segunda-feira, 14 de outubro de 2013

ISRAEL PODE VOLTAR A ANEXAR O SINAI APROVEITANDO A INSTABILIDADE NO EGITO

 
Apache do Egito no Sinai, em 2012. Israel realizou ataques que deixaram quase 20 militantes islamitas mortos, de acordo com o Exército.

"É importante que os analistas sejam absolutamente precisos em suas deliberações e dados se querem reter alguma credibilidade. Da mesma forma, é importante, para a análise em si, não serem feitas para favorecer um grupo ou o outro. Digo isso porque minha análise sugere que Israel pode explorar o estado de confusão na região e invadir a Península do Sinai [egípcia] para anexar o território que já ocupou. Isso pode perturbar alguns, mas precisa ser dito. 

 Por Abdul Hamid Omran*, no "Middle East Monitor"

Israel pode ser motivado a fazer isso para conter o resultado da "Guerra de Outubro", de 1973, quando as forces egípcias empurraram as Forças de Defesa de Israel (FDI) do Canal de Suez, em uma manobra que os árabes consideram uma vitória militar. Retomar o Sinai apagaria aquela derrota da memória coletiva israelense.

A anexação pode ser considerada para que os israelenses possam deslocar os palestinos para fora da Faixa de Gaza em direção ao Sinai. Isso liberaria Israel do fardo que é defender-se contra os grupos de resistência e gozar das recompensas da Terra Sagrada.

Essas são as razões possíveis da anexação, mas por que iria Israel pensar sobre isso, neste momento?

Durante a Guerra de Outubro, Israel enfrentou dois Exércitos unidos que eram muito bem treinados e bem equipados, guiados por líderes maduros de países independentes e economicamente fortes, a Síria e o Egito. O quadro é bem diferente, hoje.

A Síria já não é um país estável; foi destruída, e seu povo está dividido, como planejado por Israel. A situação é tal que a Síria não representa uma ameaça a qualquer país, ainda menos a Israel.

Já sobre o Egito, seu Exército está engajado nas hostilidades contra os seus próprios civis no Sinai, sob o pretexto de lutar contra o terrorismo. Isso deu a eles muito pouco, exceto o ódio de uma sociedade bastante tribal; é improvável que o povo ajude o Exército, caso Israel decida invadir e anexar a península.

Outras unidades do Exército estão ocupadas em todo o Egito, suprimindo os protestos dos cidadãos [contra a destituição do presidente Mohammed Mursi] e a favor da democracia. O Exército como um todo precisaria de ao menos um mês para se reagrupar e se deslocar para o Sinai para enfrentar um ataque israelense.

Isso deixaria o campo aberto para os grupos de oposição, que as autoridades do golpe temem mais do que aos israelenses.

Alguns podem dizer que Israel não atacaria um regime militar que depôs o governo islamita eleito no Egito, e que Israel apoia desde o golpe. Entretanto, é bem sabido que as estratégias estão sujeitas a mudanças de acordo com interesses nacionais; assim, se for do interesse de Israel mover-se para o Sinai agora, independentemente do apoio que deu ao regime do golpe, eles não hesitarão em fazê-lo.

O governo no Cairo seria deixado sozinho para lutar em duas frentes: contra Israel e contra o seu próprio povo, que se opõe ao regime militar.

Há muita evidência para esse cenário, a mais recente é de o governo dos Estados Unidos, com sua decisão de suspensão da ajuda militar ao Egito, inclusive de tanques, helicópteros Apache e caças F-16, todos armas de combate que poderiam efetivamente ser usadas contra Israel.

Os EUA vão continuar a fornecer equipamentos para a dispersão de multidões e armas que ajudem o regime a combater a oposição interna. Não está claro se a decisão dos EUA tem menos a ver com a pressão contra a brutal supressão da democracia do que com a proteção de Israel. O Egito ficará incapaz de se defender contra uma invasão israelense.

O inimigo do Egito não está no front doméstico, e seus soldados precisam entender isto. O fracasso em acordar para esse fato pode guiar a civilização egípcia para a história, enquanto outras já desapareceram."
 
FONTE: escrito por Abdul Hamid Omran, no "Middle East Monitor". O autor é major-general aposentado do Exército egípcio, que atua como consultor estrategista e engenheiro em sistemas de segurança. Postado no portal "Vermelho" com tradução de Moara Crivelente  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=226649&id_secao=9).

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