quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O GILMAR NÃO É POUCA COISA

O jornalista e escritor Miguel do Rosário postou em seu blog “Óleo do Diabo” um muito bom texto sobre a estranha novela do grampo de Gilmar Mendes. Se o IBOPE fizesse uma pesquisa de opinião sobre os personagens dessa novela, os menos votados adjetivos associados a Gilmar Mendes seriam: justo, isento, apartidário. Vejamos o artigo de Miguel do Rosário:

"Eu não gosto do Gilmar Mendes. Não gosto do Garibaldi Alves. Mas o primeiro é presidente do Supremo Tribunal Federal e o segundo, presidente do Senado Brasileiro. O primeiro é a principal instância do judiciário nacional e a segunda, a principal do Congresso.

Se os dois vão até o presidente da República e protestam veementemente contra o que acreditam ser uma escuta, é obrigação do presidente, como responsável pelo equilíbrio entre as instituições, tomar uma atitude enérgica. Não é questão de "ter medo", de ser um "presidente que tem medo". Não estamos no ginasial. Lula não é o tipo clássico do "machão", cujos exemplos abundam demais no panteão dos políticos latino-americanos, até agora. Mas também não é o tipo vaselina. Lula é um personagem de Gianfracesco Guarnieri, no filme ‘Eles não usam black-tie’. É um sindicalista de coração quente, mas cabeça fria.

As pessoas que defendem que Lula enfrente Gilmar Mendes estão fazendo uma sugestão insensata. As que acusam Lula por ter uma tendência à conciliação estão transformando uma virtude num vício.

E o fato da Veja ter conseguido mais essa proeza, mais essa desestabilização, também não é surpresa para ninguém, nem desmerece a tese de que a mídia perdeu força. A mídia perdeu força onde mais dói: no voto. Por isso, ela se volta cada vez mais para o Judiciário, onde não há voto.

Isso nem é novo. Se você estudar a história da república brasileira verá movimentos similares. Na época do segundo governo de Vargas, por exemplo, a oposição e a mídia (já unidas à época), enfraquecidas no Congresso, voltam-se para o Supremo como tábua de salvação. Qualquer iniciativa de Vargas era levada para o Supremo. O Salário Mínimo foi levado para o Supremo. A criação da Petrobrás (que se concretizou apenas no governo seguinte, de JK, justamente por conta dessa oposição histérica) foi levada para o Supremo. A criação da Eletrobrás (que acabaria com o monopólio estrangeiro sobre o sistema elétrico nacional, ainda parado no tempo) foi levada para o Supremo.

O Supremo Tribunal Federal tem se revelado, ao longo da história democrática do país, como o último bastião dos conservadores, dos retrógrados, dos reacionários. Hoje não é diferente.

Mas o STF é o STF, e há que respeitá-lo. Quando Mendes soltou Dantas pela segunda vez, eu fui às ruas junto com os brancaleones e xinguei-o de tudo que é nome. Mas eu sou apenas um cidadão que não represento ninguém senão a mim mesmo.

Se eu escrever algo ofensivo e for processado, isso não abalará os alicerces da nação. Mas Lula é presidente da República e nenhum presidente, nem Chávez, nem Morales, nem Putin, nem Bush, são loucos de enfrentar, por iniciativa própria, a figura máxima do judiciário de seus países.

O afastamento de Paulo Lacerda da diretoria da Abin foi temporário e revelou o respeito do presidente para com o Judiciário (na pessoa de Mendes e outros ministros) e o Legislativo (na pessoa do Garibaldi Alves e outros senadores, que também foram ao presidente protestar contra o suposto grampo).

É bem provável que a escuta tenha sido plantada por Daniel Dantas, para poluir e desmoralizar a operação que o investiga. É provável que a Veja saiba disso e faça parte desse conluio. Tenho receio de acreditar, mas existe inclusive até a suspeita que o próprio Gilmar Mendes faça parte do esquema. Fazer o quê? O objetivo central do presidente da República não é prender Dantas, é manter o equilíbrio das instituições.

Uma vez garantido o equilíbrio, o gato volta a caçar o rato. Com mais raiva. Com mais fome.”

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