NÃO PODEM "BAIXAR A GUARDA" APÓS AVANÇOS
Li ontem no jornal Folha de São Paulo a seguinte entrevista com Paulo Nogueira Batista Jr, diretor -executivo de Brasil e de mais oito países de América Latina e Caribe no FMI, concedida a Fernando Canzian, enviado a Washington:
“Vitórias na luta por maior representação global podem ser revertidas quando crise passar, diz diretor-executivo do FMI
O diretor -executivo de Brasil e mais oito países de América Latina e Caribe no FMI, Paulo Nogueira Batista Jr., afirma que os emergentes não podem "baixar a guarda" após os avanços que vêm obtendo no processo para aumentar sua participação em decisões globais. "Essas vitórias são parciais e ainda precárias, não são irreversíveis. Os setores que defendem o atual estado das coisas são muito fortes ainda. Estão talvez enfraquecidos pela crise, mas em um momento seguinte podem querer restabelecer o passado", diz.
FOLHA - A REUNIÃO DO FMI DESTE ANO TROUXE VÁRIOS RETORNOS POSITIVOS EM RELAÇÃO ÀS ASPIRAÇÕES DOS PAÍSES EMERGENTES. VOCÊ DIRIA QUE FOI A CRISE QUE MUDOU O FUNDO?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. - Mudou. Está mudando. A crise abriu oportunidades que não existiam. A profundidade e o alcance da crise são tais que propostas que poderiam ser consideradas sonhadoras há pouco tempo agora ou estão na mesa ou até já foram implementadas. É evidente que a crise por si só não produz mudanças. Tem de haver ação dos interessados. Na questão das cotas, por exemplo, a estrutura decisória do Fundo é muito desequilibrada. Os países em desenvolvimento não têm representação satisfatória. Com o agravamento da crise em setembro de 2008, o ambiente se transformou e há maior disposição de encarar esse déficit democrático no FMI e Banco Mundial. A realidade é que os países em desenvolvimento têm um peso muito maior hoje na economia mundial do que na época da criação do Fundo (em 1945).
Agora está decidido que o trabalho para a implementação das cotas começa já para chegarmos preparados na data-limite para a revisão, em janeiro de 2011. Isso é importante por dois motivos. Como o FMI é baseado em cotas, a forma de aportar recursos permanentes no Fundo é via cotas. Outros mecanismos que estão sendo criados agora para colocar dinheiro no Fundo, como por meio de "bonds" [títulos], seriam mecanismos temporários, uma ponte para financiar o Fundo até a reforma das cotas.
Por outro lado, a mudança nas cotas promoverá um realinhamento no poder de votos dos países no FMI. Há vários países menores hoje, principalmente europeus, com um peso desproporcional na estrutura decisória do FMI em relação a alguns emergentes. Há desequilíbrios gritantes.
FOLHA - MAS A REVISÃO DAS COTAS SERÁ SUFICIENTE PARA QUE SEJA REPRESENTADO O PESO REAL DE CADA ECONOMIA?
BATISTA JR. - Nós vamos lutar por isso, e acho que há condições políticas, em parte ligadas à crise, para que isso ocorra. Mas será uma luta muito grande, pois ninguém quer abrir mão de espaço no FMI, que é uma instituição muito valorizada pelos países. Quando cheguei aqui há dois anos, quando o Fundo estava em "crise de identidade", mesmo assim os europeus e outros estavam agarrados em suas posições. Agora, o Fundo se tornou mais central, e a disputa pelo poder se intensificou.
FOLHA - QUEM PERDERÁ MAIS COM O REALINHAMENTO? OS EUROPEUS?
BATISTA JR. - Não podemos generalizar, pois há países europeus subrepresentados. Mas, por região do mundo, a Europa como um todo está superrepresentada em termos de cotas, votos e número de cadeiras na diretoria executiva. A Europa tem oito, mas em uma das cadeiras a Espanha reveza com México e Venezuela, passando a nove. Os emergentes, contando a Rússia, têm 12. Além disso, por uma regra não escrita, os europeus sempre indicam o diretor-gerente do FMI (hoje o francês Dominique Strauss-Khan).
FOLHA - ESSA QUESTÃO DO MONOPÓLIO DOS EUROPEUS NA PRESIDÊNCIA DO FMI E DOS NORTE-AMERICANOS NO BANCO MUNDIAL ESTÁ SOBRE A MESA?
BATISTA JR. Está. E este processo também está ligado às cotas, pois os europeus têm cerca de 30% dos votos, e os norte-americanos, 17%. Os dois blocos têm quase 50%, e se não há um realinhamento de cotas, fica difícil mudar essa questão.
Mas nosso objetivo com a reforma das cotas não é que só o Brasil ou outros emergentes tenham um ganho de participação, mas que o equilíbrio de forças dentro da instituição se modifique de maneira clara. Não é que o Brasil não possa trabalhar em conjunto e ter acordos com os países desenvolvidos. Mas é que, normalmente, nosso campo de interesses comum é com os países em desenvolvimento, de renda média. Países como Rússia, China e Índia. O FMI vai ganhar com isso eficácia, legitimidade, e será muito mais aceito. Hoje, temos certas relutâncias em relação ao Fundo porque não queremos dar dentes a uma instituição na qual não estamos suficientemente representados. Isso impede ao Fundo ter um papel maior.
FOLHA - A QUESTÃO DA LINHA DE CRÉDITO FLEXÍVEL, JÁ EM OPERAÇÃO, ACONTECEU MAIS POR CONTA DA CRISE OU POR ESSA NOVA ORIENTAÇÃO DE MUDANÇA?
BATISTA JR. - Há um ano, quando o Brasil defendeu essa ideia de um instrumento de liquidez rápido, sem as condicionalidades tradicionais, a orientação foi se concentrar nisso, pois Brasília não acreditava na tese do descolamento entre a crise no mundo desenvolvido em relação aos emergentes. Inicialmente, as resistências eram grandes. Os critérios agora definidos para ter acesso a essa linha são aqueles que a ampla gama de economistas pode aceitar como razoáveis. Não há exigências controvertidas, como Banco Central independente, metas para inflação, liberdade de movimento de capitais e conversibilidade da moeda.
FOLHA - EM RELAÇÃO AO G20, TEM HAVIDO UMA APROXIMAÇÃO MAIOR ENTRE OS SEUS MEMBROS DENTRO DO FMI?
BATISTA JR. - Na prática, o secretariado do G20 é o FMI. Graças à crise temos uma situação inédita em que o ponto focal de resposta à crise deixou de ser o G7 e passou a ser o G20. Isso permite uma divisão de influência e responsabilidades que não existia antes. E é onde os países resolvem as questões sempre em consenso. E a divisão de tarefas no G20 ocorre aqui dentro do FMI. Mas não queria transmitir a ideia de que estamos diante de um sucesso extraordinário, que está tudo uma beleza.
Essas vitórias que estamos conseguindo aqui são parciais e ainda precárias, no sentido de que não são irreversíveis. Os setores que defendem o atual estado das coisas são muito fortes ainda. Estão talvez enfraquecidos pela crise, e em um momento seguinte talvez queiram restabelecer o passado. Não é impossível, por exemplo, que, passado o período mais agudo da crise, as velhas potências queiram restabelecer o G7 como ponto focal e marginalizar o G20. Ou que queiram arrastar o processo de revisão das cotas para além de 2011. Vamos ter que ficar muito atentos.
Se baixarmos a guarda, podemos tomar derrotas incríveis e perder o espaço que temos conquistado.
FOLHA - A CRÍTICA QUE SE FAZIA LÁ ATRÁS ERA QUE O BRASIL DEMOROU A RECONHECER A GRAVIDADE DA CRISE. AGORA, QUE ESTARIA DEMORANDO MUITO PARA CORTAR JUROS, E QUE O GOVERNO VEM COMPROMETENDO O FUTURO COM O AUMENTO NOS GASTOS CORRENTES. QUAL A SUA OPINIÃO?
BATISTA JR. - Como o Brasil entrou na crise com juros e depósitos compulsórios muito altos, há um espaço grande para reduzi-los. E acho que o Brasil deveria ter reduzido mais rapidamente os juros. Nossa posição fiscal é bastante razoável, e por isso temos espaço para uma política anticíclica, até porque a redução dos juros permite reduzir o superávit primário sem que o déficit público aumente.
Sobre os gastos correntes, eles incluem juros. Uma forma de reduzi-los é diminuir os juros. Mas eles incluem também transferências de renda, que são importantes do ponto de vista social e do combate à crise. E não podemos nos esquecer que a máquina pública brasileira foi muito depauperada nos anos 1980 e 1990, e que a estrutura do governo ficou muito enfraquecida. Alguma recuperação dos gastos com a máquina era inevitável.
Não conheço o governo inteiro, mas tenho interação com partes dele. Em Brasília, temos setores importantes desaparelhados. Tanto que nós, aqui de Washington, temos de ajudar com tarefas que países desenvolvidos conduzem a partir da capital.”
“Vitórias na luta por maior representação global podem ser revertidas quando crise passar, diz diretor-executivo do FMI
O diretor -executivo de Brasil e mais oito países de América Latina e Caribe no FMI, Paulo Nogueira Batista Jr., afirma que os emergentes não podem "baixar a guarda" após os avanços que vêm obtendo no processo para aumentar sua participação em decisões globais. "Essas vitórias são parciais e ainda precárias, não são irreversíveis. Os setores que defendem o atual estado das coisas são muito fortes ainda. Estão talvez enfraquecidos pela crise, mas em um momento seguinte podem querer restabelecer o passado", diz.
FOLHA - A REUNIÃO DO FMI DESTE ANO TROUXE VÁRIOS RETORNOS POSITIVOS EM RELAÇÃO ÀS ASPIRAÇÕES DOS PAÍSES EMERGENTES. VOCÊ DIRIA QUE FOI A CRISE QUE MUDOU O FUNDO?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. - Mudou. Está mudando. A crise abriu oportunidades que não existiam. A profundidade e o alcance da crise são tais que propostas que poderiam ser consideradas sonhadoras há pouco tempo agora ou estão na mesa ou até já foram implementadas. É evidente que a crise por si só não produz mudanças. Tem de haver ação dos interessados. Na questão das cotas, por exemplo, a estrutura decisória do Fundo é muito desequilibrada. Os países em desenvolvimento não têm representação satisfatória. Com o agravamento da crise em setembro de 2008, o ambiente se transformou e há maior disposição de encarar esse déficit democrático no FMI e Banco Mundial. A realidade é que os países em desenvolvimento têm um peso muito maior hoje na economia mundial do que na época da criação do Fundo (em 1945).
Agora está decidido que o trabalho para a implementação das cotas começa já para chegarmos preparados na data-limite para a revisão, em janeiro de 2011. Isso é importante por dois motivos. Como o FMI é baseado em cotas, a forma de aportar recursos permanentes no Fundo é via cotas. Outros mecanismos que estão sendo criados agora para colocar dinheiro no Fundo, como por meio de "bonds" [títulos], seriam mecanismos temporários, uma ponte para financiar o Fundo até a reforma das cotas.
Por outro lado, a mudança nas cotas promoverá um realinhamento no poder de votos dos países no FMI. Há vários países menores hoje, principalmente europeus, com um peso desproporcional na estrutura decisória do FMI em relação a alguns emergentes. Há desequilíbrios gritantes.
FOLHA - MAS A REVISÃO DAS COTAS SERÁ SUFICIENTE PARA QUE SEJA REPRESENTADO O PESO REAL DE CADA ECONOMIA?
BATISTA JR. - Nós vamos lutar por isso, e acho que há condições políticas, em parte ligadas à crise, para que isso ocorra. Mas será uma luta muito grande, pois ninguém quer abrir mão de espaço no FMI, que é uma instituição muito valorizada pelos países. Quando cheguei aqui há dois anos, quando o Fundo estava em "crise de identidade", mesmo assim os europeus e outros estavam agarrados em suas posições. Agora, o Fundo se tornou mais central, e a disputa pelo poder se intensificou.
FOLHA - QUEM PERDERÁ MAIS COM O REALINHAMENTO? OS EUROPEUS?
BATISTA JR. - Não podemos generalizar, pois há países europeus subrepresentados. Mas, por região do mundo, a Europa como um todo está superrepresentada em termos de cotas, votos e número de cadeiras na diretoria executiva. A Europa tem oito, mas em uma das cadeiras a Espanha reveza com México e Venezuela, passando a nove. Os emergentes, contando a Rússia, têm 12. Além disso, por uma regra não escrita, os europeus sempre indicam o diretor-gerente do FMI (hoje o francês Dominique Strauss-Khan).
FOLHA - ESSA QUESTÃO DO MONOPÓLIO DOS EUROPEUS NA PRESIDÊNCIA DO FMI E DOS NORTE-AMERICANOS NO BANCO MUNDIAL ESTÁ SOBRE A MESA?
BATISTA JR. Está. E este processo também está ligado às cotas, pois os europeus têm cerca de 30% dos votos, e os norte-americanos, 17%. Os dois blocos têm quase 50%, e se não há um realinhamento de cotas, fica difícil mudar essa questão.
Mas nosso objetivo com a reforma das cotas não é que só o Brasil ou outros emergentes tenham um ganho de participação, mas que o equilíbrio de forças dentro da instituição se modifique de maneira clara. Não é que o Brasil não possa trabalhar em conjunto e ter acordos com os países desenvolvidos. Mas é que, normalmente, nosso campo de interesses comum é com os países em desenvolvimento, de renda média. Países como Rússia, China e Índia. O FMI vai ganhar com isso eficácia, legitimidade, e será muito mais aceito. Hoje, temos certas relutâncias em relação ao Fundo porque não queremos dar dentes a uma instituição na qual não estamos suficientemente representados. Isso impede ao Fundo ter um papel maior.
FOLHA - A QUESTÃO DA LINHA DE CRÉDITO FLEXÍVEL, JÁ EM OPERAÇÃO, ACONTECEU MAIS POR CONTA DA CRISE OU POR ESSA NOVA ORIENTAÇÃO DE MUDANÇA?
BATISTA JR. - Há um ano, quando o Brasil defendeu essa ideia de um instrumento de liquidez rápido, sem as condicionalidades tradicionais, a orientação foi se concentrar nisso, pois Brasília não acreditava na tese do descolamento entre a crise no mundo desenvolvido em relação aos emergentes. Inicialmente, as resistências eram grandes. Os critérios agora definidos para ter acesso a essa linha são aqueles que a ampla gama de economistas pode aceitar como razoáveis. Não há exigências controvertidas, como Banco Central independente, metas para inflação, liberdade de movimento de capitais e conversibilidade da moeda.
FOLHA - EM RELAÇÃO AO G20, TEM HAVIDO UMA APROXIMAÇÃO MAIOR ENTRE OS SEUS MEMBROS DENTRO DO FMI?
BATISTA JR. - Na prática, o secretariado do G20 é o FMI. Graças à crise temos uma situação inédita em que o ponto focal de resposta à crise deixou de ser o G7 e passou a ser o G20. Isso permite uma divisão de influência e responsabilidades que não existia antes. E é onde os países resolvem as questões sempre em consenso. E a divisão de tarefas no G20 ocorre aqui dentro do FMI. Mas não queria transmitir a ideia de que estamos diante de um sucesso extraordinário, que está tudo uma beleza.
Essas vitórias que estamos conseguindo aqui são parciais e ainda precárias, no sentido de que não são irreversíveis. Os setores que defendem o atual estado das coisas são muito fortes ainda. Estão talvez enfraquecidos pela crise, e em um momento seguinte talvez queiram restabelecer o passado. Não é impossível, por exemplo, que, passado o período mais agudo da crise, as velhas potências queiram restabelecer o G7 como ponto focal e marginalizar o G20. Ou que queiram arrastar o processo de revisão das cotas para além de 2011. Vamos ter que ficar muito atentos.
Se baixarmos a guarda, podemos tomar derrotas incríveis e perder o espaço que temos conquistado.
FOLHA - A CRÍTICA QUE SE FAZIA LÁ ATRÁS ERA QUE O BRASIL DEMOROU A RECONHECER A GRAVIDADE DA CRISE. AGORA, QUE ESTARIA DEMORANDO MUITO PARA CORTAR JUROS, E QUE O GOVERNO VEM COMPROMETENDO O FUTURO COM O AUMENTO NOS GASTOS CORRENTES. QUAL A SUA OPINIÃO?
BATISTA JR. - Como o Brasil entrou na crise com juros e depósitos compulsórios muito altos, há um espaço grande para reduzi-los. E acho que o Brasil deveria ter reduzido mais rapidamente os juros. Nossa posição fiscal é bastante razoável, e por isso temos espaço para uma política anticíclica, até porque a redução dos juros permite reduzir o superávit primário sem que o déficit público aumente.
Sobre os gastos correntes, eles incluem juros. Uma forma de reduzi-los é diminuir os juros. Mas eles incluem também transferências de renda, que são importantes do ponto de vista social e do combate à crise. E não podemos nos esquecer que a máquina pública brasileira foi muito depauperada nos anos 1980 e 1990, e que a estrutura do governo ficou muito enfraquecida. Alguma recuperação dos gastos com a máquina era inevitável.
Não conheço o governo inteiro, mas tenho interação com partes dele. Em Brasília, temos setores importantes desaparelhados. Tanto que nós, aqui de Washington, temos de ajudar com tarefas que países desenvolvidos conduzem a partir da capital.”
BRASIL CAMINHA PARA SER UM DOS MAIORES DA ECONOMIA MUNDIAL, DIZ FMI
A agência inglesa de notícias BBC ontem publicou a seguinte reportagem de Bruno Garcez, da BBC Brasil em Washington:
“O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, acredita que o Brasil caminha para ser "um dos maiores nomes da economia mundial", e que o papel brasileiro junto à comunidade internacional é mais importante do que o fato de o país ainda contar com uma representação dentro do Fundo aquém do peso de sua economia.
Os comentários de Strauss-Kahn foram feitos neste domingo, durante a entrevista coletiva realizada por ele e o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, para marcar o encerramento da reunião de primavera do Fundo e do Bird.
"O Brasil está se tornando um dos maiores nomes da economia mundial. E a importância do Brasil na cena internacional, o papel desempenhado pelo presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva), são o que fazem do Brasil mais importante do que o tamanho das cotas", afirmou Strauss-Kahn.
As cotas destinadas aos países que integram o fundo determinam o poder de voto de cada nação dentro do FMI. Inicialmente, as cotas visavam ser condizentes com o peso econômico de cada país, mas atualmente elas não refletem mais o crescente peso econômico das nações emergentes.
No início deste ano, o tamanho da cota brasileira aumentou de 1,4% para 1,7%.
"Isso não mudou muita coisa", reconheceu o diretor do Fundo. Mas acrescentou: "Não estou dizendo que as mudanças de cotas não sejam importantes, porque a cota tem que estar alinhada com a realidade da vida econômica, mas China, Índia e Brasil não estão esperando por uma nova mudança de cotas para ser ouvidas dentro do FMI".
BRICs
Entres demais países que constituem o chamado bloco dos BRICs (formado pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China), os russos contam com 2,7%; os chineses, com 3,7%; e a Índia, 1,9%.
Em contrapartida, os Estados Unidos possuem 17,1% dos votos, e um país como a Suíça possui 1,6%.
Nesta sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, em Washington, que os BRICs concordaram que não fariam novos aportes financeiros ao FMI a não ser que o fundo ofereça instrumentos flexíveis que confiram maior poder aos emergentes.
Entre as mudanças que Mantega disse ter surgido da negociação com os BRICs estava a de permitir que as nações que fizerem doações possam determinar que países ou regiões possam receber os novos empréstimos.
AMPLIAÇÃO
No sábado, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, disse que os Estados Unidos defendem a ampliação do papel dos emergentes dentro do FMI, através da revisão do sistema de cotas até 2011 - o mesmo prazo pretendido pelos BRICs.
Mas, neste domingo, o ministro das Finanças da Rússia, Alexei Kudrin, disse, em Washington, durante a reunião do Fundo e o Banco Mundial, que os países ricos ainda resistem à ideia de ampliar a representação das economias ascendentes.
"Nós temos encontrado uma atitude fria e até de resistência. Os países que lideram não estão com pressa. Essa foi a principal discussão da reunião do FMI", comentou Kudrin.”
“O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, acredita que o Brasil caminha para ser "um dos maiores nomes da economia mundial", e que o papel brasileiro junto à comunidade internacional é mais importante do que o fato de o país ainda contar com uma representação dentro do Fundo aquém do peso de sua economia.
Os comentários de Strauss-Kahn foram feitos neste domingo, durante a entrevista coletiva realizada por ele e o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, para marcar o encerramento da reunião de primavera do Fundo e do Bird.
"O Brasil está se tornando um dos maiores nomes da economia mundial. E a importância do Brasil na cena internacional, o papel desempenhado pelo presidente (Luiz Inácio) Lula (da Silva), são o que fazem do Brasil mais importante do que o tamanho das cotas", afirmou Strauss-Kahn.
As cotas destinadas aos países que integram o fundo determinam o poder de voto de cada nação dentro do FMI. Inicialmente, as cotas visavam ser condizentes com o peso econômico de cada país, mas atualmente elas não refletem mais o crescente peso econômico das nações emergentes.
No início deste ano, o tamanho da cota brasileira aumentou de 1,4% para 1,7%.
"Isso não mudou muita coisa", reconheceu o diretor do Fundo. Mas acrescentou: "Não estou dizendo que as mudanças de cotas não sejam importantes, porque a cota tem que estar alinhada com a realidade da vida econômica, mas China, Índia e Brasil não estão esperando por uma nova mudança de cotas para ser ouvidas dentro do FMI".
BRICs
Entres demais países que constituem o chamado bloco dos BRICs (formado pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China), os russos contam com 2,7%; os chineses, com 3,7%; e a Índia, 1,9%.
Em contrapartida, os Estados Unidos possuem 17,1% dos votos, e um país como a Suíça possui 1,6%.
Nesta sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, em Washington, que os BRICs concordaram que não fariam novos aportes financeiros ao FMI a não ser que o fundo ofereça instrumentos flexíveis que confiram maior poder aos emergentes.
Entre as mudanças que Mantega disse ter surgido da negociação com os BRICs estava a de permitir que as nações que fizerem doações possam determinar que países ou regiões possam receber os novos empréstimos.
AMPLIAÇÃO
No sábado, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, disse que os Estados Unidos defendem a ampliação do papel dos emergentes dentro do FMI, através da revisão do sistema de cotas até 2011 - o mesmo prazo pretendido pelos BRICs.
Mas, neste domingo, o ministro das Finanças da Rússia, Alexei Kudrin, disse, em Washington, durante a reunião do Fundo e o Banco Mundial, que os países ricos ainda resistem à ideia de ampliar a representação das economias ascendentes.
"Nós temos encontrado uma atitude fria e até de resistência. Os países que lideram não estão com pressa. Essa foi a principal discussão da reunião do FMI", comentou Kudrin.”
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