domingo, 14 de dezembro de 2008

"PRIVATIZAR AEROPORTOS É MÁ IDÉIA"

Li ontem na Folha de São Paulo, o seguinte artigo de Marcelo Ninio, enviado de Genebra

A privatização de aeroportos jamais teve sucesso. Quem faz a advertência é o diretor-geral da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), Giovanni Bisignani, para quem a única chance de o processo dar certo no Brasil é nomeando um regulador independente. Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Bisignani à Folha na sede da Iata, em Genebra. )

FOLHA - ENTRE A DISPARADA E A QUEDA DO PREÇO DO PETRÓLEO E A RECESSÃO, COMO A INDÚSTRIA AÉREA TERMINA O ANO?

GIOVANNI BISIGNANI - É difícil imaginar que tantas coisas diferentes pudessem ocorrer num mesmo ano. Fechamos 2007 de forma positiva, com um pequeno lucro. Em 2008, fomos de US$ 147 o barril de petróleo para a recessão. E isso muda totalmente o cenário para 2009. A ironia é que as empresas que tinham a contabilidade mais forte são as que mais devem sofrer, pois fizeram contratos de hedge [proteção] com o petróleo a US$ 120 por três, seis, nove meses. Claro, o Goldman Sachs falava em barril a US$ 200! Quando o preço do petróleo despencou, a situação se inverteu. As empresas americanas, por exemplo, que não tinham capacidade financeira para fazer hedge, tiveram enormes perdas em 2008, acima de US$ 3 bilhões. Mas agora estão pagando menos de US$ 50, enquanto as que fizeram hedge continuam pagando US$ 120. A força se tornou fraqueza e a fraqueza, força.

FOLHA - A QUEDA NO PREÇO DO PETRÓLEO VAI COMPENSAR O IMPACTO DA RECESSÃO?

BISIGNANI - Esta é a primeira vez que a indústria aérea enfrenta uma recessão global. Tivemos no passado choques, como o 11 de Setembro, que foi uma tragédia para a indústria, mas que durou três, quatro meses. No caso atual, temos uma recessão global. Nos dois anos posteriores ao 11 de Setembro, a perda em receita foi de US$ 22 bilhões. Só em 2009 vamos deixar de ganhar US$ 35 bilhões. É verdade que há o impacto da queda do preço do combustível, se não fosse por ele nossas perdas no próximo ano seriam bem maiores que a que prevemos hoje, de US$ 2,5 bilhões. Mas o efeito da recessão é mais prolongado. Para cobrir a queda na receita levaremos dois, três anos.

FOLHA - 32 EMPRESAS DEIXARAM DE PAGAR A TAXA DA IATA EM 2008. HÁ PREVISÃO DE MAIS QUEBRAS E FUSÕES?

BISIGNANI - A saída para muitas empresas será ou sair do mercado, ou uma fusão, ou ser comprada por outra maior. Depende do nível de capacidade.

FOLHA - O BRASIL COMEÇOU A PRIVATIZAR SEUS AEROPORTOS. É UMA BOA IDÉIA?

BISIGNANI - No papel é uma grande idéia. Mas nunca houve uma história positiva no mundo. Temos que lembrar que os aeroportos são um monopólio. Para privatizar é necessário um regulador que exija o mesmo nível de eficiência cobrado das empresas aéreas. Mas em muitos casos o regulador é primo do ministro. Torço para que o Brasil seja a primeira história de sucesso, mas acho difícil. Minha sugestão é contratar um regulador, mas tem que ser alguém independente, um professor de economia.”

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