segunda-feira, 12 de março de 2012

ALEMANHA, O PASSADO E O PRESENTE



“Há mais de 20 anos que o grande capital alemão anda a rever a História, a criminalizar as vítimas da opressão nazista e as forças que mais lhe resistiram, como a URSS, os comunistas e o movimento operário.

Por Rui Paz


Durante 45 anos, a Alemanha Federal esteve sob controle dos seus aliados militares. Os laços, que sempre ligaram o capital monopolista ao regime hitleriano, derrotado em 1945, estão bem visíveis não só nas dinastias de industriais e banqueiros que transitaram do nazismo para a República Federal, mas também no elevado número de altos dirigentes do Estado que fizeram carreira em ambos os regimes.

Recordar algumas dessas figuras mais significativas é importante para se compreender a nova vaga de ataques aos direitos dos trabalhadores e de desrespeito pela soberania dos povos desencadeada por Berlim desde a chamada “unificação”.

Palácio do Reichstag, Berlim

O primeiro presidente da República da Alemanha, Theodor Heuss, foi um dos deputados que, em 23 de março de 1933, votou, no “Reichstag”, a lei que deu a Hitler plenos poderes (Ermächtigunsgesetz). O seu sucessor será Heinrich Lübke, construtor de campos de concentração e de centros de trabalho escravo no III Reich. Após curto interregno, seguir-se-ão Walter Schell e Karl Carstens, ambos antigos membros do partido de Hitler, o NSDAP. Kurt Georg Kiesinger, membro do partido nazista desde fevereiro de 1933, será chanceler da Alemanha entre 1966 e 1969.

A subida de Hans Globke ao cargo de secretário de Estado da chancelaria de 1953 a 1963 veio demonstrar não haver limites para a recuperação de nazistas pelo regime de Adenauer. Globke foi o comentador oficial das leis racistas de Nuremberg, cuja finalidade era a defesa da pureza do sangue e da superioridade da raça ariana. Enquanto nazistas ocupavam cada vez mais importantes funções políticas, o governo de Bonn ilegalizava em 1956 o Partido Comunista Alemão (KPD) e desencadeava nova vaga de perseguições contra os comunistas.

Um Estado como a Alemanha Federal, fundado sob a proteção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) por “democratas” que serviram um regime de terror, refletirá, forçosamente, na sua doutrina e comportamento, os princípios avessos à igualdade de direitos e ao respeito pela soberania dos povos.

Se lançarmos olhar muito breve sobre a Alemanha de hoje, o que verificamos? Tribunais que proíbem greves, como aconteceu nestes dias com os controladores aéreos no aeroporto de Frankfurt. Serviços secretos que espionam ideologicamente milhares de cidadãos e registram em ficheiros as suas convicções políticas. Anticomunismo de Estado, visando a criminalizar as forças que procuram alternativas para o capitalismo e novos caminhos para uma sociedade mais justa e mais democrática.

Promiscuidade entre os serviços secretos e organizações terroristas de extrema-direita, permitindo, durante mais de 10 anos, o assassínio impune de estrangeiros e a prática de atentados racistas. Dois presidentes da República demitidos, no espaço de ano e meio. O primeiro, por ter confirmado que as tropas alemãs no Afeganistão defendem os interesses econômicos da Alemanha e o segundo, possuidor de uma infinidade de “amigos” empresários prestadores de tais favores que o Ministério Público se viu obrigado a intervir. Mas a surpresa não será menor face à decisão do “partido único europeu da Alemanha” (constituído pela CDU, SPD, Liberais e Verdes) de escolher, como candidato conjunto a presidente da República, um pastor protestante visceralmente anticomunista.

É nos momentos de crise do sistema capitalista que a verdadeira natureza reacionária, obscurantista e de classe dos estados imperialistas se revela."

FONTE: escrito por Rui Paz, colunista do “ODiario.info”, de Portugal. Transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=177592&id_secao=9) [imagens do google adicionadas por este blog ‘democracia&política’]

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