segunda-feira, 22 de setembro de 2008

MEGASSOCORRO

PARA NÓS, NO BRASIL, PARECE QUE ESTA CRISE ESTÁ BEM LONGE

Li no blog de Luis Favre o seguinte artigo de Antônio Palocci publicado no jornal "O GLOBO". O autor é deputado federal (PT-SP) e foi ministro da Fazenda.

"Nas duas últimas semanas, houve uma profunda piora da crise financeira americana.

Após resgatar as duas gigantes do mercado hipotecário, Fannie Mae e Freddie Mac, as autoridades americanas tentaram uma nova aposta, deixando o Banco Lehman Brothers à própria sorte.

Não funcionou e foi preciso correr para resgatar outra gigante, agora do mercado de seguros, a AIG.

Já foram consumidas dezenas de bilhões de dólares desde o início da turbulência, mas até aqui não houve sinais importantes de arrefecimento da crise. Até que o Fed e o Tesouro americano anunciaram uma nova estratégia: um megassocorro para os ativos não líquidos das instituições financeiras, conseguindo algum alívio nos mercados.

Cresceu nos últimos dias a sensação de que a deterioração do sistema financeiro dos EUA possa contaminar, com alguma profundidade, o equilíbrio de muitos outros países. O furo da bolha imobiliária já havia chegado à Inglaterra, à Irlanda e à Espanha. A queda do ritmo de crescimento já era sentida na Zona do Euro e no Japão, com a divulgação dos dados do segundo trimestre. Mas, nesta semana, algo mais importante parecia acontecer: um enorme desastre na economia americana, com reflexos inevitáveis em todas as economias do planeta. Foi a partir daí que as autoridades sinalizaram com o megassocorro, cuja estruturação ainda terá que ser construída nas próximas horas.

Se agiram certo ou não só o tempo vai dizer. O fato é que as autoridades perceberam que corriam atrás da crise, ficando sempre a reboque dos acontecimentos. Ficou claro que algo mais amplo precisava ser feito.

Mas os riscos não diminuíram: apenas criou-se uma nova expectativa.

As autoridades terão que dar conta de suas próprias palavras. Numa situação como esta, quando se decide aplacar a crise abraçando as perdas, não se consegue ficar no meio do caminho.

A tendência é ir fundo, sendo que o fundo ainda não é visível.

Na próxima semana, vamos saber se a declaração de guerra do Tesouro e do Fed surtirá efeito. Tudo indica que sim. E saberemos também a resposta das autoridades de outros países do chamado mundo desenvolvido, onde instituições financeiras também cambaleiam.

Para nós, no Brasil, parece que essa crise está bem longe. Nossa economia cresce gerando empregos, nossas contas externas continuam fortes, nossos bancos vão bem, obrigado! No geral, os países emergentes têm conseguido alguma distância da crise. Mas o que abala o mundo rico não é coisa pouca, é algo com poucos precedentes na História. Alguns acham que o liberalismo acabou. Parece mais que ele usa, agora, a última de suas armas: os recursos do contribuinte.

Restará, para depois dessa crise, além de um imenso problema fiscal, um grande desafio a respeito do funcionamento das finanças e do mercado de crédito. Após um período em que tudo parecia possível e a liquidez era interminável, veio a dura realidade: bolhas são bolhas, e sempre terminam mal. Empréstimos sem garantias tendem a não ser honrados.

Não há criatividade ou arquitetura financeira que evite o inevitável. Os mercados de derivativos e os mecanismos de alavancagem, que alimentaram essa enorme liquidez, serão fortemente questionados. Os sistemas de vigilância, regulação e avaliação de riscos terão que ser revistos.

Os organismos multilaterais, por sua vez, terão que reformular suas agendas, seus procedimentos e, principalmente, seus critérios de decisão.

Mas o principal desafio será o de encontrar uma nova maneira de construção de acordos globais. A cúpula do G7, que reúne as principais economias e na qual grandes acordos deveriam se produzir, mostrou-se inoperante e ineficaz. Suas reuniões têm se limitado, nos últimos anos, a declarações protocolares, vazias de conteúdo e iniciativas comuns. E não consegue avançar porque não responde à mais simples das questões: por que G7? Onde está, afinal, o lugar das grandes economias e dos países emergentes que avançam fortemente na cena mundial? As crises, que custam tão caro aos países, expõem fragilidades que precisam ser enfrentadas. Se os grandes líderes mundiais continuarem a evitar esses desafios, estaremos apenas saindo dessa crise para construir a próxima”.

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