terça-feira, 14 de agosto de 2012

BAIXO CRESCIMENTO NO BRASIL É UM CICLO, NÃO TENDÊNCIA


O’Neill: “Eu gosto de Rússia, Turquia, Brasil, China e Coreia. E, razoavelmente atrativa, Índia e depois Indonésia”

Por Silvia Rosa, do jornal “Valor”


“Uma década depois de ter criado o termo BRIC para o grupo de países que inclui Brasil, Rússia, Índia e China, o economista e presidente da “Goldman Sachs Asset Management”, Jim O’Neill continua otimista com essas economias, apesar do fluxo para os fundos dedicados a tais mercados estar negativo em US$ 689,25 milhões no ano até 1º de agosto, de acordo com dados da consultoria EPFR Global. O’Neill acredita que ao longo da década esses países vão contribuir mais para o PIB global do que os Estados Unidos e Europa juntos.

Na avaliação do gestor, o México chamado recentemente pelo “Financial Times” de “novo Brasil”, já não está mais interessante em termos de preço e vê mais oportunidades em emergentes como Rússia, Brasil, Turquia, China e Coreia.

A seguir, a entrevista concedida por O’Neill ao jornal “Valor” por e-mail.

Valor: Como está a alocação nos mercados emergentes comparado com o ano passado?

Jim O’Neill : A “Goldman Sachs Asset Management” planeja lançar um fundo global que permitiria aplicar em diferentes classes de ativos. Nos fundos de ações dedicados a mercados emergentes, nós temos visto contínua entrada de recursos, e algumas saídas na carteira com foco nos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

Valor: Em seu último livro, “O mapa do crescimento”, além dos países do BRIC, o senhor menciona mais quatro economias – Coreia do Sul, Indonésia, México e Turquia – que compõem o grupo chamado de mercados de crescimento. Em quais países o senhor vê mais oportunidades para investir em ações?

O’Neill : Isso depende das perspectivas econômicas e dos preços prevalecentes. Em oposição a esses dois critérios, em termos de atratividade eu gosto de Rússia, Turquia, Brasil, China e Coreia. E, razoavelmente atrativa, eu diria a Índia e depois a Indonésia. Nos preços atuais, o mercado do México já não está mais tão atrativo.

Valor: Com quais países do BRIC o senhor está mais otimista?

O’Neill : Eu permaneço fundamentalmente animado com os quatro. Depois, e coletivamente, a história dos BRIC é a maior história econômica da década. Ao longo da década, eles vão contribuir mais para o PIB global do que os Estados Unidos e Europa juntos e até 2015 o PIB desses países deve superar o dos Estados Unidos.

Valor: A bolsa da Turquia lidera a valorização entre os mercados de ações de emergentes, com alta de 25,96% em moeda local. Por que esse país tem atraído os investidores?

O’Neill : A Turquia é um país excepcionalmente interessante, por três razões até o momento. Primeiro, porque é um tipo de modelo para o qual muitos aspirantes e países do Oriente Médio que estão passando por mudança devem visar. Segundo, ele está muito bem posicionado em termos de potenciais laços comerciais decorrentes de futuras mudanças em toda região do Oriente Médio. Terceiro, ele tem uma excelente demografia. Tudo isto atribuído contra um pano de fundo de baixa taxa de juros nos países do G-7, faz da Turquia muito atraente.

Valor: Quais são as principais preocupações em relação à economia brasileira?

O’Neill : Eu acho que as pessoas estão muito negativas sobre a tendência para o Brasil no médio prazo. Isso é muito interessante, e por alguma extensão, engraçado, o quão rapidamente o consenso do mercado presume que a evolução do crescimento recente vai persistir. Então, por exemplo, depois do milagre do crescimento de 7,5% em 2010, as pessoas pensam que isso persistiria. Agora, dado os desapontamentos em 2011 e 2012, as pessoas estão preocupadas que o crescimento será ao redor de 2% a 3% no futuro. Isso não é novo. Por anos, de 2001 a 2003, o Brasil cresceu menos de 2%, e depois isso de repente saltou para acima de 5% por dois anos. Os investidores e analistas precisam distinguir entre tendência de crescimento e ciclo. Eu acho que o Brasil, provavelmente, crescerá ao redor de 4% a 5% na média na década e, no próximo ano, certamente será melhor que isso. O Brasil tem sofrido com a valorização do real nos anos recentes bem como o excesso de liderança do governo na economia como outros desafios competitivos, mas algumas dessas evoluções adversas estão mudando.”

FONTE: reportagem de Silvia Rosa publicada no jornal “Valor”. Postadao por Luis Favre em seu blog (http://blogdofavre.ig.com.br/2012/08/baixo-crescimento-no-brasil-e-um-ciclo-nao-tendencia/).

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