quarta-feira, 3 de julho de 2013

DILMA E O NOVO OMELETE "CONSERVADOR"

Acima, os "profissionais" que Dilma escolheu para interpretar a "voz das ruas"

ENTRE AS RUAS E O PLEBISCITO, UM MARQUETEIRO

Por Rodrigo Vianna, jornalista

“As informações que chegam de Brasília dão conta de que “lideranças” do PT teriam consultado o marqueteiro João Santana para compreender o que explica a queda de Dilma nas pesquisas, e o que pode acontecer até 2014. Os profissionais, assustados há duas semanas, parecem já se refestelar nas poltronas dos gabinetes refrigerados. Na campanha eleitoral, ocorreu o mesmo: certa “cúpula” petista estava divorciada das ruas e das redes, preferia ouvir o marqueteiro. E só.

Nessa toada, Dilma quase perdeu. Quando o segundo turno começou, Serra chegou a encostar, ficou a apenas 4 pontos de Dilma. O que mudou? A candidata esqueceu os conselhos do marqueteiro e dos assessores mais próximos, e decidiu fazer Politica. Partiu pra cima do Serra no debate da “Band”, reanimando militância e oferecendo um discurso que demarcava posições. Lançou Paulo Preto em pauta, cravou em Serra a responsabilidade pela boataria do “aborto”. Pouca gente viu o debate, mas a repercussão foi imensa. Ali, Dilma “virou” a pauta e consolidou a vitória.

Passada a eleição de 2010, o marqueteiro (e boa parte do PT) seguia a acreditar que a eleição foi ganha graças à campanha “profissional”. E, agora, o “profissionalismo” parece ter ganhado de novo a parada.

Pressionada pelas ruas (e por uma campanha midiática de direita que transformou o protesto legítimo em “campanha cívica” contra “tudo que está aí”), Dilma propôs a Constituinte. A elite, a Globo com seus mervais e uma parte do STF com seus gilmares decidiram bater o pé. Ali, era hora de confrontar. Há muitos juristas que defendiam, sim, a possibilidade de fazer a Constituinte. Dilma voltou atrás. Ouviu os “profissionais”. E tomou a decisão “técnica”.  

A foto acima mostra os “profissionais” em ação. Eles é que interpretam a “voz das ruas”? Que medo… O Plebiscisto precisa ser convocado pelo Congresso. Ok. Mas Plebiscito sem mudar a rota de governo, sem mudar ministério, sem compreender que o país passou por uma espécie de rebelião no mês de junho (e, ainda que essa rebelião tenha sido dominada e pautada pela classe média [e alta], parece evidente que ela teve efeitos concretos sobre a visão que a maioria dos brasileiros passou a ter em relação ao governo federal – as pesquisas de opinião atestam bem isso!), esse caminho escolhido por Dilma é o caminho para novo avanço ‘conservador’.

Acabo de ler, no ‘Tijolaço’, análise muito parecida. Fernando Brito escreve: ‘Sem Dilma e sem povo, Reforma Política é para nada ou para nunca.

Já escrevi aqui que – na atual conjuntura e com a pauta dominada pelos conservadorismo do “contra tudo que está aí” (sim, essa pauta é ‘conservadora’) -o Plebiscito vai acabar com:

- ”rejeição do financiamento público de campanha”, e aprovação do voto distrital puro.

A pauta que domina as redes e ruas (e que Dilma se recusa a enfrentar) é a de que “não precisamos de partido” e de que “toda corrupção é culpa dos políticos”. Alguém acredita que será possível, por esse caminho, aprovar financiamento público?

O discurso da velha mídia em breve estará em campo, a influenciar redes e ruas:

- ”financiamento público é dar dinheiro dos impostos para os políticos” (sem levar em conta que o financiamento privado gera uma estrutura corrupta, em que empresas e empresários – de lixo, transportes, da área financeira ou da construção civil - são os verdadeiros donos de mandatos no Executivo, Legislativo e até no Judiciário);

- voto em lista é favorecer os “politicos” (o melhor é o voto distrital, com o “político” bem pertinho de você).

Despolitizado, rendido à lógica da marquetagem e de que “batalha da Comunicação é bobagem – basta o controle remoto”, o governo (e parte do PT) pode se transformar num omelete tão insosso como aquele que Dilma preparou com Ana Maria Braga quando ganhou a eleição.

Dilma fez a leitura correta dos fatos gerados pela Rebelião de Junho. Mas parou aí. Diagnóstico correto, ação tortuosa e confusa. Dilma propôs a Constituinte, depois aceitou só o Plebiscito, e daqui a pouco nem isso terá (afinal Henriquinho, Renan e o PMDB já avisaram que “talvez seja melhor o Congresso aprovar a Reforma”, sem Plebiscito nenhum). Parece ter-se perdido (de novo?) na lógica do “gerenciamento técnico” e dos “profissionais”.   
No caminho sinuoso entre a rebelião das ruas e o Plebiscito, deveria haver Política com “P” maiúsculo. Dilma e certo PT preguiçoso preferiram ouvir o marqueteiro e os “profissionais”. Parece esperteza, e pode ser que na ”bacia das almas” essas manobras pra lá e pra cá ainda garantam vitória em 2014 (até pela falta de uma oposição de verdade). Ao abdicar da Política e do confronto (numa hora em que o confronto é inevitável), Dilma e o PT que a acompanha podem até ganhar no varejo. Mas a derrota política já estará dada. Derrota semelhante à que engoliu (e faz definhar) o PSOE na Espanha e o Partido Social Democrata Alemão. 

O que pode mudar isso? A força que vem dos movimentos sociais e sindicais. E Lula. Só isso poderia mudar a pauta das ruas e das redes. Do contrário, é esperar pelo omelete. Os ovos já foram quebrados e a mesa do ‘conservadorismo’ está posta.”

[OBS deste blog 'democracia&política': 

Repito o que já expressei algumas vezes neste blog sobre esse eufemismo. "Conservadorismo", em sua essência e em palavras simples, significa a direita internacional e nacional. 

É mais representada no Brasil pelo PSDB, DEM, PPS(MD), mídia, MP/PGR, STF e pela pseudoelite das classes média e alta que muitas vezes nem percebe que é colonizada, manipulada. Também, alguns integrantes da "base aliada", quando interessa a eles, integram essa representação. 

O centro de gravidade e de comando dos interesses da direita está no exterior. O Brasil significa menos de 5% da economia mundial. Mais de 95% dos grandes interesses financeiros, econômicos e geopolíticos são estrangeiros. Nossa direita é simples e servil instrumento utilizado para atender a esses fortes interesses antinacionais. As agendas do "conservadorismo brasileiro" são estabelecidas e perseguidas para garantir, preservar e fortalecer esse ordenamento financeiro e econômico mundial.

Transcrevo uma boa síntese de Flávio Aguiar: “O programa da direita brasileira é, inconfessadamente, privatizar os bancos públicos, aprofundar a privatização da Petrobras, suspender o ‘Bolsa Família’ (como ficou claro através do boato espalhado), baixar ou eliminar o salário mínimo e extirpar tudo o que a CLT tem de bom para os trabalhadores. É a negação de tudo aquilo que melhorou no Brasil: a situação dos mais pobres, os programas sociais, a elevação do salário mínimo, a ampliação da carteira assinada, a presença do Estado para minorar os efeitos perversos da cultura dos mercados”].



FONTE: escrito pelo jornalista Rodrigo Vianna em seu blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/entre-a-rua-e-o-plebiscito-um-marqueteiro.html#more-20445). [Trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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