"O próprio Evo Morales fez uma análise política. Falando de si
mesmo em terceira pessoa disse: Qual era
o objetivo central? Qual era a meta? Só assustá-lo, amedrontá-lo?
Por Martín Granovsky, do jornal
argentino “Página 12”
“O tuíte é
um tuíte. Ou seja, curto e seco. Diz: “Nos
solidarizamos com Evo Morales porque é inaudito o que fizeram com ele, mas não
permitamos que se transforme em crise diplomática AL contra UE”. AL é
América Latina. UE é União Europeia. Foi posto no Twitter pelo presidente
colombiano Juan Manuel Santos. Ao analisar a mensagem de Santos junto com a
ausência do presidente colombiano e de qualquer outra alta autoridade de seu
país na cúpula da UNASUL – celebrada quinta (4) em Cochabamba – vai ficando
claro o novelo de linhas entrecruzadas.
O primeiro é que a reunião de Cochabamba não pareceu relevante a Santos, diferente, por exemplo, do ponto de vista de José Mujica, do Uruguai, ou de Cristina Fernández de Kirchner, que disse que Evo tinha sido “um refém” e opinou que considerava o que havia sofrido como “algo próprio”.
O segundo é que se esquivou de ficar envolvido em um confronto.
O terceiro é que tuitou que o confronto possível era com a Europa.
O quarto, que de fato foram países europeus que protagonizaram o assédio ao avião de Evo Morales durante terça e quarta-feira.
O quinto ponto é que falar da Europa distrai do problema de fundo, que é a disposição dos Estados Unidos em exercer seu poder global a qualquer custo. E outra coisa mais: a exercê-lo de maneira notória, não dissimulada. Como para que se note e aumente o poder de dissuasão de Washington ante os demais. Ante qualquer um.
A pressão dos Estados Unidos pelo caso do analista Edward Snowdem acabou sendo tão incômoda que a Itália decidiu desvincular-se do pelotão europeu acusado pela Bolívia. Morales e sua comitiva os haviam acusado de negar a possibilidade de sobrevoo ou pouso a Portugal, Espanha, França e Itália.
Diante de uma comissão do Parlamento, a chanceler italiana Emma Bonino disse, quinta-feira, que em 29 de junho seu país havia autorizado que o pequeno Falcon de Evo cruzasse o espaço aéreo italiano. Mas disse que quando, no dia 2 de julho, a autorização foi negada pela França, Espanha e Portugal, o avião mudou a rota e pousou em Viena. Segundo a ministra, quando o avião tocou na Áustria, automaticamente caiu o pedido inicial concedido pela Itália.
Em rigor, e tal como registramos, o que se negou a dissimular e deixou todo o tabuleiro descoberto, foi o presidente russo Vladimir Putin. Ao falar de Snowden, ainda em trânsito no aeroporto de Moscou, Putin disse que “se quer ficar aqui há uma condição: deve cessar seu trabalho dirigido a causar dano a nossos sócios estadunidenses”. E agregou: “Por estranho que isso soe em meus lábios”.
A Rússia condicionou dessa maneira o direito de asilo. De acordo com um resumo oferecido pelo jornal inglês “The Guardian”, outros países aos quais Snowden se dirigiu negaram, argumentando que, para pedir asilo, o reclamante deveria estar no destino (como responderam Suíça, Finlândia, Índia e Equador), não responderam (como a Islândia), ou o consideraram improvável, como Noruega. Só a Venezuela e a Bolívia responderam que era possível.
Marco Aurélio García, o conselheiro especial de Assuntos Internacionais de Dilma Rousseff que, em meio aos movimentos internos, não viajou a Cochabamba, mas enviou seu assessor em representação pessoal, disse que Morales havia sido vítima de “uma provocação”.
Em sua segunda intervenção depois de regressar a La Paz vindo de Moscou, o próprio Evo fez uma análise política. Falando de si mesmo em terceira pessoa disse: Qual era o objetivo central? Qual era a meta? Só assustar, amedrontar? Era impossível que possam dizer que Evo estava levando esse agente norte-americano. A INTERPOL (Organização Internacional de Polícia Criminal) está em todos os aeroportos internacionais. E os Estados Unidos têm sua própria estrutura de Inteligência. Que queriam?”.
A ideia da provocação esboçada por Marco Aurélio, mais a presunção de que Washington sabia que Snowden não estava no avião, dão pé à teoria de um plano para assustar ou semear o medo.
“O fato é repudiável”, disse ao "Página 12" quinta à noite o especialista em direitos humanos das Nações Unidas e auditor geral Leandro Despouy, quando recém havia chegado a Washington para um encontro da ONU. “Nem sequer em estado de guerra se impede pousar o avião de um presidente – refletiu –. É uma torpeza e uma indignidade que machuca a Bolívia, a América do Sul e toda a América latina.” Depois, se perguntou como era possível que um presidente recebesse a proibição de fazer uma escala técnica por uma simples suspeita. Acrescentou que houve “aeroportos europeus (que) se prestaram a pousos de aviões com carregamentos de prisioneiros sequestrados rumo aos Estados Unidos, o qual está documentado pelo Conselho da Europa”.
O primeiro é que a reunião de Cochabamba não pareceu relevante a Santos, diferente, por exemplo, do ponto de vista de José Mujica, do Uruguai, ou de Cristina Fernández de Kirchner, que disse que Evo tinha sido “um refém” e opinou que considerava o que havia sofrido como “algo próprio”.
O segundo é que se esquivou de ficar envolvido em um confronto.
O terceiro é que tuitou que o confronto possível era com a Europa.
O quarto, que de fato foram países europeus que protagonizaram o assédio ao avião de Evo Morales durante terça e quarta-feira.
O quinto ponto é que falar da Europa distrai do problema de fundo, que é a disposição dos Estados Unidos em exercer seu poder global a qualquer custo. E outra coisa mais: a exercê-lo de maneira notória, não dissimulada. Como para que se note e aumente o poder de dissuasão de Washington ante os demais. Ante qualquer um.
A pressão dos Estados Unidos pelo caso do analista Edward Snowdem acabou sendo tão incômoda que a Itália decidiu desvincular-se do pelotão europeu acusado pela Bolívia. Morales e sua comitiva os haviam acusado de negar a possibilidade de sobrevoo ou pouso a Portugal, Espanha, França e Itália.
Diante de uma comissão do Parlamento, a chanceler italiana Emma Bonino disse, quinta-feira, que em 29 de junho seu país havia autorizado que o pequeno Falcon de Evo cruzasse o espaço aéreo italiano. Mas disse que quando, no dia 2 de julho, a autorização foi negada pela França, Espanha e Portugal, o avião mudou a rota e pousou em Viena. Segundo a ministra, quando o avião tocou na Áustria, automaticamente caiu o pedido inicial concedido pela Itália.
Em rigor, e tal como registramos, o que se negou a dissimular e deixou todo o tabuleiro descoberto, foi o presidente russo Vladimir Putin. Ao falar de Snowden, ainda em trânsito no aeroporto de Moscou, Putin disse que “se quer ficar aqui há uma condição: deve cessar seu trabalho dirigido a causar dano a nossos sócios estadunidenses”. E agregou: “Por estranho que isso soe em meus lábios”.
A Rússia condicionou dessa maneira o direito de asilo. De acordo com um resumo oferecido pelo jornal inglês “The Guardian”, outros países aos quais Snowden se dirigiu negaram, argumentando que, para pedir asilo, o reclamante deveria estar no destino (como responderam Suíça, Finlândia, Índia e Equador), não responderam (como a Islândia), ou o consideraram improvável, como Noruega. Só a Venezuela e a Bolívia responderam que era possível.
Marco Aurélio García, o conselheiro especial de Assuntos Internacionais de Dilma Rousseff que, em meio aos movimentos internos, não viajou a Cochabamba, mas enviou seu assessor em representação pessoal, disse que Morales havia sido vítima de “uma provocação”.
Em sua segunda intervenção depois de regressar a La Paz vindo de Moscou, o próprio Evo fez uma análise política. Falando de si mesmo em terceira pessoa disse: Qual era o objetivo central? Qual era a meta? Só assustar, amedrontar? Era impossível que possam dizer que Evo estava levando esse agente norte-americano. A INTERPOL (Organização Internacional de Polícia Criminal) está em todos os aeroportos internacionais. E os Estados Unidos têm sua própria estrutura de Inteligência. Que queriam?”.
A ideia da provocação esboçada por Marco Aurélio, mais a presunção de que Washington sabia que Snowden não estava no avião, dão pé à teoria de um plano para assustar ou semear o medo.
“O fato é repudiável”, disse ao "Página 12" quinta à noite o especialista em direitos humanos das Nações Unidas e auditor geral Leandro Despouy, quando recém havia chegado a Washington para um encontro da ONU. “Nem sequer em estado de guerra se impede pousar o avião de um presidente – refletiu –. É uma torpeza e uma indignidade que machuca a Bolívia, a América do Sul e toda a América latina.” Depois, se perguntou como era possível que um presidente recebesse a proibição de fazer uma escala técnica por uma simples suspeita. Acrescentou que houve “aeroportos europeus (que) se prestaram a pousos de aviões com carregamentos de prisioneiros sequestrados rumo aos Estados Unidos, o qual está documentado pelo Conselho da Europa”.
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