O jornal francês Le Monde ontem publicou o seguinte texto (li no UOL):
“O G20 passou por seu exame de aprovação. Não era garantido. Entre as economias do norte e das potências emergentes do Sul, não faltavam motivos de conflito, de querela e de disputa: a reunião de Londres, na quinta-feira (2), poderia ter resultado em cacofonia. Mas o interesse comum por uma ação coordenada para tentar frear a pior crise econômica e financeira depois de 1945 prevaleceu.
Pode-se dizer que há um pouco de marketing, ou seja, de ostentação, em sua embalagem final. Isso sem dúvida é verdade. Não sabemos muito qual matemática "browniana" o primeiro-ministro britânico usou para adicionar números que não têm nada a ver entre si para anunciar, como um grito de vitória, que o G20 destinará 1,1 trilhão de dólares à retomada econômica. Mas tudo bem se isso for capaz de restaurar um pouco de um elemento que será fundamental para sair da crise: a confiança.
O que então aconteceu em Londres? O equivalente ao retorno de um pouco de Estado na cena internacional. Dito de outra forma, o G20 esboçou as novas regras do capitalismo mundial. Vivíamos num momento de globalização financeira totalmente desregulamentada, cujo curso selvagem desembocou na crise atual. A reunião de Londres - que se deveu em grande parte à insistência de Nicolas Sarkozy, o primeiro a tê-la convocado, em setembro de 2008 - introduziu a regulamentação, ou seja, a prudência, nas finanças mundiais. Ela conferiu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um novo papel de fiscalização das práticas econômicas e financeiras dos Estados - caberá a ele acionar o sinal de alarme quando o comportamento de algum dos países ameaçar todo do sistema.
E aconteceu mais do que isso. A reunião em Londres destruiu o G8, a cúpula anual americana-nipo-europeia que tinha intenção de administrar parte dos negócios do planeta, uma vez que ela não era nem um pouco representativa do mundo de hoje. O G20 é, ele sim, o espelho justo da repartição de poder econômico nesse começo de século 20: com a ascensão poderosa, cada dia mais evidente, dos gigantes do Sul que incluem a China, a Índia e o Brasil, entre outros.
Ainda que exclua a África, o G20 é mais representativo que o Conselho de Segurança da ONU, cuja composição reflete o equilíbrio resultante da 2ª Guerra Mundial. Mas o G20 não é uma instituição. É uma reunião informal, sustentada apenas pela boa vontade de seus participantes. Se quisermos um embrião de governança mundial - imposta pela globalização - é necessário institucionalizar o G20, começando por dar a ele um secretariado permanente.”
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