sábado, 15 de agosto de 2009

A EUTANÁSIA REPUBLICANA

Li hoje no site "Terra Magazine", do jornalista Bob Fernandes:

A eutanásia republicana

Paul Krugman, do The New York Times


"Estou nesta competição porque eu não quero que a nação passe o próximo ano lutando em Washington as mesmas batalhas da década de 1990. Eu não quero uma competição entre a América Azul e a América Vermelha. Eu quero governar os Estados Unidos da América".

Foi assim que declarou Obama em novembro de 2007, convencendo os democratas a nomeá-lo, em detrimento de seus rivais, porque só ele poderia libertar a nação do separatismo amargo do passado.

Alguns de nós viram essa declaração com ceticismo. Alguns meses depois de Obama dar o discurso, eu observei que a sua visão de "um tipo diferente de política" era uma esperança vã, que qualquer democrata que chegasse à Casa Branca teria de enfrentar "uma sucessão de acusações jocosas e escândalos fabricados, viabilizados pelos maiores veículos da mídia que não têm coragem de fazer diretamente tantas acusações falsas".

E agora?

O presidente Obama certamente enfrenta a mesma espécie de oposição que o presidente Bill Clinton enfrentou no passado: uma direita colérica que não aceita a legitimidade do seu presidente e que espalha em altos brados os rumores forjados pela mídia direitista.

É impossível acalmar essa oposição. Alguns formadores de opinião alegam que Obama polarizou o país seguindo pautas exageradamente liberais. Mas a verdade é que os ataques ao presidente não têm relação alguma com seus feitos e propostas.

No momento, o assunto que mais deflagra acusações é reforma de saúde, que, segundo Sarah Palin, irá gerar "o quadro de morte", antecipando a morte de idosos e outros cidadãos. Isso é uma farsa, claro. O projeto que exigia ao Medicare pagar por apoio psicológico aos idosos foi apresentado pelo senador Johnny Isakson, republicano - sim, você leu bem, republicano - da Geórgia, que diz ser "loucura" sequer pensar em eutanásia.

E há bem pouco tempo, alguns dos mais tórridos entusiastas da eutanásia, incluindo Newt Gingrich, ex-porta voz da Casa Branca, além da própria Palin, apoiavam as chamadas "diretivas avançadas" dos profissionais de saúde em caso de o paciente estar incapacitado ou em coma. Era exatamente isso que se propunha - e que agora, depois de toda a histeria, foi retirado do projeto-lei.

Mesmo assim, a mancha continua a se espalhar. Como o exemplo de Gingrich mostra, esse não é um fenômeno isolado: Antigos figurões republicanos, até os supostos moderados, endossaram a mentira.

O senador Chuck Grassley, do Iowa, é um desses supostos moderados. Eu não sei dizer de onde vem essa reputação centrista - afinal de contas, foi ele que comparou os críticos de Bush a Hitler. De qualquer forma, seu papel no debate da mudança no sistema de saúde tem sido absolutamente desprezível.

Na semana passada, Grassley alegou que o tumor no cérebro de seu colega Ted Kennedy não seria tratado de forma adequada em outros países porque eles preferem "gastar dinheiro em pessoas que podem contribuir mais à economia".

Na última semana, ele disse a uma platéia que "vocês têm todo o direito de temer", e que nós "não podemos ter um plano de saúde administrado pelo governo para nos dizer quando desligar os aparelhos de nossas avós".

Relembrando, essas são palavras de um suposto republicano centrista, membro da Gangue dos Seis, ao que parece, tentando formular um plano de saúde bipartidário.

E lá se vai o sonho de Obama de ultrapassar as fronteiras políticas. A verdade é que os fatores que influenciaram mais negativamente a política na era Clinton - a paranóia que tomou conta de uma vasta maioria de americanos, alimentada por republicanos governantes - continuam mais vivos do que nunca. Na realidade, a situação tende inclusive a piorar porque o colapso da administração Bush deixou os republicanos sem lideranças além de Rush Limbaugh.

A pergunta agora é: como Obama vai lidar com a morte do seu sonho de política extrapartidária?

Até agora, pelo menos, a reação da administração Obama frente ao ódio da direita radical tem sido absolutamente estoica. É como se os oficiais do governo estivessem paralisados de surpresa em reconhecer que esse tipo de reação acontece com outros políticos além dos Clinton, como se estivessem apenas esperando que a celeuma passe.

E o que Obama precisa fazer? Seria bom, em primeiro lugar, que ele oferecesse explicações mais claras e concisas sobre seu plano de saúde. Ele inclusive melhorou muito esse aspecto nas últimas semanas.

O que ainda falta é um senso de paixão e urgência - paixão pelo objetivo de garantir saúde para todos os americanos e urgência para acabar com as mentiras e o fomento do medo que está sendo utilizado para destruir esse objetivo.

Será que Obama, tão eloquente nas mensagens de apoio a seu povo, conseguirá desfazer os nós dados pela oposição furiosa e irracional? Só o tempo dirá".

Nenhum comentário: