O jornal Folha de São Paulo publicou ontem o seguinte artigo de Antonio Delfim Netto:
“Um pouco de história ajuda a relativizar a gravidade da crise que estamos vivendo. Ela não será o "fim do mundo"!
"Desde 1790, há registros confiáveis da "variação da conjuntura", que sempre obedeceu a movimentos cíclicos irregulares, com períodos e intensidade variáveis.
Pode-se (até 2008) contar pelo menos 46 desses ciclos, com períodos contracionistas da ordem de 20 meses.
Uns leves, outros profundos, mas, de todos, a chamada "economia de mercado" saiu mais forte.
De cada um deles, pelo diálogo entre a realidade e a teoria econômica que pretende entendê-la, ela saiu melhorando suas instituições.
Todas as organizações sociais e econômicas alternativas até agora "inventadas" por cérebros peregrinos mostraram-se menos eficientes na produção e menos compatíveis com a liberdade individual. De crise em crise, aproveitando a imaginação criadora do homem e a sua liberdade de iniciativa, a economia de mercado nos levou (no que respeita a produção material), em dois séculos, da Idade da Pedra à Idade da Informática.
As crises são ínsitas ao sistema.
Elas nunca têm as mesmas causas, porque a teoria econômica ajuda na construção de instituições que previnem a sua repetição. Mas o fato é que a superação de uma delas já traz em si o germe da próxima. A última, fortíssima (1979/83), foi supostamente causada pelo "excesso de regulamentação"; a atual é, aparentemente, produto da "falta de regulamentação"...
Desde a sua origem, o conhecimento econômico se divide em duas concepções diferentes.
Uma atribui aos "mercados" virtudes quase divinas e capazes de produzir a eficiência alocativa e, simultaneamente, a harmonia geral.
Outra vê nos mercados um eficiente mecanismo alocativo, mas incapaz de produzir harmonia.
A organização produtiva pelos mercados traz consigo a eficiência e, também, uma tríade diabólica: a flutuação do nível de atividade (e, logo, do emprego), a incapacidade de reduzir na velocidade desejada o nível de pobreza e a tendência a aumentar a desigualdade na distribuição da riqueza produzida. É essa diferença que divide os estadofóbicos dos estadólatras, nenhum dos quais, obviamente, portador da verdade.
O Brasil apenas recentemente recuperou o "espírito do desenvolvimento" e superou os fatores que poderiam matá-lo: a falta de energia ou o déficit não-financiável do balanço em conta corrente.
Seria uma pena destruí-lo por falta de imaginação e pânico com a atual crise externa...”
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