Nelson Franco Jobin escreveu para o site “Direto da Redação”:
"A defesa do multilateralismo e a integração sul-americana são os maiores desafios da diplomacia, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na abertura do seminário que festejou os 10 anos do Centro Brasileiro de Relações Internacionais no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, no início do mês.
O chanceler brasileiro defendeu a prioridade dada às negociações de liberalização comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC), alegando que este é um foro internacional multipolar por excelência. As Nações Unidas são dominadas pelas grandes potências com direito de veto no Conselho de Segurança e as outras instituições econômicas internacionais - o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial - têm voto ponderado, com mais peso para os países ricos.
Amorim ainda tem uma última esperança de que seja possível chegar a um acordo na Rodada Doha da OMC até o final de setembro. Se não der, a conclusão da rodada ficará adiada por alguns anos. Na sua opinião, haveria risco de aumento do protecionismo e fragmentação do sistema multilateral de comércio.
“O multilateralismo é a expressão da multipolaridade”, argumentou.
Para o chanceler, a ONU tem “um papel inspiracional”. Amorim observa que o único órgão mandatório da ONU é o Conselho de Segurança, onde as grandes potências têm poder de veto.
“A OMC, ainda que imperfeita, tem mecanismos de solução de controvérsia”, argumentou o chanceler. “As ações de implementação de suas decisões lhe dão um poder que outras organizações internacionais não têm.”
Amorim rejeitou a crítica do governador de São Paulo, José Serra, de que a política externa do governo Lula fracassou ao não fechar novos acordos comerciais.
O Brasil nunca deixou de buscar a abertura de mercados em outras areas”, sustentou o ministro. “O primeiro memorando de entendimento com a União Européia foi feito no governo Itamar. Quando estivemos perto de um acordo, o setor agrícola brasileiro considerou a abertura insuficiente.
Na sua opinião, “as principais distorções do comércio internacional, como os subsídios agrícolas, só podem ser resolvidas na OMC. Se não conseguirmos chegar a um acordo em comércio, em segurança, o que dizer de outras questões, como mudança do clima…”
Com a fragmentação do sistema multilateral, “ficaremos sujeitos a ações unilaterais”, profetizou. “Sem a ONU, algumas ações internacionais seriam impossíveis, como a missão de paz no Haiti, uma nova forma de missão de paz, com ênfase no desenvolvimento social.”
A integração sul-americana é importante porque “eu moro aqui”, resumiu o chanceler brasileiro: “A idéia de que a gente pode se isolar não faz sentido. Do ponto de vista mais amplo, é uma necessidade, um desdobramento do Mercosul. O Brasil não pode mais ficar limitado ao Cone Sul.”
Amorim entende que o Conselho de Defesa recebeu “excessiva exposição midiática”, mas festejou: “É a primeira vez em 200 anos que temos um tratado assinado por toda a América do Sul.” E defende “uma integração lastreada em fatos reais e na prática comercial. A América do Sul comprou 20% das nossas exportações e 93% das exportações de manufaturados; os EUA, menos de 15%”.
Este esforço de integração “coincide com o aprofundamento da democracia depois de um ciclo de ditaduras, com ressentimentos em relação a potências externas”.
O ministro contou que passa três a quatro horas por dia ao telefone para falar dos problemas da região: “O remédio não é se retrair, é organizar nossa região. A solução do conflito Colômbia-Equador foi uma rara resolução da OEA (Organização dos Estados Americanos) aprovada por consenso com o apoio dos EUA”.
A própria OMC é um exemplo para Amorim: “Antes os EUA e a Europa se reuniam, depois chamavam o Japão e o Canadá. Hoje, o Brasil e a Índia estão no centro das negociações. O Brasil está lá também por sua capacidade de articulação política e diplomática, sua luta por justiça social e sua seriedade econômica.”
• Na mesa redonda sobre O Brasil na América Latina, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, observou que diversos países do subcontinente não terão condições de se desenvolver sem a ajuda dos vizinhos maiores e mais ricos. Ele antevê um futuro com o mundo dividido em blocos.
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