quinta-feira, 12 de abril de 2012

Emir Sader: [10 anos do] GOLPE DE 2002 NA VENEZUELA - A “PRAIA GIRON” DA MÍDIA GOLPISTA

Apoiado pelos EUA e mídia direitista, o golpista Pedro Carmona derrubou o governo eleito Chávez

“A mídia latino-americana sempre foi golpista. Representante das oligarquias do continente, dirigida por um punhado de famílias (todo país tem seus Frias, Mesquitas, Marinhos, Civitas), sempre esteve envolvida nos golpes militares contra a democracia no continente, do lado dos EUA.

Se a OEA foi chamada por Fidel de “Ministério das Colônias dos EUA”, a SIP (“Sociedade Interamericana de Imprensa”) é seu “Ministério de Comunicação para as Colônias”. Sempre coordenou a ação da mídia nos golpes militares e nas campanhas contra os governos democráticos do continente.

Antes mesmo da campanha que levou Getúlio ao suicídio, em 1954, e que derrubou Perón em 1955, a mídia já tinha sido participante fundamental no sangrento golpe na Guatemala, em 1954, que levou esse país a se tornar, nas décadas seguintes, naquele que sofreu os maiores massacres em um continente cheio de massacres.

Há exatamente 10 anos atrás, a mídia venezuelana mobilizou e convocou um golpe militar contra Hugo Chávez. O movimento chegou a ter sucesso imediato. Uma TV escandinava pode produzir "A revolução não será televisionada”, documentário já tornado um clássico do cinema de documentário sobre a América Latina (*) [Ver o vídeo do documentário (01h14) na "complementação" ao final desta postagem]. O presidente da FIESP de lá foi nomeado presidente da ditadura que pretendia se instalar, e era saudado, no Palácio Presidencial, pelos chefes da Igreja católica, pelos donos das empresas de comunicação, pelos dirigentes dos partidos de direita, enquanto Hugo Chávez era levado por militares para uma ilha e pressionado para assinar sua renúncia.

Assim que soube do golpe, o povo desceu maciçamente às ruas, dirigiu-se ao Palácio, derrubou as grades e entrou no prédio. Assiste-se, nesse momento, no documentário, os chefes do golpe fugirem rapidamente pelas portas laterais do Palácio, enquanto o povo penetra nele.

Povo invadiu o Palácio do Governo. Golpistas fugiram

As TVs e rádios golpistas, simplesmente, deixaram de dar notícias e passaram a projetar desenhos animados. O fugaz presidente golpista tentou enganar a CNN dando entrevista como se estivesse ainda no Palácio Presidencial, mas o próprio entrevistador lhe disse que sabia que ele já estava num quartel, fugindo. A “Nem Veja, Nem Leia”, eufórica, deu mais um “furo: sua edição da semana saiu, no sábado cedo, com a notícia do golpe que teria derrubado Hugo Chávez como a grande matéria de capa... (Nenhum meio tradicional de comunicação brasileiro, todos com DNA de golpistas, agora recordou os 10 anos do golpe fracassado na Venezuela.)

Embora houvesse já uma doutrina e um acordo dos governos do continente para se oporem aos golpes militares, sentiu-se o silêncio ou a cumplicidade e, salvo Cuba, não houve protestos contra a derrubada de um presidente legalmente eleito no continente. O povo venezuelano fez justiça com suas próprias mãos e recolocou Hugo Chavez na presidência do país, para a qual tinha sido eleito por seu voto.

A volta de Chávez

O golpe de 11 de abril de 2002 foi, para a mídia golpista latino-americana, o que a também fracassada invasão [pela CIA] "de Praia Giron" foi para o imperialismo norte-americano: sua primeira grande derrota, que demonstrou que o povo do continente não aceitava mais que ela pusesse e tirasse governantes no continente. Que agora é o povo quem decide seu destino na América Latina.”

(*) COMPLEMENTAÇÃO deste blog 'democracia&política':  documentário de TV escandinava intitulado "A revolução não será televisionada” (fonte: Youtube http://www.youtube.com/embed/MTui69j4XvQ):



FONTE: postado pelo cientista político Emir Sader no site "Carta Maior"  (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=947 [Imagens do Google e vídeo adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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