O jornal Valor Econômico anteontem publicou a seguinte reportagem de Virgínia Silveira, de São José dos Campos:
“As contrapartidas comerciais ou os chamados offsets são hoje amplamente utilizados nos grandes contratos de compras governamentais em todo o mundo. No Brasil, apesar de ser uma prática pouco conhecida, o offset vem ganhando projeção por conta das discussões e desdobramentos em torno do projeto militar FX-2.
Para efetivar a compra de 36 aeronaves de superioridade aérea, o governo brasileiro está avaliando, entre outros fatores, quais as melhores propostas de compensações comerciais, industriais e tecnológicas oferecidas pelas três empresas que disputam o contrato - a americana Boeing, a francesa Dassault e a sueca SAAB.
A Embraer tem várias experiências como beneficiária de acordos de offset. Uma delas foi a venda, no inicio dos anos 90, de 50 jatos Tucano à França, como contrapartida à aquisição de helicópteros franceses pelo governo brasileiro. A compra de aviões militares dos EUA, no mesmo período, também rendeu a Embraer um contrato de fabricação de flaps para o avião comercial MD-11.
A situação inversa da Embraer, como ofertante de programas de offsets, é relativamente nova, embora a empresa já tenha realizado, mesmo que de forma sutil, para o governo da Grécia, quando este adquiriu aviões de vigilância em 2002.
O caso mais recente e consistente de oferta de offset por parte da Embraer está relacionado a Colômbia. O governo deste país comprou 25 aeronaves Supertucano da Embraer em 2005 e o contrato prevê que a empresa brasileira desenvolva um programa de offset que beneficie as indústrias colombianas e ajude o país a fortalecer o seu setor aeroespacial, para que futuramente ele tenha mais independência vigor comercial nessa área.
A Embraer, segundo confirmou o vice presidente para o mercado de defesa, Orlando Ferreira Neto estaria trabalhando no desenvolvimento de 15 projetos de offset com a Colômbia e que isso poderia ser feito num prazo de 10 anos. O executivo informou que não poderia dar mais detalhes sobre o contrato de offset com a Colômbia por se tratar de um acordo confidencial.
A empresa colombiana FSC AS Division Aeronáutica contratou a brasileira Sygma, de São José dos Campos, para desenvolver parte desse programa de offset que prevê, entre outras coisas, a modernização da frota de aviões Tucano da Força aérea Colombiana (FAC) e a formação de mão de obra qualificada (técnicos, engenheiros e professores) na área de tecnologia aeroespacial.
Trata-se de um projeto de quatro anos e o objetivo é formar as bases para que o governo colombiano possa desenvolver uma indústria aeronáutica forte e competitiva. O ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) participará desse programa, com a realização de um mestrado em engenharia aeronáutica e gestão, que envolverá inicialmente quatro professores e 20 engenheiros aeronáuticos da Colômbia.
"O ITA apoiará a realização de cursos profissionalizantes na área de engenharia aeronáutica e de especialização em gestão e segurança aérea. O objetivo deles é criar competência futura no setor aeronáutico, que prepare sua indústria para participar de programas como o da aeronave KC-390, que a Embraer fará para a Força aérea Brasileira (FAB)", comentou o reitor do ITA, brigadeiro Reginaldo dos Santos.
A Sygma também assessora a FSC na montagem de um centro de certificação aeronáutica naquele país, nos moldes do que já existe hoje no Brasil no CTA, através do IFI (Instituto de Fomento a Indústria), órgão que até 2006 era responsável pela homologação de todas as aeronaves da Embraer.
"Mais da metade dos programas de offset que estão sendo negociados com o governo da Colômbia contam com o apoio do CTA", ressalta o diretor da Sygma, Manoel de Oliveira.
Segundo Oliveira, os projetos de offset já efetivados ou em negociação com a Colômbia já somam US$ 220 milhões, praticamente o mesmo valor do contrato de venda dos 25 Supertucano pela Embraer . Entre os dias 5 e 7 de maio uma comitiva do Ministério da Defesa colombiana virá a São José dos Campos para uma visita ao IFI e à Embraer. A indústria aeronáutica colombiana não evoluiu por uma questão de mercado.
"A nova estratégia do governo colombiano contempla a construção de uma indústria voltada para o mercado externo e sua base seguirá o modelo de criação da Embraer", explicou. Numa primeira etapa a indústria aeronáutica colombiana irá se tornar uma fornecedora de partes e peças e a Embraer surge como cliente potencial. Outro foco da estratégia é a criação de um sistema de certificação de alto nível, como o brasileiro, para que seus produtos possam ser reconhecidos e exportados para o mundo.
Um consórcio de empresas brasileiras, batizado de Brascol (Brasil-Colômbia) foi criado para formar parcerias com empresas colombianas. "Essas empresas poderão transferir tecnologia e ajudar o setor industrial daquele país a se desenvolver para atuar no mercado externo de uma maneira mais forte", informou o executivo. As empresas que fazem parte do consórcio são: Akaer (projetos de engenharia); Elimco (cablagens e sistemas elétricos); Virtus (sistemas de informática); Compsis (Engenharia de sistemas); Tracker (ferramental) e Mectron (sistemas elétricos e armamentos) e tecnologia.
A Avibrás também está fazendo offset para o governo da Malásia em contrapartida a exportação de seus sistemas de lançadores Astros II para este país. O contrato é estimado em ? 200 milhões e a contrapartida exigida inclui compra de equipamentos e produtos de empresas da Malásia.
Esta semana uma missão de empresários do setor médico-hospitalar da Malásia veio a São José dos Campos para tentar fazer negócios com seus produtos.
"O programa de offset acertado com o governo da Malásia envolve a realização de cursos de manutenção mais aprofundados para o Astros e, por outro lado, atividades de fomento à importação, pelo Brasil, de produtos de alta tecnologia daquele país, sobretudo na área de produtos médico hospitalares", explicou o presidente da Avibrás, Sami Hassuani.”
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