quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

MANDELA E OS RACISTAS DA “VEJA”


Durante décadas, a mídia imperial tratou Nelson Mandela como “terrorista”. Até 2008, o líder africano ainda figurava na lista dos “comunistas” da central de espionagem dos EUA, e a nossa imprensa colonizada o rotulava de “subversivo”.

Por Altamiro Borges, em seu blog

Com sua morte, porém, a mídia simplesmente evita fazer qualquer autocrítica dessa trajetória e passa a endeusar Nelson Mandela, tratando seus leitores como imbecis. A revista “Veja”, sucursal rastaquera dos EUA, é uma das mais cínicas nessa manipulação. Na edição desta semana, ela estampou na capa: “O guerreiro da paz”. Nojento!

Basta lembrar que o semanário da famiglia Civita teve como um dos seus principais acionistas o grupo de mídia sul-africano “Naspers”. Num artigo na revista “Caros Amigos”, intitulado “A Abril e o apartheid”, o escritor Renato Pompeu revelou que essa corporação foi um dos esteios do regime racista. A “Naspers” tem sua origem em 1915 com o nome de “Nasionale Pers”. Durante décadas, ela esteve estreitamente ligada ao “Partido Nacional”, a organização das elites africâneres que legalizou o detestável e criminoso regime do “apartheid” no pós-Segunda Guerra Mundial.

Dos quadros da “Naspers” saíram os três primeiros-ministros do “apartheid”. O primeiro foi D.F. Malan, que comandou o governo da África do Sul de 1948 a 1954 e lançou as bases legais da segregação racial. Já os líderes do “Partido Nacional” H.F. Verwoerd e P.W. Botha participaram do Conselho de Administração da “Naspers”. Verwoerd, que quando estudante na Alemanha teve ligações com os nazistas, consolidou o regime do “apartheid”, a que deu feição definitiva em seu governo, iniciado em 1958. Durante sua gestão, ocorreram o massacre de Sharpeville, a proibição do “Congresso Nacional Africano” (que hoje governa o país) e a prolongada condenação de Nelson Mandela.

Já P. Botha sustentou o “apartheid “como primeiro-ministro, de 1978 a 1984, e depois como presidente, até 1989. “Ele argumentava, junto ao governo dos Estados Unidos, que o apartheid era necessário para conter o comunismo em Angola e Moçambique, países vizinhos. Reforçou militarmente a África do Sul e pediu a colaboração de Israel para desenvolver a bomba atômica. Ordenou a intervenção de forças especiais sul-africanas na Namíbia e em Angola”. Durante seu longo governo, a resistência negra na África do Sul, que cresceu, adquiriu maior radicalidade e conquistou a solidariedade internacional, foi cruelmente reprimida – como tão bem retrata o filme “Um grito de liberdade”, do diretor inglês Richard Attenborough (1987).

Renato Pompeu não perdoa a papel nefasto da “Naspers”. “Com a ajuda dos governos do ‘apartheid’, dos quais suas publicação foram porta-vozes oficiosos, ela evoluiu para se tornar o maior conglomerado da mídia imprensa e eletrônica da África, onde atua em dezenas de países, tendo estendido também as suas atividades para nações como Hungria, Grécia, Índia, China e, agora, para o Brasil. Em setembro de 1997, um total de 127 jornalistas da “Naspers” pediram desculpas em público pela sua atuação durante o “apartheid”, em documento dirigido à “Comissão da Verdade e da Reconciliação”, encabeçada pelo arcebispo Desmond Tutu. Mas se tratava de empregados, embora alguns tivessem cargos de direção de jornais e revistas. A própria “Naspers”, entretanto, jamais pediu perdão por suas ligações com o ‘apartheid’”.

Segundo documentos divulgados pela própria “Naspers”, em dezembro de 2005, a “Editora Abril” tinha uma dívida líquida de, aproximadamente, US$ 500 milhões, com a família Civita detendo 86,2% das ações e o grupo estadunidense “Capital International”, 13,8%. A “Naspers” adquiriu em maio último todas as ações da empresa ianque, por US$ 177 milhões, mais US$ 86 milhões em ações da família Civita e outros US$ 159 milhões em papéis lançados pela “Abril”. “Com isso, a ‘Naspers’ ficou com 30% do capital. O dinheiro injetado, segundo ela, serviria para pagar a maior parte das dividas da editora”.

A revista “Veja”, que estampa na capa a manchete “O guerreiro da paz”, nunca pediu perdão por suas ligações com os racistas da África do Sul. É muito cinismo!”

FONTE: escrito por Altamiro Borges, em seu blog. O autor é jornalista e presidente do “Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé”. Artigo transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=231282&id_secao=6).

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