TERCEIRO TURNO OU DEMOCRACIA
Por MARCELO ZERO (artigo publicado no Blog de Paulo Moreira Leite)
"Se Aécio tivesse sido vitorioso, conservadores estariam celebrando vitória sobre "lulopetismo" em vez de flertar com a ingovernabilidade.
Tivesse Aécio Neves sido eleito, ainda que fosse por margem menor, a imprensa conservadora se apressaria em saudar a "grande vitória" e vaticinaria, com incontida alegria, a morte do "lulopetismo". Falariam num novo começo de grande legitimidade cívica.
Por MARCELO ZERO (artigo publicado no Blog de Paulo Moreira Leite)
"Se Aécio tivesse sido vitorioso, conservadores estariam celebrando vitória sobre "lulopetismo" em vez de flertar com a ingovernabilidade.
Tivesse Aécio Neves sido eleito, ainda que fosse por margem menor, a imprensa conservadora se apressaria em saudar a "grande vitória" e vaticinaria, com incontida alegria, a morte do "lulopetismo". Falariam num novo começo de grande legitimidade cívica.
Mas, como foi eleita Dilma, superando, na reta final, o golpe midiático articulado por "Veja" et caterva, questiona-se a vitória e fala-se em "país dividido". Desse modo, flerta-se abertamente com a ingovernabilidade e com golpes "brancos" ou de qualquer outra cor.
Dilma, corretamente, comprometeu-se com a conciliação e o diálogo. Tal compromisso não se deve à margem estreita da vitória, que não a torna menos legítima que uma votação avassaladora, mas sim ao fato óbvio de que o país está muito polarizado e atravessa uma conjuntura pouco favorável.
Nesses casos, a democracia recomenda, sim, intenso diálogo e paciente tolerância.
Em democracias maduras, as polarizações normais das campanhas são rapidamente absorvidas, após os pleitos, em processos de negociação e de articulação de consensos mínimos. A situação governa, a oposição continua a fazer oposição, mas ninguém aposta na ingovernabilidade e no enfraquecimento da democracia e suas instituições.
A democracia tem regras. Não é vale-tudo.
A principal regra para o vencedor é admitir que, ao tornar-se governante de todo o país, de quem recebeu votos e de quem não recebeu, deve-se comprometer com o diálogo, escutando todas as vozes, sem abrir mão da prerrogativa legítima de decidir.
A principal regra para o vencido é admitir a derrota e respeitar o resultado das urnas, sem abrir mão de fazer oposição pacífica, legítima e democrática.
Dilma está fazendo a sua parte, como vencedora legítima que é. Já a oposição parece ter dúvidas sobre o rumo a seguir.
Aécio, de forma responsável, reconheceu a derrota e também falou na necessidade de união. Mas o seu vice afirma que não haverá "lua de mel" ou "tréguas". Argumenta ele que sofreu, na campanha, com mentiras divulgadas pelo internet.
Bom, se esse é o critério, Dilma e o PT deveriam ser os primeiros a propor guerra, pois vêm sofrendo, há anos, uma sórdida campanha de mentiras e difamações, divulgadas não apenas pela internet, mas também por setores virulentos e antidemocráticos da grande mídia.
O vice [de Aécio] parece não estar só. Há setores radicais da oposição e colunistas da grande imprensa falando abertamente na possibilidade de impeachment e na incapacidade da presidenta de governar um país dividido. Nas redes sociais, multiplicam-se as mensagens de ódio desavergonhado contra nordestinos, pobres e "petralhas". Há também mensagens histéricas contra o "bolivarianismo e o comunismo que tomaram conta do Brasil".
Tudo isso é bastante caricato. O ressurgimento extemporâneo da Guerra Fria é francamente risível. Até mesmo porque os governos do PT são bastante moderados. Misturam neodesenvolvimentismo de matiz cepalina com a clássica agenda socialdemocrata de repartição da renda, eliminação da pobreza e construção do Estado do Bem-Estar. Isso só é radical aos olhos dos xiitas da desigualdade e dos privilégios.
Mas não podemos rir. Há uma triste aposta política por trás desses fenômenos. A aposta na ingovernabilidade e na instabilidade que conduzam á inviabilização do mandato legitimamente conquistado. A aposta num terceiro turno das eleições. A aposta de que Dilma não conseguirá governar e terá de sair antes de 2018. Antes que Lula possa concorrer às eleições.
É uma aposta bastante perigosa, que já vitimou muitos países, vizinhos inclusive. A oposição e a mídia conservadora detestam a Venezuela, porém há setores delas que parecem empenhados em reproduzir aqui o paroxismo político que Leopoldo López levou àquele país, com consequências nefastas para a sua democracia.
Tais tentativas de tomar o poder por meios violentos, ainda que sem a concorrência clássica das forças armadas, mostram desapreço pela democracia e suas instituições. O mesmo desapreço exibido recentemente pela Câmara, que votou para derrubar um decreto que aperfeiçoa a democracia brasileira, regulamentando a imprescindível e já existente participação popular no governo. Feriu-se a democracia participativa, prevista na Constituição, com a finalidade única e grosseira de derrotar o governo.
Isso mostra que a presidenta terá de fundamentar mais a sua governabilidade no oxigênio das ruas e menos nos corredores abafados de um Parlamento conservador.
Mostra também que a oposição, ou seus setores mais primitivos, ainda não escolheram se apostarão na democracia ou num canhestro e perigoso terceiro turno. Se apostarão com o cérebro ou com a bílis negra de um fígado castigado pelas batalhas eleitorais.
Caso prevaleça a aposta desastrada, resulta difícil prever suas consequências políticas futuras.
Não obstante, uma coisa é certa.
Dilma, corretamente, comprometeu-se com a conciliação e o diálogo. Tal compromisso não se deve à margem estreita da vitória, que não a torna menos legítima que uma votação avassaladora, mas sim ao fato óbvio de que o país está muito polarizado e atravessa uma conjuntura pouco favorável.
Nesses casos, a democracia recomenda, sim, intenso diálogo e paciente tolerância.
Em democracias maduras, as polarizações normais das campanhas são rapidamente absorvidas, após os pleitos, em processos de negociação e de articulação de consensos mínimos. A situação governa, a oposição continua a fazer oposição, mas ninguém aposta na ingovernabilidade e no enfraquecimento da democracia e suas instituições.
A democracia tem regras. Não é vale-tudo.
A principal regra para o vencedor é admitir que, ao tornar-se governante de todo o país, de quem recebeu votos e de quem não recebeu, deve-se comprometer com o diálogo, escutando todas as vozes, sem abrir mão da prerrogativa legítima de decidir.
A principal regra para o vencido é admitir a derrota e respeitar o resultado das urnas, sem abrir mão de fazer oposição pacífica, legítima e democrática.
Dilma está fazendo a sua parte, como vencedora legítima que é. Já a oposição parece ter dúvidas sobre o rumo a seguir.
Aécio, de forma responsável, reconheceu a derrota e também falou na necessidade de união. Mas o seu vice afirma que não haverá "lua de mel" ou "tréguas". Argumenta ele que sofreu, na campanha, com mentiras divulgadas pelo internet.
Bom, se esse é o critério, Dilma e o PT deveriam ser os primeiros a propor guerra, pois vêm sofrendo, há anos, uma sórdida campanha de mentiras e difamações, divulgadas não apenas pela internet, mas também por setores virulentos e antidemocráticos da grande mídia.
O vice [de Aécio] parece não estar só. Há setores radicais da oposição e colunistas da grande imprensa falando abertamente na possibilidade de impeachment e na incapacidade da presidenta de governar um país dividido. Nas redes sociais, multiplicam-se as mensagens de ódio desavergonhado contra nordestinos, pobres e "petralhas". Há também mensagens histéricas contra o "bolivarianismo e o comunismo que tomaram conta do Brasil".
Tudo isso é bastante caricato. O ressurgimento extemporâneo da Guerra Fria é francamente risível. Até mesmo porque os governos do PT são bastante moderados. Misturam neodesenvolvimentismo de matiz cepalina com a clássica agenda socialdemocrata de repartição da renda, eliminação da pobreza e construção do Estado do Bem-Estar. Isso só é radical aos olhos dos xiitas da desigualdade e dos privilégios.
Mas não podemos rir. Há uma triste aposta política por trás desses fenômenos. A aposta na ingovernabilidade e na instabilidade que conduzam á inviabilização do mandato legitimamente conquistado. A aposta num terceiro turno das eleições. A aposta de que Dilma não conseguirá governar e terá de sair antes de 2018. Antes que Lula possa concorrer às eleições.
É uma aposta bastante perigosa, que já vitimou muitos países, vizinhos inclusive. A oposição e a mídia conservadora detestam a Venezuela, porém há setores delas que parecem empenhados em reproduzir aqui o paroxismo político que Leopoldo López levou àquele país, com consequências nefastas para a sua democracia.
Tais tentativas de tomar o poder por meios violentos, ainda que sem a concorrência clássica das forças armadas, mostram desapreço pela democracia e suas instituições. O mesmo desapreço exibido recentemente pela Câmara, que votou para derrubar um decreto que aperfeiçoa a democracia brasileira, regulamentando a imprescindível e já existente participação popular no governo. Feriu-se a democracia participativa, prevista na Constituição, com a finalidade única e grosseira de derrotar o governo.
Isso mostra que a presidenta terá de fundamentar mais a sua governabilidade no oxigênio das ruas e menos nos corredores abafados de um Parlamento conservador.
Mostra também que a oposição, ou seus setores mais primitivos, ainda não escolheram se apostarão na democracia ou num canhestro e perigoso terceiro turno. Se apostarão com o cérebro ou com a bílis negra de um fígado castigado pelas batalhas eleitorais.
Caso prevaleça a aposta desastrada, resulta difícil prever suas consequências políticas futuras.
Não obstante, uma coisa é certa.
Num terceiro turno, os grandes derrotados seriam o Brasil e sua democracia."
FONTE: escrito por MARCELO ZERO. Artigo publicado no Blog de Paulo Moreira Leite e transcrito no "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/158845/Terceiro-turno-ou-democracia.htm).
FONTE: escrito por MARCELO ZERO. Artigo publicado no Blog de Paulo Moreira Leite e transcrito no "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/158845/Terceiro-turno-ou-democracia.htm).
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