domingo, 30 de dezembro de 2012

SEGREDOS DA GUERRA DAS MALVINAS

INGLATERRA LIBERA DOCUMENTOS SECRETOS SOBRE GUERRA DAS MALVINAS

[OBS deste blog ‘democracia&política’: O arquipélago argentino das Malvinas (ou "Falklands", para os ingleses), no Atlântico Sul, foi invadido e ocupado pelo Reino Unido desde 1833. A Argentina tentou, em 1982, expulsar os invasores, sem êxito.

A imprensa internacional e brasileira, comandada pelos grandes grupos econômicos e financeiros dos Estados Unidos e Europa, ridiculariza os argentinos, trata-os como "agressores" irracionais, e enaltece a então primeira ministra Margaret Thatcher (também por ela ser da direita, neoliberal). Trata do alegado apoio brasileiro aos argentinos no conflito como “contribuição para o tráfico de armas para Argentina”, enquanto que o fornecimento pelos EUA (e seus aliados) à Inglaterra, de armas, imagens de satélites, apoio logístico, é denominado, eufemicamente, como “o suporte norte-americano” e não como “tráfico clandestino de armas para a Inglaterra”.

Em geral, as reportagens dessa imprensa informam que “os militares argentinos haviam irracionalmente “desafiado” o Reino Unido invadindo o arquipélago Malvinas”, sem explicar que os verdadeiros invasores daquele arquipélago são os ingleses.

Vejamos, a seguir, sobre o assunto, a postagem do site “Carta Maior”, também notadamente pró-ingleses, o que é raro nos textos do site]:

“Documentos desclassificados pelo ‘Arquivo Nacional britânico’ mostram que a ex-primeira ministra Margaret Thatcher estava disposta a chegar a um acordo com a Argentina sobre o status e a soberania das Malvinas que evitasse o enfrentamento militar entre as duas nações. Em contraposição à imagem intransigente de Thatcher, as minutas sobre as reuniões do gabinete de guerra indicam que a primeira ministra considerou como um “prêmio considerável” uma solução diplomática.

Por Marcelo Justo, de Londres

A dama de ferro não era tão férrea. Os documentos desclassificados pelo Arquivo Nacional britânico mostram que a ex-primeira ministra Margaret Thatcher estava disposta a chegar a um acordo com a Argentina sobre o status e a soberania das Malvinas que evitasse o enfrentamento militar entre as duas nações.

Em contraposição à imagem intransigente de Thatcher, as minutas sobre as reuniões do gabinete de guerra indicam que a primeira ministra considerou como um “prêmio considerável” uma solução diplomática discutida a apenas duas semanas da tomada das ilhas em 2 de abril de 1982.

Nessa solução, se propunha que a Argentina estivesse representada no Conselho governante das ilhas e em uma comissão interina que deveria ser criada para tratar do futuro das Malvinas ao final do ano, em troca da retirada das forças militares. “A retirada das tropas argentinas seria conseguida sem a necessidade de recorrer a uma ação militar. A Argentina ganharia representação no comitê interino e no conselho local e um compromisso para negociar o futuro das ilhas, mas sem garantia prévia de que o resultado da negociação seria uma transferência de soberania. É repugnante que um agressor obtenha algo de sua agressão, mas parece um preço aceitável a pagar”, assinalava Thatcher em um documento desclassificado com a rubrica de “Top Secret”.

O plano em questão era estadunidense e estava inserido no marco da guerra fria. O governo de Ronald Reagan, que considerava a ditadura militar argentina como seu principal aliado na América Latina, buscava, por todos os meios, uma solução que evitasse brigar com um regime que considerava chave na luta contrainssurgente regional pelo assessoramento que ofereciam às forças repressivas em El Salvador ou aos contras que buscavam derrotar o sandinismo na Nicarágua. Segundo as minutas do gabinete de Thatcher, o principal obstáculo ao plano era a intransigência da junta militar argentina. “O presidente Galtieri é um alcoólatra, aparentemente incapaz de pensamento racional”, assinalam as minutas do gabinete de guerra de 22 de abril.

O afundamento do [cruzador argentino] “General Belgrano” e do plano de paz promovido pelo presidente peruano Fernando Belaúnde no início de maio, praticamente, fecharam o caminho diplomático, mas ainda no dia 19 de maio, dois dias antes de as forças britânicas desembarcarem nas Malvinas, Thatcher disse ao gabinete que, em “uma sincera tentativa de evitar o derramamento de sangue, o Reino Unido não insistiu que fossem implementadas todas as nossas demandas”.

O presidente Ronald Reagan, que havia dado, finalmente, seu apoio ao governo britânico, tentou, no último momento, uma saída mais honrosa para as forças armadas argentinas. Uma nota das reuniões do gabinete de guerra revela detalhes da conversa telefônica que teve com Thatcher em 1º de junho, 13 dias antes de o general Mario Menéndez se render às forças britânicas comandadas pelo general Jeremy Moore. “O presidente Reagan disse que os Estados Unidos consideravam imperativo que o Reino Unido mostrasse sua disposição ao diálogo. Dado que o Reino Unido tem, agora, clara vantagem militar, deveria aproveitá-la para chegar a um acordo”, assinala a nota. Ao que Thatcher respondeu que o presidente “agiria da mesma maneira que ela se o Alaska estivesse sofrendo uma ameaça semelhante”.

Os documentos secretos do Arquivo Nacional têm duas curiosidades. Em um plano digno de James Bond, o procurador geral britânico Sir Michael Havers exortou o primeiro ministro a roubar os famosos mísseis Exocet franceses com os quais a aviação argentina havia atacado com êxito a armada britânica. Em uma nota enviada em 1º de junho, Havers reconhecia que seu plano era “digno de James Bond”. A ideia era adquirir os direitos de transporte dos Exocet que a França estava exportando ao Peru – e que, desse país, se dirigiam a Argentina – para terminar desviando a carga para as ilhas Bermudas. Dois dias antes, em 30 de maio, Thatcher havia escrito um telegrama ao presidente francês François Miterrand pedindo que ele adiasse a entrega dos Exocet. “Seria um desastre para a aliança (...europeia...). Nem você nem eu queremos isso”, disse Thatcher a Miterrand.

A Copa do Mundo de Futebol de 1982, na Espanha, também sofreu impacto do conflito. O Reino Unido considerou a possibilidade de retirar a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda do Norte e exerceu pressão sobre a FIFA para que a Argentina – campeã mundial de 78 – não participasse do evento. O temor era de que as equipes tivessem que se enfrentar nas oitavas de final ou – muitíssimo mais improvável falando do ponto de vista futebolístico – na final. Nenhuma dessas coisas ocorreu e foi preciso esperar a Copa do Mundo do México, em 1986, para que a Argentina enfrentasse a Inglaterra e vencesse a partida por dois a um, com aqueles dois gols famosos de Diego Maradona, o primeiro rebatizado pelo jogador (e nunca esquecido pela imprensa britânica) como “a mão de Deus”.

FONTE: escrito por Marcelo Justo, de Londres, e publicado no site “Carta Maior” com tradução de Katarina Peixoto  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21450). [Trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

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