quarta-feira, 12 de março de 2014

AS CONSPIRAÇÕES DA MÍDIA




Quando os grupos de mídia passam a conspirar

Por Luis Nassif

"O mês de aniversario do Golpe Militar de 1964 provocou uma explosão de manifestações, seminários e grupos de trabalho visando a esclarecer as circunstancias históricas e políticas daqueles episódios.

Até agora, no entanto, passou em branco o papel dos grupos de mídia no episódio.

Os fundadores da democracia norte-americana pensaram em três instituições - Executivo, Judiciário e Legislativo - controlando-se através do sistema de freio e contrapesos. E a supervisão geral seria dos grupos sociais genericamente denominados de "opinião publica" que, pelo voto, escolheriam os governantes.

A instituição incumbida de sistematizar a informação e dar voz à opinião pública foram os jornais. A imprensa local se alastra pelos Estados Unidos proporcionando diversidade cultural, política e reforçando a crença no modelo instituído.

As novas tecnologias provocaram uma mudança radical no modelo.

Com o monopólio das transmissões de telégrafo, a "Western Telegraph" funda a primeira agência de notícias, a "Associated Press", a consegue abrangência nacional. Usa o poder obtido para eleger em 1877 o presidente republicano Rutherford Hayes em um episódio retratado como “a fraude do século”.

Depois, o avanço da telefonia permitiu a montagem das redes nacionais e aí, além da homogeneização da notícia e da opinião, os cabeças de rede traziam os grandes anunciantes nacionais. As redes de "TM consolidadm" o modelo de empresa de mídia, um misto de jornalismo, show e marketing, que se transforma no mais influente formador de opinião não só nos EUA como no Brasil, superando a influência das igrejas, sindicatos e partidos políticos.

Duas novas revoluções tecnológicas enfraquecem o modelo. A primeira, a da TV fechada. A segunda, muito mais ampla, da Internet, acabando com o cartel das concessões do espaço público.

Em pelo menos três episódios de intensa politização da mídia, o que estava por trás eram as estratégias para enfrentar as novas tecnologias: o golpe de 64 no Brasil; a campanha contra Barack Obama, nas eleições norte-americanas; e a campanha sistemática dos grupos de mídia a partir de 2005.

Nos anos 60, os grupos de mídia temiam o avanço de novos grupos através das redes de TV aberta. Nos anos 2010, o risco é a perda de controle para os grupos de telecomunicações e para as redes sociais.

O australiano radicado nos EUA Rupert Murdoch definiu o modelo de atuação das empresas de mídia: lançar um candidato à presidência, desenvolver um discurso virulento (que foi pedir emprestado do grupo de ultradireita "Tea Party") e levar a disputa para o campo político. Barack Obama enfrentou a pior campanha difamatória da história dos EUA.

Esse modelo foi replicado no Brasil a partir da experiência de Roberto Civita na revista "Veja". Nesse período, as empresas de mídia trouxeram de volta o fantasma da guerra fria, da suposta cubanização do Brasil, da ditadura do proletariado.

Menos do que uma guerra ideológica, essas campanhas denotavam apenas uma estratégia empresarial de um setor que foi irremediavelmente atropelado pelas novas tecnologias."

FONTE: escrito por Luis Nassif em seu blog no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/noticia/quando-os-grupos-de-midia-passam-a-conspirar).

2 comentários:

Dante_RJ disse...

Em determinado momento, conversando entre amigos, percebemos como a nossa constituição se trata de uma colcha de retalho, muito bem costurada na minha humilde opinião, mas sem espírito, aceitamos influências americanas, alemães e francesas, mas não vivenciamos (como povo) de suas construções revolucionárias.
Daí o conceito de opinião pública se desfaz a cada geração à medida que vemos a falência do ensino no país, estamos andando a passos largos do analfabetismo funcional, perdendo totalmente o exercício da crítica. Por isso, doar este papel de opinião pública para a imprensa ficou mais fácil, afinal a mídia já pensa por nós; não nos interessa saber se a opinião da mídia é razoável ou não, aliás deve ser razoável, se consumimos de bom grado tudo que produzem provavelmente concordaremos com tudo que eles decidirem.
Ao concluirmos de que se trata de um serviço com interesse privado de comunicação observaremos que não há falta de ética em se utilizar esta ferramenta para manipular a mente da população. Vejo na verdade falta de ética nossa na omissão de emitirmos nossa opinião até o ponto de alcançarmos a ausência de opinião. Em suma, não há vilões, tudo faz parte do jogo político, o problema que como sociedade facilitamos demais esta rodada.

Unknown disse...

Dante,
Interessantes suas reflexões.
Certamente, a solução sempre passa pela melhora no ensino, grande parte hoje em mãos privadas, que têm o lucro como objetivo maior.
Também, é grave problema a falta de regulamentação, a ausência de compromisso e controle social na mídia brasileira, que é mero instrumento de grandes grupos financeiros e econômicos estrangeiros e de seus países sede. É irresponsabilidade nossa deixar o monopólio da "opinião publicada" com essa mídia manipuladora não comprometida com os interesses da população brasileira.
Maria Tereza