Li ontem esse ótimo artigo de Luis Fernando Veríssimo no blog do Noblat:
“INFERNAL”
“Sobre o portal do Inferno, segundo Dante, está escrito “Abandone toda a esperança aquele que aqui entrar”. Não sei onde, em Genebra, se realizou a última reunião da Organização Mundial do Comércio para mais uma rodada da agenda de Doha, que busca acertar as pontas do comércio internacional, mas sobre a porta de entrada da sala de reuniões deveria estar escrito “Abandone toda a hipocrisia aquele que aqui entrar”.
A hipocrisia que rege o atual “sistema mundial” (como diz o Immanuel Wallerstein) chamado de globalização sobrevive nas diretrizes pseudo-generosas do FMI e do Banco Mundial para ajudar os devedores a pagar os credores e em todas as bem sonantes exegeses neoliberais, mas não resiste a uma reunião da OMC. É lá que a globalização mostra a sua cara real, os ricos ostentam o seu poder e sua arrogância e os pobres perdem a ilusão - e a esperança - de serem tratados como iguais.
Sem a hipocrisia para disfarçar, prevalecem os interesses dos que têm mais cacife e palavras como altruísmo e transigência soariam tão estranhas como soariam numa mesa de pôquer - que, como sabem todos, é o último lugar onde se deve procurar a bondade humana. O FMI e o Banco Mundial amolecem os pobres, desaconselhando subsídios agrícolas e barreiras comerciais, depois a OMC dominada pelos países ricos entra na sala como o tira duro, para dizer que subsídio e barreira podem, sim, mas só para quem manda. E vá tentar sair dessa delegacia infernal com argumentos.
Curioso como aqui caíram em cima do Amorim por ter apostado o cacife que não tinha numa jogada mal avaliada, confiando que a tal globalização chegara a um estágio em que dava para esperar menos prepotência e mais reciprocidade dos ricos, mas pouco se fala da inflexibilidade de americanos e europeus, culpada pelo novo fracasso. Mas isto faz parte de outra hipocrisia.”
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