quarta-feira, 28 de julho de 2010

LULA FALA SOBRE IGUALDADE RACIAL E UNIVERSIDADE LUSO-AFRO-BRASILEIRA

Programa de rádio “Café com o Presidente”, com o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, Rádio Nacional, 26 de julho de 2010

Luciano Seixas: Olá, você em todo o Brasil. Eu sou Luciano Seixas e começa agora o “Café com o Presidente”, o programa de rádio do presidente Lula. Olá, Presidente, como vai? Tudo bem?

Presidente:
Tudo bem, Luciano.

Luciano Seixas: Presidente, o senhor sancionou a lei que cria o Estatuto da Igualdade Racial, na terça-feira passada. Qual a importância dessa lei?

Presidente:
Olha, Luciano, primeiro, a importância da lei é garantir que neste país, a partir de agora, não exista nenhuma diferença entre negros e brancos. Na verdade, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, transformado em lei, vem reforçar aquilo que a gente já tinha previsto na Constituição de 1988: fazer do Brasil uma República efetivamente democrática em que todos, sem distinção, sejam tratados em igualdade de condições. O que é importante é que esse projeto levou mais de dez anos para ser aprovado no Congresso Nacional, foi um trabalho imenso. Eu lembro que na primeira Conferência da Igualdade Racial, eu chamava a atenção para [de] todos os movimentos que representam a comunidade negra brasileira, que era preciso que eles se unissem e que eles construíssem um único estatuto para que o Congresso pudesse aprovar, porque enquanto tivesse vários pensamentos sobre estatuto no meio do movimento, eles se refletiam no Congresso Nacional e, se refletindo divergências no Congresso Nacional, seria muito difícil que fosse aprovado o Estatuto da Igualdade Racial.

Então, a sabedoria do movimento e o aprendizado que nós tivemos nesses últimos anos – um trabalho muito forte do ministro Eloi (Ministro da Igualdade Racial) – fizeram com que a gente construísse uma proposta única, que foi aprovada na Câmara e que foi aprovada no Senado, e isso, então, pôde ser aprovado, transformado em lei. Não é tudo o que a gente quer, ainda faltam coisas para a gente fazer, mas é importante que a gente tenha clareza de que hoje nós temos o Estatuto da Igualdade Racial, nós temos uma lei que dá mais direitos, que recupera a cidadania do povo negro brasileiro. É importante a gente nunca esquecer que nós ficamos 380 anos praticando escravidão neste país. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão.

Acho que nós temos uma dívida enorme com o continente africano, com o povo africano. É uma dívida que a gente nunca vai poder pagar em dinheiro. A gente vai poder pagar em solidariedade, em ajuda humanitária, em ajuda ao desenvolvimento, em ajuda no conhecimento científico e tecnológico que o Brasil tem a ajudar o povo da África. Assim como o Brasil, todos aqueles que conseguiram crescer colocando em prática a política, eu diria, intolerável da escravidão.

Ao mesmo tempo, nós temos que agradecer sempre à miscigenação, à alegria, à bondade, ao jeito da gente ser, ao gostar de carnaval, ao gostar de dançar, ao gostar de futebol, ao sorriso, ao tratamento que a gente tem com todo mundo que frequenta o Brasil. É tão extraordinário, que eu acho que tudo isso nós devemos a essa mistura fantástica entre negros, índios e europeus.

Luciano Seixas: Você está ouvindo o “Café com o Presidente”, o programa de rádio do presidente Lula. Presidente, na mesma ocasião o senhor sancionou a lei que cria a Universidade Luso-Afro-Brasileira. Como ela vai funcionar?

Presidente:
Olha, eu penso que... nós já tínhamos criado a Universidade da América Latina, uma universidade que vai atender estudantes latino-americanos, com currículo latino-americano, com professores latino-americanos, para contar a história da América Latina. No fundo, no fundo, é a maior contribuição que a gente pode dar à integração da América Latina. Eu fico sempre me perguntando como é que Cuba, um país pobre, de apenas 11 milhões de habitantes, consegue ter universidades que atendem gente do mundo inteiro, e um país do tamanho do Brasil não pode ter? Nós vamos construir uma universidade luso-afro-brasileira na cidade de Redenção, no estado do Ceará, cidade esta que foi a primeira onde houve o movimento pela libertação da escravidão no Brasil. É uma universidade que nós pretendemos que ela tenha por volta de 10 mil alunos: 5 mil alunos africanos e 5 mil alunos brasileiros. No início, a lei está aprovada para atender alunos dos países africanos de língua portuguesa. Eu acho que nós temos que ampliar para todo o continente africano, para que a gente possa atender um pouco de alunos de cada país africano, para a gente formar a capacidade intelectual: ajudar a formar engenheiros, médicos, enfermeiras. E essa universidade é para isso, é para a gente formar profissionais, é para a gente fazer uma espécie de pagamento de tributos que nós temos com o continente africano e ajudar o continente africano. É o Brasil assumindo a sua grandeza, é o Brasil assumindo a condição de um país que a vida inteira foi receptor e agora é um país doador. Nós queremos ajudar os outros a se desenvolverem. Por isso eu fiquei extremamente feliz quando o Senado aprovou a criação da Unilab.

Luciano Seixas: Muito obrigado, presidente Lula, e até a semana que vem.

Presidente:
Até a semana que vem, Luciano, se Deus quiser.

Luciano Seixas: Você pode acessar este programa em www.cafe.ebc.com.br. O “Café com o Presidente” volta na próxima segunda-feira. Até lá.”

FONTE: Blog do Planalto (http://blog.planalto.gov.br/)

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