[OBS deste blog ‘democracia&política’: Além da covardia dos EUA e dos países europeus contra o presidente Evo Morales, e do desrespeito à Bolívia, atitudes que não tomariam se ela não fosse pobre e indefesa, há, também, a hipocrisia de negar asilo ao ex-espião estadunidense Edward Snowden e a petulância de já punir aqueles que eles pensam que possam vir a acolher Snowden.
É bom lembrar que o norte-americano é perseguido político e, se apanhado, será condenado à morte, justamente por relatar que o governo dos EUA espiona e faz escutas ilegais até dos presidentes dos países europeus que agora, após autorizarem, negaram (a "pedido" dos EUA) o pouso do avião presidencial da Bolívia, que assim teve que retornar em emergência para distante alternativa (Viena) já com pouco combustível.
Pior do que o inaceitável sequestro na Áustria, com vasculhamento pela polícia do avião presidencial e retenção no solo por 13 horas do presidente boliviano, foi a humilhação perante o mundo de Portugal, Espanha, Itália e França, que ficaram evidenciados como reles obedientes e céleres servos de pedidos descabidos dos EUA.
Para melhor compreendermos a dimensão do absurdo desses acontecimentos, basta imaginarmos uma situação análoga. A de um ex-espião iraniano perseguido em seu país solicitar asilo político nos EUA ou em países europeus. Todos abririam suas portas e estenderiam tapetes vermelhos ao iraniano perseguido político, em nome dos “direitos humanos”, das “normas básicas do direito internacional” etc. Essas “grandes potências democráticas” são hipócritas. Leiamos o texto seguinte, de Eduardo Febbro]:
Polícia austríaca cerca e vasculha o avião presidencial boliviano
“Os europeus, os campeões da defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade, demonstraram que suas relações com a Casa Branca estão acima de tudo e que podem pisotear os direitos de um avião presidencial caso isso seja preciso para que o grande império não se incomode com eles. Um rumor infundado sobre a presença no avião presidencial boliviano do ex-espião estadunidense Edward Snowden, conduziu a um sério incidente diplomático aeronáutico entre Bolívia, França, [Itália], Portugal e Espanha.
Por Eduardo Febbro
Paris - Os europeus são incorrigíveis. Para não ficar mal com o império norte-americano, são capazes de violar todos os princípios que defendem nos fóruns internacionais. O presidente boliviano Evo Morales foi o último a experimentar as consequências dessa política de palavras solidárias e gestos mesquinhos. Um rumor infundado sobre a presença no avião presidencial boliviano do ex-membro da Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana, o estadunidense Edward Snowden, conduziu a um sério incidente diplomático aeronáutico entre Bolívia, França, [Itália], Portugal e Espanha.
Voltando de Moscou, onde havia participado da segunda cúpula de países exportadores de gás, realizada na capital russa, Morales se viu forçado a aterrissar no aeroporto de Viena depois que França, Portugal, [Itália] e Espanha negaram permissão para que seu avião fizesse uma escala técnica ou sobrevoasse seus espaços aéreos. Os “amigos” do governo norte-americano avisaram os europeus que Morales trazia no avião Edward Snowden, o homem que revelou como Washington, por meio de vários sistemas sofisticados e ilegais, espionava as conversações telefônicas e as mensagens de internet da maioria do planeta, inclusive da ONU e da União Europeia.
O certo é que Edward Snowden não estava no avião de Evo Morales. No entanto, ante a negativa dos países citados em autorizar o sobrevoo do avião presidencial, Morales fez uma escala forçada na Áustria. As capitais europeias coordenaram muito bem suas ações conjuntas para cortar a rota de Evo Morales. Surpreende a eficácia e a rapidez com que atuaram, tão diferente das demoradas medidas que tomam quando se trata de perseguir mafiosos, traficantes de ouro, financistas corruptos ou ladrões do sistema financeiro internacional.
Segundo a informação da chancelaria boliviana, o avião havia obtido a permissão da Espanha para fazer uma escala técnica nas Ilhas Canárias. Essa autorização também foi cancelada e, finalmente, o avião teve que aterrissar no aeroporto de Viena. Segundo declarou em La Paz o chanceler boliviano David Choquehuanca, “colocou-se em risco a vida do presidente que estava em pleno voo”. “Quando faltava menos de uma hora para o avião ingressar no território francês nos comunicam que tinha sido cancelada a autorização de sobrevoo”. O ministro pediu uma explicação, tanto da França, quanto de Portugal, país que tomou a mesma decisão que a França.
“Queriam nos amedrontar. É uma discriminação contra o presidente”, disse Choquehuanca. Em complemento a essa informação, o portal de “Wikileaks” também acusou a Itália de não permitir a aterrissagem do avião presidencial boliviano. Em Paris, o conselheiro permanente dos serviços do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault disse que não tinha nenhuma informação sobre esse assunto. Por sua vez, a chancelaria francesa disse que não estava em condições de comentar ocaso. Bocas fechadas, mas atos concretos.
Ao que parece, todo esse enredo se armou em torno da presença de Snowden no aeroporto de Moscou. Alguém fez circular a informação de que Snowden estava no aeroporto da capital russa com a intenção de subir no avião de um dos países latino-americanos dispostos a lhe oferecer asilo político. Snowden é procurado por Washington depois de revelar a maneira pela qual o império filtrava as conversações no mundo. O chanceler boliviano qualificou como uma “injustiça” baseada em “suspeitas infundadas sobre o manejo de informação mal intencionada” o cancelamento das permissões de voo para o avião de Evo Morales. “Não sabemos quem inventou essa soberana mentira; querem prejudicar nosso país”, disse Choquehuanca. “Não podemos mentir à comunidade internacional e não podemos levar passageiros fantasmas”, advertiu o responsável pela diplomacia boliviana.
Em La Paz, as autoridades adiantaram que não receberam nenhum pedido de asilo por parte de Edward Snowden. Evo Morales havia evocado a possibilidade de conceder asilo a Snowden, mas só isso. O mesmo ocorreu com outra vítima da informação e da perseguição norte-americana, o fundador do “Wikileaks”, Julian Assange. O mundo ficou pequeno para Edward Snowden.
Assange está refugiado na embaixada do Equador em Londres e Snowden encontra-se há dez dias na zona de trânsito do aeroporto de Sheremétievo, em Moscou. Segundo Dmitri Peskov, o secretário de imprensa do presidente Vladimir Putin, o norte-americano havia solicitado asilo a Rússia, mas depois “renunciou a suas intenções e a sua solicitação”. Peskov esclareceu, porém, que o governo russo não entregaria o fugitivo para a administração norte-americana: “o próprio Snowden, por sincera convicção ou qualquer outra causa, se considera um defensor dos direitos humanos, um lutador pelos ideais da democracia e da liberdade pessoal. Isso é reconhecido pelos ativistas e organizações de direitos humanos da Rússia e também por seus colegas de outros países. Por isso, é impossível a entrega de Snowden por parte de quem quer que seja a um país como os EUA, onde se aplica a pena de morte”.
Quando se referiu ao caso de Snowden em Moscou, Evo Morales assinalou que “o império estadunidense conspira contra nós de forma permanente e quando alguém desmascara os espiões, devemos nos organizar e nos preparar melhor para rechaçar qualquer agressão política, militar ou cultural”. Os europeus, os campeões da defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade, demonstraram que suas relações com a Casa Branca estão acima de tudo e que podem pisotear os direitos de um avião presidencial caso isso seja preciso para que o grande império não se incomode com eles.”
FONTE: escrito por Eduardo Febbro e publicado no site “Carta Maior” com tradução de Marco Aurélio Weissheimer (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22291). [Trechos entre colchetes e imagem do Google adicionados por este blog ‘democracia&política’].
COMPLEMENTAÇÃO
EM NOTA, GOVERNO EXPRESSA REPÚDIO AO CONSTRANGIMENTO IMPOSTO
AO PRESIDENTE EVO MORALES
Quarta-feira, 3 de julho de 2013 às 16:15
“A presidenta Dilma Rousseff emitiu
nota, nesta quarta-feira (3), em que expressou repúdio e indignação ao
constrangimento imposto ao presidente da Bolívia, Evo Morales. Alguns países
europeus impediram o sobrevoo do avião presidencial boliviano por seu espaço
aéreo.
Segundo a nota, o constrangimento
não atinge somente a Bolívia, mas a toda América Latina, comprometendo o
diálogo entre os continentes e possíveis negociações entre eles. Dilma ainda
afirma que encaminhará iniciativas em todas as instâncias multilaterais para
que situações como essa nunca se repitam.
Confira a íntegra:
"O governo brasileiro expressa sua
indignação e repúdio ao constrangimento imposto ao presidente Evo Morales por
alguns países europeus, que impediram o sobrevoo do avião presidencial
boliviano por seu espaço aéreo, depois de haver autorizado seu trânsito.
O noticiado pretexto dessa atitude
inaceitável – a suposta presença de
Edward Snowden no avião do Presidente –, além de fantasiosa, é grave desrespeito
ao Direito e às práticas internacionais e às normas civilizadas de convivência
entre as nações. Acarretou, o que é mais grave, risco de vida para o dirigente
boliviano e seus colaboradores.
Causa surpresa e espanto que a
postura de certos governos europeus tenha sido adotada ao mesmo momento em que
alguns desses mesmos governos denunciavam a espionagem de seus funcionários por
parte dos Estados Unidos, chegando a afirmar que essas ações comprometiam um
futuro acordo comercial entre esse país e a União Europeia.
O constrangimento ao presidente
Morales atinge não só à Bolívia, mas a toda América Latina. Compromete o
diálogo entre os dois continentes e possíveis negociações entre eles. Exige
pronta explicação e correspondentes escusas por parte dos países envolvidos
nesta provocação.
O governo brasileiro expressa sua
mais ampla solidariedade ao presidente Evo Morales e encaminhará iniciativas em
todas instâncias multilaterais, especialmente em nosso continente, para que
situações como essa nunca mais se repitam.
Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil”
Presidenta da República Federativa do Brasil”
FONTE:
Blog do Planalto
(http://blog.planalto.gov.br/em-nota-governo-expressa-repudio-ao-constrangimento-imposto-ao-presidente-evo-morales/).
NOTA
DO PT CONDENA FECHAMENTO DE ESPAÇO AÉREO AO AVIÃO QUE CONDUZIA EVO MORALES
Todos devem respeitar o direito internacional, sob pena de o mundo escorregar de maneira irreversível em direção a uma situação catastrófica.
Os governos europeus que fecharam o espaço aéreo ao avião que transportava o presidente Evo Morales devem reconhecer e desculpar-se publicamente por terem cometido um atentado às leis internacionais, que poderia ter consequências trágicas.
Tais governos devem, ainda, explicar as motivações de tal atitude. Caso tenha alguma relação com a suspeita de que o avião da República da Bolívia estaria transportando o ex-agente da CIA Edward Snowden, os governos europeus implicados precisam explicar por quais motivos agridem preceitos diplomáticos básicos em benefício do governo dos EUA, num caso que envolve espionagem eletrônica em massa praticada pelos Estados Unidos contra a população mundial, inclusive contra governos europeus.
Manifestamos nossa solidariedade com o governo boliviano e com o presidente Evo Morales.
E instamos os governos integrantes da UNASUL a defenderem com firmeza os direitos humanos, motivo pelo qual devem considerar o oferecimento coletivo de asilo a Edward Snowden, uma vez que está demonstrado que ele é vítima de perseguição e não tem garantido o direito a julgamento justo.
Brasília, 3 de julho de 2013
Rui Falcão, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores
Iriny Lopes, secretária de relações internacionais do PT
Valter Pomar, dirigente nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo.”
E instamos os governos integrantes da UNASUL a defenderem com firmeza os direitos humanos, motivo pelo qual devem considerar o oferecimento coletivo de asilo a Edward Snowden, uma vez que está demonstrado que ele é vítima de perseguição e não tem garantido o direito a julgamento justo.
Brasília, 3 de julho de 2013
Rui Falcão, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores
Iriny Lopes, secretária de relações internacionais do PT
Valter Pomar, dirigente nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo.”
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