“O representante do ‘Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento’ (PNUD), Jorge Chediek, disse que o Brasil
conseguirá cumprir uma das principais promessas da presidenta Dilma Rousseff e
tirar toda a população da pobreza extrema. Ele falou depois de conhecer o
estudo “Vozes da Nova
Classe Média”, divulgado segunda-feira (29) pela “Secretaria de
Assuntos Estratégicos” (SAE) da Presidência da República. Segundo ele, as
políticas do governo brasileiro para a nova classe média influenciarão a
Organização das Nações Unidas (ONU).
“Vemos
que políticas públicas sociais e econômicas farão com que o Brasil atinja o
resultado de 100% de redução da pobreza extrema. E a ONU tem compromisso
assumido de combate à pobreza. Pensamos muito nisso, mas [pensamos] pouco no
ponto de chegada, que é a classe média. É muito útil o Brasil estar pensando
nesse ponto de chegada”, disse o representante do Pnud.
Ministro da SAE e presidente do “Instituto
de Pesquisa Econômica e Aplicada” (IPEA), Marcelo Neri, disse que “o fim da miséria é apenas o começo”.
Segundo ele, a desigualdade teve “queda
espetacular”, após o índice de GINI ter caído de 0,64 para 0,54 nos últimos
dez anos. Esse índice, pelo qual zero representa a igualdade total de renda, é
um dos mais usados para comparações socioeconômicas entre países.
“Em
2012, mesmo com [baixo crescimento do PIB] o chamado “Pibinho”, 35% das pessoas
subiram [de nível social], enquanto 14% caíram. Isso mostra que o país vive
mais prosperidade e oportunidade, e menos desigualdade”, acrescentou o
ministro Marcelo Neri, após apontar a carteira de trabalho como maior símbolo
da classe média.
Para Jorge Chediek, os números
apresentados pelo estudo “são
impressionantes”. Ele avalia que a formalização do emprego foi fundamental
para os bons resultados. “O que mais
melhorou a situação do país foi a criação de empregos. [Também] por isso é
muito importante conhecer a classe média”, acrescentou. “A presidenta Dilma Rousseff disse que quer
fazer do Brasil um país de classe média. Queremos influenciar a política e
ampliá-la para fazer, também do mundo, um mundo de classe média”
O estudo “Vozes da Nova Classe Média” mostra
a contribuição do empreendedor para a expansão da nova classe média brasileira.
Tem como um dos destaques o aumento na formalização dos empregos. Entre as
conclusões do estudo, está a de que 40% dos postos de trabalho disponíveis
foram gerados a partir de pequenos negócios.
Das 15 milhões de novas vagas
abertas entre 2001 e 2011, 6 milhões foram criadas pelos empreendimentos de
pequeno porte. Além disso, 95% delas são empregos formais. Ainda de acordo com
o estudo, 39% do total de remunerações do país estão relacionadas a pequenos
empreendedores – volume que supera os R$ 500 bilhões por ano.”
“A RENDA DOS BILIONÁRIOS DA CIDADE CRESCEU US$ 11 BILHÕES NO ÚLTIMO ANO, O QUE EQUIVALERIA À SAÍDA DE QUATRO MILHÕES DE PESSOAS DA LINHA DA POBREZA”.
“Quase metade dos moradores de Nova York, cidade mais populosa dos Estados Unidos, vive próxima da linha da pobreza. A informação foi divulgada na semana passada pelo centro oficial de pesquisa da prefeitura nova-iorquina, com base em dados e indicativos sociais coletados durante os anos de 2005 e 2011. O número ainda pode aumentar com o corte de benefícios sociais anunciado pelo governo em março deste ano.
Os dirigentes de Nova York classificam como pobre uma família composta por, no mínimo, dois adultos e dois dependentes cuja renda [total] chegue até US$ 30.949 por ano. O levantamento revela que 46% da população da cidade – estimada em 8,175 milhões de habitantes – vive abaixo ou próxima desse valor.
A pesquisa, conduzida por Mark Levitan, foi feita a partir de uma amostra de 25 mil domicílios. Os índices mostram que a pobreza aumentou em três dos cinco distritos da cidade: Brooklyn (1,6%), Queens (4,8%) e Staten Island (3,9%). Embora a taxa de desemprego tenha diminuído em 2011 em relação ao ano anterior, o estudo também revela que "a renda das famílias economicamente vulneráveis não aumentou. No entanto, os impactos da recessão econômica sobre a população diminuíram".
No texto de conclusão da pesquisa, Levitan faz um alerta sobre as medidas de austeridade fiscal anunciadas pelo governo em março. Cerca de 750 mil pessoas, em especial mulheres e crianças, não terão acesso aos benefícios sociais - como vale alimentação para pobres e assistência médica -, cortados no orçamento oficial dos EUA deste ano. Assim, afirma o estudo, o número de 46% “pode aumentar consideravelmente”.
As informações sobre pobreza reveladas pela pesquisa reacendem o debate acerca da desigualdade social em Nova York. Segundo a informação “Coalizão Contra a Fome”, a renda dos bilionários da cidade cresceu US$ 11 bilhões no último ano, o que equivale à saída de quatro milhões de pessoas da linha da pobreza.
[A situação vai melhorar para os ricos e piorar para os pobres] Com o objetivo de conseguir um acordo com os republicanos [mais à direita], a oferta de Obama inclui um corte de 400 bilhões de dólares no programa de saúde para idosos e aposentados conhecido como ‘Medicare’.”
[Kenneth
Rogoff e Carmen Reinhart (seus estudos errados deram "legitimidade" aos
interesses rentistas acantonados na dívida pública)]
Por Saul
Leblon
“Reportagem
do 'El País', de domingo (28), faz o que nenhum veículo do dispositivo
conservador brasileiro cogitou: entrevista
o estudante de economia Thomas Herndon, de 28 anos; ele ganhou fama mundial ao
fulminar a credibilidade de dois centuriões da ortodoxia fiscal, os economistas
Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff.
[Thomas
Herndon desmascarou o “erro”]
Talvez seja delicado para a imprensa brasileira rememorar certos fatos que
podem evocar semelhanças com investidas atuais da ortodoxia.
Herndon prepara seu doutorado na Universidade de Massachusetts, nos EUA.
Reinhart e Rogoff são titãs de Harvard, ademais de egressos da alta cúpula do
FMI.
Entre 2001 e 2003, Rogoff ocupou nada menos que o cargo de economista-chefe da
instituição; Reinhart era sua assistente.
O grande mérito de Herndon foi agir diante dessa catedral ortodoxa com
impiedosa independência intelectual.
Ele não aceitou como intocáveis as premissas que sustentavam o edifício teórico
da dupla consagrada dentro e fora da academia.
A saber, que o endividamento público é intrinsecamente nefasto e, ao transitar
na faixa dos 90% do PIB, torna-se catastrófico.
Há exatamente três anos, os dois publicariam no ‘American Economic Review’ um ensaio ancorado na ‘comprovação’
estatística de que a ultrapassagem dessa marca fatídica inviabilizaria o
crescimento econômico.
Apenas um parêntesis ilustrativo do peso material que tem as ideias: nesse momento, os socialistas franceses se
imolam em praça pública agarrados a uma política de austeridade que visa exatamente
reverter o endividamento público, na marca dos 92% do PIB.
A maldição fiscal não é novidade na carreira do mago Rogoff.
Como economista-chefe do FMI, ele já prescrevia a caldeirada de arrocho &
rabo de escorpião mesmo sem tê-la demonstrado ‘cientificamente’ ainda.
A genuflexão a essa receita foi inoculada em cérebros intelectuais,
operacionais e midiáticos nos quatro cantos do planeta.
O FMI, seus ‘rogoffs’ e aprendizes
cuidaram de injetar cepas daquilo que, no fundo, revestia de legitimidade os
interesses rentistas acantonados na dívida pública.
A agenda do desenvolvimento, propriamente dita, foi devastada por essa infecção
contagiosa.
Seu efeito revelou-se tão ou mais devastador que a doença supostamente maligna
que pretendia curar: o gasto público.
Herndon passou os olhos nas estatísticas que comprovavam o anátema e não ficou
satisfeito. Solicitou as planilhas completas aos autores.
Quando as teve em mãos, hesitou mais uma vez.
Havia extrapolações de inconsistência óbvia; pior, dados que afrontavam a
premissa da austeridade haviam sido eliminados das séries finais.
As evidências eram fortes, mas peso da ideologia é maior ainda.
O doutorando esfregou os olhos mais de uma vez na esperança de clarear a visão
embaralhada pelo cansaço. Pediu ajuda à noiva, uma socióloga especialista em
estatística.
Ela revisou as séries cuidadosamente. E confirmou: “Não creio que você esteja errado”.
O resto é sabido.
A fraude macroeconômica mais estonteante da ultimas décadas, brinca a reportagem,
funcionou para o Estado do Bem Estar Social como as ‘armas de destruição em massa” funcionariam para a invasão do Iraque
por Bush.
Herndon acha um pouco exagerada a comparação. Mas concorda com a essência da
analogia: ‘Porque estão adotando
políticas a partir de premissas falsas’, diz.
O coquetel de arrocho e premissas falsas, bem como seu personagem símbolo, a
partir de agora, não são estranhos ao Brasil.
Kenneth Rogoff dirigia o FMI durante a disputa presidencial brasileira de 2002.
Em setembro daquele ano, o IBOPE divulgou uma pesquisa em que o então candidato
do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, retomava a trajetória ascendente.
Depois de um período com resultados negativos, Lula ganhou mais dois pontos,
consolidando-se na liderança, com 41% das intenções de voto.
O tucano José Serra, seu principal adversário, cairia para 18%, um ponto a
menos.Mas já se revelava um corisco no quesito rejeição: 29%.
A pesquisa encomendada pela 'Globo' foi divulgada numa terça-feira, véspera da
reunião anual do FMI, em Washington.
Na quarta e na quinta-feira seguintes, choveriam raios, cobras, lagartos e
escorpiões sobre o Brasil.
Autoridades do Fundo emitiriam previsões catastróficas e receitas sombrias para
o futuro do país e de seus eleitores.
Tudo naturalmente escandido com a conhecida “isenção” dos veículos do
dispositivo midiático conservador.
Na 'Folha', o então correspondente Marcio Aith, que viria a ser chefe de
imprensa de Serra na outra derrota tucana, em 2010, exercitava o seu futuro com
o dedo preso no gatilho: “Alternativa,
agora, é mais arrocho, diz FMI”. Em seguida, ajustava o alvo: “Fundo elogia equipe econômica do Brasil (a
do PSDB) e rebaixa perspectiva de
crescimento do país...” ('Folha de S. Paulo', 26-09-2002)
No ‘Estadão’, o quadro de avisos viria igualmente encharcado de ostensiva
agressividade.
Com o título “Ajuste no Brasil será feito
com dor, diz FMI”, o texto era temperado de vaticínios agourentos
aspergidos por ninguém menos que o rigoroso economista-chefe do organismo,
Kenneth Rogoff.
As sentenças de Rogoff seriam impressas e disseminadas, então, com a mesma
inquebrantável genuflexão do espírito que hoje acomete nossos jornalistas
especializados em lubrificar a terapia do choque
de juros.
Tudo chancelado pelo ‘rogoffismo’ local, vocalizado por sábios tucanos e
professores banqueiros, de conhecidos serviços prestados à Nação.
Como diria Millôr Fernandes, se não é uma garantia, já é uma tradição.
Ela explica por que o estudante Thomas Herndon não tem o destaque merecido nos
grandes diários nacionais.
Seria o mesmo que Bush admitir que as armas de destruição em massa serviram
apenas de álibi para devastar o Iraque e tomar de assalto os seus poços de
petróleo.
Leia, a seguir, trechos do 'Estadão', com as “sugestivas” advertências de
Rogoff, na reta final das eleições de 2002.
“Ajuste no Brasil será feito com
‘dor’, diz FMI”
“Estadão” 25-09-2002
“O principal objetivo da política macroeconômica do Brasil, no médio prazo,
deve ser reduzir o endividamento público, disse nesta quarta-feira o
economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kenneth Rogoff, na
coletiva que abriu a reunião anual do FMI e do Banco Mundial.
Para quem conhece a linguagem sutil e diplomática do Fundo, fica claro que um
aviso está sendo dado ao próximo governo: se não houver uma reversão
significativa do sentimento negativo do mercado em relação à solvência pública,
o FMI deve brigar por um superávit maior.
Rogoff foi até mais explícito na entrevista ao dizer que um "programa
fiscal forte" requer "um forte grau de consenso social e
político". Mais adiante, ele reformulou a expressão para "um alto
grau de consenso social e apoio político".
Rogoff afirmou que o ajuste é particularmente difícil porque o grande
endividamento faz com que as taxas de juros sejam muito altas. E isto, por sua
vez, cria a necessidade de que o superávit primário (que exclui os gastos com
juros) seja ainda maior.
Em um importante documento divulgado nesta quarta, o FMI deixa claro que encara
o superávit primário de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB), com o qual o
Brasil está comprometido, como um nível mínimo (que poderia ter de ser
aumentado) nos próximos anos.
O FMI também explicita que considera que o elemento político - a incerteza
sobre a continuidade da atual política de forte ajuste fiscal - é uma das
principais causas da turbulência no Brasil.
O FMI deixou claro que considera que há um importante fator político na atual
turbulência no Brasil. Referindo ao aumento de 750 para 1.500 pontos do
risco-Brasil entre março e junho deste ano, a sessão sobre o Brasil da ‘Perspectiva’
diz que há várias razões, mas que "talvez, mais fundamentalmente, os
participantes do mercado começaram a focalizar a sua atenção nas incertezas
políticas associadas com a eleição presidencial de outubro e as suas
implicações para a atual política econômica".
Mais adiante, referindo-se à piora da situação brasileira a partir de junho, o
texto diz que "os mercados ficaram cada vez mais nervosos sobre o
resultado das eleições e o que ele poderia significar para a sustentabilidade
das finanças públicas no Brasil, especialmente em seguida às pesquisas de
intenção de voto no início de julho".
Essa foi a fase em que Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes lideravam a
disputa. "Para aliviar essas preocupações", conclui o relatório,
"é crítico que se crie a confiança de que uma política econômica
apropriada vai permanecer depois das eleições".
“Países asiáticos como China,
Malásia, Vietnã e Cingapura levantaram sua economias com um modelo de
‘capitalismo de Estado’, em que órgãos públicos apoiam ativamente suas
transnacionais. Mas esse modelo está agora sob risco diante das negociações do “Acordo de Associação Transpacífico”, um
tratado comercial e de investimentos impulsionado pelos EUA e que é negociado à
portas fechadas.
Por Martim Khor, na “Rede do Terceiro Mundo” (Third World Network-TWN).
Numerosos livros e artigos têm se ocupado do contraste e da competição
entre os atuais modelos econômicos asiático e ocidental. O exitoso modelo
asiático de “capitalismo impulsionado
pelo Estado” se vê agora ameaçado pelo “Acordo
de Associação Transpacífico” (TPPA, na sigla em inglês).
Os países ocidentais têm, supostamente, um modelo de livre mercado baseado na
competição entre empresas privadas, no qual o governo não intervém. E os países
do leste asiático praticariam o “capitalismo de Estado”, no qual o governo tem
um papel importante, colaborando com o setor privado nacional e no qual também
numerosas empresas são total ou parcialmente de propriedade estatal.
Os países ocidentais fustigam cada vez mais o modelo asiático, argumentando que
as empresas estatais contam com ajuda estatal, obtendo uma vantagem desleal
frente às empresas estrangeiras que competem com elas.
China, Malásia, Vietnã e Cingapura são alguns dos países nos quais o Estado
desempenha papel fundamental. No Japão e Coreia do Sul, suas empresas nacionais
cresceram até se transformarem em colossos mundiais com o apoio sistemático de
seus governos. Para esses países, o chamado “capitalismo de Estado” (ou “socialismo orientado ao mercado”, no
caso dos socialistas) tem funcionado bem graças a desenvolvimento
industrial e crescimento econômico relativamente altos e contínuos.
Alguns países ocidentais tentaram frear, ou até eliminar o modelo asiático de
capitalismo de Estado ou ajudado pelo Estado. Essa é atitude hipócrita, porque
na Europa, Estados Unidos e Japão, o setor agrícola está fortemente subsidiado
e protegido. Muitos de seus estabelecimentos agrários não poderiam sobreviver
sem a ajuda determinante do Estado e dos altos impostos de importação. Além
disso, vários de seus bancos e empresas industriais também estão subvencionados
de variadas maneiras, inclusive mediante os resgates multimilionários por conta
das recentes crises financeiras.
Mas isso não os impediu de atacar o modelo asiático. A última tentativa de
botar-lhe freio foi através das negociações do “Acordo de Associação Transpacífico”. Esse tratado sobre comércio e
investimento do qual participam Estados Unidos, Canadá, Malásia, Cingapura,
Vietnã, Brunei, Peru, Chile, Austrália e Nova Zelândia contém uma importante
seção sobre as empresas públicas, impulsionada pelos Estados Unidos e
Austrália. Como sua negociação se realiza em segredo, não se conhece ainda o
texto da seção de empresas públicas, mas tudo permite pensar que, muito
provavelmente, contenha controles para frear e dar forma ao comportamento de
três tipos de empresas estatais.
Os “Tratados de Livre Comércio” (TLC)
bilaterais recentemente concluídos pelos Estados Unidos contêm um capítulo
sobre a competição que se refere a dois tipos de empresas estatais. É provável
que Washington proponha, no “Acordo de Associação Transpacífico” algo similar
ao que se estabelece no TLC com o Peru, por exemplo, em matéria de controles
sobre os monopólios designados e empresas do Estado. Ali se diz que, na hora de
comprar ou vender os bens ou serviços de um monopólio, os monopólios estatais
atuarão exclusivamente de acordo com considerações comerciais, em particular
com respeito ao preço, a qualidade, a disponibilidade e ao transporte.
Sendo assim, deverão oferecer tratamento não discriminatório aos investimentos,
bens e serviços de outros membros do “Acordo de Associação Transpacífico” e não
utilizarão sua posição monopólica para incorrer em práticas anticompetitivas
através das relações com suas casas matrizes, filiais ou outras empresas de
propriedade comum em um mercado não monopolizado, por tratar-se de práticas que
afetam negativamente os investimentos de outros países. As empresas estatais
oferecerão, igualmente, um tratamento não discriminatório na venda de bens ou
serviços aos investimentos de outros países.
Mais importante ainda: Os Estados Unidos
e a Austrália propõem um terceiro tipo de empresa pública que também estaria
regida por controles. Segundo relatórios de imprensa, a Austrália
introduziu o princípio de “neutralidade
competitiva” para controlar as empresas estatais.
A forma em que se aplicará esse princípio pode ser antecipada a partir das
diretrizes do governo australiano sobre “neutralidade competitiva”, que se
baseiam no conceito de “negócios de propriedade estatal”.
A empresa comercial de propriedade estatal que compita com empresas privadas
pode obter vantagens que impeçam ao setor privado competir em igualdade de
condições. De acordo com as diretrizes australianas, essas vantagens incluem
isenções de impostos, financiamento mais barato da dívida (pela qualificação de baixo risco ou pelas garantias governamentais),
não necessidade de uma taxa comercial de retorno e isenção de restrições
reguladoras ou de gastos.
Para compensar essas vantagens, as diretrizes australianas estabelecem, agora,
a forma em que as empresas estatais devem pagar os impostos em sua totalidade,
como devem devolver ao governo central a diferença dos custos de seus
empréstimos em comparação com os custos dos empréstimos do setor privado, o
pagamento dos honorários das licenças equivalentes ao governo central e
garantir que obtenham uma taxa de rentabilidade comercial.
É provável, pois, que o projeto do “Acordo de Associação Transpacífico” tenha
controles para uma terceira categoria de empresas estatais, as entidades comerciais
vinculadas ao governo que estejam envolvidas em atividades comerciais que
competem com o setor privado. Os controles propostos poderiam estar nessa mesma
linha, pela qual se recusariam as “vantagens” que têm as empresas vinculadas ao
Estado, como as mencionadas nas diretrizes australianas.”
“Hoje em dia, tornou-se tão
disseminada a manipulação política do noticiário que, na coluna de sábado,
acabei embarcando na suposta retaliação do Congresso ao STF (Supremo Tribunal
Federal), com a tramitação da PEC 33 - que define o poder recursal do Congresso
a leis declaradas inconstitucionais pelo STF.
Fui alertado pela analista política
Maria Inês Nassif, em artigo no Jornal GGN (www.jornalggn.com.br) no qual apresentou um quadro
perturbador do papel de alguns Ministros do STF, para gerar crises políticas e
contribuir para a desestabilização institucional do país.
Vendeu-se a ideia de que a
tramitação da PEC era fruto de represália do Congresso. Vários Ministros
manifestaram indignação - entre eles,
Gilmar Mendes, Marco Aurélio de Mello e o presidente do STF Joaquim Barbosa.
Maria Inês é taxativa: "Com toda certeza, os ministros que estão
reagindo desproporcionalmente a uma tramitação absolutamente trivial de uma
emenda constitucional no Congresso (...) estão fazendo uso político desses
fatos".
A emenda tramita desde 2011. Foi
proposta pelo deputado Nazareno Fontelenes (PT-PI) em 25 de maio do ano passado
e encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça em 06 de junho. O relator da
matéria é o deputado João Campos (PSDB-GO) – um parlamentar da oposição. E estava na agenda da CCJ desde
fevereiro deste ano.
O fato de terem incluído José
Genoíno (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP) no episódio comprovaria seu uso
político, diz Inês. "No ano passado,
quando a emenda foi apresentada, Genoino sequer tinha mandato parlamentar. Ele
e Cunha não pediram a palavra, não defenderam a aprovação, nada. Apenas votaram
a favor de um parecer de um parlamentar da oposição".
Não compete à CCJ apreciar o mérito
de qualquer proposta. Seu papel é apenas analisar se a proposta cumpre os
requisitos de constitucionalidade. Se cumprir, segue a tramitação até chegar ao
plenário da Câmara. Aí sim, explica ela, a proposta será analisada em dois
turnos, para depois cumprir dois turnos no Senado. "O primeiro passo da tramitação da PEC 33 foi dado na quarta-feira. Daí,
dizer que o Congresso estava prestes a aprovar a proposta para retaliar o STF
só pode ser piada, ou manipulação da informação".
A proposta tem respaldo na
Constituição. O artigo 52 fala da competência exclusiva do Senado Federal, diz,
em seu inciso X, que o Senado pode "suspender
a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão
definitiva do Supremo Tribunal Federal". No artigo 49, determina que é
da competência do Congresso Nacional "zelar
pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa
dos outros Poderes".
Conclui ela: "Diante dessas evidências constitucionais e
da história da tramitação da PEC na Câmara, fica a pergunta: quem está
ameaçando quem? É o Congresso que investiu contra o STF, ou o contrário?"
Na mesma quinta-feira, o Ministro
Gilmar Mendes concedeu uma liminar trancando a tramitação da lei que inibe a
constituição de novos partidos. Nos jornais de sexta, o ex-Ministro do STF
Carlos Velloso declarava-se espantando com a decisão de Gilmar.”
“O ato cogerador da 'crise' é [do
STF], de Gilmar Mendes, a pedido de um partido do próprio Congresso, o PSB
A "crise" entre o Supremo
Tribunal Federal e o Congresso não está longe de um espetáculo de circo,
daqueles movidos pelos tombos patéticos e tapas barulhentos encenados por
Piolim e Carequinha. É nesse reino que está a "crise", na qual quase
nada é verdadeiro, embora tudo produza efeito enorme na grande arquibancada
chamada país.
Não é verdade, como está propalado,
que o Congresso, e nem mesmo uma qualquer de suas comissões, haja aprovado
projeto que submete decisões do Supremo ao Legislativo. A Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara nem sequer discutiu o teor do projeto que
propõe a apreciação de determinadas decisões do STF pelo Congresso. A CCJ
apenas examinou, como é de sua função, a chamada admissibilidade do projeto, ou
seja, se é admissível que seja discutido em comissões e eventualmente levado a
plenário. A CCJ considerou que sim. E nenhum outro passo o projeto deu.
Daí a dizer dos parlamentares que
"eles rasgaram a Constituição",
como fez o ministro do STF Gilmar Mendes, vai uma distância só equiparável à
sua afirmação de que o Brasil estava sob "estado policial", quando, no governo Lula, o mesmo ministro
denunciou a existência de gravação do seu telefone, jamais exibida ou
comprovada pelo próprio ou pela investigação policial.[Por conta dessa suposta gravação, ele e o então Senador Demóstenes Torres (DEM), auxiliar no Congresso do criminoso Cachoeira, foram "chamar Lula às falas" como responsável pelo inexistente grampo. Por isso, Lula e o governo ficaram longo tempo sob intenso bombardeio midiático, para deleite da direita].
[Gilmar Mendes dá seu recado ao Poder Legislativo. Parece-me ser a demonstração de que ele sozinho pode impedir elaboração de projetos de lei e até mesmo a discussão ou tramitação no Congresso de assuntos que não lhe interessem. Por coincidência, a direita em geral e sua mídia o apoiam efusivamente]
De autoria do deputado do PT
piauiense Nazareno Fonteles, o projeto [que
tem por relator da matéria o deputado João Campos (PSDB-GO) – um parlamentar da
oposição], de fato polêmico, não propõe que as decisões do STF sejam
submetidas ao Congresso, como está propalado. Isso só aconteceria, é o que
propõe, se uma emenda constitucional aprovada no Congresso fosse declarada
inconstitucional no STF. Se ao menos 60% dos parlamentares rejeitassem a
opinião do STF, a discordância seria submetida à consulta popular. A
deliberação do STF prevaleceria, mesmo sem consulta, caso o Congresso não a
apreciasse em 90 dias.
Um complemento do projeto propõe que
as "súmulas vinculantes" -decisões a serem repetidas por todos os
juízes, sejam quais forem os fundamentos que tenham ocasionalmente para
sentenciar de outro modo- só poderiam ser impostas com votos de nove dos onze
ministros do STF (hoje basta a maioria simples). Em seguida a súmula, que
equivale a lei embora não o seja, iria à apreciação do Congresso, para ajustar,
ou não, sua natureza.
O projeto propalado como obstáculo à
criação de novos partidos, aprovado na Câmara, não é obstáculo. Não impede a
criação de partido algum. Propõe, isso sim, que a divisão do dinheiro do Fundo
Partidário siga a proporção das bancadas constituídas pela vontade do
eleitorado, e não pelas mudanças posteriores de parlamentares, dos partidos que
os elegeram para os de novas e raramente legítimas conveniências. Assim também
para a divisão do horário eleitoral pago com dinheiro público.
A pedido do PSB presidido pelo
pré-candidato Eduardo Campos [que está desempenhando papel muito conveniente para a volta dos tucanos ao poder], Gilmar Mendes concedeu medida liminar que sustou
a tramitação do projeto no Congresso, até que o plenário do STF dê a sua
decisão a respeito. Se as Casas do Congresso votassem, em urgência
urgentíssima, medida interrompendo o andamento de um processo no Supremo
Tribunal Federal, não seria interferência indevida? Violação do preceito
constitucional de independência dos Poderes entre si? Transgressão ao Estado de
Direito, ao regime democrático? E quando o Supremo faz a interferência, o que
é?
Ao STF compete reconhecer ou negar,
se solicitado, a adequação de aprovações do Congresso e de sanções da
Presidência da República à Constituição. Outra coisa, seu oposto mesmo, é
impedir a tramitação regimental e legal de um projeto no Legislativo, tal como
seria fazê-lo na tramitação de um projeto entre partes do Executivo.
O ato intervencionista e cogerador
da "crise", atribuído ao STF, é de Gilmar Mendes -e este é o lado
lógico e nada surpreendente do ato. Mas o pedido, para intervenção contra
competência legítima do Congresso, foi de um partido do próprio Congresso, o
PSB, com a aliança do PSDB do pré-candidato Aécio Neves e, ainda, dos
recém-amaziados PPS-PMN.
Com o Congresso e o STF, a
Constituição está na lona.”
“Há três
semanas, o conservadorismo comanda as expectativas do país.
O carnaval do tomate e o furor rentista marcaram a segunda quinzena de abril.
Deu certo.
No dia 17, o BC elevou os juros.
Ato contínuo, vários indicadores desautorizaram as premissas da terapia
ortodoxa.
Os preços dos alimentos – não o único,
mas um fator sazonal importante na pressão inflacionária – perderam fôlego.
O do tomate desabou.
Não apenas isso.
O cenário internacional desandou.
Recordes de desemprego na Europa vieram se somar à deflação das ‘commodities’,
ademais da decepção com a velocidade da retomada nos EUA.
Tudo a desaconselhar o arrocho pró-cíclico evocado pelos especialistas em
incursões aos abismos e às bancarrotas.
Há cinco anos, eles advertem que a resistência do Brasil à crise é um crime
contra o mercado.
Nenhuma
voz do governo ou do PT soube salgar o diagnóstico conservador com a salmoura
pedagógica das evidências opostas.
Dilma poderia ter ido à TV. É sua responsabilidade esclarecer a opinião pública
quando o futuro do país está sendo ostensivamente jogado na sarjeta das
manipulações.
Não significa mistificar os problemas de uma transição macroeconômica difícil
rumo a um novo ciclo de investimento.
Mas, sim, separá-los de interesses que não são os da nação.
As ferramentas macroeconômicas não têm partido.
Mas a forma de combiná-las, a dose e a direção, dependem de opções políticas
mediadas pela correlação de forças.
Um pedaço da correlação de forças se define no diálogo com a sociedade.
Disputar as expectativas, em certos momentos, é tão decisivo quanto ajustar as
linhas de passagem entre um ciclo e outro.
Um governo que toma decisões ancorado em diálogo direto com suas bases, e
apoiado por elas, irradia uma capacidade de comando que desencoraja o assalto
conservador.
Se Lula ficasse mudo em 2008, o jogral pró-cíclico faria do Brasil um imenso
Portugal .
O quadro hoje é outro?
Sempre é outro.
É para isso que existe governo. Se a história fosse estável e previsível,
bastariam burocracias administrativas.
Veio a terceira quinzena de abril.
Enquanto o PT se preocupa com Eduardo Campos, o verdadeiro partido
oposicionista alimentava um clima de dissolução institucional.
É só aquecimento: o lacerdismo togado e
seu diretório midiático podem muito mais.
A pauta da ‘caça ao Lula’ voltou às manchetes.
Grunhida pela boca do casal Roberto Gurgel e esposa, subprocuradora Claudia
Sampaio.
Estamos em linha com a nova tradição latino-americana.
A implosão institucional de governos progressistas tem no lacerdismo togado um
laboratório de ponta no país.
São sucessivas as contribuições ao modelo.
Na da semana passada, o STF desautorizou o Congresso a analisar a PEC sobre
novos partidos, subtraindo espaço do Legislativo na divisão dos poderes.
A ideia de um Judiciário que diga ao Congresso o que ele pode e o que ele não
pode discutir e votar é estranha à democracia.
Mas não ao método conservador, que pauta um Brasil cada vez mais explícito, à
direita, em seus duetos e sintonias.
Respira-se a certeza da impunidade associada à supremacia asfixiante do poder
de difusão conservador.
Avulta daí a progressiva desenvoltura de personagens que se dispensam do recato
e da liturgia observada nos velhos conspiradores.
Joaquim Barbosa se manifesta como uma extensão de Merval Pereira.
E vice-versa.
Gurgel acossa Lula e agasalha o líder de Carlinhos Cachoeira no Congresso,
Demóstenes Torres, com uma aposentadoria de R$ 22 mil.
E ninguém dá gargalhadas.
Como diz o senador Requião, falta humor à crítica política.
Falta também capacidade de se escandalizar.
Um delegado ex-integrante do aparato da ditadura diz que Otávio Frias e Sergio
Fleury eram parceiros de teoria e prática.
Tomavam chá das cinco no DOPS.
Dá para acreditar?
Dá para ter certeza de que as veladas ligações entre o dispositivo midiático e
a ditadura precisam ser investigadas. Por uma comissão de verdade.
Quem se dispõe?
Silêncio constrangedor.
O ministro Mercadante defende a “Folha” e o ‘seu’ Frias – como ele se refere ao falecido pai de Otavinho, em nota tocante.
(Leia o artigo demolidor de Paulo Nogueira, do “blog do Centro do Mundo”; nesta
pág., em “A DECLARAÇÃO DE AMOR DE
MERCADANTE POR ‘SEU FRIAS’).
Toffoli, ministro do Supremo, dá ultimato à Câmara: os representantes do povo têm 72 horas para
explicar o que estão pretendendo com a PEC-33 que determina que algumas
decisões do STF sejam submetidas ao Congresso e eleva de seis para noves votos
o quórum do Supremo ao invalidar emendas constitucionais do Legislativo.
Paulo Bernardo alia-se ao oligopólio da mídia.
A SECOM sustenta a “Globo”.
E o sub do sub do Banco Central vai discursar no Banco Itaú, espécie de
diretório informal do PSDB. Prega o choque de juros.
Por Paulo Nogueira, do “Diário do
Centro do Mundo”
“Uma das frases de Sêneca que
mais me agradam fala o seguinte: “Quando
penso em certas coisas que disse, tenho inveja dos mudos.”
Ela me ocorreu ao ter ciência da carta que o ministro Aloízio Mercadante
escreveu para a “Folha de S. Paulo”.
Mercadante fez um desagravo da memória de Octavio Frias de Oliveira, falecido
dono do jornal, depois que um delegado dos tempos da ditadura militar disse, na
Comissão da Verdade, o que todos sabem, exceto talvez ele mesmo, Mercadante: que Frias colaborou ativamente com a
repressão a “terroristas”, “subversivos” e “assassinos”.
Frias foi o chamado colaborador total. De um lado, forneceu carros do jornal
para a perseguição de “subversivos” pela OBAN, “Operação Bandeirante”, um grupo
particularmente selvagem dedicado a exterminar a resistência à ditadura.
De outro, usou sua empresa jornalística para publicar conteúdos pró-ditadura.
Meu pai, editorialista e com carreira na “Folha” estabelecida antes que Frias
comprasse o jornal em 1961, se recusou a escrever um editorial no qual Frias
mandou que fosse dito que não existiam presos políticos – todos eram criminosos comuns.
Frias, nos piores anos da ditadura, manteve um jornal, a “Folha da Tarde”, que
era uma espécie de porta-voz da repressão. (Mercadante
poderia conversar sobre isso com Frei Betto, que foi jornalista da FT antes de
Frias transformá-la numa extensão da OBAN.)
Num certo momento, com a abertura política, Frias, como empresário, enxergou
uma boa oportunidade de negócio ao engajar a “Folha” na campanha das diretas e
deixá-la mais arejada.
Era um movimento óbvio. O concorrente “Estadão” já estava morto editorialmente,
então. E a “Globo” era, como a FT, porta-voz da ditadura na tevê.
O distanciamento oportunista da “Folha” em relação ao regime não impediria
Frias de acatar servilmente uma ordem de um general para que afastasse o
diretor Claudio Abramo depois que o grande cronista Lourenço Diaféria escreveu,
com toda razão, que os paulistanos mijavam na estátua do Duque de Caxias, no
centro da cidade, perto da “Folha”.
Bastava passar por lá e sentir o cheiro.
Para Claudio Abramo, foi um desdobramento irônico e amargo do editorial que meu
pai recusou e ele, Claudio, escreveu, sabe-se lá a que custo emocional e mesmo
físico, uma vez que era um homem de esquerda.
Frias pôs imediatamente no lugar de Claudio um jornalista que ele mantinha por
causa das relações deste com o regime: Boris
Casoy, egresso do “Comando de Caça ao Comunista” e antigo locutor de rádio.
(Anos depois, na televisão, ao falar dos lixeiros, Boris mostrou quão pouco
mudou nestes anos todos.)
Assustado, medroso, Frias tratou também de tirar seu nome da primeira página do
jornal, como responsável. Boris passou a figurar como o responsável.
Apenas para situar, Boris marcou uma ruptura na “Folha”. Até ali, os chefes de
redação eram jornalistas completos: tinham
feito grandes reportagens a partir das quais subiram até serem testados também
como editores.
Boris simplesmente não sabia escrever. Ele estava no jornal, e num cargo
elevado, por razões políticas, e não jornalísticas.
Isso gerou situações bizarras. Na morte de Samuel Wainer, cabia a Boris escrever
um pequeno tributo na coluna “São Paulo”. Boris chamou meu pai para escrever
por ele por não ter capacidade para realizar a tarefa.
Mercadante mostrou uma ignorância desumana ao desconhecer tudo isso na carta
que mandou à “Folha”.
A demonstração espetacular de desconhecimento é tanto mais grave por vir do
ministro da Educação. Se ele não conhece com alguma profundidade um assunto tão
próximo dele, o que ele conhecerá?
Terá lido livros? Quais?
Pela ignorância, mais ainda do que pela bajulação despropositada, Mercadante
deveria ser afastado sumariamente do cargo que ocupa. Daqui por diante, ele
será sempre lembrado como aquele sujeito que disse que o “seu Frias” foi um
quase mártir na “luta pelas liberdades
democráticas”.
A carta de Mercadante cumpre o papel inevitável das mensagens estapafúrdias, o
de ser alvo de desprezo dos chamados dois lados. É altamente provável que
Otávio Frias Filho não tenha enxergado na carta o que todo mundo enxergou.
Se existe um atenuante para Mercadante, é que parece haver no DNA do PT uma
espécie de submissão mental aos donos da mídia.
Essa patologia ajuda a entender por que o Brasil não avançou nada, em dez anos
de PT, na questão crucial para a sociedade de discutir os limites da mídia, a
exemplo do que a Inglaterra acaba de fazer.
O momento simbólico dessa submissão – que
o grande Etienne de La Boétie chamava de “servidão voluntária” – é assinado
por Lula, ao escrever na morte de Roberto Marinho que ali se ia um, pausa
antecipada para rir, um grande brasileiro, merecedor de três dias de luto
oficial.”
FONTE: escrito por Paulo Nogueira, do “Diário
do Centro do Mundo”. O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor
editorial do site de notícias e análises “Diário do Centro do Mundo” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21967). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
“Veja os principais pontos dos
resultados financeiros e operacionais do primeiro trimestre do exercício de
2013 da Petrobras, divulgados na sexta-feira (26/04):
O lucro líquido da Petrobras
foi de R$ 7 bilhões e 693 milhões no 1º trimestre de 2013. O lucro operacional alcançou R$ 9 bilhões
849 milhões, representando aumento de 72% em relação ao trimestre anterior,
devido aos reajustes de preços do diesel e da gasolina, menores custos de
importação e redução das despesas operacionais.
O lucro líquido ficou estável em relação ao trimestre anterior, em
função do maior resultado operacional
ter sido compensado pelos menores ganhos financeiros e maior imposto sobre o
lucro.
Na comparação com o 1º trimestre de
2012, o resultado operacional foi 16%
inferior, refletindo maiores volumes de importação, o efeito da depreciação
cambial (13%) e maiores despesas operacionais. O lucro líquido ficou 17% menor, em função do menor resultado
operacional e ausência de benefício fiscal.
A produção total de petróleo e gás natural totalizou 2 milhões 552
mil barris/dia na média do trimestre, ficando 2% inferior ao 4º trimestre de
2012. Conforme esperado, a produção diminuiu devido ao declínio natural dos
campos e ao maior número de paradas para manutenção, concentradas no 1º
semestre do ano.
Dois sistemas de produção iniciaram
operação na Bacia de Santos: FPSO Cidade
de São Paulo, no campo de Sapinhoá, no pré-sal, e FPSO Cidade de Itajaí, no campo de Baúna, no pós-sal. O terceiro
sistema – FPSO Cidade de Paraty – já
se encontra em processo de ancoragem no campo de Lula Nordeste e começará a
produzir no final de maio de 2013.
NOVO RECORDE DE PRODUÇÃO DO PRÉ-SAL
DE 311 MIL BARRIS POR DIA EM 17 DE ABRIL.
As novas descobertas foram: Sul de Tupi e Florim em áreas da Cessão Onerosa; Sagitário no pré-sal da Bacia de Santos; e Mandarim, no pós-sal do campo de Marlim Sul na Bacia de Campos.
O “Programa de Recuperação da
Eficiência Operacional da Bacia de Campos” (PROEF) apresentou ganhos de 34 mil
barris por dia na produção de óleo e LGN do 1º trimestre de 2013.
O “Programa de Otimização dos Custos
Operacionais” (PROCOP) gerou resultados globais acima do previsto para o
trimestre, resultando em economia de R$ 1 bilhão 260 milhões (1/3 da meta para
o ano).
A Petrobras bateu recorde de processamento de petróleo em 7 de abril
(2 milhões 149 mil barris/dia). No
trimestre, houve crescimento do mercado interno (+9%) atendido principalmente
pelo aumento da produção de derivados (+10%) em comparação ao mesmo período de
2012.
Realização de dois reajustes de
preços do diesel (totalizando 10,7%) e um de gasolina (6,6%).
Os investimentos totalizaram R$ 19 bilhões 769 milhões, sendo 54% nas
atividades de Exploração e Produção.”
Por Robert Parry, no “Consortium News”,
sob o título original “It’s the Media, Stupid!”. Artigo traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e transcrito no blog
“Redecastorphoto” .
Robert
Parry
“A imprensa-empresa nos
EUA jamais foi “liberal”. Na melhor das hipóteses, pode-se dizer que houve
períodos, em passado não muito distante, quando as grandes empresas-imprensa
faziam melhor serviço, ao apresentar os fatos. E havia alguma imprensa “underground”
que publicava algum material que a grande imprensa-empresa evitava.
(Entreouvido
na “Vila Vudu”: no Brasil, a imprensa-empresa jamais foi,
sequer, “de centro”: sempre foi da “direita udenista mais fascista”; depois
passou a ser “tucana-uspeana à moda Sorbonne & Chicago”; ultimamente, já é
sionista, “opusdeizista” e “danuzaleãosista”, sempre fascista.)
Segregação Racial nos EUA
(anos 1950's e 1960's )
Assim, houve jornalistas
que revelaram os horrores da segregação racial nos anos 1950s e 1960s;
correspondentes de guerra expuseram parte da cruel violência da Guerra do
Vietnã no final dos anos 1960s; algumas grandes empresas-jornais desafiaram o
governo dos EUA e publicaram a história real, vazada, daquela guerra, em 1971;
o “Washington Post” revelou uma parte (embora evidentemente não todos)
dos crimes políticos de Richard Nixon em 1972-74; e o “New York Times”
liderou a divulgação de uma parte da imunda
história da CIAem meados dos anos 1970s.
Apesar de esse trabalho
com certeza ofender a Direita e muitas alas do ‘Establishment’, todas
aquelas matérias tiveram um elemento comum:
todas eram histórias verdadeiras. Nesse sentido, não eram nem “liberais”,
nem “conservadoras”, nem “centristas”. Eram jornalismo simplesmente acurado,
bem feito – e contribuíram para trazer à
vida outras instituições democráticas dos EUA, dos protestos nas ruas a
pressão, pelos tribunais, contra quem chantageava e pressionava, com lobbies, funcionários do Estado.
História suja da CIA -
Central Intelligence Agency (Serviço Secreto dos EUA)
Essa ressurgência da
democracia participativa era o que os entrincheirados no poder mais temiam,
fosse no sul segregacionista ou nos salões de painéis de carvalho nas paredes
dos bancos de “Wall Street“ e grandes empresas. E eles organizaram uma
poderosa contra-ação, para simultaneamente (a)impedir novas “revelações” (provavelmente mais ameaçadoras a cada dia) de crimes e erros e
vícios, e (b) para reassumir o controle dos canais de informação que
influenciam o modo como o povo norte-americano vê o mundo.
Naquele contexto, uma das
estratégias mais efetivas de propaganda sempre foi apresentar o jornalismo decente
como “de esquerda” e desqualificar os jornalistas decentes como
“antiamericanos”. Assim, muitos norte-americanos passariam a duvidar de
qualquer informação de boa qualidade; ao mesmo tempo em que passariam a
descartar a informação acurada, acusada de ter “viés político”.
Como jornalista empregado
da “Associated Press” e da revista “Newsweek” nos anos 1980s,
conheci várias dessas táticas de jogo duro, quando cobria o governo Reagan, e o
governo Reagan tentava manipular a percepção dos cidadãos, inflando o mais
possível inúmeras “ameaças externas” (de Manágua a Moscou) e demonizando alguns
grupos nacionais (das “rainhas do
bem-estar social” aos sindicatos em geral).
Os homens de Reagan
referiam-se às suas principais metas como “chutar
para bem longe a Síndrome do Vietnã”, quer dizer: apagar, na população dos EUA, qualquer
resistência a qualquer movimento para nos arrastar, todos, outra vez, para
guerras em países longínquos, empurrados por mentiras.
Assista
a seguir:
A GUERRA NAS ONDAS DO ÉTER
A chave para o sucesso
sempre foi conseguir controlar a maior quantidade possível de veículos de mídia
noticiosa – fosse pela propriedade, nesse
caso com empresas cujos proprietários fossem da Direita ativa; ou com pressão
sobre os executivos dos veículos de notícias para que adotassem postura mais
“patriótica”; ou por intimidação direta contra qualquer um que não se
alinhasse.
As táticas deram certo,
funcionaram como feitiço. Foram ajudadas por uma mudança na Esquerda, que
vendeu ou fechou e, no geral, desistiu, de vários dos veículos da imprensa
“underground” da era Vietnã, para concentrar-se “no local”, em questões locais:
“pensar globalmente e agir localmente”,
dizia a palavra-de-ordem daquele momento.
Essa combinação de fatores
deu à Direita e aos conservadores do ‘Establishment’ domínio completo
sobre a imprensa de notícias. Como um exército que controlasse os céus, a
Direita e os conservadores passaram a poder fazer o que bem entendessem, para
detonar qualquer um que se interpusesse, fosse político, jornalista ou cidadão.
Nenhum ser humano atento mais ao fato que à versão nunca mais estaria a salvo,
na noite escura que desceu sobre o jornalismo-empresa.
O sucesso da Direita pode
ser aferido em diferentes momentos do processo: quando os Republicanos
conseguiram esconder o escândalo dos “Contra” do Irã, em 1987 e quando o
presidente George H.W. Bush disse, depois de destruir o já destroçado exército
iraquiano, em 1991: “chutamos para bem
longe, de uma vez por todas, a Síndrome do Vietnã”.
Síndrome do Vietnã - os
EUA saíram corridos da guerra provocada por eles mesmos
A realidade da
imprensa-empresa de notícias – que só fez
ampliar-se durante os anos 1990s e no início do novo século – já era,
então, que a Direita podia inventar qualquer tema de propaganda, convertê-lo em
noticiário e ter certeza de que milhões de norte-americanos engoliriam qualquer
coisa. Assim, o presidente George W. Bush conseguiu inventar mentiras para
invadir o Iraque em 2003 e os jornais, proprietários e jornalistas das
empresas-imprensa não apenas nada fizeram para estabelecer a verdade como, até,
o ajudaram a mentir.
Vez ou outra algumas vozes
emergiam na Internet e em alguns veículos de baixa circulação e audiência, para
desmentir as mentiras de Bush sobre a guerra do Iraque; mas não era difícil
para a grande empresa-imprensa desqualificá-los ou ignorá-los. Foi preciso que
se acumulasssem os erros e fracassos de Bush na Guerra do Iraque e outras
crises locais e internacionais, para que, afinal, aquela potentíssima máquina
de propaganda da direita começasse a engripar.
Mas a dinâmica geral nunca
mudou. Sim, a “rede MSNBC” – depois de fracassar na tentativa de
posicionar-se tão à extrema direita quanto a “rede Fox News” – moveu-se
um pouco à esquerda, chegou quase ao centro, e conseguiu algum sucesso de
audiência com interpretações “liberais” da política doméstica (mas sem jamais desafiar abertamente e
seriamente o que o Establishment
mandava dizer sobre política externa).
Há também alguns sites
na Internet que desafiam a sabedoria convencional e apoiam ativamente o
intervencionismo dos EUA em vários pontos do mundo, mas mal sobrevivem, do
ponto de vista financeiro, e têm alcance limitado na população em geral.
COMPRAR AS EMPRESAS, PARA
ESCREVER AS NOTÍCIAS
Agora, tudo leva a crer
que, nos próximos anos, a Direita norte-americana consolidará sua dominação
sobre a imprensa-empresa de notícias. Em futuro próximo, algumas das mais
conhecidas e influentes redes regionais de noticiário poderão já estar sob
controle direto de ideólogos ativos da extrema direita nos EUA, como Rupert
Murdoch ou os Irmãos Koch.
David e Charles Koch
As “Koch Industries”,
gigante de petróleo e gás, de propriedade privada, que oferece todos os
recursos necessários para que Charles e David Koch financiem fartamente
inúmeros think tanks libertaristas e organizações do movimento “Tea
Party”, começam a testar a mão em ofertas para comprarem oito veículos
regionais da “Tribune Company”, incluídos aí o “Los Angeles Times”,
o “Baltimore Sun”, o “Orlando Sentinel”, o “Hartford Courant”
e o “Chicago Tribune”, como se lê em matéria publicada no “New York
Times” domingo passado (21).
Se comprarem os veículos
do grupo “Tribune”, os Irmãos Koch Brothers ter-se-ão presenteado, eles
mesmos, com mais uma importante plataforma para distribuir propaganda de
extrema direita e fazer da vida política (e,
provavelmente, também privada) dos adversários políticos, um perfeito
inferno. Lembro, dos meus dias de repórter, cobrindo o Capitólio, do que todos
os jornalistas sabiam: nada assusta mais um deputado ou senador, que a oposição
obcecada do jornal regional de sua base eleitoral.
Rupert Murdoch
Outro que também deve
apresentar-se para esse negócio, ou para comprar, pelo menos, o “Los Angeles
Times”, é o magnata sionista Rupert Murdoch, que já é proprietário da rede “Fox
News” e de poderosos jornais diários no Reino Unido e nos EUA, dentre os
quais o “Wall Street Journal”.
Do outro lado, concorrendo
com esses pesos-pesados, há empresários um pouco mais liberais, de olho no “Los
Angeles Times”, mas não se sabe se têm condições de competir com as gordas
carteiras dos Irmãos Koch e Murdoch. O “New York Times” diz que as
Indústrias Koch podem ter grande vantagem no negócio, porque comprariam, de uma
vez, os oito jornais do grupo.
Alguns, no campo da
Esquerda, zombam da ideia de investir na indústria “dinossauro” do jornalismo
impresso e questionam o interesse, para a Esquerda, de contar com – que fosse! – pelo menos alguns desses
títulos de prestígio no jornalismo dos EUA. Não há dúvidas de que, sim, muitos
daqueles jornais estão em decadência, em quase todos os casos por erros de
administração, de política empresarial e pela volatilidade dos dólares da
publicidade.
Mas ainda são vozes
influentes, que falam às populações das áreas metropolitanas interessadas em
saber sobre o mundo. Os jornais também definem a pauta de discussão das TV locais
e de muitos blogueiros, sobretudo dos blogueiros jornalistas. O “Baltimore
Sun”, por exemplo, produziu a mais importante peça de jornalismo sobre os
crimes contra direitos humanos no governo Reagan, na América Central; e
publicou inúmeros importantes furos de bom jornalismo sobre espionagem
praticada pelo governo Bush contra cidadãos norte-americanos.
Gary Webb
É verdade, sim, que vários
dos grandes jornais desgraçaram-se, eles mesmo, nas últimas décadas, como o “Los
Angeles Times” e a vergonhosa campanha que moveu contra o jornalista
assassinado Gary Webb, depois que ele trouxe à tona o escândalo de “Contras” e cocaína, do governo Reagan, no
final dos anos 1990s.
Mas páginas de Internet – mesmo as páginas, como este nosso “Consortiumnews”.com que tem declarado
e forte interesse em fazer jornalismo investigativo – vivem sob a pressão
da falta de recursos financeiros e de material humano para produzir esse tipo
de projetos de investigação, que são caros, pelo menos com alguma regularidade.
Se não se organizarem
maiores investimentos, de cidadãos e empresas honestas – seja na Velha Mídia impressa ou na Nova Mídia eletrônica, para que se
produza jornalismo de melhor qualidade – os EUA continuarão a navegar para
o fundo do poço, num mundo de ficção, interesses escusos, paranoia de Direita e
fatos falsificados. E isso é grave risco para todo o planeta.”