sábado, 20 de dezembro de 2008

CUIDADO COM A NOTÍCIA

Li anteontem no blog “Cidadania.com”, de Eduardo Guimarães, o seguinte artigo:

“O que venho combatendo há mais de uma década – e, de três anos para cá, por meio deste blog – são tentativas que vejo de os grupos econômicos que controlam a parte do leão da comunicação no Brasil direcionarem a atenção da sociedade de forma a influírem na formação da opinião dela sobre o que lhe foi informado.

Essas trapaças informativas – ou essa desinformação – produzem efeitos espantosos em grupos sociais que aumentam ou diminuem de amplitude conforme a conjuntura, de uma forma absolutamente imponderável, o que deixa ver a existência ameaçadora de condições propícias para que a manipulação da informação tenha maior ou menor sucesso.

É importante ter em mente – e há variedade de fatos que comprova a premissa a seguir – que quando se pensa que o poder de comunicar o que se quiser está deixando de ser tão grande é que ele mostra quanto pode roubar das pessoas em termos de reflexões necessárias que, inclusive, fundamentam decisões sobre suas próprias vidas, decisões que, sem manipulações das informações que recebemos diariamente, poderiam ser diametralmente diferentes das que efetivamente tomamos.

Mas fiquemos apenas nas altas questões a fim de não nos perdermos no emaranhado cotidiano que nos sufoca. Tratemos, por exemplo, de evidências concretas de como se pode minimizar fatos que têm potencial para se transformarem em grandes polêmicas ou exacerbar outros que, no frigir dos ovos, não têm maior importância.

Vejam só a reunião de Cúpula dos países da América Latina e do Caribe na Bahia. A pobreza da cobertura jornalística brasileira sobre ela revela um verdadeiro roubo das atenções da sociedade sobre um evento para o qual o mundo inteiro voltou os olhos por variadas razões, muitas das quais os grupos políticos, sociais e econômicos que estão por trás dos grandes meios de comunicação brasileiros não querem que a sociedade saiba, ou melhor, que empreste atenção a tais razões.

Poderíamos começar com a análise mais aprofundada que a mídia deu em canais de notícias por cabo aos quais poucos brasileiros têm acesso. É o caso, por exemplo, da Globo News, que apresentou reportagem e entrevista sobre a reunião de cúpula de chefes de estado na Bahia que você pode conferir no vídeo acima.

A reportagem reproduziu discurso de Lula na cúpula dizendo da oportunidade mundialmente reconhecida que a crise está gerando aos países emergentes, sobretudo aos países latino-americanos, de emergirem como atores mais importantes e influentes no cenário internacional. Já a entrevista foi com um acadêmico da PUC carioca, escolhido a dedo pela Globo para dizer o que a emissora queria.

Em certo ponto da entrevista, o tal acadêmico trata de minimizar A PRIMEIRA REUNIÃO DA HISTÓRIA COMPOSTA SÓ DE CHEFES DE ESTADO DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE. Depois, o cara afirma alguma coisa sobre “isolamento” de Hugo Chávez.

Vejam só: dos 33 países da América Latina e do Caribe, só os presidentes da Colômbia, Álvaro Uribe, e do Peru, Alan García, não compareceram à reunião e tampouco compartilharam do apoio conjunto à suspensão do embargo americano a Cuba e das moções de reprovação aos EUA adotadas pelos chefes de Estado presentes. E o que o tal acadêmico faz? Alude, de forma absurda, a um suposto isolamento de Chávez.

Aliás, o acadêmico escolhido pela Globo se omitiu de pôr em pauta, já que a dupla de jornalistas globais certamente não o faria, o que o resto da grande imprensa está tratando com escandalosa discrição. Como a Folha de São Paulo, por exemplo, que deu uma notinha ridiculamente curta sobre um fato que, se tivesse ocorrido na Venezuela de Chávez - ou em qualquer outro país sul-americano (incluindo o nosso) considerado "de esquerda" -, transformar-se-ia em descomunal polêmica.

Dêem só uma olhadinha na notinha escandalosamente discreta que a Folha publicou:
Em sessão extraordinária realizada ontem, a Câmara dos Deputados da Colômbia aprovou projeto de referendo para autorizar o presidente Álvaro Uribe a concorrer a um terceiro mandato em 2014, mas não nas eleições de 2010. O projeto precisa passar pelo Senado. A medida foi aprovada por 86 votos a 0, já que a oposição retirou-se do plenário após o governo convocar a sessão extraordinária, 20 minutos antes do começo do recesso legislativo, que vai até março. Uribe nega apoiar a proposta, mas opositores acusam o governo de atuar nos bastidores.

Hei!, cadê os editoriais e reportagens escandalizados em jornais e telejornais?! Cadê os colunistas da página A2 da Folha?! Cadê a expressão de nojo de Fátima Bernardes?! Só valem quando Lula ou Chávez ameaçam se candidatar a terceiro mandato? Sim, é isso mesmo: quando é da turma deles, o político, se quiser, pode morrer no cargo de presidente ou até de ditador que eles não abrem a boca.

Outra “pequena” amostra da manipulação pode ser vista nas manchetes de primeira página dos jornais e dos sites na internet que noticiam “demissões” em massa sem dizer (nas manchetes, não no conteúdo das matérias) que essas demissões estão ocorrendo no exterior, deixando para quem apenas passa os olhos em tais manchetes a impressão de que aquilo está acontecendo no Brasil.

Informar-se corretamente, hoje em dia, virou tarefa penosa, porque, para traçar um quadro realista dos fatos, é preciso se aprofundar tanto na grande imprensa quanto na imprensa alternativa, na qual, mais do que opiniões, destacam-se aspectos da notícia postos de lado pelos grandes veículos. O mundo está tão perigoso que é preciso tomar cuidado até com as notícias. Chega a dar desânimo.”

2 comentários:

Neri Assessoria & Marketing disse...

Encontrei alguns dias atrás uma foto-montagem muitíssima interessante no blog Beatrice.
Nela, uma moça segura uma máscara do Willian Boner e abaixo tem uma mensagem simples e inteligente: Não olhe para o mundo através dele.

Imediatamente copiei essa imagem e postei um e-mail com minhas considerações sobre a realidade dos nossos meios de comunicação e enviei a todos da minha lista de amigos, clientes, familiares e etc.
Alguns talvez não tenham entendido bem a minha iniciativa, mas estou dando minha contribuuição ao buscar abrir os olhos da turma para a realidade.

Acredito que se pudermos aumentar o nível de concientização das pessoas mais próximas e isso tomar uma dimensão em escala, muito em breve os predadores estarão sem saída!
Ou melhor, desacreditados.

Estou fazendo a minha pequena parte, afinal de de contas, amo meu país!

Voltando á foto-montagem, quero melhorar a qualidade gráfica da mesma pois irei fazer camisetas estampadas e distribuir aos meus amigos.

Fica aqui minha sugestão á todos do Democracia&Política.
Eu irei usar a minha sempre.

Me identifico totalmente com esse artigo do Sr. Eduardo Guimarães.
Parabéns pela análise!

Unknown disse...

Neri,
Gostei da sua iniciativa. Simbólica, simples, mas certeira.
Também gostei da análise do Eduardo Guimarães.
Maria Tereza