sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

APESAR DAS PROMESSAS, OBAMA DEVE MANTER OCUPAÇÃO DO IRAQUE

Li ontem no site “vermelho”, com texto tomado do UOL Mídia Global, o seguinte artigo de Thom Shanker, publicado no The New York Times:

“Durante a campanha eleitoral, o senador Barack Obama assumiu um compromisso que entusiasmou e motivou a sua base liberal, prometendo ''acabar com a guerra'' no Iraque.

Mas, à medida que aproxima-se o dia de ele ocupar a Casa Branca, Obama vem deixando mais claro do que nunca que dezenas de milhares de soldados norte-americanos permanecerão no Iraque, ainda que ele seja capaz de cumprir a sua promessa de campanha de retirar todas as forças de combate dentro de 16 meses.

''Eu disse que removeria as nossas tropas de combate do Iraque em 16 meses, com o entendimento de que poderia ser necessário - e provavelmente será necessário - manter uma força residual para fornecer potencial treinamento e apoio logístico e proteger os nossos civis no Iraque'', disse Obama nesta semana, ao apresentar a sua equipe de segurança nacional.

Pelo menos publicamente, Obama não estabeleceu um número preciso para essa ''força residual'', um termo que certamente tornar-se-á peça central do debate futuro sobre o Iraque, embora um dos seus assessores de segurança nacional, Richard Danzig, tenha dito durante a campanha que isso poderia significar algo entre 30 mil a 50 mil soldados. E Obama tampouco estabeleceu qualquer prazo além dos 16 meses para retirada de tropas, nem indicou quando acredita que poderia chegar a hora de declarar o fim da guerra.

Enquanto isso, os estrategistas militares estão elaborando propostas de cronogramas com o objetivo de atender tanto a meta de Obama para a retirada de tropas de combate até maio de 2010, quando a data de 31 de dezembro de 2011, quando, de acordo com o novo acordo entre os Estados Unidos e o governo do Iraque, o restante das tropas norte-americanas deverá ser enviado para casa.

O acordo sobre o status das tropas continua sujeito a mudanças, com consentimento mútuo, e estrategistas do exército admitem reservadamente que estão examinando projeções segundo as quais um contingente de 30 mil a 50 mil soldados - e, segundo alguns, de até 70 mil - poderia permanecer por um período substancial, mesmo depois de 2011.

De acordo com esses estrategistas militares, mesmo com a redução das tropas norte-americanas de combate e a passagem de mais províncias ao controle iraquiano, as forças de segurança iraquianas continuarão dependendo de uma quantidade significativa de norte-americanos para treinamento, suprimentos, logística, inteligência e transporte durante muito tempo.

Sempre houve uma tensão, ou até mesmo um pouco de contradição, nas duas partes daquela plataforma de campanha de Obama que previa ''acabar com a guerra'' com a retirada de todas as tropas de combate até maio de 2010. É verdade que Obama teve o cuidado de afirmar que a retirada que prometia incluía apenas tropas de combate. Mas os eleitores que fixaram-se na linguagem sobre o término da guerra podem ser desculpados caso tenham pensado que isso significaria trazer todas as tropas para casa.

Os estrategistas do Pentágono dizem que é possível que o objetivo de Obama possa ser atingido pelo menos em parte com novas designações para algumas unidades, de forma que aquelas que atualmente são contabilizadas como tropas de combate pudessem passar por uma ''alteração de missão'', sendo redefinidas como tropas de treinamento e apoio aos iraquianos.

Atualmente há no Iraque 15 brigadas definidas como tropas de combate, sendo que uma delas está a caminho de casa. Mas o número efetivo de militares equivale a mais de 50 brigadas, ou um total de 146 mil soldados, incluindo tropas de apoio e de serviços.

Mesmo agora, após a partida das cinco brigadas extras que o presidente Bush enviou ao Iraque em janeiro de 2006, a quantidade de soldados no Iraque continua sendo maior do que quando Bush ordenou o aumento das tropas, devido ao número de militares que permanecem desempenhando funções de apoio e serviço.

Na sua coletiva à imprensa na última segunda-feira, Obama frisou a sua disposição de escutar os conselhos de autoridades graduadas e da sua nova equipe de segurança nacional, que inclui o secretário de Defesa, Robert M. Gates, o primeiro chefe do Pentágono na história a continuar servindo sob um novo presidente eleito; o almirante Mike Mullen, comandante do Estado Maior Conjunto; e, como assessor de Segurança Nacional, o general James L. Jones, o oficial da reserva do Corpo de Fuzileiros Navais que atuou como comandante supremo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Desde a eleição, Obama fez consultas não anunciadas a Gates e a Mullen. Segundo assessores de Obama e autoridades do Pentágono, tais consultas concentraram-se menos em táticas e operações, e mais em visões amplas e estratégicas a respeito da segurança nacional dos Estados Unidos. Na quarta-feira (03/10), ele telefonou para Nouri Kamal al-Maliki, o primeiro-ministro iraquiano, segundo a equipe de transição do presidente eleito.

Até o momento, não houve nenhuma crítica significativa por parte da esquerda anti-guerra do Partido Democrata à perspectiva de que Obama mantenha milhares de soldados no Iraque por no mínimo mais vários anos.

No Pentágono e nos comandos militares no Iraque, a resposta às declarações feitas por Obama e a sua equipe de segurança nacional nesta semana resultaram em uma espécie de suspiro de alívio coletivo. As palavras do presidente deram a entender que ele adotará uma abordagem conservadora em relação à questão da quantidade de soldados no Iraque.

''Acredito que 16 meses seja o período correto, mas, tenho dito consistentemente que ouvirei as recomendações dos meus comandantes'', disse Obama na coletiva da segunda-feira. ''E a minha prioridade número um é garantir que as nossas tropas continuem seguras nesta fase de transição, e que o povo iraquiano seja bem atendido por um governo que está assumindo uma responsabilidade cada vez maior pela sua própria segurança''.

Aparentemente, houve modificação do pensamento de Obama em relação aos comentários feitos por ele em julho último, quando o então candidato convocou uma entrevista coletiva à imprensa e expôs de forma clara a sua política para o Iraque.

''Eu pretendo acabar com essa guerra'', disse ele na ocasião. ''No meu primeiro dia no cargo, convocarei os membros do Estado Maior Conjunto e darei a eles uma nova missão. A missão de acabar com essa guerra, de forma responsável e deliberada, mas decisiva''. E em uma outra entrevista coletiva à imprensa naquele mês, em Amã, na Jordânia, Obama reconheceu que o aumento do número de soldados norte-americanos melhorou a segurança iraquiana, mas declarou que não hesitaria em passar por cima de opiniões de comandantes militares e redirecionar as tropas para o Afeganistão.

Falando na última terça-feira no Pentágono, um dia após ter aparecido com Obama para anunciar a nova equipe de segurança nacional, Gates deixou claro que os patamares relativos às tropas já foram decididos, e afirmou que as únicas decisões restantes a serem tomadas dizem respeito à velocidade e ao número mínimo de soldados.

''Portanto, a questão é determinar como faremos isto de uma forma responsável'', afirmou Gates. ''E ninguém quer colocar em risco os ganhos que obtivemos até agora, com tanto sacrifício por parte dos nossos soldados e dos iraquianos''.”

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