Por Mário Augusto Jakobskind
Enquanto a voz rouca das ruas tem provocado reuniões e mais reuniões dos
representantes do povo, que parecem ainda perplexos com os acontecimentos, o
mundo seguia girando com fatos silenciados pela mídia de mercado, que continua
tentando incutir o medo na população na cobertura das manifestações.
Não por acaso também os meios de comunicação de mercado procuram incutir
na população a ideia segundo a qual o financiamento público de campanha
eleitoral é inviável e que serão retiradas verbas da saúde e educação para tal
fim.
Não é por aí, porque se o Estado estiver disposto a acatar a voz rouca
das ruas, pode perfeitamente dispor de verbas para tornar as campanhas
eleitorais sem maiores influências do poder econômico. E não é por acaso também
que, no mundo político, vozes contrárias se fazem ouvir, uma delas, no Estado
do Rio de Janeiro, a do Senador Francisco Dornelles. Podem imaginar o motivo da
contrariedade do referido político conservador.
Enquanto isso, na nossa vizinhança, mais precisamente na Guiana
Francesa, foi criado um “Comitê Internacional de Solidariedade”
pela independência do enclave colonial na América do Sul.
Assinam o manifesto de criação figuras expressivas do continente como
Martin Almada, Prêmio Nobel da Paz Alternativo de 2002, a jornalista argentina
Stella Calloni, entre outros. Eles explicam que “é necessário nos organizarmos para trabalhar pela
total libertação de nossa Pátria Grande que é em primeiro lugar a América do
Sul, e em termos mais gerais a América Latina e o Caribe”.
O manifesto assinala ainda que “enquanto grande parte da nossa
Pátria Grande hoje está mobilizada na luta por sua segunda e definitiva
independência, em algum ponto do caminho temos que retroceder 200 anos e voltar
a lutar pela primeira independência, como fizeram Bolívar, Sucre, San Martín,
Belgrano, Artigas, e tantos mais”.
Lembram ainda os subscritores do manifesto que “embora pareça mentira, o imperialismo mantém, entre suas varias
faces, a do colonialismo direto. E na América do Sul o mantém com as Malvinas
como colônia britânica e com a Guiana como colônia francesa”.
Nos últimos tempos, para justificar o domínio colonial, não se pode
esquecer que os britânicos, depois de invadirem as ilhas há exatamente 180
anos, expulsaram a população argentina e implantaram nessas terras uma
população trazida de 12 mil quilômetros de distância.
Tais fatos precisam ser divulgados e impedir a persistência da
arrogância colonial, não raramente com o apoio de setores cooptados pelas
benesses do capital internacional ou mesmo por aqueles mentalmente colonizados.
No caso da Guiana Francesa, sob dominação há mais de quatro séculos,
onde os europeus integram a classe privilegiada em detrimento de outras
populações vindas forçadas da África e Ásia, ainda por cima lá funciona a base
espacial de Kourou, onde são lançados foguetes que colocam em órbita os
satélites dos projetos Arianne e Vega, da União Europeia e a Soyuz, da Rússia.
E isso para não falar das riquezas naturais da Guiana Francesa como o
ouro, a bauxita, petróleo, reservas de água doce e a biodiversidade.
Sob total e absoluto silêncio da mídia de mercado, o poder colonial
francês persegue os lutadores pela independência da Guiana, os líderes de
movimentos sociais e, sobretudo, os militantes do “Movimento de Descolonização
e Emancipação Social” (MDES).
Como se tudo isso não bastasse, os colonialistas franceses favorecem a
ida de guianenses para a metrópole para exercerem empregos de segunda
categoria, bem como trazem europeus para trabalharem em torno da base espacial
com salários altos, enquanto a maioria da população vive em condições
precárias.
Neste tempo em que se denunciam violações dos direitos humanos em várias
partes do mundo, inclusive servindo de pretexto para intervenções criminosas de
países ocidentais – a própria França
recentemente em Mali – é preciso tornar público que, no enclave colonial
que faz fronteira com o Brasil, muitos guianenses são vítimas de prisão e
torturas.
Tais fatos remetem também à famigerada “Escola Francesa”, aquela que,
com base nos crimes de lesa-humanidade cometidos pelos serviços de segurança
contra o povo argelino em sua luta de libertação nacional, instruiu as
ditaduras brasileira e argentina a aplicarem métodos repressivos.
Diante de tais fatos, não se pode deixar de apoiar o manifesto pela
independência da Guiana Francesa e exortar também as autoridades brasileiras a
se manifestarem sobre os acontecimentos na área vizinha.
E ainda exortar algum editor internacional a não mais silenciar sobre os
fatos que estão acontecendo na Guiana Francesa.”
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