terça-feira, 14 de abril de 2009

”AMÉRICA LATINA AGORA DIZ O QUE PENSA”

Li hoje no blog do Favre a seguinte reportagem de Fernando Dantas, do jornal O Estado SP:

Especialista em relações internacionais crê que era Obama vai permitir a construção de agenda conjunta entre AL e EUA

“A relação dos Estados Unidos com a América Latina não é mais uma questão meramente regional. Deve se constituir numa agenda conjunta para temas globais, na opinião de Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano, centro de estudos das relações entre os EUA e a América Latina e o Caribe, baseado em Washington. Para ele, os principais países latino-americanos, como o Brasil, estão mais afirmativos e independentes, e o presidente americano, Barack Obama, deveria tratar de assuntos mundiais, como a relação com China e Oriente Médio, na Cúpula das Américas, em Porto of Spain, em Trinidad Tobago, de 17 a 19 de abril. Hakim será uma das principais atrações da reunião regional no Rio do Fórum Econômico Mundial na América Latina, cuja programação de debates começa na quarta-feira. Ele falou ao Estado por telefone.

QUAIS AS EXPECTATIVAS SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS NA ERA OBAMA?

Obama começa com a grande vantagem de não ser o (ex-presidente George W.) Bush. O novo presidente tem um imagem muito especial na América Latina, na Europa, no mundo inteiro. Ele criou expectativas altas e é bem-recebido onde quer que vá. Mas há restrições. Com a crise, faltam recursos e a atenção do governo americano está fixada no cenário interno. O segundo problema é que a atitude na América Latina agora é ambivalente sobre o papel dos Estados Unidos.

COMO ASSIM?

A América Latina mudou nos últimos 10 a 15 anos e agora é mais independente, mais afirmativa, não aceita simplesmente o que vem de fora. A região agora diz o que pensa. Os Estados Unidos ainda são primordiais para muitas nações latino-americanas, mas países como Chile, Brasil e Peru têm uma diversidade inédita de parceiros comerciais e políticos.

Na Cúpula de Trinidad e Tobago, Obama deveria falar do Oriente Médio, das relações com a China. A América Latina quer participar dessa conversação. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, elogiou as palavras de Obama de que não está programando uma agenda para América Latina, mas sim uma agenda com a América Latina. Talvez acabe sendo muito semelhante, mas eu diria que, em política externa, 50% é simbólico.

O QUE O SR. PREVÊ EM RELAÇÃO À CUBA NO GOVERNO OBAMA?

O primeiro passo de Obama é positivo, ao levantar restrições aos cubano-americanos, que passam a poder visitar familiares de forma ilimitada. Tudo indica que o Obama quer liberalizar mais a relação, mas depende de como reagem os cubanos americanos e os cubanos em Cuba. Não se pode imaginar que os Estados Unidos façam mudanças contínuas nessa relação sem que haja uma reação de Cuba, seja liberando prisioneiros, ou facilitando viagens ao exterior, por exemplo.

A QUÍMICA ENTRE OBAMA E LULA PARECE ESTAR FUNCIONANDO BEM.

Bem, é preciso lembrar que a relação na época do Bush foi boa para o Brasil e para os EUA. Os dois países tinham uma afeição mútua, toleravam as diferenças, e os EUA deixaram o Brasil assumir uma certa liderança na América do Sul, com poucas críticas até quando os dois países estavam em desacordo. O Brasil é um país que não gosta de fazer alianças muito fortes, que busca uma relação equidistante dos seus parceiros, que preza sua independência. O Brasil é importante para os EUA. Se não fosse pelo Brasil, a Venezuela seria o país mais notório na América do Sul, com uma liberdade de ação muito maior do que tem agora. Há muitos temas para se avançar, agora com o Obama, mas uma grande oportunidade é a questão dos biocombustíveis.

A RELAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS COM HUGO CHÁVEZ DEVE MELHORAR?

Acho que Obama está seguindo mais ou menos o caminho de Bush nos últimos dois anos - não é necessário abraçar Chávez, mas tampouco confrontá-lo. A crítica de Obama a Chávez deve ficar limitada à ajuda às Farcs e a intervenções fora do próprio país, isso é, enfatizar mais a política externa venezuelana do que a questão interna.

HAVERÁ CONTINUIDADE ENTRE BUSH E OBAMA, APESAR DAS GRANDES DIFERENÇAS ENTRE OS DOIS?

Acho que há uma agenda incompleta de Bush que Obama deve seguir, como regionalizar a iniciativa Mérida (plano de apoio americano de combate ao narcotráfico no México), ser mais afirmativo em relação aos biocombustíveis com o Brasil, completar os tratados de livre-comércio com Colômbia e Panamá, a questão de Cuba. Mesmo nos seus sucessos, como os acordos de livre-comércio com Peru, Chile e América Central, Bush deixou um sabor amargo nos outros países, com posições exigentes, inflexíveis. Isso vai mudar, e os EUA devem reconhecer que a América Latina é um ator mundial.”

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