Por Rodolpho Motta Lima
“As manifestações
populares prosseguem e, com elas, as mais variadas interpretações. Fato
inegável, porém, é que, apesar da notória motivação de alguns grupos que, no
início, pretenderam canalizar o movimento para um golpe institucional, os
resultados já obtidos revelam o indiscutível: é o povo que deve encaminhar o seu destino e só tem sentido a
existência da chamada “classe política” se ela de fato exercer o papel que a
democracia representativa lhe confere.
Não cabe desconsiderar,
neste momento, as consequências para o próprio Governo Federal, materializadas
na queda da popularidade de Dilma (de 57% para 30% de “bom” e ”ótimo” para o
Governo), mesmo sabendo que não é fato novo esse declínio em momentos de crise,
principalmente quando amplificada pela mídia. Ele foi experimentado por Lula
(28%) e, muito mais, por FHC (13%). Além disso, é bem fácil imaginar que, se
houvesse também pesquisas sobre outros políticos governantes (governadores, prefeitos etc), os números
registrariam quedas iguais, ou maiores. Há um divórcio entre o mundo dos
políticos no geral e o mundo das pessoas que eles dizem representar. O divórcio
é maior para uns, menor para outros, mas exige mesmo reflexões.
Em muitos lugares do
planeta em que também ocorreram manifestações populares, a ausência de
sensibilidade por parte dos entes governamentais só fez aumentar o clamor das
ruas e praças, radicalizando posições, levando ao impasse. Mas não está sendo
assim aqui no Brasil. Aqui, a Presidenta Dilma – que muitos acusam de não ter jogo de cintura para conduzir a política
em meio a tantas raposas e cobras criadas – soube colocar-se, em resposta
ao movimento, não apenas reconhecendo, em verdadeira autocrítica, a necessidade
de dar ouvidos às reivindicações, mas elencando, como consequência desse
reconhecimento, algumas metas a serem perseguidas de imediato.
Em um passe de mágica, o
quase sempre inoperante e fisiológico Congresso brasileiro apressou-se em votar
a destinação dos recursos do pré-sal para a educação (e para a saúde), medida
que sempre fora defendida por Dilma e que ela recolocou no centro dos debates.
Os legisladores, acuados
pela força dos movimentos populares, colocaram rapidinho abaixo a PEC 37 e
votaram a caracterização da corrupção como crime hediondo. Prefeitos e
governadores dos mais variados partidos promoveram a revisão das tarifas de
transporte, um passo inicial para o desenvolvimento da discussão sobre esses
serviços, conforme proposto pela Presidenta.
Já que estamos em
momento futebolístico, creio que, a partir de agora, vai começar o segundo
tempo da manifestação popular. E, sem dúvida, a maior vitória a obter-se das
marchas nas ruas será, se concretizada, a realização do plebiscito sugerido por
Dilma, para definir a reforma política de que carece o país. Como sempre,
tenta-se desqualificar a proposta, acusando a Presidência de ter voltado atrás
de sua proposta original, que falava em uma Constituinte exclusiva. Mas a
política é, muitas vezes, a arte do possível, e o que Dilma fez, para manter
sustentável sua tese de delegar decisões diretas ao povo, foi encampar a posição
que uniu a maioria dos seus apoiadores e mesmo de outros segmentos da
sociedade, como a OAB e o STF.
Não podendo mais
vociferar contra a Constituinte, não mais colocada em discussão, a Oposição – cujo único programa é ser Oposição –
bate-se agora contra o plebiscito e se diz defensora do referendo.
Como afirmei no artigo
anterior, e reafirmo agora, quem não sabe brincar nem deve entrar na
brincadeira. A exaltação das manifestações populares, aplaudida como um
despertar, não pode ser – porque nunca foi
– uma palavra de ordem da direita. As ruas pertencem a todos. Agora, as coisas
estão colocadas como devem ser. Os golpistas de sempre querem que a única
“missão” do movimento seja a punição dos inimigos que consideram corruptos.
Quanto aos “amigos”, silêncio total... Acusam o governo de “desfocar” esse
objetivo, que é, aliás a bandeira mais fácil de carregar, porque mesmo os
corruptos a defendem... Você conhece alguém que defenda a corrupção? A
corrupção deve, sim, ser combatida, como vem sendo. Aliás, vem aí o outro
mensalão, o da terra do Aécio, que terá como relator o novo ministro empossado
no STF. E que tal um movimento para redescobrir a verdade já revelada no livro
“Privataria Tucana”, de Amauri Ribeiro Jr? E o Cachoeira, por onde anda?
A corrupção não tem um
dono, como insiste em querer fazer crer a oposição e a mídia manipuladora. Ela
transcende partidos, é endêmica, fruto de um sistema apodrecido que passa pelos
“sagrados” valores capitalistas e contamina a política.
E aqui voltamos ao
plebiscito. Chega a ser irônica a alegação de que ele é inoportuno,
inexequível, e que o bom é o referendo. Essa distinção marca mesmo as posições,
agora claras, de quem acredita na força do povo e de quem apenas quer
manipulá-la. O plebiscito nasce do povo e impõe uma decisão aos seus
representantes. O referendo é articulado pelos políticos e sutilmente submetido
ao povo. O plebiscito é a morte das raposas. O referendo perpetua a situação em
que as raposas tomam conta – e se
alimentam – das galinhas.
Há, por parte da turma
antipovo - que pulula por aí com discurso
demagógico - um grande receio de que a moda pegue. Já pensou, por exemplo,
o povo decidindo diretamente a taxação das grandes fortunas, a pauta da
Comissão de Direitos Humanos do deputado homofóbico, a realização de uma Lei
dos Meios etc etc etc?
Há quem diga,
hipocritamente, que o povo não entenderia a “complexidade” de uma reforma
política. Essa turma precisa se definir: afinal,
o povo é ou não é soberano? Nos recentes episódios, ele foi à rua contra a
PEC 37, porque foi esclarecido a respeito. Um plebiscito pressupõe debate
prévio, esclarecimentos... Mas é isso justamente que a “raposada” não quer...
Então, que venha o plebiscito.”
FONTE: escrito por Rodolpho
Motta Lima no site “Direto da Redação”. O autor é advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade
de Brasil) e professor de Língua Portuguesa no Rio de Janeiro, formado pela
UERJ. Funcionário aposentado do Banco do Brasil (http://www.diretodaredacao.com/noticia/o-plebiscito-do-povo).
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