O jornal Financial Times anteontem publicou o seguinte artigo, que li no UOL em tradução de George El Khouri Andolfato:
“As dívidas deixadas pela recessão e resgates a bancos serão imensas para muitos países - e o preço virá no momento em que a geração pós-Segunda Guerra Mundial dos países desenvolvidos chega ao momento da aposentadoria. Isso significa um tempo sombrio para as finanças nacionais, como escrevem Chris Cook e Simon Briscoe
A próxima década já seria difícil. À medida que a aposentadoria se aproxima para a inchada classe média de muitos países, os governos estão diante de uma cara transformação demográfica. Agora, a crise econômica apenas piora o panorama.
Assim que a recessão passar, os países precisarão trabalhar para cobrir seus déficits fiscais sem provocar maiores colapsos na produção. Eles também terão que arcar com o serviço das dívidas nacionais inchadas. No mês passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que entre os países do Grupo dos 20, cujos líderes se reunirão em Londres nesta quinta-feira, os membros industrializados terão aumentado suas dívidas internas a uma média equivalente a quase 25% do produto interno produto entre 2007 e 2014.
Isso é um fardo pesado. Mas, para 2050, o custo desta crise não ultrapassará 5% do impacto financeiro que enfrentarão com o envelhecimento de seus cidadãos.
Como disse o FMI, "apesar dos grandes custos fiscais da crise, a maior ameaça à solvência fiscal a longo prazo ainda é representada, pelo menos nos países avançados, pelas tendências demográficas desfavoráveis".
Desfavoráveis do ponto de vista do tesouro, que se diga. Fora isso, uma maior longevidade humana não é algo ruim. Menos pessoas estão morrendo jovens, em acidentes industriais ou por doenças. Se chegarem à velhice, os aposentados viverão cada vez mais tempo de suas aposentadorias. Entretanto, as taxas de natalidade frequentemente são baixas - deixando menos crianças para cuidar de seus pais na idade avançada e uma menor força de trabalho para pagar os impostos e contribuições que também os sustentarão.
As autoridades em muitos países estão propensas a discutir o problema em termos que escondem sua urgência: o impacto do envelhecimento no mundo em quatro décadas é mais comumente discutido do que o peso do problema em apenas 10 anos. Mas o fenômeno demográfico pode ter um impacto significativo na sociedade a curto prazo.
Por grande parte do mundo desenvolvido, o fim da Segunda Guerra Mundial foi recebido com um salto na taxa de natalidade - o "baby boom". Este aumento, há uma vida de trabalho, está repentinamente sendo sentido mais agudamente agora, à medida que os trabalhadores deixam o mercado de trabalho em grande número e começam a pedir suas aposentadorias.
No Reino Unido, por exemplo, o governo espera que o custo anual adicional imposto pelo envelhecimento apenas nos próximos dez anos aumentará 1,6% adicionais do PIB em 2017-2018.
Este é um aumento de gastos equivalente ao custo do serviço da dívida interna de cerca de 37% do PIB, segundo cálculos do "FT". Isso ultrapassa o aumento de 29 pontos percentuais que a crise financeira e a recessão econômica deverão infligir.
França, Alemanha e os Estados Unidos estão entre os países que deverão ver uma deterioração repentina dos custos demográficos na próxima década, após um longo período de relativa calma. Segundo a agência de população da ONU, o número de adultos em idade de trabalho para cada pessoa com mais de 65 anos nas economias avançadas cairá nos próximos 10 anos o equivalente que caiu nos 30 anos anteriores. O número de trabalhadores por pensionista cairá de 4,3 para 3,4 apenas na próxima década.
Alguns países já estão em um ponto mais avançado nessa estrada. Serão necessários 20 anos de envelhecimento para a Europa se tornar tão idosa quanto a população atual do Japão. O restante do Leste da Ásia está em uma corrida para enriquecer antes que sua população envelheça demais para trabalhar. A Coréia do Sul está atualmente bem posicionada, com seis cidadãos em idade de trabalho para cada pensionista. Mas graças a um colapso na sua taxa de natalidade, ela será um dos países mais grisalhos do planeta em 2050.
Para as sociedades, mesmo que nem sempre para os indivíduos, é possível compensar e atenuar muitos dos problemas do envelhecimento. As leis trabalhistas estão mudando para manter as pessoas no trabalho por mais tempo. Todavia, a mais recente explosão da dívida pública - algo difícil por si só - está exacerbando o impacto de um envelhecimento que já seria caro. Somados, eles prometem tornar a próxima década dura para os contribuintes.
AMADURECIMENTO DOS CUSTOS
Os países que apresentaram grandes "baby-booms" - como os Estados Unidos e o Reino Unido- começarão a sentir agudamente as aposentadorias resultantes e o fardo de seguridade social na próxima década.
Apesar dos Estados Unidos terem tido um longo boom de natalidade pós-guerra, se estendendo de 1946 a 1964, o Reino Unido teve um pico em 1947, uma pequena queda e então um segundo pico em 1964.
Ambos os países precisarão financiar seus crescentes compromissos além das somas enormes de seus resgates a bancos e planos contra recessão.
Em consequência da crise econômica, os Estados Unidos veem previsões para sua dívida interna como percentual do produto interno bruto saltar de 66% para 97% em 2012 - aumentando a pressão sobre o Tesouro para promover reformas sociais.
O Reino Unido enfrenta um aumento maior na sua previsão de fardo da dívida, de 43% para 75%.
Os problemas da Espanha se devem menos a um boom e sim à falta dele. O país conta com um dos perfis demográficos em maior deterioração da Europa. Somado ao fim abrupto do longo boom econômico espanhol, isto dá aos autores de políticas uma dor de cabeça, já que a dívida pública agora está projetada para saltar de 30% para 56%.
Em busca de jovens, a Europa precisa olhar para a Turquia. Ela pode esperar um grande dividendo demográfico. À medida que a Velha Europa envelhece, ela poderá explorar isso, atraindo os jovens turcos para aliviar os mercados de trabalho carentes.
O Japão está sofrendo os efeitos de 30 anos de declínio consistente na taxa de natalidade. Isso e a notável longevidade tornaram o Japão o país mais velho do mundo. Ele já sofria com um grande fardo fiscal antes da crise. De lá para cá, a posição se agravou, com a dívida nacional agora prevista para ser o dobro do PIB em 2012.
Por sua vez, a Coréia do Sul conta com uma dívida interna baixa e uma população jovem. Mas o aumento da longevidade e uma queda acentuada na taxa de natalidade - de 6,0 crianças por mulher em 1960 para 1,1 em 2006 - significam que o país envelhecerá a uma taxa veloz. Sua proporção de dependência superará a americana por volta de 2025.”
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