terça-feira, 30 de novembro de 2010

CLASSE ‘D’ ULTRAPASSA A ‘A’ NAS UNIVERSIDADES

“A classe ‘D’ já passou a classe ‘A’ no número total de estudantes nas universidades brasileiras públicas e privadas. Em 2002, havia 180 mil alunos da classe D no Ensino Superior. Sete anos depois, em 2009, eles eram quase cinco vezes mais e somavam 887,4 mil. Em contrapartida, o total de estudantes do estrato mais rico caiu pela metade no período, de 885,6 mil para 423, 4 mil. Os dados fazem parte de um estudo do instituto Data Popular.

"Cerca de cem mil estudantes da classe D ingressaram a cada ano nas faculdades brasileiras entre 2002 e 2009, e hoje temos a primeira geração de universitários desse estrato social", observa Renato Meirelles, sócio diretor do instituto e responsável pelo estudo.

Essa mudança de perfil deve, segundo Meirelles, provocar impactos no mercado de consumo em médio prazo. Com maior nível de escolaridade, essa população, que é a grande massa consumidora do País, deve se tornar mais exigente na hora de ir às compras.

O estudo, feito a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela também que as classes C e D respondem atualmente por 72,4% dos estudantes universitários. Em 2002, a participação dos estudantes desses dois estratos sociais somavam 45,3%.

São considerados estudantes de classe D aqueles com renda mensal familiar entre um e três salários-mínimos (hoje, de R$ 510 a R$ 1.530). Os universitários da classe C contam com rendimento familiar que varia de três e dez salários-mínimos. Já na classe A, a renda é acima de 20 salários-mínimos (R$ 10,2 mil).

A melhoria da condição financeira que permitiu inicialmente a compra do primeiro carro zero-quilômetro e do celular aos brasileiros de menor renda também abriu caminho para que eles tivessem acesso ao ensino superior. Pesquisa do Programa de Administração de Varejo (PROVAR) da Fundação Instituto de Administração (FIA), que mede a intenção de compra dos consumidores por classe social, revela que subiu de 15%, no terceiro trimestre, para 17%, neste trimestre, a capacidade de gasto com educação em relação à renda da classe C.

Além da renda maior, segundo Renato Meirelles, sócio diretor do instituto Data Popular e responsável pelo estudo, existem outros fatores que provocaram essa mudança de perfil socioeconômico dos universitários. Um deles é a universalização do Ensino Médio no Brasil. Também contribuíram as bolsas de estudo do Programa Universidade para Todos (ProUni) e a proliferação de universidades particulares pelo País.”

FONTE: blog “Os amigos do Presidente Lula” (http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2010/11/classe-d-ultrapassa-a.html).

100 ANOS DA REVOLTA DOS MARINHEIROS – O FIM DA CHIBATA



 


CRIAÇÃO DE UM MITO

Autor: Historiador Hélio Leôncio Martins (Vice-Almirante Reformado)

“O autor atêm-se aos fatos históricos, e não à versão, possivelmente contaminada por modismos ou ideologias,talvez inspirados no episódio do encouraçado Potenkim, da Revolução Russa.

Não raro a veracidade histórica, as personalidades, os acontecimentos, as circunstâncias são substituídos por mitos de interesse patriótico, religioso, social ou ideológico, os quais, aceitos, tornam-se indestrutíveis, incólumes contra qualquer tentativa de se procurar a realidade.

Na atualidade, está se criando, se já não está criado, o mito de um marinheiro humilde, João Candido, que, em 1910, à frente dos navios mais poderosos na época, enfrentou o governo e a instituição a que pertencia, obrigando-os a abolir os desumanos castigos físicos que infringiam. Para a análise do que aconteceu realmente, é mister que, de início, se examine a situação difícil da Marinha quando se deu o motim vitorioso.


Seria de prever que as Forças Armadas fossem privilegiadas na passagem do século, com a República dirigida por militares. Mas deu-se o contrário. Disputas pelo poder cindiram-nas, resultando em oito meses de cruenta guerra civil. A Marinha desapareceu material e moralmente. Outros fatores cooperaram para isso. A Revolução Industrial, que não pudemos acompanhar, fez-se sentir nas Marinhas de Guerra ao longo da segunda parte do século XIX, com a radical passagem da propulsão vélica para o vapor e, em seguida, pelos aperfeiçoamentos com a aplicação da hidráulica, da eletricidade, da metalurgia e da balística.

No Brasil, para efetuar a reforma que seria necessária, a parte mais difícil foi o recrutamento, com o baixo nível cultural e de conhecimentos da classe onde era ele feito. Ao lado dos poucos técnicos que se podia conseguir, manteve-se no serviço ativo a maioria do pessoal da vela, os chamados “gorgotas”, rudes, muitos deles enviados pela polícia como se fossem para uma penitenciária, ou ex-escravos que procuravam abrigo, pedindo-se deles apenas robustez e coragem para operar as velas. Essa dualidade de elementos humanos dificultava especialmente manter a disciplina, pois seu procedimento e as exigências eram diferentes.

Uma tentativa para se resolver esse problema foi a criação das Escolas de Aprendizes e Escolas Profissionais. Das primeiras, o relatório de um inspetor em 1910 dizia que os alunos saíam semi-analfabetos. Nas Escolas Profissionais, o aproveitamento era mínimo. Poucos terminavam os cursos. A situação não era melhor entre o oficialato. A mutação para o vapor, a precisão e alcance da artilharia modificaram não só os necessários conhecimentos técnicos, como a tática e a estratégia navais, e a Escola Naval não acompanhou essas modificações. Piorando a situação, estavam sendo incorporados 14 navios moderníssimos, cuja construção fora autorizada pelo Congresso em 1906. O número de especialistas em 1910, em comparação com os quadros exigidos (mesmo estes diminutos), mostram a falência do recrutamento para guarnecê-los. Por exemplo, eram previstos 118 torpedistas e 118 artilheiros, e havia apenas 5 dos primeiros e 70 dos segundos. Já os sem especialidade, que deveriam ser 1770, somavam 3202.

Era esta a posição da Marinha, afetada por tais fatores negativos, quando, a 22 de novembro de 1910, amotinaram-se dois encouraçados modernos, o Minas Gerais e o São Paulo, um antigo, o Deodoro, e o cruzador Bahia.

No Minas Gerais, a noite corria tranquila. O comandante chegara de jantar em um cruzador francês e descera para a câmara. Neste momento, um grupo de marinheiros embuçados correu para a popa, aos gritos de “abaixo a chibata”, “liberdade”, e atacou o oficial de serviço, cravando-lhe no peito uma baioneta. O comandante, ouvindo os gritos, subiu para o convés, mas foi agredido com objetos lançados e, depois, abatido a tiros. De três oficiais que apareceram, dois foram atingidos pelos tiros e o terceiro lançou-se ao mar. Os matadores fizeram um exibição macabra, urinando no cadáver do comandante e reproduzindo comicamente a ginástica a que eram obrigados a fazer para compensar a vida mais sedentária nos navios a vapor. O avanço dos rebelados não obedeceu a nenhum líder. João Candido não apareceu. E não evitou a mortandade, que não ocorreu nos outros navios rebeldes.

No São Paulo, o chefe amotinado dirigiu-se ao oficial mais graduado a bordo, dizendo-lhe estarem rebelados para acabar com a chibata e pedindo-lhe que desembarcasse com os oficiais. Um tenente, não concordando, escondeu-se, esperando reação. Vendo-se isolado, suicidou-se.

No Bahia, quando os marinheiros da guarda não quiseram formar, como ordenara o oficial de serviço, este atirou, matando um dos rebeldes. Os marinheiros corriam em torno, para evitar seus tiros e cansá-lo. Por fim, Dias Martins, que chefiava o motim do Bahia, autorizou o revide, que o matou.

O quarto navio a se amotinar foi o Deodoro, que só o fez de madrugada, e sua adesão foi provocada... por um oficial. Haviam mandado uma lancha à Praça XV. Um tenente, que se divertia na noite da cidade, bastante embriagado, soube da sublevação. Vendo a lancha, ocupou-a, fazendo valer seu posto, e determinou que rumasse para o Bahia, onde ele servia. Não podendo atracar, foi para o Deodoro e, com gritos e imprecações, disse que a esquadra estava rebelada contra o governo e que ou iria aderir, ou guarnecer os canhões e atirar nos sublevados. Deu ordens, que foram contrariadas pelo cabo José Araújo, ligado ao motim, o qual então assumiu a chefia dos insurgentes.

Os amotinados enviaram um rádio ao governo, dizendo que exigiam o fim dos castigos e, caso não recebessem a resposta em 12 horas, bombardeariam a cidade. Passaram a noite navegando vagarosamente entre os navios, intimando-os a se sublevarem, atirando com canhões de pequeno calibre, sem acertos. Alguns tiros dirigidos contra a terra mataram duas crianças. Nenhum navio aceitou a intimação, alguns içando falsamente bandeiras vermelhas e outros refugiando-se no interior da baía.

Com a anistia, nenhum processo apurou os aspectos da preparação do motim, pelo que pouco se conhece de seus detalhes. Que a revolta não teve caráter político ou ideológico, sem qualquer interferência externa, é certo. Tratou-se exclusivamente de motim militar, objetivando modificações no regime interno da Marinha, com o fim da chibata. Ele já vinha sendo tramado, havendo sinais de descontentamento em vários navios. Existem informações de nomes e endereços em reuniões conspiratórias, mas nenhuma notícia de uma na qual líderes determinassem como seria o movimento.

Também deve ter inspirado o motim o fato de muito marinheiros, principalmente os técnicos, estagiando na Inglaterra alguns meses, durante a construção da esquadra de 1906, poderem acompanhar campanha da imprensa inglesa na época, para melhor tratamento dos marinheiros Os “garantias” que embarcaram no novos navios devem ter ficado escandalizados com o espetáculo do chibateamento, proibido na Royal Navy em 1881.

Aos novos técnicos repugnava principalmente a chibata, e devem ter sido os mais influentes para a sublevação, mas não seriam prestigiados o bastante para comandá-la, tendo que apelar para os antigos “gorgotas”, que, além das punições, não aceitavam o regime dos navios mecanizados, verdadeiras organizações industriais, ao qual não estavam acostumados.

Para todos os efeitos externos, o líder do motim de 1910 foi João Candido Felisberto, do Minas Gerais. Reconhecido como tal pelo governo, enaltecido pela imprensa, aceito pelo Congresso, até consagrado pelos castigos a que foi submetido. Quanto ao porquê de ter sido indicado para ocupar essa posição, só se pode fazer conjecturas, pois, com a anistia, nada ficou registrado.

Em carta apócrifa, endereçada em 1949 a um oficial, seu possível autor, Francisco Dias Martins, reduz o valor de João Candido. Mas foi ela escrita visivelmente em tom de amargor de quem viu seu papel no motim, que considerava o principal (talvez fosse), subtraído ante a promoção recebida por outrem. Estava ele a bordo do Bahia. Mas nem todas as suas afirmativas coincidem com os acontecimentos conhecidos – e, pelo fato de ser a carta apócrifa, só pode ser utilizada como mais um elemento de análise.

João Candido nasceu em 1880 no município de Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, onde seus pais seriam escravos já libertos. Era um negro alto, encorpado, introvertido, de poucas palavras e poucos gestos. Com 15 anos, entrou para a Escola de Aprendizes. Serviu em diversos navios mistos e a vapor, sem exercer função que o salientasse. Em 1906, embarcou no navio-escola Benjamim Constant, cruzando pelo norte da Europa. Depois, esteve no cruzador Trajano, outro veleiro, navegando pela costa do Brasil. Voltou ao Benjamin Constant, viajando pela França, Portugal e Inglaterra, sendo transferido em Newcastle para o Minas Gerais em construção. Tentou ser sinaleiro, mas não o conseguiu por haver deficiências em sua leitura. Chegou a cabo, mas perdeu as divisas por excesso da faltas: quatro, por luta e agressão. Tinha uma cicatriz de navalhada nas costas, cuja origem se desconhece. Realmente foi bom em duas funções: como timoneiro (homem do leme) e manobrando as velas de um mastro, ambas não exigindo conhecimentos especiais. Seus contemporâneos consideravam-no, apesar de suas faltas, todas ligadas à violência, um tipo calmo quando não era agredido, acomodado, capaz de chegar a um acordo.

Francisco Dias Martins apresenta-se como mentor intelectual do motim. Natural de Fortaleza, foi matriculado na Escola de Aprendizes, como um dos “impossíveis”, pois era de família com alguns recursos. Tinha curso primário, sabia ler e escrever, falava bem. Era um rebelde por natureza, o único que como tal aparecera antes do motim, na viagem do Bahia ao Chile, quando fez chegar ao imediato do navio uma carta, assinada “mão negra”, dizendo que os marinheiros não deveriam ser tão castigados, e ameaçando reação.

Manoel Gregório era trabalhador e inteligente. Natural de Alagoas, para ser promovido seria necessário cursar uma Escola Profissional, pelo que nunca se interessou. Sobre o cabo Antonio Araújo, nada se sabe. Depois de anistiados, ambos desapareceram.

Na manhã do dia 23, a notícia do motim chegou ao Congresso, provocando grande indignação. Quintino Bocaiúva, líder do governo, apressou-se a dizer que não houvera no motim nenhuma interferência política e que o Senado estava ao lado do governo. A seguir, o senador Alfredo Elis, da oposição, afirmou “serem suas as palavras do senador Quintino... que nada era mais deprimente para a nação do que tal insubordinação!”. Rui Barbosa, a grande figura política da época, em longa oração, expressou “a amargura, a agonia, diante de fato que mais uma vez visa colocar em dúvida o valor de nossas instituições e a segurança de nossa tranquilidade”. Na Câmara, tudo se repetiu. O líder da situação disse: “[...] desgraçadamente, a maruja brasileira, amotinada, obedecendo a interesses inconfessáveis, põe em grave risco a ordem, o sossego e os próprios créditos da Nação”. A oposição manifestou-se do mesmo modo: “Se o Governo precisar de algo, além daquilo que a legislação lhe faculta, venha pedi-lo, porque a oposição está com ele; [...] o que se passa é uma extrema manifestação da anarquia da maruja que não pode ter solidariedade alguma da Nação”.

A imprensa manifestou-se nesse dia em seus editoriais: O Correio da Manhã, da oposição, escreveu: “[...] não se imaginava que a disciplina de nossas tropas de mar estivesse em tal decadência, a ponto de se apoderarem de seus navios, matando comandante e oficiais, impondo condições humilhantes ao Governo... que não tem que recuar nesta luta a que foi levado pelos desvairamento e loucura de alguns marinheiros.” O País afirmou: “[...] o simples fato da revolta bastaria para levar cada brasileiro a ter uma impressão de mágoa e de vergonha... não houve exatamente rebelião e sim um ataque inesperado e a traição”. O Diário de Notícias, da oposição, acrescentava: “[...] diversas queixas dos marinheiros contra seus superiores circulavam ...de qualquer modo, sejam quais forem as causas que levaram à revolta, os fatos são na verdade lastimáveis”.

Até este momento soprava pelo Congresso e pela imprensa um vento forte de indignação, de repulsa, de respeito pelas leis e disciplina militar, expressos tais sentimentos por palavras candentes e vibrantes. Tais atitudes iriam mudar de maneira rápida e radical em pouco tempo.

O senador Pinheiro Machado fora o responsável pela vitória de Hermes da Fonseca para a presidência da República. Homem de ação, não se limitou a discursar. Queria ver como o movimento poderia prejudicar a política do presidente, e como isto seria evitado. Na manhã seguinte à eclosão do motim, mandou um deputado de seu partido, José Carlos de Carvalho, verificar o que havia. Carlos de Carvalho havia sido oficial da ativa, e, tendo deixado o serviço, fora graduado Capitão-de-Mar-e-Guerra Honorário, por ações na proclamação da República e na Revolta da Armada. Tinha bom conhecimento do que se passava. A 27 e 28 de outubro escrevera dois artigos no Jornal do Comércio sobre a situação no Minas Gerais e o mau aproveitamento nas Escolas de Aprendizes.

Carlos de Carvalho conseguiu um lancha no Arsenal de Marinha, retirou de um dos mortos o lençol que o cobria, para servir de bandeira de trégua, e rumou para o São Paulo. Cruzou com uma lancha que trazia mais vítimas e o Memorial mandado pelos marinheiros ao presidente da República, do qual ele se apossou.

A única exigência concreta desse Memorial, podendo ser atendida de imediato, era o fim da chibata. As outras se referiam a medidas de médio e longo prazo, destinadas à correção de todos os erros que afetavam a Marinha de então.

Há uma coincidência interessante. Nas edições de 7 a 30 de julho de 1910, o Jornal do Comércio publicara uma série de artigos, visivelmente de autoria de oficiais de pouca graduação, relativos à situação e à fraqueza das Forças Armadas. Listava, entre outras medidas necessárias à reorganização da Marinha, a atenção para ela dos órgãos e orçamentos governamentais, e a boa preparação profissional dos oficiais e marinheiros. Uma Assembléia no Clube Naval discutiu se os artigos eram um retrato da realidade, e os aprovou. Tais aspirações aparecem no Memorial, o qual terminava de forma enfática: se não formos atendidos, “aniquilaremos a Pátria”. Foi ingenuidade dos subscritores este fim tão ameaçador, como a menção do bombardeio da capital. No afã de serem enérgicos em suas exigências, não perceberam que a dose do remédio era forte demais. Cumpririam o que prometiam, se o governo decidisse demorar no atendimento?

Do São Paulo mandaram Carlos de Carvalho para o Minas Gerais, capitânea do motim. Foi recebido, conversou com João Candido. Mostraram-lhe um marinheiro que fora chibateado na véspera. Dirigindo-se à tarde ao Congresso, Carlos de Carvalho descreveu o que vira e ouvira. Depois de falar do homem chibateado, cujas costas “pareciam uma tainha lanhada”, ajuntou declaração dos marinheiros: “Fizemos tudo porque basta de sofrer e não sabemos ainda o que faremos. Pedimos perdão, mas nos sentimos amparados em nosso degredo quando soubemos que V. Exa. viria para ser o intermediário de nosso perdão. Seja nosso benfeitor e nos livre da desgraça em que caímos, que não foi nossa culpa. E que o Marechal Hermes nos perdoe!” Tais palavras não estavam de acordo com a arrogância do Memorial e as ameaças pelo rádio. Mostravam os rebeldes em posição humilde. Agora era preciso impressionar o Congresso com o que poderia acontecer quando mostrassem suas garras. Carlos de Carvalho afirmou que os marinheiros seriam invencíveis com os 100 canhões atirando sobre a cidade inerme e lembrou as responsabilidades do Congresso se isto não fosse coibido. Disse mais: “A gente que está a bordo é capaz de tudo, quando os chefes e marinheiros são indivíduos alucinados pela desgraça em que caíram[...] a situação é gravíssima”. Os Congressistas, atordoados, fizeram-lhe grande número de perguntas a fim de se porem a par da situação. Estava descrito o quadro, com as cores às quais Carlos de Carvalho acrescentara tonalidades convenientes.

Sentindo ser garantida a aprovação do que pretendia, às 16 horas, depois de conferenciar com o presidente e seus ministros, Carlos de Carvalho voltou ao Minas Gerais e deu a João Candido certeza de ser obtida a anistia, e que nada fizessem até ela ser sancionada. Daí em diante a evolução dos acontecimentos foi de espera – o motim mais curto de que se tem notícia.

Os marinheiros reconheceram a decisão do governo com vários radiogramas garantindo que nada fariam, indo os navios passar a noite fora da barra. E assinaram como “reclamantes”, nome logo adotado pelo Congresso e pela imprensa, nos quais se desencadeara, com inusitado vigor, campanha pela anistia, plena de emoção, imaginação... e receio dos canhões.

Rui Barbosa tão veemente, pela manhã, a favor da ordem e da disciplina, à tarde voltou a falar: concedia “ser a covardia uma triste coisa, mas coisa ainda mais triste é a jactância, é a soberba em situação que só pela transação pode-se resolver”. Elogiava a pureza das intenções dos marinheiros. Dizia: “A força das máquinas de guerra são os homens que as manejam e as arremessam contra inimigos. E as almas desses homens têm revelado virtudes que honram a nossa gente e a nossa raça!” Concluía: “Esta é uma revolução honesta!” E apresentava projeto de anistia.

Este discurso deu o tom a tudo o que foi dito e escrito, mostrando pânico, ignorando mortes e ameaças ao reconhecer a própria culpabilidade e a justificar a ação dos insurretos. Todas as declarações que se seguiram obedeceram ao mesmo teor: respeito aos “reclamantes’, anistia incondicional e tudo o mais que fosse preciso para afastar a mirada dos canhões. Tantas concessões, e a pressa com que estavam sendo feitas, ultrapassaram o pundonor gaúcho do senador Pinheiro Machado. Disse: “Creio ser tudo muito justo, mas as reclamações são feitas com os canhões apontados contra a cidade A situação das autoridades é delicada. Trata-se de fatos que precisam ser reparados e não serem frutos do temor, do medo, dos grandes perigos que pairam sobre a Capital. A concessão da anistia foi dada antes de ser votada. Se concedida no momento oportuno, terá resultado, e não quando concessões tão facilmente obtidas enveredam pelo caminho de exigências sucessivas!” Mas chegou ao Congresso um radiograma de Carlos de Carvalho anunciando que os amotinados se submetiam às autoridades. A anistia foi aprovada. O motim, encerrado, limitou-se, daí em diante, a aguardar a votação nas duas Casas do Congresso e a sanção presidencial,

O Congresso foi discreto em suas manifestações. Mas na imprensa elas foram delirantes, aprovando a anistia como a salvação, acrescentando loas exaltadas aos marinheiros e, em especial, à figura de João Candido. Houve agradecimentos públicos pela generosidade dos rebeldes que poupavam a cidade, embora até aquela hora o fizessem porque estavam sendo atendidos. E estendiam-se exageradamente na admiração à eficiência operativa com que os navios manobravam, quando apenas giravam vagarosamente na parte mais profunda e segura da baía, do que qualquer timoneiro treinado seria capaz. Sem dúvida, ceder era a única coisa a fazer, mas poderia ter havido um pouco mais de dignidade na derrota.

No dia 26, o Diário de Notícias escreveu: “João Batista da Neves, comandante do Minas Gerais, e João Candido são duas figuras nacionais. O primeiro é o herói do dever, o mártir da disciplina; o segundo, o mártir da autoridade, o herói da audácia e da coragem, tipo de bravura admirável, símbolo militar de uma raça... Bendita a providencial revolta. Bendita seja ela. Bendita e glorificada.” O Correio da Manhã era mais cordato: “A anistia foi a capitulação dos próceres públicos, e, como toda capitulação, deplorável. Melhor teria sido se não viesse a figurar em nossa História. Mas, incontestavelmente, foi remédio extremo para extremo mal.” Os outros jornais afinaram-se pelo mesmo diapasão.


A anistia, como foi concedida, sem quaisquer outras concessões de parte do governo, mostra que os marinheiros só se preocuparam com os efeitos imediatos de sua atitude, sem prever a sequela que pudesse haver. Mantiveram durante o movimento coesão de pontos de vista, facilitado, aliás, pela falta de resistência encontrada. Além da anistia, nada mais era prometido. A chibata deixou de ser usada, mas sem que nenhuma determinação legal clareasse o emaranhado de leis que regia a aplicação de castigos corporais. A sua proibição vinha da Constituição de 1824, referendada na República por Decreto de 1889. Mas, a 12 de abril de 1890, novo Decreto, assinado pelo presidente Deodoro e pelo ministro da Marinha, Wandenkolk, criou na Marinha a “Companhia Correcional”, onde eram “segregados os praças de má conduta habitual” e, se cometessem faltas graves, eram castigados com até 25 chibatadas. Códigos e Regulamentos internos da Marinha obedeciam a esse Decreto.

Sendo tão simplificada a Lei da Anistia, no dia seguinte à sua sanção, sem desobedecê-la diretamente, foi autorizada por Decreto a baixa imediata dos praças cuja permanência se tornasse prejudicial à Marinha, para o que a legislação anterior exigia condenação formal por um Conselho de Disciplina. Mais de 2 mil marinheiros foram dispensados. Só uma voz levantou-se no Congresso – a de Rui Barbosa –, afirmando não ser essa medida juridicamente correta, além de ter anulado a anistia, e verberando por isso o governo. A imprensa apenas alegrou-se com o fim da ameaça, aliviada. E, a 27, já se iniciara, executada pelos ex-rebeldes, a retirada e o desembarque dos aparelhos de disparo dos canhões e da munição dos navios amotinados, o que significava que, em dois dias, a espinha dorsal da sublevação fora quebrada.

A situação dos oficiais recebidos a bordo depois da anistia foi difícíl. Todas as ordens vinham da proa, através de um intermediário. A ação de João Candido não se fazia sentir, substituído pelos elementos mais radicais, que se chamavam os “faixas-preta”. Os marinheiros, sentindo-se desamparados, passaram a recear o ataque dos “caçadores”, como chamavam o Exército. E criam que a permanência dos oficiais a bordo poderia defendê-los.

A situação ia-se acalmando quando, em dezembro, insurgem-se parte do Batalhão Naval e o cruzador Rio Grande do Sul, sem que fizessem nenhuma declaração ou reivindicação. Não tinham ligação com os navios revoltados em novembro. Como havia alguns sinais de que algo se preparava, a insurgência foi logo dominada. Só se pode especular que este segundo levante tenha sido comandado pelo desejo de imitação, inveja da exaltação e da projeção dos que tomaram parte na primeira rebelião.

Nos quatro navios rebelados em novembro, as guarnições ficaram muito excitadas, o que fez as autoridades navais esvaziá-los, sem grande dificuldade. Medida governamental, entretanto, sombreou a já escura página da História. Desencadeou-se, por parte das autoridades, uma ação de revide contra as figuras que haviam tido maior projeção em novembro. Foram acusadas de terem participado nos dois levantes, perdendo assim o status de anistiados – isto, entretanto, antes de ser concluído um Conselho de Investigação para apurar quem o tivesse feito.

Era prática comum na época a chefia da Polícia reunir pequenos ladrões, prostitutas, vagabundos, e enviá-los para a Amazônia, uma espécie de Sibéria tropical. Em uma leva deles, embarcada no mercante Satélite, que largou a 25 de dezembro, juntaram, com uma escolta de 54 soldados do Exército, 96 marinheiros, considerados perigosos se ficassem soltos na Capital. Na viagem, houve denúncia de conspiração a bordo. O cabecilha, reconhecido, foi fuzilado. O navio rumou para o Acre, onde os prisioneiros seriam contratados pela Estrada Madeira Mamoré e pela Comissão Rondon. No caminho, mais quatro marinheiros foram fuzilados; dois outros, algemados, lançaram-se ao mar. Ao chegarem na Amazônia, nem a Estrada de Ferro nem a Comissão quiseram recebê-los, pelo que foram entregues aos seringueiros. Nada mais se soube deles.

O primeiro a sentir o peso das represálias foi João Candido. Os panegíricos delirantes haviam lhe dado tal ênfase, que, erradamente, o colocaram como símbolo do motim, resumindo em sua pessoa tudo o que houve de odioso, de violento. Aprisionado a 13 de dezembro, enviaram-no para a Casa de Detenção, daí para prisões do Exército, iniciando-se um longo calvário. Suas provações começaram por castigo que foi apontado como uma condenação à morte, do que teve toda a aparência, embora não houvesse essa ideia. No dia 24 de dezembro, o Exército remeteu-o para o Presídio Naval, no Corpo de Fuzileiros com 17 outros prisioneiros, que foram colocados em uma cela pouco ventilada. O comandante dos Fuzileiros, não tendo confiança no carcereiro, levou consigo a chave da cela. Durante a noite, foram ouvidos gritos, tendo o oficial de serviço querido abri-la, mas não encontrou a chave. Na manhã seguinte, dos 18 encerrados, só dois estavam vivos, um deles João Candido. Como era de se esperar, depois do transe por que passara, apresentou perturbações psicosensoriais, conforme exame feito por médicos da Marinha a 7 de abril, que, em laudo, consideraram-no vítima de “astenia cerebral, com melancolia e episódios delirantes”. A 18 de abril, foi transferido para o Hospital Nacional de Alienados, onde, recuperando-se aos poucos, permaneceu pouco mais de um mês. Voltou para o Presídio, aí ficando até ser absolvido pelo Conselho de Guerra.

Essa vingança, sem razão de ser, serviu mais do que qualquer outra coisa para colocá-lo, e o motim, sob o foco da notoriedade. Libertado em 1912, empregou-se, com seus conhecimentos de manobra de velas e de governo de navios, nos veleiros que faziam o comércio costeiro . E desapareceu do noticiário. Não há explicação como vimos, de João Candido ter sido indicado como líder do motim. Não teria capacidade para tomar decisões se a revolta evoluísse para uma reação, mesmo passiva. Não teve prestígio para evitar o segundo motim, que abriu flanco para o revide do governo.

São lamentáveis os sofrimentos, os castigos e a injustiça sofridos por João Candido. Mas nem isso, nem os adjetivos surpreendentes com que a imprensa o definiu, de herói, bravo, audacioso, excepcional, manobrista excelente, dão-lhe estatura para se tornar um mito nacional. Ou lhe atribuir conhecimentos e capacidade de comando. Nada disto suplanta a realidade. Sua carreira na Marinha, anterior ao motim, foi amorfa. Com 15 anos de serviço, nunca passou de marinheiro. Sua presença no planejamento do motim não é conhecida. Como chefe nominal da rebelião, foi figura passiva. Nem memoriais nem ordens aparecem como tendo sido escritos por ele. Sua atitude rebelde foi inexpressiva, apenas aguardando os apressados trâmites burocráticos do projeto da anistia que a transformariam em lei. Absolvido, como civil, não exibiu qualidades de líder. Sua presença, bastante modesta, se esvaneceu por 40 anos, só sendo restabelecida pelo esforço de um jornalista.

João Candido teve seu momento de glória. O abandono a que fora relegada sua memória foi substituído pela entronização, como o defensor dos humildes, o Almirante Negro invencível no passadiço do capitânea da esquadra rebelde. Mas, ante o que se passou na verdade, torna-se um mito sem embasamento histórico.

A Revolta dos Marinheiros de 1910 tem sido analisada, debatida, por historiadores, sociólogos, políticos, considerando-a ação social importante – a vitória do elemento humilde contra a ditadura e a violência dos superiores, acontecimento guardado na memória histórica como exemplo a ser admirado e seguido. Houve de fato um confronto entre subordinados e dirigentes, com vantagens iniciais para os primeiros. Resta saber em que segmento social esses acontecimentos se passaram: uma força armada, a Marinha.

Neste caso, o que aconteceu pode ser visto com aspectos mais simplistas. As Forças Armadas em um país pacífico como o Brasil, raramente utilizadas em conflitos internacionais, para manter em tempo de paz eficiência que corresponda a seu custo e ao que se espera delas, têm que ser defendidas por uma armadura moral e material que contrabalance o relativo artificialismo em que vivem, sem evidente necessidade imediata. Se, por efeitos externos ou internos, essa armadura cede, atingindo os ditames rígidos aos quais obedecem as forças armadas, eficiência, cumprimento do dever e disciplina, entram elas em decadência, vivem de exterioridades, o que se reflete obrigatoriamente nas suas atividades e no procedimento de seu elemento humano.

No início de século XX, como vimos, foram muitos os fatores negativos que afetaram a Marinha, tais como: o abandono em que se encontrava; a crescente estagnação de suas atividades; a estrutura orgânica não atualizada; o recrutamento do pessoal subalterno feito em níveis baixos da população e o preparo deficiente dos homens que deveriam guarnecer os navios modernos; o regime disciplinar baseado nos castigos corporais; a aquisição de 14 navios de tipos ainda pouco existentes, com exigências técnicas e orgânicas muito acima de nossas possibilidades; a mistura a bordo de elementos de má índole com os de melhor nível, todos submetidos ao mesmo regime disciplinar; o enorme afastamento cultural e social existente entre oficiais e praças. Esses foram os ingredientes que, apurados no tempo, acumularam-se até chegarem ao ponto crítico – e deflagrar o motim de 1910.

A comédia de erros que afetou uma triste fase da vida da Marinha pode ser lembrada, analisada, comentada, lamentada – mas nunca comemorada.”

FONTE: escrito pelo Vice-Almirante Hélio Leôncio Martins, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB). Referência: “A Revolta Dos Marinheiros, 1910”, por Helio Leôncio Martins (Serviço de Documentação Geral da Marinha, ISBN 8504002187 (85-04-00218-7).[imagens adicionadas por este blog].

O DIA SEGUINTE


Policiais vigiam supostos traficantes durante a operação no Complexo do Alemão

Terra Magazine

Cláudio Lembo, de São Paulo

“As cenas dos últimos acontecimentos no Rio de Janeiro preocupam. Há em alguns meios de comunicação uma euforia juvenil pelas ações militares. São expressivas. Demonstram capacidade de ação.

Ocorre que, na outra ponta, se encontram pessoas fragilizadas pela situação e enfraquecidas pela dura realidade que as cercam. Não são os integrantes do tráfico.

Trata-se daquelas pessoas que compõem a comunidade e nela desenvolvem suas vidas e esperanças. Todas, em razão da generalização, são tratadas como delinqüentes.

PERIGOSA PERCEPÇÃO

Tanta gente boa e trabalhadora. Sensata. Envolvida, porém, pela violência e por um preconceito generalista e inconseqüente. As questões sociais exigem mais do que armas.

Sente-se, nos episódios do Rio de Janeiro, a ausência de comissões específica de parlamentares federais. Onde estão os representantes do povo no Congresso Nacional?

Até agora foram incapazes de conceber um grupo para acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos dos órgãos de segurança. Nada, absolutamente nada.

O Judiciário - federal e o estadual - certamente poderia ter instalado juizados nos locais afetados para receber eventuais registros de um Ministério Público até agora aparentemente ausente.

A mesma observação cabe à Defensoria Pública. Onde se encontra este novo órgão concebido pela Constituição de 1988? Há uma ausência das entidades significativas da sociedade.

Só contingentes militares. Nada de atividade social. Pessoas preparadas para enviar mensagens em situações de confronto. Apenas armas. Nenhuma atividade de solidariedade aos bons.

Esquecem os agentes da legítima ação contra os traficantes que há um dia seguinte e este diz respeito à comunidade como um todo. Os habitantes de todas as regiões precisam conviver em harmonia.

É própria das cidades a convivência civil. Aquela que permite a igualdade, ao menos formal, entre as pessoas. As armas são instrumentos transitórios. Pode-se resolver aparentemente um conflito.

Elas, todavia, jamais levam à paz. Esta é conseqüência da harmonia entre pessoas e da busca comum da felicidade. Este anseio não pode ser apenas de alguns. Para ser efetiva necessita ser de todos.

Falta, na fala das autoridades, a exposição do dia seguinte. Como serão tratadas as comunidades? Quais os investimentos a serem efetivados? Como se combaterá a ociosidade oriunda da ausência de escolas e trabalho?

As operações são necessárias em razão da violência atomizada que se espalhou pelo Rio de Janeiro. Mas o extermínio de alguns poderá contentar setores da sociedade. Não resolverá, porém, a questão.

Esta necessita de esforço conjunto de todas as esferas de Governo. Contentar determinados segmentos da sociedade, em detrimento de outros, não é boa política.

A política sadia é desapaixonada. Pensa no bem comum. Esquece diferenças. Compreende que todas as pessoas são iguais e merecem, em conseqüência, tratamento igualitário.

As exposições das autoridades, em grande massa, nas rádios e televisões apontam para o momento. Lembram comandantes de batalhas contra inimigos da Nação.

Jamais se lança palavra apaziguadora e sensata. A comunicação eletrônica, nestes momentos difíceis, deve ser usada para dirigir mensagens positivas à parte que se deseja reintegrar na sociedade.

Caso contrário, todos se tornam bravateiros em busca de fama transitória, Esta se transformará em veredicto histórico. Até hoje, acontecimentos sociais do passado são relembrados.

Aquilo que, no momento, parece heróico mostra-se com o afastamento do tempo patèticamente amargo. Basta reviver Canudos. O Rio de Janeiro é diferente, dirá alguém. Trata-se de criminalidade puro e simples.

É verdade. Mas mesma miséria que gerou inúmeros episódios pelo Brasil afora, no longo dos séculos, se encontra presente nos morros da cidade do Rio.

Valeira a pena pensar em recolher as armas. Procurar a paz. Os brasileiros não podem ser divididos por brasileiros. É preciso buscar - desesperadamente - a união de cada cidadão com o seu conacional.

Assim se construirá o futuro.”

FONTE: escrito por Cláudio Lembo, advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador. Publicado no portal “Terra Magazine”, do jornalista Bob Fernandes (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4816056-EI8421,00.html).

CELSO AMORIM, "PENSADOR GLOBAL"



Edel Rodriguez/foreignpolicy.com

“Dividindo a capa da nova "Foreign Policy" com Bill Gates, Warren Buffett, Barack Obama, Ben Bernanke, Hillary e Bill Clinton, entre outros, o chanceler brasileiro Celso Amorim foi eleito o sexto "pensador global" pela revista americana. Seu perfil diz que foi escolhido "por transformar o Brasil em um ator global"

'O DIA', sob o enunciado "O momento multipolar chegou e não é nada como os americanos imaginaram", Parag Khanna escreve na "FP" que a "marca" de que a nova ordem mundial era de verdade foi "o dia em que o Brasil e a Turquia se juntaram" para propor um acordo nuclear com o Irã.

Com a ilustração ao acima, Amorim concede longa entrevista, a principal da edição de dezembro, à própria editora da "FP", Susan Glasser, que viajou a Brasília para falar com ele. Defende o potencial do Brasil como mediador global. A lista traz ainda, em 32º lugar, com outros três ambientalistas, Marina Silva (foreignpolicy.com).

CRISE NOVA

Também na edição, Ian Bremmer, da consultoria de estratégia Eurasia, se pergunta se "o mundo vai conseguir evitar uma nova crise". Contrasta os problemas de EUA e Europa com as "perspectivas ensolaradas" de Índia, Brasil, Turquia, "liderados pela China", e prevê "conflitos".
(latintrade.com).

DIFERENÇA



Visto como descartado por Dilma Rousseff no Brasil, Amorim acumula entrevistas e premiações, do espanhol "La Vanguardia" à revista americana de comércio hemisférico "Latin Trade". Na capa mais recente, semanas atrás, a "LT" elegeu o chanceler como "líder inovador do ano", justificando ser "um diplomata que faz a diferença".

FONTE: publicado na coluna “Toda Mídia”, de Nelson de Sá, na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2911201010.htm).

OBRA DA TRANSNORDESTINA ENTRA NOS EIXOS




Ponte em construção na região da cidade pernambucana de Salgueiro, principal canteiro de obras do megaempreendimento e que será o entroncamento das duas linhas da ferrovia que desemboca nos portos de Suape(PE) e Pecém (CE)

FERROVIA: TRILHOS DO PROJETO BILIONÁRIO, QUE CORTA TRÊS ESTADOS, APÓS ATRASO DE DOIS ANOS GANHAM RITMO ACELERADO

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai passar longe do desejo de inaugurar a ferrovia Transnordestina antes de sair de cena. O início das obras, em 2006, alimentou o sonho presidencial de que tudo estivesse pronto antes das eleições deste ano, porém os inúmeros contratempos no megaprojeto, orçado em R$ 5,4 bilhões, postergaram em muito a data da inauguração. Lula terá que se contentar em ver sua sucessora cortar a fita da Transnordestina, ferrovia de 1.728 quilômetros que ligará os portos de Suape (PE) e Pecém (CE) ao município de Eliseu Martins (PI).

Após muitas idas e vindas, o projeto alcançou no mês passado o seu pico de atividade, medida em número de trabalhadores e de máquinas em operação. Atualmente, trabalham na obra mais de 11,3 mil pessoas e 1,6 mil máquinas. “Vamos manter esses patamares durante todo o ano de 2011, começando a reduzir gradativamente a partir de 2012″, explicou o engenheiro da Odebrecht Paulo Falcão, diretor do contrato entre a construtora e a Transnordestina Logística (TLSA), dona da obra e controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Os 20 lotes já licitados somam 1.280 quilômetros de trilhos. Desses, 19 estão a cargo da Odebrecht, que só entrou na empreitada em novembro de 2009. A construtora tem 14 lotes em obras e trabalha para entregar tudo até outubro de 2012. Esse prazo não contempla, porém, o trecho de 450 quilômetros entre Aurora e Pecém (CE), ainda não licitado e cujo trajeto está sendo questionado pelo IBAMA e pelo Patrimônio Histórico. Com isso, a perspectiva é de que toda a ferrovia só esteja concluída no primeiro semestre de 2013.



Nos 14 lotes onde a Odebrecht está trabalhando, o que se vê são as chamadas obras de infraestrutura – construção de bueiros, pontes e viadutos por onde passarão os trens, bem como toda a parte de escavações e aterramentos necessária. Somente após essa etapa é que entra em cena a superestrutura, que é a instalação de dormentes, trilhos e da brita, as porções de pedras que acompanham o trajeto.

A assinatura dos contratos referentes aos lotes ainda não licitados deve ocorrer no próximo dia 10 de dezembro, possivelmente no mesmo dia em que será inaugurado o primeiro trecho da Transnordestina, ligando o município de Salgueiro (PE) a Missão Velha (CE), em um percurso de 100 quilômetros. Tocado pela construtora EIT e pela própria TLSA, o trecho está em fase final de colocação de dormentes e trilhos e deverá ser concluído ainda com Lula no Planalto.

Para garantir a satisfação do presidente, o alagoano Severino José da Silva, de 56 anos, trabalhava duro na semana passada, debaixo de sol impiedoso. No comando de uma carregadeira, ele acomodava no chão de terra seca os dormentes de 350 quilos, em um trecho da ferrovia próximo a Missão Velha. Apesar dos 35 anos de experiência como operador de máquinas pesadas, Severino não demonstra entusiasmo quando questionado sobre o fato de seu ofício ser um dos mais requisitados no país. “Ainda não veio nada”, disse ele, com ar pensativo, sobre a valorização de seu salário, hoje em R$ 1,3 mil mensais.

Paulo Falcão relata que a Odebrecht sofreu bastante para reunir os profissionais qualificados para a obra da Transnordestina. Ao lado de armadores e carpinteiros, operadores de máquinas pesadas figuraram entre os mais raros. “O período mais crítico no que se refere à mão de obra se deu entre janeiro e maio. Tive que trazer muita gente de fora, principalmente das capitais do Nordeste. Agora posso dizer que a questão está resolvida”, afirmou o executivo.

Com mais de 11,3 mil trabalhadores, a Transnordestina é a segunda maior obra tocada pela Odebrecht no país, atrás apenas da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira (RO), onde trabalham mais de 12 mil pessoas. Das 1,66 mil máquinas em operação na ferrovia, 25% são da construtora. O restante é alugado de outras empresas, que, em muitos casos, trouxeram equipamentos da China.

A distribuição do custo total do projeto, hoje em R$ 5,4 bilhões, tem nos equipamentos o maior peso: 50%. Na sequência, aparece a mão de obra, com 25%, seguida por insumos e gastos gerais, ambos com 12,5%. De acordo com o presidente da TLSA, Tufi Dahen Filho, as obras caminham bem próximas do limite dos custos. Ele acredita, porém, que até a sua conclusão deve haver mais um reajuste, como ocorreu em 2008.

Na ocasião, ainda se trabalhava com um orçamento feito em 2004, que previa investimento total de R$ 4,5 bilhões. A alta de 20% foi justificada pelos maiores custos com mão de obra, cimento, aço e combustível. “O custo por quilômetro está hoje em R$ 2,9 milhões, valor que segue o critério do último orçamento. Mas temos receio de que as novas contratações, especialmente de material, fiquem acima desse valor”, explicou o executivo.

Em paralelo à tendência de custos crescentes, Odebrecht e TLSA trabalham na busca de soluções de engenharia que possibilitem redução nos gastos. Isso é possível, já que o contrato entre as duas empresas foi firmado na modalidade de aliança, que prevê a divisão igualitária dos ganhos resultantes da diminuição de custos. Segundo Falcão, o maior potencial de redução está no gerenciamento adequado das atividades de escavações e aterramentos.

A engenharia financeira do projeto prevê que R$ 2,67 bilhões venham de empréstimos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) e R$ 823 milhões do Fundo de Investimentos do Nordeste (FINOR). A CSN colocará R$ 1,35 bilhão, sendo R$ 681 milhões do próprio caixa e R$ 675 milhões via um empréstimo do BNDES. O banco injetará outros R$ 225 milhões por meio de empréstimo à TLSA, mesma operação que será feita pelo Banco do Nordeste, com mais R$ 180 milhões. O governo federal irá aportar R$ 164 milhões por meio da VALEC, estatal que atua em projetos ferroviários.

Segundo Tufi, as obras receberam até agora R$ 1,4 bilhão em investimentos, sendo metade deste valor bancado pela CSN, via caixa próprio ou empréstimos. O executivo reclama que o FINOR já deveria ter liberado R$ 350 milhões, mas que até o dia 10 de novembro tinha depositado apenas R$ 116 milhões. “Não pode haver esse descasamento das fontes de financiamento com o ritmo da obra. O FINOR é o que tem apresentado maior burocracia e maior dificuldade. Com o atraso, a CSN tem que colocar mais recursos do que estava previsto”, alegou o presidente da TLSA.

O Ministério da Integração Nacional informou que já havia autorizado o pagamento de R$ 154 milhões e negou a existência de atraso nos repasses.

Outro gargalo ainda enfrentado pela Transnordestina são as desapropriações de terras, a cargo dos governos estaduais. Elas tiveram grande parcela de responsabilidade pelos inúmeros atrasos no cronograma da obra. Segundo a TLSA, 70,6% do trajeto por onde passará a ferrovia já está desapropriado e pronto para receber os trilhos. Porém, Paulo Falcão revela a existência de “desapropriações na teoria e na prática”.

Ele explica que, em muitos casos, os donos das áreas já legalmente desapropriadas recusam-se a liberar o local, impedindo o avanço da obra. “Sabemos que em alguns locais há problemas com o pagamento pós-desapropriação. Com isso, os proprietários não saem mesmo”, relata Ana Carolina Faria, gerente da Odebrecht e uma das 16 engenheiras que trabalham no projeto.

Ela lista uma série de outros problemas que vêm obstruindo o andamento dos trabalhos. Além das pendências de licenciamento ambiental, há problemas em vários trechos onde a ferrovia cruza com rede elétrica, adutoras, cemitérios, igrejas, assentamentos, comunidades quilombola e indígena e até com as obras da transposição do rio São Francisco. “Tenho interferência de algum tipo em todos os lotes”, informa.

A ideia do projeto é tornar a Nova Transnordestina numa ferrovia de classe mundial em velocidade e volume de carga. Quando estiver pronta, poderá transportar 30 milhões de toneladas por ano, com velocidade de até 80 km/hora, tendo como principais cargas minério de ferro, gipsita e grãos, além de cimento, combustíveis e fertilizante.

PRODUÇÃO DE DORMENTE FICA SEM CIMENTO


Dormentes que vão servir de base para a instalação dos trilhos são estocados ao longo da estrada

Os 1.728 quilômetros de trilhos da Transnordestina serão instalados sobre quase 3 milhões de dormentes que estão sendo produzidos seis dias por semana em Salgueiro, cidade do sertão pernambucano onde fica o principal canteiro de obras da ferrovia. Na última semana, porém, a fábrica de dormentes, sociedade entre Odebrecht e TLSA, parou de operar por dois dias seguidos pelo mesmo motivo: falta de cimento. Dias antes, o engenheiro da Odebrecht Marcos Uchoa, responsável pelas obras do trecho entre Missão Velha (CE) e Aurora (CE), cobrava de um subordinado a conclusão de um grande bueiro na região. A resposta já era esperada: “Não acabamos porque faltou cimento”, justificou o engenheiro Daniel Guerra, da Demas Construtora.

Na manhã da sexta-feira, dia 19, um outro engenheiro da Odebrecht falava ao telefone, em Salgueiro. “Oi, Zé, como está a entrega de cimento aí no Piauí? Tá faltando também? Pois é, aqui é uma guerra!”, relatou. Diante da pouca oferta e do cronograma apertado de obras, engenheiros disputam de forma acirrada as sacas que chegam em Salgueiro.

A falta no fornecimento do produto aumenta a lista de problemas enfrentados nos canteiros da Transnordestina. De acordo com engenheiros alocados em Salgueiro, as entregas da Votorantim Cimentos, que tem suprido a fábrica de dormentes, estão irregulares, acarretando atrasos nas obras e paralisações na produção de dormentes. “Eles não estão dando conta”, afirmou um engenheiro.

O aquecimento do mercado brasileiro da construção civil, com destaque para a região Nordeste, comprometeu sensivelmente a capacidade de oferta das fabricantes nacionais de cimento. A própria Votorantim está importando o produto do Vietnã para atender seus clientes na região. No caso específico da Transnordestina, porém, a empresa alega que o abastecimento está dentro do cronograma acordado e que as entregas estão sendo cumpridas integralmente.

Como solução alternativa, a CSN está trazendo cimento da China para dar conta das obras. A empresa importou em agosto um navio com 26 mil toneladas e está analisando novas compras no país asiático para o próximo ano. Além do cimento, os chineses também estão fornecendo parte dos trilhos e das máquinas pesadas utilizados no empreendimento.”

FONTE: reportagem de Murillo Camarotto, de Missão Velha (CE) e Salgueiro (PE), publicada no jornal Valor Econômico. Transcrita no blog de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2010/11/obra-da-transnordestina-entra-nos-eixos/).

LULA: 2º LUGAR NA LISTA DA “FOREIGN POLICY” DE "LÍDERES QUE MAIS INFLUENCIARAM NO ANO”


INFLUÊNCIA

A "FP" ouviu seus eleitos para a lista de "líderes que mais influenciaram" no ano. Pela ordem, Ahmadinejad, Lula e os chineses Hu Jintao e Wen Jiabao."

FONTE: publicado na coluna “Toda Mídia”, de Nelson de Sá, na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2911201010.htm).

WIKILEAKS: EUA E O GOLPE DE HONDURAS

Por Stanley Burburinho

WIKILEAKS REVELA QUE ATÉ MESMO OS EUA ENTENDEM QUE HOUVE GOLPE EM HONDURAS:

“...Washington não tem dúvida de que em Honduras houve um golpe de Estado contra o então presidente, Manuel Zelaya, e agrega que "os militares, a Corte suprema e o Congresso Nacional conspiraram no dia 28 de junho no que constituiu um golpe ilegal e inconstitucional contra o Executivo".

"Não há dúvida de que, desta nossa perspectiva, a chegada ao poder de Roberto Micheletti foi ilegítima"

“...os argumentos apresentados por Micheletti e pelos militares e políticos golpistas "não têm nenhuma validez substancial" e agrega que "alguns são abertamente falsos".

“...medidas executadas pelos golpistas foram "aparentemente ilegais", desde o fato de que "os militares retiraram Zelaya do país sem autoridade para fazê-lo", algo que "violou múltiplas garantias constitucionais, incluindo a proibição da expatriação, a presunção da inocência e o direito a um processo legal".

WikiLeaks revela informe confidencial dos EUA feito um mês após o golpe de Honduras:

HONDURAS - DIREITOS NACIONAIS E IMPERIALISMO

“Um informe confidencial da embaixada de Washington em Honduras revelado domingo (28/11) pelo WikiLeaks mostra que Washington não tem dúvida de que em Honduras houve um golpe de Estado contra o então presidente, Manuel Zelaya, e agrega que "os militares, a Corte suprema e o Congresso Nacional conspiraram no dia 28 de junho no que constituiu um golpe ilegal e inconstitucional contra o Executivo".

Do mesmo modo, no texto, a embaixada dos Estados Unidos em Honduras afirma que o governo de Roberto Micheletti foi completamente ilegítimo.

"Não há dúvida de que, desta nossa perspectiva, a chegada ao poder de Roberto Micheletti foi ilegítima", destaca o informe enviado desde a Embaixada dos Estados Unidos em Tegucigalpa, em nome de seu responsável, o embaixador Hugo Llorens.

A embaixada afirma nas mensagens que os argumentos esgrimidos pelos "defensores do golpe do dia 28 de junho" são "muitas vezes ambíguos", pelo que diz ter consultado "experts em legislação em Honduras"

No texto revelado pelo WikiLeaks, a embaixada estadunidense em Honduras reconhece que nunca foi demonstrado que o presidente Zelaya tenha burlado a lei e afirma que o argumento de que tentava se prolongar no poder era uma suposição.

No documento, é revelado que os argumentos apresentados por Micheletti e pelos militares e políticos golpistas "não têm nenhuma validez substancial" e agrega que "alguns são abertamente falsos".

O informe considera que várias das medidas executadas pelos golpistas foram "aparentemente ilegais", desde o fato mesmo de que "os militares retiraram Zelaya do país sem autoridade pra fazê-lo", algo que "violou múltiplas garantias constitucionais, incluindo a proibição da expatriação, a presunção da inocência e o direito a um processo legal".

No último dos comentários, diz que "não importa quais sejam os pontos fortes do caso contra Zelaya, sua saída forçada do país por parte dos militares foi claramente ilegal, e o acesso de Micheletti como 'presidente interino' foi totalmente ilegítimo".

Entre os destinatários desse informe, aparecem o embaixador dos Estados Unidos no Brasil neste momento, Thomas A. Shannon, e o assistente especial de Barack Obama e diretor para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional, Dan Restrepo.

A informação fornecida por esses documentos dão luz para entender declarações emitidas em agosto de 2009 pelo presidente de fato de Honduras, Roberto Micheletti, quando expressou seu desejo de que o embaixador dos Estados Unidos nesse país, Hugo Llorens, não volte a retornar ao cargo, logo após o Governo estadunidense ter decidido retirá-lo por supostos "motivos pessoais".

Os EUA foram o país que mais tardou em aplicar sanções após a derrubada de Zelaya, enquanto que outros Governos, como os da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – ALBA, e do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), pronunciaram-se contra o golpe quase imediatamente.

Depois de transcorridos 73 dias de sucesso, os EUA decidiram suspender a ajuda da “Cuenta Reto del Milenio” (CRM) para o país centro-americano, estimada em 11 milhões de dólares.

Passado menos de meio ano do golpe, a secretária de Estado estadunidense, Hillary Clinton, restabeleceu as relações com Tegucigalpa e reativou novamente a ajuda financeira para o presidente sucessor do regime de fato de Porfírio Lobo.

"Acabo de escrever uma carta ao Congresso dos Estados Unidos notificando que vamos restaurar a ajuda financeira a Honduras", manifestou Clinton durante sua participação na II Reunião Ministerial Caminhos para a Prosperidade nas Américas, realizada em San José, Costa Rica, em março passado.

ZELAYA SEMPRE SUSTENTOU QUE OS EUA INTERVIRAM NO GOLPE

O ex-presidente Zelaya comentou durante a entrevista com a teleSUR no mês de junho passado que, enquanto foi mandatário de Honduras, os Estados Unidos incomodavam-se quando ele se mostrava solidário ou mantinha relações com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez; o da Bolívia, Evo Morales; o do Equador, Rafael Correa, e outros Governos que discutem as ideias do país do norte.

"Os Estados Unidos me proibiam, praticamente, que tivesse relações com Evo Morales, Hugo Chávez, Rafael Correa. Era um incômodo quando eu estabelecia essas relações de solidariedade com esses povos, com Cuba, precisamente quando defendíamos o direito que têm os povos e nossa sociedade de manter níveis de dignidade e democracia", sustentou.

Por último, agregou que a atual ingerência dos EUA cria obstáculos ao processo de reconciliação nacional.

"Se os Estados Unidos tirarem suas mãos de Honduras, nós hondurenhos podemos nos entender", enfatizou Zelaya.

O ex-presidente Manuel Zelaya foi derrubado em um golpe de Estado no dia 28 de junho de 2009, executado por efetivos militares de seu país.

Posteriormente, foi entregue à Costa Rica, mas retornou clandestinamente a Honduras alguns meses depois e refugiou-se na embaixada brasileira em Tegucigalpa até quando assumiu o poder Porfírio Lobo, em janeiro de 2010, momento no qual exilou-se na República Dominicana.”

FONTE: publicado no site teleSUR - Periodismo Humano. Traduzido para o “Diário Liberdade” por Lucas Morais (http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=9239:wikileaks-revela-informe-confidencial-dos-eua-um-mes-apos-o-golpe-de-honduras&catid=241:direitos-nacionais-e-imperialismo&Itemid=156). Transcrito no blog do jornalista Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/wikileaks-eua-e-o-golpe-de-honduras#more).

VAZAMENTO DE MENSAGENS CAUSA CRISE DIPLOMÁTICA GLOBAL


US EMBASSY CABLES LEAK SPARKS GLOBAL DIPLOMATIC CRISIS

Publicado em 28/11/2010 no jornal britânico “The Guardian

“Os EUA foram lançados em uma crise diplomática mundial com o vazamento, para o jornal britânico ‘Guardian’ e outros veículos internacionais, de mais de 250 mil telegramas secretos de embaixadas dos EUA, alguns dos quais enviados em fevereiro de 2010.

Na primeira matéria de uma série sobre telegramas diplomáticos diários enviados pelas embaixadas dos EUA e classificados como “secretos” o ‘Guardian’ já pode informar que líderes árabes têm pressionado privadamente em defesa de ataque aéreo contra o Irã e que funcionários de embaixadas dos EUA receberam instruções para espionar líderes da ONU.

Essas duas primeiras revelações já reverberam em todo o mundo.

Mas os telegramas secretos aos quais WikiLeaks teve acesso também revelam avaliações feitas por Washington sobre várias outras questões internacionais altamente sensíveis.

Entre os telegramas vazados há notícias de importante alteração nas relações entre China e República Popular Democrática da Coreia, sobre a crescente instabilidade no Paquistão e detalhes dos esforços clandestinos dos EUA para combater a al-Qaeda no Iêmen.

Dentre centenas de outras revelações que causarão furor em todo o mundo, os telegramas detalham:

---Grave temor em Washington e Londres sobre a segurança do programa nuclear do Paquistão, com autoridades alertando que enquanto o país corre o risco de colapso econômico, funcionários públicos poderiam contrabandear material nuclear suficiente para terroristas construírem a bomba;

---Suspeitas de corrupção no governo afegão, com um telegrama alegando que o vice-presidente Zia Massoud estava carregando 52 milhões de dólares em dinheiro quando foi parado durante uma visita ao Emirados Árabes Unidos. Massoud nega que tenha tirado dinheiro do Afeganistão.

---Como os ataques de hacker que forçaram o Google a abandonar a China em janeiro foram orquestrados por um membro importante do Politburo, que deu uma busca com seu nome na versão global do buscador e encontrou artigos que o criticavam pessoalmente.

---A extraordinariamente próxima relação entre Vladimir Putin, o primeiro-ministro russo, e Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano, que está causando intensa suspeição nos Estados Unidos. Os telegramas detalham de supostos “presentes suntuosos” a contratos lucrativos no setor de energia e o uso, por Berlusconi, de um sombrio italiano que fala russo como intermediário.

---Alegações de que a Rússia e seus serviços de inteligência estão usando chefes da máfia para praticar operações criminosas, com um telegrama falando que a relação é tão próxima que o país se tornou “um virtual estado mafioso”.

---Críticas devastadoras das operações militares britânicas no Afeganistão por comandantes militares dos Estados Unidos, pelo presidente afegão e por autoridades locais de Helmand. Os despachos revelar desprezo particular pelo fracasso de dar segurança a Sangin — a cidade que custou mais baixas britânicas que qualquer outra no país.

---Declarações impróprias de um integrante da família real britânica sobre uma agência de segurança do Reino Unido e um país estrangeiro.

Os EUA têm contatos particularmente íntimos com a Grã-Bretanha e alguns dos telegramas saídos da embaixada de Londres em Grosvenor Square serão lidos com extremo desconforto em Whitehall e Westminster. Incluem desde sérias críticas políticas contra David Cameron até pedido para que a embaixada fornecesse informações especiais de inteligência sobre membros do Parlamento britânico.

O arquivo de telegramas inclui denúncias específicas de corrupção contra líderes estrangeiros, e duras críticas, feitas pelo pessoal diplomático de embaixadas dos EUA, aos governantes de países onde estão instaladas, desde pequenas ilhas do Caribe até a China e a Rússia.

O material inclui uma referência a Vladimir Putin como “um cão alfa”, a Hamid Karzai como doido, “homem de reações paranóicas” e a Angela Merkel, da qual os norte-americanos dizem que “evita riscos e raramente tem alguma ideia criativa”. E há telegrama em que Mahmoud Ahmadinejad é comparado a Adolf Hitler.

Os telegramas incluem nomes de países envolvidos no financiamento de terroristas e descreve “quase desastre ambiental” há cerca de um ano, com uma carga de urânio enriquecido de um “estado bandido” [ing. “rogue state”]. Há telegramas em que se expõem detalhadamente negociações secretas entre EUA e Rússia sobre um míssil nuclear em Genebra; há também um perfil do líder líbio Muammar Gaddafi, o qual, segundo diplomata dos EUA, andaria por toda parte acompanhado de uma “voluptuosa loira” enfermeira ucraniana.

Os telegramas cobrem as atividades da secretária de Estado Hillary Clinton no governo Obama, e há milhares de arquivos do governo de George Bush. A secretária Clinton comandou pessoalmente essa semana uma tentativa frenética de limitação de danos em Washington, preparando governos estrangeiros para as revelações. Contatou líderes na Alemanha, Arábia Saudita, no Golfo, na França e no Afeganistão.

Embaixadores dos EUA em outras capitais foram instruídos a informar antecipadamente seus respectivos hospedeiros sobre os vazamentos e sobre relatos pouco lisonjeiros ou relatórios cruamente francos de transações entre eles e os EUA, que foram escritos para serem mantidos sob eterno sigilo. Washington enfrenta agora a difícil tarefa de convencer contatos em todo o mundo de que, no futuro, alguma conversação será mantida sob regras confiáveis de sigilo.

“Estamos nos preparando para o que vier e condenamos WikiLeaks pela divulgação de material secreto”, disse o porta-voz do departamento de Estado PJ Crowley. “Porão sob ameaça vidas e interesses. É atitude irresponsável”.

O conselheiro jurídico do Departamento de Estado escreveu ao fundador de Wikileaks Julian Assange e a seu advogado londrino advertindo que os telegramas foram obtidos por meios ilegais e que a divulgação geraria risco a vida de incontáveis inocentes (…) a operações militares em andamento (…) e à cooperação entre países”.

O arquivo eletrônico contendo os telegramas diplomáticos de embaixadas dos EUA em todo o mundo, ao que se sabe, foi recolhido por um soldado norte-americano no início do ano e entregue a WikiLeaks. Assange repassou o arquivo ao jornal britânico ‘Guardian’ e a quatro outros jornais: o ‘New York Times’, ‘Der Spiegel’ na Alemanha, ‘Le Monde’ na França e ‘El País’ na Espanha. Os cinco jornais planejam publicar excertos dos telegramas mais significativos, mas decidiram nem divulgar o arquivo completo nem publicar nomes que ponham em risco a vida de indivíduos inocentes. WikiLeaks diz que, ao contrário do que teme o departamento de Estado, também planeja divulgar só alguns excertos de telegramas e encobrir as identidades.

Os telegramas divulgados hoje revelam como os EUA usam suas embaixadas como parte de uma rede global de espionagem, com diplomatas encarregados de arrancar não só informações dos seus contatos, mas também detalhes pessoais, como números e detalhes de cartões de créditos, de telefones e, até, material para exames de DNA.

Instruções secretas sobre “inteligência humana” assinadas por Hillary Clinton ou sua antecessora, Condoleeza Rice, instruem os funcionários a reunir informações sobre instalações militares, detalhes de armas e veículos de líderes políticos, além de scans de íris, impressões digitais e DNA.

Os mais controversos alvos dessas ações são os líderes da ONU. Essa específica instrução exigia especificação de “sistemas de telecomunicações e de tecnologia de inteligência usados pelos mais altos funcionários da ONU e respectivas equipes e detalhes das redes VIP privadas usadas para comunicação oficial, incluindo upgrades, medidas de segurança, senhas e chaves pessoais de decodificação”.

Quando o ‘Guardian’ informou Crowley sobre o conteúdo dos telegramas específicos, o porta-voz do departamento de Estado disse: “Permita-me garantir a você: nossos diplomatas são apenas isso, diplomatas. Não se envolvem em atividades de inteligência. Representam nosso país em todo o mundo, mantêm contatos abertos e transparentes com outros governos e com figuras do mundo privado e reportam ao nosso governo. É o trabalho dos diplomatas há centenas de anos.”

Os telegramas também lançam luz sobre questões diplomáticas mais antigas. Um telegrama, por exemplo, revela que Nelson Mandela ficou “furioso” quando um alto conselheiro impediu que ele se encontrasse com Margaret Thatcher para explicar por que o Conselho Nacional Africano tinha objeções à política britânica de “engajamento construtivo” com o regime do apartheid.

“Entendemos que Mandela desejasse muito encontrar-se com Thatcher, mas [o secretário Zwelakhe] Sisulu argumentou persuasivamente contra o encontro”, segundo o telegrama. E continua: “Mandela já várias vezes dissera o quanto desejava encontrar-se com Thatcher para manifestar as objeções do CNA à política britânica. Surpreendeu-nos portanto que o encontro não tenha acontecido em sua visita a Londres em meados de abril e desconfiamos que os linhas-duras do CNA intrometeram-se nos planos de Mandela”.

Os telegramas diplomáticos dos EUA levam a marca “Sipdis” – secret internet protocol distribution. Foram compilados como parte de um programa que seleciona telegramas considerados moderadamente secretos, mas que podem ser partilhados com outras agências e os descarrega automaticamente nos websites protegidos das embaixadas, e linkados com o sistema de internet Siprnet militar.

São classificados em vários níveis, até “SECRET NOFORN” [ing. ‘no foreigners’, “proibidos para estrangeiros”]. Mais de 11 mil telegramas são marcados como “secretos e cerca de 9.000 são “noforn”. As embaixadas de origem da maioria dos telegramas são Ancara, Bagdá, Amã, Kuwait e Tóquio.

Mais de 3 milhões de funcionários e soldados norte-americanos, muitos deles extremamente jovens, têm credencial que lhes dá possibilidade de acesso a esse material, apesar de os telegramas conterem nomes e identificação de informantes estrangeiros e contatos considerados sensíveis em regimes ditatoriais. Alguns dos telegramas são identificados como “protegido” ou “estritamente protegido”.

Na primavera passada, um analista de inteligência de 22 anos, Bradley Manning, foi acusado de ter vazado muitos desses telegramas, junto com um vídeo em que se via a tripulação de um helicóptero Apache matando dois repórteres da agência Reuters em Bagdá, em 2007; material que, depois, foi distribuído por WikiLeaks. Manning está preso e é provável que seja julgado por uma corte marcial. (…)

Um ex-hacker, Adrian Lamo, que denunciou Manning às autoridades norte-americanas, disse que o soldado lhe dissera, em mensagens por chat, que os telegramas diplomáticos mostravam “como o primeiro mundo explora o terceiro, em detalhes”.

Disse também, segundo Lamo, que Clinton “e vários milhares de diplomatas em todo o mundo vão ter um ataque do coração quando acordarem, um belo dia, e descobrirem que todo o arquivo de toda a política externa está acessível ao grande público, em formato que permite pesquisas” (…) “onde quer que haja um posto norte-norte-americano, ali há um escândalo diplomático que será revelado”.

Perguntado sobre por que material tão sensível circulava em rede acessível a milhares de funcionários do governo, o porta-voz do departamento de Estado disse ao ‘Guardian’: “Os ataques de 11/9 e o período imediatamente posterior revelaram falhas no sistema de distribuição de informações dentro do governo. Desde os ataques de 11/9, o governo dos EUA tomou medidas para facilitar significativamente a partilha de informações. Esses esforços visaram a oferecer aos especialistas da diplomacia, aos militares e aos agentes de inteligência e da justiça acesso mais rápido e mais fácil a mais dados, para que pudessem fazer seu trabalho com mais eficácia”. E acrescentou: ‘Temos tomado medidas agressivas nas últimas semanas e meses para aumentar a segurança de nossos sistemas e para evitar vazamento de informações’.”

FONTE: publicado em 28/11/2010 no do jornal britânico “The Guardian”. Tradução para o português do coletivo da Vila Vudu, com colaboração do portal “Viomundo”. Transcrito no referido portal (http://www.viomundo.com.br/denuncias/vazamento-de-mensagens-causa-crise-diplomatica-global.html)
[Sugestão deste blog: artigo mais completo pode ser lido no site http://www.nytimes.com/2010/11/29/world/29cables.html?pagewanted=1&_r=2&nl=todaysheadlines&emc=a2]

NO RÁDIO, LULA DIZ QUE É APENAS O COMEÇO, SOBRE AÇÃO POLICIAL


“No programa semanal de rádio 'Café com o Presidente', o presidente Lula fez um balanço do 'Programa de Aquisição de Alimentos', e falou de vai atenderá tudo o que o Rio de Janeiro precisar para combater o narcotráfico. Segue a transcrição:

Apresentador: Olá, você, em todo o Brasil. Eu sou Luciano Seixas, e começa agora o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Olá, presidente, como vai? Tudo bem?

Presidente:
Tudo bem, Luciano.

Apresentador: Presidente, o senhor participou, na quinta-feira passada, de um seminário do Programa de Aquisição de Alimentos. Em relação a esse programa, a agricultura Hilda Maria Resende Santos, presidente da Associação Comunitária de Criadores de Caprinos, da cidade de Custódia, em Pernambuco, diz o seguinte: “As minhas palavras são de agradecimento, falo em nome de um povo sofrido. Se não fosse esse programa, as crianças não teriam um litro de leite para tomar. E se, hoje, elas vão bem na escola é porque tomam leite todo dia. Então, Pernambuco agradece ao presidente Lula. E mais...”, diz a D. Hilda, “... Estou certa que a presidente Dilma irá continuar o programa” (*). Então, presidente?

Presidente:
Olha, Luciano, o Programa de Aquisição de Alimentos é um programa, eu diria, quase que revolucionário porque, primeiro, ele atinge 2.300 municípios, segundo, nós compramos produtos de, mais ou menos, 160 mil pequenos agricultores, terceiro, nós conseguimos comprar por volta de 3 milhões de toneladas de alimentos e nós distribuímos isso para 15 milhões de brasileiros. Ou seja, são 25 mil instituições que participam desse programa. É um programa que mexe com a sociedade, que mexe com o pequeno produtor, e garante que alimento de boa qualidade chegue na casa das pessoas. E garante mais ainda, que a gente dê ao pequeno produtor um preço justo, melhor do que aquele que o mercado oferece ao pequeno produtor. Esse é um programa que eu tenho a convicção que a companheira Dilma vai continuar, vai aperfeiçoá-lo. E a Dona Hilda tem razão, aliás eu ouvi o depoimento da Dona Hilda, eu vi o discurso dela lá, ela pediu a palavra, ela me entregou uma cesta básica e, depois, ela foi fazer um discurso. Ou seja, o discurso emocionou todo mundo, porque é uma mulher simples, sabe, que estava falando apenas aquilo que a alma dela conseguia produzir, aquilo que o coração dela conseguia sentir.

Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Presidente, mudando de assunto.A polícia, com a colaboração das Forças Armadas, expulsou os principais líderes de algumas das comunidades do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, que enfrentava os maiores problemas com o crime organizado. O que é que o senhor achou dessa ação? Está fechado o cerco ao tráfico no Rio de Janeiro?

Presidente:
Primeiro, nós temos que dar os parabéns ao governador Sérgio Cabral, ao secretário de Segurança, e a todo o povo do Rio de Janeiro. O governador me ligou na segunda-feira, dizendo o que estava acontecendo no Rio de Janeiro, pedindo para mim se a gente poderia colocar Polícia Rodoviária Federal para ajudar no Rio de Janeiro. Prontamente eu liguei para o ministro da Justiça, pedi para o ministro da Justiça atender o Sérgio Cabral naquilo que fosse necessário para o Rio de Janeiro. Nós, então, mandamos mais reforço da Polícia Rodoviária Federal. Depois, o companheiro Sérgio Cabral falou da Polícia Federal. E já quando eu ia viajando, na quinta-feira, para Georgetown, na Guiana, o ministro Nelson Jobim me liga, dizendo de um pedido que o Sérgio Cabral tinha feito para ele. Depois, me liga o Sérgio Cabral dizendo, sabe, do que ele precisava das Forças Armadas. Eu, prontamente disse ao ministro Nelson Jobim, que ele fizesse o que tivesse que fazer, dentro da lei. Pedi para que o Sérgio Cabral pedisse por escrito, que nós estávamos dispostos a ajudar o Rio de Janeiro a vencer o crime organizado, a vencer o narcotráfico. E disse ao governador: “Governador, tudo o que eu puder fazer para que a gente possa livrar o Rio dessa situação nós iremos fazer”. Eu acho que a operação está sendo um sucesso. Obviamente que ela não terminou, ela apenas começou. Nós não sabemos ainda se todos os bandidos fugiram, se há muitos lá dentro, se estão escondidos. De qualquer forma, nós demos o primeiro passo – entramos no Complexo do Alemão. Eu estava para ir visitar o Complexo do Alemão. Independentemente dessa operação eu iria visitar o Complexo do Alemão. Eu, agora, vou com muito mais prazer. Eu quero reiterar hoje o que eu disse na sexta-feira: o que o Rio de Janeiro precisar para que a gente acabe com o narcotráfico, o governo federal está disposto a colaborar com o estado do Rio de Janeiro e com o meu amigo, Sérgio Cabral.

Apresentador: Presidente, qual mensagem que o senhor deixa às comunidades do Rio de Janeiro, mas também aqueles que acompanham esses acontecimentos, no Brasil e no mundo?

Presidente:
A mensagem que eu posso dar é essa: otimismo. Otimismo e esperança. E dizer ao povo do Rio: “Muita tranquilidade, porque nós venceremos essa guerra”. E fica demonstrado quando a união entre governo federal e governo estadual, e os órgãos de inteligência das polícias, as coisas funcionam. Quando ficamos disputando, entre nós, quem é mais bonito, quem é melhor, o povo paga um prejuízo. Eu digo sempre o seguinte, quando os governos se unem, o povo ganha. Quando os governos divergem, o povo perde. Então eu acho que o Sérgio Cabral fez um trabalho excepcional, eu espero que outros governadores comecem a fazer a mesma coisa, porque só tem um jeito de a gente vencer o crime organizado – é combatê-lo. E o governo federal só pode entrar na medida em que haja o pedido de um governo, como o Sérgio Cabral, humildemente pediu e nós, humildemente, atendemos.

Apresentador: Muito obrigado, presidente Lula, e até a próxima semana.

Presidente:
Obrigado a você, Luciano, e até a próxima semana.”

(*) O referido discurso de D. Hilda, que emocionou o presidente, foi este:



FONTE: blog “Os amigos do Presidente Lula” (http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2010/11/no-radio-lula-diz-que-e-apenas-o-comeco.html).

EXPORTAÇÃO DA PETROBRAS PARA A CHINA: RESPOSTAS AO "ESTADÃO"


“Sobre a matéria “CHINA LIDERA A IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO DO BRASIL”, publicada segunda-feira (29/11) pelo jornal ‘O Estado de São Paulo’, seguem, abaixo, as respostas encaminhadas pela Petrobras ao veículo.

Pergunta: Pelos dados do MDIC, a China é hoje o principal destino das exportações brasileiras de petróleo. O que mostram os dados da Petrobrás. Por que há diferenças?

Resposta:
A China não foi o principal destino final das cargas de petróleo exportadas pela Petrobras no período de janeiro a outubro de 2010. Os Estados Unidos continuam sendo o principal destino das nossas vendas. A diferença entre o número da Petrobras e do MDIC se deve ao critério utilizado. O número da Petrobras é baseado nas vendas e o do MDIC toma como base as exportações. É importante ressaltar que quase metade das vendas para os EUA é entregue a partir da tancagem de Santa Lucia, e sob a ótica do MDIC essa parcela aparece como exportação para o Caribe. Considerando as vendas de janeiro a outubro/10, as vendas para os EUA representam 43% e China 28% das exportações de petróleo.

Pergunta: O forte aumento das importações da China (125%, em volume) está ligado ao contrato fechado com o banco de desenvolvimento chinês? Quantos barris estão sendo exportados esse ano por causa do contrato (150 mil)? Quantos serão o ano que vem? (Só gostaria de ressaltar que sei que o empréstimo não é pago em petróleo, apenas garante fornecimento do óleo, que é pago a preços de mercado)

Resposta:
O aumento das vendas para a China em 2010 está muito ligado ao contrato de fornecimento de petróleo vinculado ao empréstimo concedido pelo CDB, com volume de 150 mil barris por dia para o primeiro ano e 200 mil barris por dia para os 9 anos restantes. O contrato define o volume que a Petrobras deve oferecer à companhia chinesa e os preços são negociados carga a carga, assim, caso não haja acordo de preço, o volume em questão é abatido do contrato sem prejuízo para as partes.

Pergunta: As exportações para a China tendem a seguir crescendo por conta da forte demanda do País?

Resposta:
A expectativa é que as exportações de petróleo para o Extremo Oriente em geral e para a China em particular mantenham-se elevadas para o próximo ano.

Pergunta: Quais são os planos da Petrobrás para sua filial na China? Novos contratos de venda? Exploração no país asiático?

Resposta:
O mercado do Extremo Oriente é um importante destino das exportações de petróleo nacional e a Petrobras está cada vez mais focada em oportunidades comerciais nessa região. Além do contrato vinculado ao empréstimo do CDB, temos outros contratos de longo prazo na região, além de vendas spot em bases regulares.

Pergunta: Os chineses já compraram participação em outras empresas do setor. Os chineses tendem a participar mais do setor de petróleo no Brasil?

Resposta:
Recomendamos que dados mais efetivos sejam obtidos junto ao E&P (referentes a eventuais parcerias) e à ANP (projetos sem a participação da Petrobras).”

FONTE: blog “Fatos e Dados”, da Petrobras (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/?p=33541#more-33541)

OS DONOS DA MÍDIA ESTÃO NERVOSOS

“A ‘Veja’ andou atrás do blogueiro Renato Rovai querendo saber como foi feita a articulação para que o presidente Lula concedesse uma entrevista a blogs de diferentes pontos do Brasil. Estão preocupadíssimos.

Laurindo Lalo Leal Filho

O blogueiro Renato Rovai contou durante o curso anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, realizado semana passada no Rio, que a Veja andou atrás dele querendo saber como foi feita a articulação para que o presidente Lula concedesse uma entrevista a blogs de diferentes pontos do Brasil. Estão preocupadíssimos.

À essa informação somam-se as matérias dos jornalões e de algumas emissoras de TV sobre a coletiva, sempre distorcidas, tentando ridicularizar entrevistado e entrevistadores.

O SBT chegou a realizar uma edição cuidadosa daquele encontro destacando as questões menos relevantes da conversa para culminar com um encerramento digno de se tornar exemplo de mau jornalismo.

Ao ressaltar o problema da inexistência de leis no Brasil que garantam o direito de resposta, tratado na entrevista, o jornal do SBT fechou a matéria dizendo que qualquer um que se sinta prejudicado pela mídia tem amplos caminhos legais para contestação (em outras palavras). Com o que nem o ministro Ayres Brito, do Supremo, ídolo da grande mídia, concorda.

Jornalões e televisões ficaram nervosos ao perceberem que eles não são mais o único canal existente de contato entre os governantes e a sociedade.

Às conquistas do governo Lula soma-se mais essa, importante e pouco percebida. E é ela que permite entender melhor o apoio inédito dado ao atual governo e, também, a vitória da candidata Dilma Roussef.

Lula, como presidente da República, teve a percepção nítida de que se fosse contar apenas com a mídia tradicional para se dirigir à sociedade estaria perdido. A experiência de muitos anos de contato com esses meios, como líder sindical e depois político, deu a ele a possibilidade de entendê-los com muita clareza.

Essa percepção é que explica o contato pessoal, quase diário, do presidente com públicos das mais diferentes camadas sociais, dispensando intermediários.

Colunistas o criticavam dizendo que ele deveria viajar menos e dar mais expediente no palácio. Mas ele sabia muito bem o que estava fazendo. Se não fizesse dessa forma corria o risco de não chegar ao fim do mandato.

Mas uma coisa era o presidente ter consciência de sua alta capacidade de comunicador e outra, quase heróica, era não ter preguiça de colocá-la em prática a toda hora em qualquer canto do pais e mesmo do mundo.

Confesso que me preocupei com sua saúde em alguns momentos do mandato. Especialmente naquela semana em que ele saía do sul do país, participava de evento no Recife e de lá rumava para a Suíça. Não me surpreendi quando a pressão arterial subiu, afinal não era para menos. Mas foi essa disposição para o trabalho que virou o jogo.

Um trabalho que poderia ter sido mais ameno se houvesse uma mídia menos partidarizada e mais diversificada. Sem ela o presidente foi para o sacrifício.

Pesquisadores nas áreas de história e comunicação já tem um excelente campo de estudos daqui para frente. Comparar, por exemplo, a cobertura jornalística do governo Lula com suas realizações. O descompasso será enorme.

As inúmeras conquistas alcançadas ficariam escondidas se o presidente não fosse às ruas, às praças, às conferências setoriais de nível nacional, aos congressos e reuniões de trabalhadores para contar de viva voz e cara-a-cara o que o seu governo vinha fazendo. A NBR, televisão do governo federal, tem tudo gravado. É um excelente acervo para futuras pesquisas.

Curioso lembrar as várias teses publicadas sobre a sociedade mediatizada, onde se tenta demonstrar como os meios de comunicação estabelecem os limites do espaço público e fazem a intermediação entre governos e sociedade.

Pois não é que o governo Lula rompeu até mesmo com essas teorias. Passou por cima dos meios, transmitiu diretamente suas mensagens e deixou nervosos os empresários da comunicação e os seus fiéis funcionários, abalados com a perda do monopólio da transmissão de mensagens.

Está dada, ao final deste governo, mais uma lição. Governos populares não podem ficar sujeitos ao filtro ideológico da mídia para se relacionarem com a sociedade.

Mas também não pode depender apenas de comunicadores excepcionais como é caso do presidente Lula. Se outros surgirem ótimo. Mas uma sociedade democrática não pode ficar contando com o acaso.

Daí a importância dos blogueiros, dos jornais regionais, das emissoras comunitárias e de uma futura legislação da mídia que garanta espaços para vozes divergentes do pensamento único atual.”

FONTE: escrito por Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Publicado no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4891).

LULA: PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS É REVOLUCIONÁRIO E SERÁ MANTIDO POR DILMA


“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou (29/11) como revolucionário o Programa de Aquisição de Alimentos e afirmou que o projeto deverá ser mantido e aperfeiçoado no governo de Dilma Rousseff.

Em seu programa semanal “Café com o Presidente”, Lula explicou que o programa atinge cerca de 2.300 municípios brasileiros, com 3 milhões de toneladas de alimentos de 160 mil pequenos agricultores distribuídos para 15 milhões de pessoas. Ao todo, 25 mil instituições participam do projeto.

“É um programa que mexe com a sociedade, com o pequeno produtor, e garante que alimento de boa qualidade chegue na casa das pessoas. E garante mais ainda, que a gente dê ao pequeno produtor um preço justo, melhor do que aquele que o mercado oferece”, disse.

O Programa de Aquisição de Alimentos foi instituído em 2003 e é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e com governos estaduais e municipais.

Para participar do projeto, o agricultor deve ser identificado como agricultor familiar, enquadrando-se no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)

OPERAÇÃO CONTRA O NARCOTRÁFICO

O presidente também afirmou durante o programa que a operação contra o narcotráfico no Rio de Janeiro é um sucesso, mas que ainda não terminou, apenas começou. Ele cumprimentou o governador do estado, Sérgio Cabral, e adiantou que deve visitar o Complexo do Alemão – área ocupada ontem pela polícia.

“Nós não sabemos ainda se todos os bandidos fugiram, se há muitos lá dentro, se estão escondidos. De qualquer forma, nós demos o primeiro passo – entramos dentro do Complexo do Alemão”, disse. “Eu quero reiterar hoje o que eu disse na sexta-feira: o que o Rio de Janeiro precisar para que a gente acabe com o narcotráfico, o governo federal está disposto a colaborar”, completou.

Lula lembrou que a primeira ligação do governador veio na segunda-feira da semana passada, pedindo o apoio da Polícia Rodoviária Federal. Logo em seguida, vieram solicitações de envio de homens da Polícia Federal e das Forças Armadas ao estado.

A mensagem deixada pelo presidente é de “otimismo e esperança” para as comunidades do Rio, além de muita tranquilidade. Fica demonstrado que, com a união entre governo federal, governo estadual e os órgãos de inteligência das polícias, as coisas funcionam. Quando ficamos disputando entre nós quem é mais bonito, quem é melhor, o povo paga o prejuízo”, concluiu.”

FONTE: publicado no portal do PT com informações da Agência Brasil (http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/nacional-2/lula:-programa-de-aquisicao-de-alimentos-e-revolucionario-e-sera-mantido-por-dilma-31801.html).