Acusada pela Receita
Federal de sonegação milionária, a “Globo” gostaria de transformar o governo Dilma
num omelete.
[Para isso, inclusive, estimula jovens puros e idealistas, mas desavisados, para manifestações que terminam nos midiáticos vandalismos e saques de sempre]
[O já tradicional Coquetel Molotov das manifestações "democráticas" que têm propiciado grande IBOPE e lucros para a mídia e sido festejadas como "o novo caminho" para o Brasil "acordar" e voltar ao pesadelo dos nefastos tempos da direita demotucana ]
Tempo da “gestão técnica” fica pra trás: Helena e
Bernardo viram peça de museu
Por Rodrigo Vianna, jornalista
“Ninguém acha que é possível dirigir o Brasil
como se fosse um grêmio estudantil ou uma associação de moradores.
Quem dirige o país, no Executivo, não pode tudo. Há
que se respeitar a famosa “correlação de forças”. Isso é evidente.
Mas é evidente também que aqueles que ocupam o
centro do governo (ainda mais se
representam forças que historicamente lutaram por mudanças estruturais do
Brasil) têm a obrigação de lutar para que a correlação de forças se
altere e permita mais e mais reformas.
O governo Dilma, nesse sentido, é um equívoco
completo. Concentrada em derrubar os juros e enfrentar os setores financeiros (associados ao monopólio midiático e à classe
média tradicional, esses setores compõem o principal núcleo opositor
ao governo petista), Dilma abriu mão de qualquer mexida na Comunicação.
Abriu mão de disputar hegemonia e de lutar para mudar a correlação de forças.
Nessa e em outras áreas.
A “Ley de Medios”
foi enterrada. Bernardo (amigo das teles)
e Helena (amigona da Globo) mandaram
recados: tudo deve ficar como está na
área da Comunicação. Dilma começou o governo preparando omeletes na Ana
Maria Braga. Foi ao convescote da família Frias (dona da “Folha”) e ainda
lançou a frase brilhante: “controle da
Comunicação só se for o controle remoto”.
Agora, está aí o resultado. A velha mídia
transformou as manifestações de rua (que
eram contra aumento de ônibus e contra a violência policial) numa
grande “festa cívica” cujo alvo
era (e é) Dilma. A pesquisa “DataFolha” (por mais que desconfiemos do instituto da família Frias) é a
demonstração de que a mídia quebrou os ovos e prepara-se para transformar o
governo Dilma num omelete: bom/ótimo
recuaram de 57% para 30%.
Sinto-me à vontade para falar porque
comentei nesse mesmo tom quando Dilma tinha 70% ou 80% de
popularidade. Naquele tempo, trancada no palácio com marqueteiros e ministros
medrosos, Dilma acreditou (?!) que tudo era uma questão de “gestão
técnica”.
Aqui trecho do que escrevi em setembro de
2012, em “A Ilusão de um acordo com a mídia”:
A turma que cuida da
Comunicação no governo Dilma parece dividir-se em duas: uma tem medo da ‘Globo’
e da ‘Abril’, a outra quer garantir empregos na ‘Globo’ e ‘Abril’ quando
terminar o mandato.
Dilma segue popular. Mas a base tradicional lulista
está ressabiada. A velha mídia e os tucanos perceberam a possibilidade de abrir
uma cunha entre Dilma e o lulismo. A estratégia é simples: poupa-se Dilma
agora, concentra-se todo o ódio no PT e em Lula. Com PT e Lula fracos, ficará
mais fácil derrotar Dilma logo à frente.
A presidente, pessimamente aconselhada na área de
Comunicações, parece acreditar na possibilidade de uma “bandeira branca” com a
mídia. Não percebe que ali está o coração da oposição.”
O primeiro texto sobre a escolha “centrista” de
Dilma escrevi em fevereiro de 2011, logo que o governo começou. PT rumo ao centro e oposição na UTI:
“Dilma capturou a simpatia (real? duradoura?) de
setores da mídia que estiveram fechados com Serra durante a campanha. Faz o
mesmo em relação à política internacional (menos “terceiro-mundista” do que
Lula, como comemora a “Folha” em editorial nessa sexta-feira). E já há sinais
de que o governo pode abandonar a proximidade estratégica que mantinha com
movimentos como o MST”.
As Rebeliões de Junho – ainda sem um desfecho claro – colocam Dilma e esse PT dominado pelo
pragmatismo numa encruzilhada. Os tempos dos acertos de bastidor acabaram. A
era dos Vacareza e Bernardos já era. Agora, é guerra aberta. E a disputa
está nas ruas.
Sob a batuta da velha mídia, que pauta ruas e redes dominadas
pela classe média, o Plebiscito da Dilma pode levar à vitória de bandeiras
que interessam aos conservadores: voto
distrital e rejeição do financiamento público de campanha. Podem apostar: “Globo”,
“Veja” e classe média vão berrar nas telas e nas ruas que voto em lista e financiamento público são chavismo!
Dilma fará o que? Vai preparar um omelete com Ana
Maria? Vai mandar o Bernardo falar na “Veja”?
Helena e Bernardo são os condutores de uma política
que inundou com dinheiro público a empresa de comunicação que é acusada de sonegação
milionária. Mesma empresa que, se pudesse, transformaria Dilma e Lula em dois
omeletes.
A atual conjuntura mostra um governo relativamente
fragilizado. Verdade que governadores tucanos e lideranças como Aécio não
parecem ser a alternativa em 2014. Mas há outras. O conservadorismo é matreiro.
E conta com aliados fortes no campo internacional. Os Estados Unidos estão
loucos para botar o Brasil no velho trilho.
Se o país caminhar para a confrontação e abrir-se
uma temporada de “caça ao lulismo”, Serra vem aí. Podem apostar. Ele é o
“antiLula”. Desgastado, sem apoio interno no PSDB – mas com bons amigos na mídia, nos bancos e no exterior –
obteve 45% dos votos.
Do outro lado, há Lula e um patrimônio político
ainda importante. Mas vai falar através de quais canais? Qual controle
remoto Dilma e Lula pretendem usar agora?
Para a esquerda, não há saída a não ser a
radicalização do quadro político. Isso não significa jogar ao mar o “centro”.
Mas significa ter disposição para luta aberta. É preciso isolar a direita e o
conservadorismo. Paralisada e apegada às tentativas de acordos, Dilma será
engolida pelos “profissionais”. Se o governo e o lulismo sairem da toca para o
confronto, correm também risco de derrota. Mas não há outra escolha.
Inação
e acordos de gabinete = derrota certa da
centro-esquerda em 2014.
Mobilização
e Política com “P” maiúsculo = uma
chance para nova vitória da esquerda em 2014.
Essa nova vitória, se vier, terá que ser fruto de
novo acordo de forças, que reflita o novo momento do país. Será outra esquerda,
com outra composição. Outro governo. É preciso lançar ao mar as Helenas, os
Bernardos e os gatos gordos do petismo.
Os tempos são outros. Não está escrito em lugar
nenhum (muito menos nessa pesquisa
do DataFolha) que o lulismo estará derrotado em 2014. Mas,
para ganhar, terá que ser outro lulismo. E terá que ser outra
a esquerda.
A direita, meus amigos, vem babando. E ela não
costuma fazer omeletes na cozinha do inimigo quando ganha a parada.”
FONTE:
escrito pelo jornalista Rodrigo Vianna em seu blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/o-tempo-da-gestao-tecnica-ficou-para-tras-helena-e-bernardo-viraram-peca-de-museu.html#more-20340). [Título e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
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