Entrevista
traduzida pelo ‘pessoal da Vila Vudu’ e transcrita no blog “Redecastorphoto”
“Georgy Toloraya, diretor executivo da “Comissão Nacional Russa de Pesquisa” dos
BRICS, conversa com “The BRICS Post”
sobre o “Banco dos BRICS” e sobre por que “os
BRICS não devem ser uma aliança de estilo ocidental”. Toloraya é, também,
presidente do “Departamento de Projetos Regionais para Ásia e África” da
Fundação “Russkiy Mir”.
“The
BRICS Post” (TBP): O Banco dos BRICS deve ser alternativa às instituições
financeiras ocidentais como o FMI e o Banco Mundial agora que os clamores por
reformas nessas instituições internacionais deram em nada?
Toloraya:
Não posso dizer que o Banco dos BRICS, quando for constituído, será
alternativa, mas será um concorrente das instituições à moda ocidental. O Banco
dos BRICS deve começar como centro político para coordenar políticas
macroeconômicas e estratégias de investimento. Assim sendo, não acho que o
projeto possa receber financiamento do “Banco Mundial” ou de bancos regionais
de desenvolvimento, nem que essa possibilidade seja cogitada, pelo menos no
primeiro estágio. Mas o banco proposto terá, é claro, de manter cooperação
próxima com instituições financeiras internacionais.
TBP:
Onde será a sede do Banco dos BRICS?
Toloraya:
Esse é problema filosófico. Pode-se dizer que deve ter sede num dos países
BRICS. Minha opinião é que Moscou é a localização ideal. Como você sabe,
estamos tentando construir aqui um centro financeiro internacional. Embora
Moscou não esteja exatamente no centro das rotas financeiras internacionais, é
a capital mais próxima de todas as demais capitais dos BRICS, mais próxima de
todas, que qualquer outra. Outra possibilidade é localizar a sede em algum dos
tradicionais centros financeiros mundiais, como Londres ou Genebra.
TBP:
O senhor acha que o tema do Banco dos BRICS será item prioritário na agenda da
reunião de Durban?
Toloraya: É
uma das importantes questões que os BRICS definiram para a pauta, ano passado,
num parágrafo relevante da “Declaração de Delhi”. Este ano, a reunião tomará
conhecimento do que foi feito. Entendo que esse processo de criar o “Banco de
Desenvolvimento dos BRICS” prosseguirá, porque todos os países precisam desse
banco. Mais importante que isso, ele é, também, um centro de análise e
pesquisa, muito necessário e urgente para aproximar as economias dos cinco
países membros.
TBP:
Os EUA ou a União Europeia terão ações do Banco dos BRICS?
Toloraya:
Houve boatos sobre isso. Mas não me parece que, pelo menos inicialmente, os EUA
ou qualquer outro país fora do grupo dos BRICS terão ações do “Banco de
Desenvolvimento dos BRICS”.
Não
vejo nada de mal em o “Banco de Desenvolvimento dos BRICS” tomar empréstimos ou
financiamento, ou que negocie com o sistema financeiro internacional, o qual,
como se sabe, é dominado pelos tradicionais centros financeiros mundiais da
Europa e dos EUA.
TBP:
Como o senhor vê a Rússia fortalecendo os BRICS, agora que estará na
presidência do G20, como anunciaram o presidente Putin e o ministro Lavrov (das
Relações Exteriores)?
Toloraya:
Bem, você sabe que o G20 é o mais próximo que temos hoje de uma governança
global. E a estratégia dos BRICS é melhorar, ou modernizar, a governança
global. Assim sendo, há, sim, uma sinergia. Acho que os BRICS estão-se
entendendo bem dentro do G20.
TBP:
O ministro de Relações Exteriores da África do Sul disse recentemente que: “A
emergência dos BRICS não está sendo bem recebida por nós todos. Há os que não
veem com bons olhos os BRICS, porque entendem que a existência do grupo ameaça
o status quo e altera o atual equilíbrio internacional de forças”. O que lhe
parece?
Toloraya:
Para começar, o equilíbrio internacional de forças não é estável nem eterno,
está sempre mudando. Vimos, em anos recentes, que esse processo de mudança foi
acelerado. Já não é possível falar em mundo unipolar. E a mais recente crise
financeira expôs, bem claramente, a impotência do antigo status de poder para
resolver os problemas.
Assim
sendo, e agora que o mundo já é policêntrico, precisamos de novos mecanismos de
coordenação. O mundo precisa de algum tipo de novo sistema para fixar novas
regras, as quais se supõe que serão mais justas que as atuais, que sempre foram
baseadas, até agora, em ações unilaterais. Os BRICS, portanto, são instrumento
muito útil no processo de construir um sistema novo ou de modernizar o sistema
existente. Esse novo sistema não será violento e não levará a conflitos.
Os
países BRICS, pelo empenho em pautar-se pela lei internacional, considerar o
mecanismo da ONU, os métodos políticos e diplomáticos para resolver problemas,
são a base sobre a qual se deve basear esse sistema novo, ou modernizado. Não
me parece que os BRICS ameacem o atual sistema ou agravem tensões. Ao
contrário: os BRICS possibilitam a transição lisa, pacífica e suave, para um
novo estado de coisas.
TBP:
Um especialista russo em governança global e análise de problemas disse,
recentemente, que o principal problema dos BRICS é que não há nação líder. Será
que os BRICS precisam disso? E quem pode liderá-los?
Toloraya:
Essa é a principal diferença entre o velho sistema unipolar e o que estamos
fazendo: não estamos tentando criar um novo sistema unipolar de relações
internacionais. Os BRICS, por definição, não têm, nem devem ter, nação líder. A
força do grupo está na unidade entre diferentes. A unidade brota, precisamente,
do fato de que os países do grupo são muito diferentes uns dos outros e assim
devem continuar. Por isso, os BRICS jamais se converterão em alguma espécie de
aliança à antiga moda ocidental, na qual um único líder governa o mundo.”
FONTE:
entrevista com Georgy Toloraya, diretor executivo da “Comissão Nacional Russa
de Pesquisa dos BRICS”, em conversa com “The BRICS Post”. Traduzida pelo
‘pessoal da Vila Vudu’ e transcrita no blog “Redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/05/brics-e-uma-uniao-de-diferentes.html).
[Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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