quinta-feira, 18 de setembro de 2008

LULA: "O PAPEL DE EMBAIXADOR NÃO É FAZER POLÍTICA DENTRO DO PAÍS"

A “ Agência Brasil” publicou ontem a seguinte entrevista com o Presidente Lula. Li no blog “Vi o Mundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha:

TV BRASIL: A CRISE BOLIVIANA ESTÁ EXIGINDO UMA MOBILIZAÇÃO DOS PAÍSES SUL-AMERICANOS. O SENHOR VAI REALMENTE MANDAR O MINISTÉRIO DA DEFESA, AJUDA LOGÍSTICA E TROPAS PARA O EVO MORALES FAZER FRENTE AOS GRUPOS ARMADOS QUE ESTÃO TUMULTUANDO O PAÍS?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA: Nem pensar em ingerência brasileira na Bolívia; muito menos tropas. Ou seja, o que nós acertamos com o Evo Morales e foi uma coisa extremamente importante porque foi a primeira grande decisão da União Sul Americana de Nações, uma decisão na minha opinião histórica em que a gente baliza aquilo que a gente entende que deva ser a relação dos vizinhos com a Bolívia, na expectativa de que o povo boliviano, através de seu governo e de sua oposição, acate as orientações e a gente possa voltar à normalidade na Bolívia. O que é muito importante para os países vizinhos e para a Bolívia, que só vai se desenvolver se estiver em paz.

TV BRASIL: MAS QUAL A AJUDA BRASILEIRA PARA A BOLÍVIA?

LULA: Qual a ajuda? Veja, o Evo Morales pediu para a gente ver se pode vender caminhões para as tropas dele. Nós vamos tratar de ver se a indústria automobilística brasileira pode produzir, e com uma certa rapidez, alguns caminhões para a Bolívia. E ele pediu também, e o ministro Tarso Genro disse que a polícia já estava lá; pedir para o Tarso ligar para o ministro da Justiça do Evo Morales para tentar estabelecer uma ação conjunta da Polícia Federal na fronteira para evitar trânsito de pessoas, de gente com armas, evitar contrabando, evitar o narcotráfico. E, ao mesmo tempo, vou pedir para o Jobim também falar com o ministro da Defesa da Bolívia para ver essa coisa da ajuda com caminhões, ônibus, que eles estão precisando também. Ou seja, no fundo, no fundo, o Brasil precisa fazer um esforço muito grande porque nós temos mais de 3 mil quilômetros de fronteira com a Bolívia e nós queremos que ela esteja em paz porque em paz ela vai crescer; em guerra não.

TV BRASIL: ESSE TIPO DE AJUDA NÃO PODE SER ENCARADO COMO UMA INTERFERÊNCIA DO BRASIL EM ASSUNTOS DE UM PAÍS VIZINHO?

LULA: Não pode. Se fosse assim, você não poderia vender nada para ninguém. Nós estamos fazendo uma relação comercial, o Evo estava na reunião e depois que eu ouvi alguns discursos de alguns presidentes, quando chegou minha vez de falar, eu falei à presidenta do Chile: “Eu, ao invés de falar, eu queria perguntar ao Evo Morales o que ele acha que nós precisamos falar para ajudá-lo, ele é quem tem que dizer”.

TV BRASIL: O EVO MORALES ACUSA O GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS DE INTERFERIR NA VIDA INTERNA NA BOLÍVIA, DE ESTIMULAR ESSA REBELIÃO EM SANTA CRUZ E EM OUTRAS PROVÍNCIAS DA REGIÃO. O BRASIL TEM BOAS RELAÇÕES COM OS ESTADOS UNIDOS, O SENHOR INCLUSIVE TEM EXCELENTE RELAÇÃO COM O PRESIDENTE BUSH; O SENHOR CHEGOU A CONVERSAR COM AS AUTORIDADES AMERICANAS OU COM O BUSH SOBRE ESSE PROBLEMA NA BOLÍVIA?

LULA: Eu conversei várias vezes com o Bush, até a pedido do Evo Morales para que os Estados Unidos aprovassem rapidamente as tarifas especiais para determinados produtos bolivianos e está para ser aprovada agora, mas como houve essa expulsão do embaixador eu penso que agora essas coisas podem ficar paralisadas. Se for verdade que o embaixador dos Estados Unidos fazia reunião com a oposição do Evo Morales, o Evo está correto de mandá-lo embora. O papel de embaixador não é fazer política dentro do país, não. Ele está como representante do seu país, numa relação de Estado com Estado, ele representa o Estado. Aqui no Brasil, uma vez, uma embaixadora americana, em um jornal brasileiro, respondeu uma crítica que eu tinha feito ao Bush: eu mandei o Celso Amorim chamá-la e dizer que não era admissível ela dar palpite sobre a entrevista do presidente da República. E também não é de hoje, é famosa a interferência das embaixadas americanas em vários momentos da história do continente americano. Então, eu acho que houve um incidente diplomático, se o embaixador estava tendo ingerência na política lá, o Evo está correto.

TV BRASIL: O SENHOR ACHA QUE AINDA EXISTE RISCO DE UMA DIVISÃO NA BOLÍVIA OU ESSA REUNIÃO DA UNASUL ESTANCOU COMPLETAMENTE ESSA POSSIBILIDADE?

LULA: Peço a Deus que tenha estancado, peço a Deus que todo mundo compreenda o que é melhor para a Bolívia. Nem sempre a decisão de uma multilateral, de uma instância como a Unasul e tantas outras da ONU são tomadas e as pessoas não cumprem. Nesse caso, nós esperamos que cumpra, porque eu acho que as pessoas estão percebendo que nós estamos bem-intencionados com a Bolívia. Todo mundo quer ajudar a Bolívia, agora é preciso que a Bolívia queira ser ajudada”.

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