Ontem, o site “Terra Magazine” publicou o seguinte texto de Diego Salmen:
“As bolsas de valores continuam em queda no mundo todo. A turbulência no mercado financeiro se acentuou na segunda-feira, 15, após o pedido de concordata do banco norte-americano de investimento Lehman Brothers. No Brasil, a Bovespa caiu 7,59%; a bolsa de Nova Iorque teve maior baixa desde 11 de setembro de 2001, recuando 4,42%.
A situação, no entanto, não deve afetar o desempenho econômico do país. Para a economista e professora da Universidade de Campinas (Unicamp) Maria da Conceição Tavares, o PIB brasileiro não será influenciado pela crise na economia mundial.
- Nosso sistema bancário não está em crise. O deles (dos EUA) é que está. Nós não temos nada a ver com isso - afirma.
Ex-consultora do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), Maria da Conceição diz que a turbulência afeta, por ora, apenas a bolsa de valores. Ela pondera:
- A menos, é claro, que haja uma recessão cavalar que ainda não está à vista.
Em entrevista a Terra Magazine, a economista comenta ainda a intervenção do governo norte-americano para salvar da falência, com US$ 200 bilhões em dinheiro público, os bancos Freddie Mac e Fannie Mae, gigantes do setor imobiliário.
- Isso é que é o liberalismo, o resto é conversa (risos).
Leia a seguir a entrevista com Maria da Conceição Tavares:
TERRA MAGAZINE - COMO AVALIA A QUEDA DAS BOLSAS NA SEGUNDA-FEIRA?
MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES - O sistema financeiro internacional está ruim. Mas só está atingindo a bolsa, não está atingindo mais nada, graças a Deus. Eu estou muito tranqüila. No caso do Brasil, só atingiu as bolsas. Mas é claro, atinge o mundo inteiro, todas as bolsas.
ISSO INDICA UMA CRISE DO CAPITALISMO?
Sim, é uma crise do capitalismo, sem dúvida. A economia americana foi para o buraco e eles não estão conseguindo segurar o tranco. Eles estão com o sistema financeiro em pedaços. A crise da bolsa está ligada a essa questão do Lehman Brothers, eles não conseguiram vender a desgraça do banco.
Como não conseguiram, já tinha a manchete de manhã. Quando aqueles bancões americanos entram em estado falimentar, a bolsa cai. Já tiveram vários. É natural. Cada um que entra no vermelho, as bolsas caem.
COMO A SENHORA VÊ A INTERVENÇÃO DO GOVERNO NORTE-AMERICANO PARA SALVAR ESSES BANCOS COM DINHEIRO PÚBLICO?
Isso é que é o liberalismo, o resto é conversa (risos). Pois é, é sempre assim. O nosso programa de intervenção à época do Fernando Henrique Cardoso, o Proer (NR: Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), custou baratinho. Esse custou caríssimo, e o problema é que está custando muito caro - para o Tesouro americano. Eles não quiseram intervir agora no Lehman Brothers; eles já haviam intervido na Fannie Mae e no Freddie Mac e aquilo custou caríssimo. Nesse, eles deixaram rolar. E deu pânico. Quando o tesouro não intervém e não financia, dá pânico na Bolsa.
ISSO DEVE AFETAR O PIB BRASILEIRO MAIS À FRENTE?
Não, por enquanto não há evidências de que vá nos afetar. Nosso sistema bancário não está em crise. O deles (dos EUA) é que está. Nós não temos nada a ver com isso; na verdade, quando elas (as bolsas estrangeiras) caem, tem muito investimento na nossa bolsa, e as bolsas são mundiais, são todas abertas. Então quando cai uma, caem todas. Mas isso só atinge a bolsa, por enquanto. A menos, é claro, que haja uma recessão cavalar que ainda não está à vista”.
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