terça-feira, 5 de abril de 2011
A TÁTICA DOS VENCIDOS
Por Rodolpho Motta Lima
“Dilma Roussef, na sua segunda ida ao exterior na condição de Presidenta da República,como já o fizera na Argentina, marcou a viagem por alguns simbolismos expressivos.
Foi bom e oportuno o seu posicionamento de solidariedade a Portugal, país de indeléveis laços históricos com o Brasil e que atravessa sérios problemas econômicos. Ao acenar com a possibilidade (nem sei se concretizável) de apoio material aos portugueses, a Presidenta produziu gesto afirmativo revelador de um país que vai, aos poucos, deixando de lado o seu espírito de colonizado para assumir uma postura que o equipara às nações mais respeitadas no planeta.
Além dessa afirmação diplomática, é relevante destacar que a visita de Dilma teve como objetivo prestigiar os títulos honoríficos conferidos ao ex-presidente Lula, repercutindo a grande expressão política por ele alcançada, no âmbito mundial, durante o seu governo. A presença solidária da Presidenta é também resposta inequívoca a quantos estão pretendendo, levianamente, na grande imprensa, semear divergências entre os dois.
“Dividir para conquistar” está longe de ser um dito original no campo da política. A mídia oportunista sabe disso e tenta, de todas as formas, desestabilizar a estreita ligação pessoal e ideológica que une Dilma a Lula. Alguns comentários nesse sentido são “plantados” de forma que imaginam ser sutil, mas que, muitas vezes, beiram o ridículo. Em um artigo publicado um dia desses em “O Globo”, o colunista Nelson Motta chega a desenhar a possibilidade literal de um romance de Dilma com Fernando Henrique, por conta da cortesia que norteou o encontro dos dois no banquete oferecido ao Obama...
Em matéria de especulação tendenciosa, aliás, a vinda de Obama ao Brasil e a não participação de Lula no citado banquete serviram –permitam os trocadilhos– de prato cheio para essa imprensa faminta por dissensões: Lula não teria comparecido por estar, de alguma forma, agastado com a Presidenta. Mas o que se viu em Portugal reduziu a pó o delírio da mídia.
O fato é que os vencidos nas recentíssimas eleições, cinicamente, estão fingindo que a venceram. De repente, é como se Dilma tivesse sido eleita como contraponto a Lula, quase uma opositora...
Quem tivesse saído do Brasil um pouco antes das eleições e apenas agora tivesse retornado ao país teria dificuldade de entender os acordes dessa orquestrada sucessão de mesuras e rapapés, de elogios quase aclamatórios à candidata eleita, reproduzidos por setores midiáticos que fizeram o possível e o impossível -com sérios arranhões na ética- para que ela fosse derrotada. Agora, Dilma não é mais um “poste”, mas tem luz própria que ofusca Lula; não é mais despreparada para governar, mas tem a silenciosa sabedoria dos estadistas que muitas vezes faltou ao antecessor; não é mais a perigosa e sanguinária guerrilheira, mas uma defensora intransigente das liberdades democráticas arranhadas por Lula em posicionamentos anteriores; não é mais uma invenção de Lula, mas a sua negação...
Quem viu e ouviu o que diziam sobre Dilma os jornalistas globais (como Merval Pereira, Miriam Leitão, Arnaldo Jabor , Lúcia Hipólito e tantos outros), e compara com muito do que se diz agora na mídia majoritária tem vontade de beliscar-se para ter certeza de que está diante de algo concreto, real. Mudaram os tempos ou as pessoas? Nem uma coisa nem outra. Tudo isso tem um propósito e é só verificar como se encaixa com as posturas da própria oposição nas figuras de Aécio, Kassab e muitos mais. Em estratégia que acreditam poder dar certo, entoam todos um canto de sereia para atrair a Presidenta. E, é claro, para depois jogá-la às feras.
Esse assunto já mereceu, aqui no “Direto da Redação”, oportunos artigos –do Mair Pena Neto (“Do “poste à governante encantadora”) e do Eliakim Araújo (“Estará Dilma se distanciando de Lula ?”), cuja releitura sugiro. Volto a ele, contudo, pela sua importância. Penso que os hipócritas vão dar com os burros n’água. Lula e Dilma são, sim , pessoas diferentes. Isso é o óbvio. Mas o que os brasileiros estão percebendo quando comparam os dois não é uma divisão, uma secessão, mas uma soma, uma complementaridade, que vai permitir ao país–com a continuidade dos projetos sociais- mais e maiores saltos rumo à dignidade de seus cidadãos.”
FONTE: escrito por Rodolpho Motta Lima, advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ, com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro, com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. É funcionário aposentado do Banco do Brasil (http://www.diretodaredacao.com/noticia/a-tatica-dos-vencidos).
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