sexta-feira, 5 de setembro de 2008

CRISE MUNDIAL FEZ BEM AO BRASIL, DIZ MOODY'S

Por Aluísio Alves, de São Paulo, para a agência de notícias Reuters, com edição de Isabel Versiani (li no UOL):

- “A resposta das autoridades econômicas brasileiras à crise internacional aumentou a confiança na capacidade do país de tomar medidas duras, porém necessárias, para garantir a saúde de seus fundamentos macroeconômicos, afirmou o vice-presidente de risco soberano da agência Moody's.

"Melhorou a credibilidade do Brasil com o comportamento das autoridades econômicas diante da crise", disse à Reuters o executivo Mauro Leos.

Ele afirmou que essa avaliação será levada em conta no próximo encontro dos diretores da Moody's com autoridades do Banco Central e do Tesouro Nacional no mês que vem, como parte do processo regular de acompanhamento dos dados da economia brasileira.

A Moody's é a única das três grandes agências de classificação de risco internacionais que ainda não concedeu ao país o selo de baixo risco de crédito.

Segundo Leos, as políticas monetária e fiscal do governo têm sido coerentes, o que deu maior solidez às ações. Na primeira, com o Banco Central mostrando-se disposto a elevar os juros até o nível necessário para debelar as expectativas inflacionárias. E na segunda, pelo compromisso do governo de elevar a meta de superávit fiscal primário em 0,5 ponto percentual.

"Todas as respostas dadas para enfrentar um choque trazem custos. No caso do Brasil, isso está se mostrando na forma de juros mais altos e expectativas de crescimento econômico menor em 2009", afirmou. "Mas em termos de tendência de médio prazo, as medidas são positivas."

Para o executivo, considerando-se a dimensão da crise, os efeitos sobre os fundamentos do país, tanto na área fiscal quanto na política monetária, foram moderados, constituindo uma evidência adicional de que o Brasil está mais resistente a choques externos.

De acordo com Leos, a reversão no saldo das contas correntes brasileiras que ocorreu de lá para cá não deteriora a avaliacão da saúde fiscal do país, já que, diferentemente do que ocorreu em crise anteriores, desta fez uma posição externa menos vistosa não contaminou seriamente a parte fiscal.

"A combinação de elevadas reservas internacionais, câmbio flutuante e credibilidade das políticas do BC nos faz crer que esse não é um tema para preocupação agora", afirmou.

Atualmente, o rating do governo brasileiro em moeda estrangeiro concedido pela Moody's é "Ba1" -um degrau abaixo da faixa considerada de baixo risco- com perspectiva estável. O país já obteve a classificação grau de investimento pela Standard & Poor's em abril, e pela Fitch, em maio.

FRAGILIDADES

O que preocupa a Moody's é a manutenção da tendência de expansão dos gastos públicos correntes. "Houve uma melhora, mas o gasto continua subindo todo ano. Isso não pode continuar", disse Leos.

O vice-presidente da Moody's avalia que a proposta de Orçamento para 2009, apresentada na semana passada pelo Ministério do Planejamento com a previsão de um reajuste de 12% para o salário mínimo, só reforça essa análise.

"Há uma sensação de que o governo é muito generoso. Mas isso representa um aumento real de cerca de 6%, o que teria reflexo na previdência e nas contas fiscais. Se acontecer, será uma notícia muito negativa", apontou.

Outro ponto considerado frágil nos fundamentos do país, segundo Leos, é o nível ainda baixo da taxa de investimento na economia, equivalente a menos de 20% do PIB.

"Hoje o país está crescendo com base no consumo. Para o médio prazo, precisa elevar o investimento para acima de 20% ou vai afetar a capacidade de crescimento", alerta.

A descoberta de novas reservas gigantescas de petróleo na camada pré-sal não alivia a situação, diz Leos, mesmo diante das declarações recentes do presidente Lula de que a novidade trará bilhões de dólares em novos investimentos para o país.

"A notícia é boa, mas isso só deve apresentar resultados daqui a alguns anos. Por enquanto, o risco é pensar que tudo está bem", concluiu”.

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