segunda-feira, 4 de agosto de 2008

TERRORISMO: EUA “VAZAM” RELATÓRIO FALSO PARA JUSTIFICAR INTERVENÇÕES NA AMÉRICA LATINA

O artigo abaixo, de Camila Arêas, do Jornal do Brasil, foi publicado hoje e trata de relatórios de circulação restrita da DEA, do Departamento de Estado e do Exército americano que teriam vazado ou sido liberados para a mídia.

Tenho preconceitos e desconfianças desses vazamentos. A imprensa e, inclusive, nós, blogueiros, ao divulgarmos essa notícia e o conteúdo dos relatórios, podemos estar no papel de instrumentos úteis para a preparação de “corações e mentes”. Podemos ser indesejadamente colaboradores da disseminação da idéia de que há movimentos terroristas na América Latina, o que, então, justificaria a intervenção norte-americana. Isso porque, apesar de a maior parte dos leitores compreender que são notícias dolosamente falsas, sempre há uma meia dúzia que pensa: “talvez eles tenham razão. É bom que os ianques venham logo combater o terrorismo”.

Com o espírito preparado para as falsidades dos relatórios do Pentágono, vejamos a notícia do JB:

EUA VAZAM RELATÓRIOS ALARMISTAS

“RIO - Desde 2005, os cartéis de droga mexicanos mantêm relações com extremistas do Irã, onde recebem treinamento no uso de armas e explosivos, denuncia a Agência Anti-Drogas americana (DEA).

A ilha Margarita, localizada no Caribe venezuelano, abriga células logísticas de apoio ao grupo xiita libanês Hezbollah, informa o Comando Sul do Exército americano. Responsável pelo maior número de mortes de americanos até o 11 de Setembro, o Hezbollah é a mais ativa rede terrorista na América Latina desde 1990, ratificam relatórios do Pentágono.

E por trás deste, está de novo o Irã, que o sustenta com armas e dinheiro, fortalecendo sua presença na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, onde árabes radicais arrecadam entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões por ano, aponta o Comando Militar do Sul.

As denúncias constam em relatórios de circulação restrita da DEA, do Departamento de Estado e do Exército americano. Em sua maioria, os informes sobre a América Latina são secretos, mas, em sua totalidade, têm acesso facilitado à mídia.

A estratégia de vazar informações questionáveis cria um alarmismo que justifica a defesa da região pelos EUA, concordam especialistas.

VAZAMENTO

Do El Universal , que deu voz ao mais recente relatório da DEA sobre a infiltração de iranianos no narcotráfico mexicano, o jornalista Alejandro Jiménez conta que o informe que deveria ser secreto foi entregue à redação, e aponta um claro interesse dos EUA em manipular informações sensíveis ao continente americano:

– Eles dizem que é sigiloso, mas a intenção é que seja divulgado. Os relatórios chegam ao Capitólio, aos legisladores e, daí, vazam à mídia. O objetivo é ganhar a região em detrimento do inimigo.

O analista avalia que “Washington visa criar um ambiente adverso ao Irã, como fizeram com o ex-líder iraquiano Saddam Hussein, ao dizer que patrocinava a Al Qaeda e tinha armas de destruição em massa”.

– Invadidos o Afeganistão e o Iraque, agora o Irã é o inimigo da vez. Não há razão para ele patrocinar grupos delinqüentes pequenos como os mexicanos. As Farc, o ETA, o Hamas ou o Hezbollah, tudo bem, mas por que traficantes mexicanos? Nenhuma das acusações jamais foi comprovada. E a notícia nunca foi traduzida em prisões – critica.

Eles “manipulam esta informação no momento em que o México luta contra uma expansão desenfreada do narcotráfico que já custou centenas de mortos”, sublinha o analista venezuelano Leandro Area.

A Venezuela aparece no relatório da DEA como via de passagem para os mexicanos. Ali, no principal aliado do Irã na América Latina, adquirem passaportes venezuelanos e partem em vôos semanais rumo a Teerã.

Diretor do International Crisis Group na América Latina, Markus Schultze-Kraft avalia que “se a intenção é mostrar o Irã como patrocinador do terror na região, os EUA estão equivocados”:

– A Venezuela é apresentada como via de passagem porque também é inimiga. Não é sensato, nem crível. E ainda é contraproducente porque a utilização política da versão não ajuda no combate ao tráfico.

Segundo a DEA, “os traficantes são treinados pelos terroristas porque nunca utilizaram 100% das armas de alto poder de fogo que possuem, como as bazucas”. E o objetivo seria capacitar homens para trabalhar na fronteira com os EUA.

– Os cartéis mexicanos vivem, sim, uma expansão internacional. Há cada vez mais provas de que atuam na Guatemala, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Mas isto não justifica dizer que estão em fase de expansão militar estratégica, com treinamento no Irã – diz Schultze.

Força de segurança pública encarregada de defender os valores da revolução islâmica, a Guarda Revolucionária iraniana é acusada pela DEA de treinar mexicanos no uso de mísseis e rifles.

Em resposta, a embaixada do Irã no México desmentiu o informe, classificando-o como rumor com vistas a apresentar seu país como pivô de um complô antiamericano.

Schultze pondera que a embaixada iraniana incrementou muito sua equipe no México nos últimos anos, “o que não significa que haja vínculos terroristas”.

PATROCINADOR

No Relatório sobre Terrorismo de 2007 divulgado pelo Departamento de Estado americano em abril, o Irã mantém-se como a nação líder no apoio ao terrorismo. “O país conquista a dita esquerda latina por meio do sentimento antiamericano, que usa como base para estreitar laços militares, político e econômicos no continente”, avalia o documento.

O texto não é de todo sem fundamento, destaca Area, ao lembrar que em Buenos Aires em 1992 e 1994, a embaixada de Israel e o Centro da Comunidade Judia foram, respectivamente, bombardeados por homens a serviço do Irã.

– E esta é a melhor base histórica que poderiam ter os EUA para acusar o Irã de ingerência na região.

Ninguém foi levado à Justiça, mas mandatos de prisão foram expedidos a proeminentes membros do Hezbollah e do governo iraniano.

Para Schultze, o alarmismo americano é o que sustenta a Iniciativa Mérida, novo nome para Plano México, uma cooperação antidroga ao estilo Plano Colômbia que em junho ganhou ajuda de US$ 1,6 bilhões.

– Há cada vez mais entendimento nos EUA de que a luta antidroga na América Latina não alcança o resultado esperado. Os EUA usam o Irã para justificar o fortalecimento dos cartéis que os desafiam.”

2 comentários:

Ricardo Almeida disse...

Olá. Existe algum forma que um leitor possa entrar em contato com o blog sem ser postando comentários?

Unknown disse...

Prezado Ricardo,
Obrigado pela visita. Eu somente utilizo essa forma para me comunicar com os outros blogs e com os visitantes deste blog.
Maria Tereza