Acima, os
"profissionais" que Dilma escolheu para interpretar a "voz das
ruas"
ENTRE AS RUAS E O PLEBISCITO, UM MARQUETEIRO
Por Rodrigo Vianna,
jornalista
“As informações que chegam de Brasília dão conta de
que “lideranças” do PT teriam consultado o marqueteiro João Santana para
compreender o que explica a queda de Dilma nas pesquisas, e o que pode
acontecer até 2014. Os profissionais, assustados há duas semanas, parecem já se
refestelar nas poltronas dos gabinetes refrigerados. Na campanha eleitoral,
ocorreu o mesmo: certa “cúpula” petista
estava divorciada das ruas e das redes, preferia ouvir o marqueteiro.
E só.
Nessa toada, Dilma quase perdeu. Quando o
segundo turno começou, Serra chegou a encostar, ficou a apenas 4 pontos de
Dilma. O que mudou? A candidata esqueceu os conselhos do marqueteiro e dos
assessores mais próximos, e decidiu fazer Politica. Partiu pra cima do Serra no
debate da “Band”, reanimando militância e oferecendo um discurso que demarcava
posições. Lançou Paulo Preto em pauta, cravou em Serra a responsabilidade pela
boataria do “aborto”. Pouca gente viu o debate, mas a repercussão foi imensa.
Ali, Dilma “virou” a pauta e consolidou a vitória.
Passada a eleição de 2010, o marqueteiro (e boa
parte do PT) seguia a acreditar que a eleição foi ganha graças à campanha
“profissional”. E, agora, o “profissionalismo” parece ter ganhado de novo a
parada.
Pressionada pelas ruas (e por uma campanha midiática de direita que transformou o protesto
legítimo em “campanha cívica” contra “tudo que está aí”), Dilma propôs a Constituinte.
A elite, a Globo com seus mervais e uma parte do STF com seus gilmares
decidiram bater o pé. Ali, era hora de confrontar. Há muitos juristas que
defendiam, sim, a possibilidade de fazer a Constituinte. Dilma voltou atrás.
Ouviu os “profissionais”. E tomou a decisão “técnica”.
A foto acima mostra os “profissionais” em ação.
Eles é que interpretam a “voz das ruas”? Que medo… O Plebiscisto precisa ser
convocado pelo Congresso. Ok. Mas Plebiscito sem mudar a rota de governo, sem
mudar ministério, sem compreender que o país passou por uma espécie de rebelião
no mês de junho (e, ainda que essa
rebelião tenha sido dominada e pautada pela classe média [e alta], parece
evidente que ela teve efeitos concretos sobre a visão que a maioria dos
brasileiros passou a ter em relação ao governo federal – as pesquisas de
opinião atestam bem isso!), esse caminho escolhido por Dilma é o
caminho para novo avanço ‘conservador’.
Acabo de ler, no ‘Tijolaço’, análise muito
parecida. Fernando Brito escreve: ‘Sem Dilma e
sem povo, Reforma Política é para nada ou para nunca’.
Já escrevi aqui que – na
atual conjuntura e com a pauta dominada pelos conservadorismo do “contra tudo
que está aí” (sim, essa pauta é ‘conservadora’) -o Plebiscito vai acabar
com:
- ”rejeição
do financiamento público de campanha”, e aprovação do voto distrital puro.
A pauta que domina as redes e ruas (e que Dilma se recusa a enfrentar) é a
de que “não precisamos de partido” e
de que “toda corrupção é culpa dos
políticos”. Alguém acredita que será possível, por esse
caminho, aprovar financiamento público?
O discurso da velha mídia em breve estará em campo,
a influenciar redes e ruas:
- ”financiamento
público é dar dinheiro dos impostos para os políticos” (sem levar em conta
que o financiamento privado gera uma estrutura corrupta, em que empresas e
empresários – de lixo, transportes, da área financeira ou da construção civil -
são os verdadeiros donos de mandatos no Executivo, Legislativo e até no
Judiciário);
- voto em
lista é favorecer os “politicos” (o melhor é o voto distrital, com o
“político” bem pertinho de você).
Despolitizado, rendido à lógica da marquetagem
e de que “batalha da Comunicação é bobagem – basta o controle remoto”, o governo (e parte do PT) pode se
transformar num omelete tão insosso como aquele que Dilma preparou com Ana
Maria Braga quando ganhou a eleição.
Dilma fez a leitura correta dos fatos gerados pela
Rebelião de Junho. Mas parou aí. Diagnóstico correto, ação tortuosa e confusa.
Dilma propôs a Constituinte, depois
aceitou só o Plebiscito, e daqui a
pouco nem isso terá (afinal Henriquinho, Renan e o PMDB já avisaram que “talvez seja melhor o Congresso aprovar a
Reforma”, sem Plebiscito nenhum). Parece ter-se perdido (de novo?) na
lógica do “gerenciamento técnico” e dos “profissionais”.
No caminho sinuoso entre a rebelião das
ruas e o Plebiscito, deveria haver Política com “P” maiúsculo. Dilma e
certo PT preguiçoso preferiram ouvir o marqueteiro e os
“profissionais”. Parece esperteza, e pode ser que na ”bacia das almas”
essas manobras pra lá e pra cá ainda garantam vitória em 2014 (até pela falta de uma oposição de verdade).
Ao abdicar da Política e do confronto (numa
hora em que o confronto é inevitável), Dilma e o PT que a acompanha podem
até ganhar no varejo. Mas a derrota política já estará dada. Derrota
semelhante à que engoliu (e faz definhar) o PSOE na Espanha e o Partido Social
Democrata Alemão.
O que pode mudar isso? A força que vem dos
movimentos sociais e sindicais. E Lula. Só isso poderia mudar a pauta das ruas
e das redes. Do contrário, é esperar pelo omelete. Os ovos já foram quebrados e
a mesa do ‘conservadorismo’ está posta.”
[OBS deste blog 'democracia&política':
Repito o que já expressei algumas vezes neste blog sobre esse eufemismo. "Conservadorismo", em sua essência e em palavras simples, significa a direita internacional e nacional.
É mais representada no Brasil pelo PSDB, DEM, PPS(MD), mídia, MP/PGR, STF e pela pseudoelite das classes média e alta que muitas vezes nem percebe que é colonizada, manipulada. Também, alguns integrantes da "base aliada", quando interessa a eles, integram essa representação.
O centro de gravidade e de comando dos interesses da direita está no exterior. O Brasil significa menos de 5% da economia mundial. Mais de 95% dos grandes interesses financeiros, econômicos e geopolíticos são estrangeiros. Nossa direita é simples e servil instrumento utilizado para atender a esses fortes interesses antinacionais. As agendas do "conservadorismo brasileiro" são estabelecidas e perseguidas para garantir, preservar e fortalecer esse ordenamento financeiro e econômico mundial.
Transcrevo uma boa síntese de Flávio Aguiar: “O programa da direita brasileira é, inconfessadamente, privatizar os bancos públicos, aprofundar a privatização da Petrobras, suspender o ‘Bolsa Família’ (como ficou claro através do boato espalhado), baixar ou eliminar o salário mínimo e extirpar tudo o que a CLT tem de bom para os trabalhadores. É a negação de tudo aquilo que melhorou no Brasil: a situação dos mais pobres, os programas sociais, a elevação do salário mínimo, a ampliação da carteira assinada, a presença do Estado para minorar os efeitos perversos da cultura dos mercados”].
Transcrevo uma boa síntese de Flávio Aguiar: “O programa da direita brasileira é, inconfessadamente, privatizar os bancos públicos, aprofundar a privatização da Petrobras, suspender o ‘Bolsa Família’ (como ficou claro através do boato espalhado), baixar ou eliminar o salário mínimo e extirpar tudo o que a CLT tem de bom para os trabalhadores. É a negação de tudo aquilo que melhorou no Brasil: a situação dos mais pobres, os programas sociais, a elevação do salário mínimo, a ampliação da carteira assinada, a presença do Estado para minorar os efeitos perversos da cultura dos mercados”].
FONTE:
escrito pelo jornalista Rodrigo Vianna em seu blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/entre-a-rua-e-o-plebiscito-um-marqueteiro.html#more-20445).
[Trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
Nenhum comentário:
Postar um comentário