Etapa de fabricação do novo blindado “Guarani” (foto: IVECO)
Por André
Borges, no jornal “Valor Econômico”
“Os
militares decidiram apelar ao Ministério do Planejamento para que tenham seus
projetos incluídos no ‘Programa de Aceleração do Crescimento’ (PAC). O pedido feito pelo Exército foi
encaminhado ao ministro da Defesa, Celso Amorim, que repassou a demanda, na
semana passada, à ministra do Planejamento, Miriam Belchior. O pleito militar
tem uma motivação muito clara: o Exército
quer fugir do contingenciamento do Orçamento da União. Ao entrar no PAC,
teria os projetos protegidos de cortes do governo.
Em
entrevista ao jornal “Valor”, o general Luiz Felipe Linhares, chefe do
escritório de projetos do Exército, disse que sete programas militares estão
com cronograma comprometido, devido a sucessivos cortes de orçamento. Um dos
projetos mais afetados é o Sistema
Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON).
O plano
envolve a compra de radares, sistemas de comunicação e veículos aéreos não
tripulados, tem custo total estimado em R$ 12 bilhões e implementação em dez
anos. Para este ano, contava-se com o aporte de R$ 1 bilhão para o projeto, mas
a cifra não deverá ultrapassar R$ 200 milhões. "Com o que a gente tem recebido de recursos, o SISFRON levará uns 60
anos para ser concluído", diz Linhares.
O prazo
de instalação do Sistema Integrado de
Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres (PROTEGER), iniciativa de R$
11 bilhões, que trata do monitoramento de grandes empreendimentos do país,
também desandou. A previsão de orçamento para este ano era de R$ 800 milhões,
mas o recurso acabou reduzido a R$ 44 milhões. "Esse projeto, praticamente, não começou. O Brasil é hoje o único país
dos BRICS que não tem um sistema de proteção militar de sua infraestrutura
terrestre", afirma Linhares.
A falta
de recursos, segundo o general do Exército, também compromete o desempenho de
uma fábrica de veículos militares,
que acaba de ser concluída em Sete Lagoas (MG). A unidade, que é operada pela IVECO,
foi montada para produzir mil unidades da nova família de carros blindados
militares. O veículo batizado de “Guarani”
vai substituir os carros da extinta ENGESA. Uma primeira remessa de 102
unidades já foi feita e deve ser entregue até o primeiro semestre de 2014, mas
o Exército não tem mais dinheiro para pedir um segundo lote de carros.
"Recebemos R$ 90 milhões para o programa
neste ano. Um carro desses custa por volta de R$ 6 milhões, ou seja,
conseguimos encomendar só mais 15 carros. Uma fábrica dessas precisa de escala,
de produção de pelo menos cem carros por ano, senão não se justifica",
diz Linhares.
Um quarto
projeto está na lista de prioridades que o Exército espera ver incluído no PAC.
Trata-se de um sistema de mísseis e foguetes. O programa, batizado de Astros 2020, recebeu R$ 90 milhões
neste ano, quando seu orçamento total é de R$ 1,5 bilhão.
A
inclusão de, pelo menos, esses quatro projetos na relação do PAC implicaria
desembolso, ainda neste ano, de R$ 3 bilhões para os militares. Uma segunda
remessa de mais R$ 3 bilhões seria pedida em 2014, quando acaba o PAC.
Os
benefícios do investimento, segundo Linhares, são imediatos para a população.
Ele dá, como exemplo, o monitoramento de fronteiras para o combate ao tráfico
de drogas. Levantamento realizado pelo Exército aponta que, se o SISFRON
conseguisse reduzir o tráfico em 3,5%, o impacto que isso teria na queda de
gastos com segurança e com saúde pública seria suficiente para pagar todo o
sistema em dez anos. "O que o
governo está gastando em ações corretivas poderia ser realocado em ações
preventivas", diz o chefe da seção de relações internacionais do
Exército, coronel João Paulo da Cás.
Procurado
pelo “Valor”, o Ministério do Planejamento confirmou que recebeu o pedido do
Exército e informou que, "como
procedimento padrão para inclusão de projetos no programa, é necessária análise
técnica e, posteriormente, submissão dos pleitos para apreciação do Comitê
Gestor do PAC, que aprova ou não sua inserção".
Segundo o
Planejamento, os blindados Guarani e
o lançador de foguetes Astro 2020 já
passaram a integrar a carteira do PAC. O Exército nega a informação e diz que,
no ano passado, esses projetos receberam apenas uma parte de recursos
destinados à linha “PAC Equipamentos” e que "foi um fato isolado e de oportunidade". Segundo os militares,
os dois programas estão fora do PAC neste ano.
No início
do ano, afirma o ministério, outros projetos do setor de defesa passaram fazer
parte do PAC, como a compra de caminhões
(Aeronáutica, Marinha e Exército) e viaturas
(Marinha e Exército), o projeto KC-X [KC-390]
de jatos cargueiros, e para modernização do controle do espaço aéreo.
O
Planejamento chama a atenção para a linha de montagem e produção de 48 helicópteros de porte médio das Forças
Armadas, a realização de cem experimentos em reator nuclear compacto, a construção de estaleiro e de manutenção de base
naval, além da construção de um complexo
radiológico, submarinos convencionais
e de propulsão nuclear.”
FONTE: reportagem de André
Borges, no jornal “Valor Econômico”
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