Terra Magazine
Impossível negar que a semana que passou trouxe boas notícias para a questão ambiental no País.
"As principais, o anúncio da menor taxa de desmatamento da floresta amazônica em 21 anos de medições e a definição da meta de cortar 36,1% a 38,9% da emissão de gases de efeito estufa até 2020. Para a Amazônia o corte previsto é de 80%. Posições que serão levadas, em dezembro, à conferência do clima de Copenhague.
Muito se reclamava da demora nessa definição.
No Brasil, para esclarecer a posição de um governo espremido entre setores preocupados em não obstaculizar a aceleração do crescimento econômico e outros que enxergam na preservação ambiental riqueza ainda maior.
No exterior, pela expectativa de que, ao colocar suas cartas na mesa, o Brasil ajudaria a destravar as negociações para um acordo amplo de combate ao aquecimento global.
No último fim de semana, na contramão do bem sucedido encontro dos presidentes Lula e Sarkozy, em Paris, notícias vindas da reunião de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em Cingapura, serviram como balde de água fria na esperança de se caminhar para um Protocolo de Kyoto redivivo.
Os presidentes dos EUA e China, Obama e Hu Jintao, e países manobráveis pela hegemonia se puseram numa retranca que foi abandonada até por Dunga na seleção brasileira.
Mas o Brasil fez bem em mostrar a cara. Mesmo que em vão, poderá espernear e cobrar respeito daqueles que, até aqui, menos decência ambiental tiveram com a Humanidade.
É ampla e ousada a meta brasileira. Além dos cortes nas emissões, incorpora ações de longo alcance na agropecuária - recuperação de pastagens, plantio direto, fixação biológica do nitrogênio -, e na utilização crescente de fontes renováveis de energia, como os biocombustíveis, as hidrelétricas e o uso do "carvão verde" (de florestas plantadas) na siderurgia.
O custo para atingir essas metas será alto. Muito maiores, porém, serão os benefícios para a economia e, sobretudo, para a vida. Entidades ambientalistas, como WWF e Greenpeace, saudaram com entusiasmo a posição de nosso governo.
A coluna estranha apenas um fato: o motivo para a muralha ruralista interna permanecer calma.
Três possibilidades: primeiro, o ano 2020 pode ser um horizonte muito distante para visões antecipadas que não vão além dos dedos de uma mão (em meses); segundo, velhas raposas políticas contam com o fato de que, nestas plagas, metas de longo prazo costumam cair no esquecimento; terceiro, diante de benesses imediatas, sucumbiram à esperteza do governo.
Aposto em um pouco de tudo isso.
É claro que a prorrogação da entrada em vigor do novo Código Florestal para 11 de junho de 2011, que permite aos donos de terras irregulares mais 18 meses para apresentarem projeto que se enquadre nas novas regras, teve efeito "Maracugina" sobre espíritos tão fogosos. É pouco, porém, para acalmar lideranças tão ciosas de seus privilégios.
Uma no cravo outra na ferradura.
De qualquer modo, a grande cada vez menor imprensa parece acreditar em momentos de calmaria na peleja entre motosserras que desbravam campos arados e metros de matas ciliares que percorrem águas de propriedades agrícolas.
O que parece cada vez mais evidente é que o vencedor desse embate será definido pelo mercado, componente deificado do sistema capitalista de produção. Quem matou, matou. Quem desmatou, desmatou. Perderam, pensando em ganhar, e serão minorias controladas pela própria sociedade.
O fator ambiental já é um atributo de competitividade. Melhor aderirem."
FONTE: artigo de Rui Daher, administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola, publicado hoje (17/11) no portal Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes.
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