quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O MUITO ESTRANHO GRANDE CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO DE HEROÍNA NO AFEGANISTÃO APÓS A OCUPAÇÃO PELOS EUA...


Militar ou agricultor?


[OBSERVAÇÃO deste blog 'democracia&política':

Este blog já abordou em artigo próprio esse intrigante fato em postagem de 22/03/08, intitulada "FATOS MUITO ESTRANHOS NA GUERRA DOS EUA CONTRA O AFEGANISTÃO". Transcrevo:

"Já era claramente previsto pela imprensa, nos EUA e no exterior, muito antes do ataque terrorista 
às torres gêmeas de Nova Iorque em 11/09/2001 , que o Afeganistão seria invadido por tropas norte-americanas em futuro próximo.

O PETRÓLEO

Um dos motivos desse ataque prenunciado foi o fato de a região da Ásia Central abrangida pelos países Azerbaidjão, Cazaquistão, Usbequistão e Turcomenistão ter sido identificada como possuindo reservas de petróleo e gás maiores que as do Golfo Pérsico.

Os EUA já haviam ajudado, com interesse geopolítico na área, o regime Taliban e Osama Bin-Laden a combaterem a União Soviética no Afeganistão, país vizinho àquela citada rica região petrolífera, e caminho natural para o melhor escoamento da futura produção de petróleo.

O Afeganistão é importantíssimo como solução geográfica mais barata para o transporte daquelas riquezas. Será muito menos custoso passar oleodutos e gasodutos por seu território, até o porto na área marítima do Paquistão junto ao Oriente Médio, do que a solução manifestada pelos russos, de estendê-los até o Mar Negro.

Segundo a imprensa, vários grupos dos EUA (Chevron, Conoco, Texaco, Mobil Oil e Unocal) já estavam na década de noventa com negociações e investimentos adiantados no Afeganistão para aquela exploração.

O regime afegão Taleban, todavia, veio a se negar a autorizar a passagem pelo Afeganistão do oleoduto e do gasoduto, os quais já estavam iniciados pela empresa norte-americana Unocal [adquirida depois pela Chevron e na qual trabalhava Hamid Karzai que veio a ser "eleito" presidente do Afeganistão ocupado pelos EUA]. Essa negação dos talibans causou a interrupção da obra em 1998. Naquele ano, em 20/08/1998, de surpresa, à noite, os EUA atacaram com mísseis de cruzeiro e aviões uma região daquele país “suspeita de abrigar possíveis terroristas”..


Desde então, volta e meia surgiam artigos em jornais e revistas, em várias partes do mundo, abordando novo e iminente ataque militar dos EUA ao Afeganistão. Talvez, o posterior ataque terrorista de 11/09/2001 em Nova Iorque tenha sido o valioso e oportuno [autoatentado ou não] pretexto para aquela já esperada e planejada ação militar norte-americana.

COISAS MUITO ESTRANHAS - O NARCOTRÁFICO

Nem tudo, no entanto, era assim facilmente previsível ou imaginável. Sempre achei que havia no ar coisas muito estranhas, incoerentes. Muitas delas até hoje perduram e se repetem. E ainda não as compreendo.

Por exemplo: antes da invasão norte-americana, o regime Taliban havia banido do Afeganistão o cultivo do ópio, do qual é extraída a heroína. A produção caiu praticamente a zero em julho de 2001 (dois meses antes do também estranho atentado às torres gêmeas de Nova Iorque). Com essa ação dos talibãs, o comércio mundial daquele produto, que somente nos EUA movimenta a economia em muitos bilhões de dólares por ano, ficou arrasado, com preços disparando, inviabilizando a sua comercialização e causando o desespero dos seus empresários, comerciantes e dos consumidores norte-americanos. [OBS.: Em 2008, o comércio de narcotráfico (heroína e outros) movimentou 1,75 trilhões de euros no mundo].

Alguns meses depois da invasão norte-americana, na alegada "caça ao terrorista Bin Laden" [sic], os EUA devastaram com poder impressionante o Afeganistão, com milhões de toneladas de bombas e mísseis moderníssimos. Até o seu subsolo, suas cavernas, suas montanhas foram explodidos por novas e poderosas bombas que tudo esfarinhavam como grandes terremotos.

Aquele país assim atacado, cujos progresso e infraestrutura o assemelhavam ao interior do Piauí, e o seu centro comercial era semelhante a uma feira livre da periferia de Caruaru, foi completamente destroçado com armas moderníssimas, com dezenas de milhares de civis afegãos mortos. Até hoje, está ocupado pelas numerosas, modernas e poderosíssimas Forças Armadas dos EUA e de seus aliados.

Contudo, o surpreendente e incompreensível para mim é o Afeganistão, mesmo policiado palmo a palmo por forças dos EUA e OTAN que se intitulam com o nobre direito de combater o terror e o narcotráfico no mundo, ter rapidamente recuperado, e gigantescamente aumentado a lavoura, a produção e a exportação do ópio, hoje já respondendo novamente por quase 90% da produção mundial. Os preços e o suprimento da heroína já baixaram e estão normalizados nos EUA e nos demais grandes mercados consumidores.

Fico perplexa, nada entendendo.

Apenas para exemplificar esse incongruente quadro, relembro trechos de um artigo da agência estatal britânica de notícias BBC (Brasil), de 03/09/2006, que trata desse surpreendente e exponencial crescimento da produção de papoula, ópio e heroína após a invasão norte-americana:

“CULTIVO DE ÓPIO NO AFEGANISTÃO AUMENTA 59% NO ANO” (2006)

O cultivo de papoulas no Afeganistão - matéria-prima para a produção de ópio - deverá aumentar em 59% neste ano, já representando 92% da produção mundial da droga, de acordo com as Nações Unidas.”

(...) “O narcotráfico no Afeganistão, estimado em US$ 2,7 bilhões, responde por cerca de um terço da economia do país.” (atualização deste blog: em 2008, 57% do PIB afegão proveio da heroína (UOL Mídia Gobal, 02/04/2008).

GOVERNO DÉBIL

Das 34 províncias do país, em apenas seis não há produção de ópio, afirma a agência BBC.

O maior aumento do cultivo de papoulas ocorreu no nordeste do país, o que é atribuído à presença de comandantes de milícias e a um governo débil, disse o relatório.

"A opinião pública está cada vez mais frustrada com o fato de que o cultivo de ópio no Afeganistão está fora de controle".

Isso foi em 2006. Em 2007 foi pior:

Vejamos outro artigo, da "Folha Online", em 05/03/2007:

“ONU RELATA AUMENTO DO TRÁFICO DE ÓPIO NO AFEGANISTÃO” (2007)

O cultivo de papoula --matéria prima do ópio-- no Afeganistão poderá se expandir em 2007 após safra recorde em 2006, afirmou nesta sexta-feira a agência da ONU que investiga drogas. O relatório da ONU destaca o fracasso da iniciativa internacional que luta contra o tráfico de narcóticos crescente no país.

A Agência para Drogas e Crimes da ONU (UNDOC) prevê aumento da papoula em um círculo de Províncias afegãs, inclusive Helmand, no sul, onde há a mais extensa área de cultivo no país
.”

(...) "A pesquisa deste inverno sugere que o cultivo de ópio no Afeganistão em 2007 poderá superar a colheita recorde de 165 mil hectares em 2006", afirmou o diretor executivo da UNDOC”.

CULTIVO

(...) Segundo a ONU, o cultivo de papoula ocorre em 100% dos vilarejos visitados na Província de Helmand e em 93% das vilas da Província vizinha de Candahar (ex-bastião do Taleban).


POLÍTICA

(...) “Para os críticos, elementos corruptos no governo do Afeganistão [imposto pelas forças invasoras] e nas forças de segurança locais estão envolvidos no tráfico de ópio e não vão permitir a organização de uma operação séria para acabar com o cultivo da droga.

O relatório da ONU também apontou para uma "nova e perturbadora tendência" no cultivo de drogas afegão --o crescimento dos campos de cannabis (usada na fabricação da maconha).


Tudo isso com cada palmo de Afeganistão ocupado na época por soldados norte-americanos e aliados. Muito estranho...

Essa postagem deste 'democracia&política' foi em 2008. Parece que nada mudou. Vejamos sobre o assunto a postagem de hoje (12/11/2014), do blog "Tijolaço"]:

EUA no Afeganistão: os "heróis da heroína"

Por Fernando Brito



"O cultivo de papoula no Afeganistão, matéria-prima para 80% produção mundial de heroína, atingiu novo recorde em 2014, segundo relatório das Nações Unidas divulgado ontem.

São 224 mil hectares, 7% a mais que em 2013.

A produção de ópio potencial cresceu 17% em um ano.

Desde a ocupação militar norte-americana, em 2001 – considerando a área de 2002, pela falta de condições de medição naquele ano -, a área plantada cresceu 200%!

Foi, como se vê, mais fácil achar Osama Bin Laden que fazer uma política de erradicação da papoula opiácea.

Para quem acha que uma visão militar de “guerra às drogas” funciona, não há desmentido maior que o Afeganistão.

Mais de uma década de presença militar dos EUA não criaram condições para que os afegãos se livrassem dessa dependência econômica.

Pior, criaram, mesmo, uma dependência química do ópio.

De quase zero, historicamente, há hoje um milhão de viciados em heroína hoje, segundo os dados da ONU.

Ou um em cada trinta afegãos.

Seria, para que você possa comparar, haver pouco mais de 6 milhões de brasileiros viciados em heroína. Toda a cidade do Rio de Janeiro, por exemplo.

E a nossa direita belicista fala do Evo Morales por causa da coca, que é um cultivo que faz parte da cultura do povo boliviano.

Lá, com programas de controle e substituição de lavouras, a área plantada diminuiu 7% de 2012 sobre 2011, depois de ter caído outros 12% naquele ano sobre 2010.

Sem drones, sem mísseis, sem bombas.

E sem a montanha de dólares que o Afeganistão “ganha” dos EUA onde a guerra, segundo o site "National Priorities", custa aos norte-americanos US$ 10.17 millhões por hora…"

FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog "Tijolaço"  (http://tijolaco.com.br/blog/?p=22990). Trecho inicial entre colchetes acrescentado por este blog 'democracia&política'].

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