terça-feira, 5 de junho de 2012

Ombusdman da “Folha”: “SEGREDOS DE HOJE... E DE ONTEM“

[Gilmar Mendes e Demóstenes Torres, principais acusadores do inexistente grampo, pretexto usado pela mídia e oposição para desencadear “impeachment" de Lula em 2008]

Por Suzana Singer, na “Folha”

COBERTURA DO ENCONTRO ENTRE GILMAR MENDES E LULA FOI FRACA E NÃO RETOMOU O MISTÉRIO DO GRAMPO DE 2008

“Na cobertura dessa "briga de cachorro grande" entre Gilmar Mendes e Lula, como definiu precisamente um leitor, a ‘Folha’ não se saiu bem.

Foi a "Veja" que revelou o encontro entre o ministro do Supremo Tribunal Federal e o ex-presidente, ocorrido há um mês no escritório de Nelson Jobim, mas os jornais correram para recuperar o "furo" no próprio domingo. A “Folha”, sem conseguir falar com Jobim e Lula, editou a notícia timidamente.

No dia seguinte, a “Folha.com” continuava “ignorando” [por conveniência ideológico-partidária] que o ex-ministro da Defesa, testemunha do encontro, tinha negado o teor da conversa divulgado na "Veja".

Gilmar Mendes subiu o tom na quarta-feira. "Estado", "Valor" e "Globo" publicaram entrevistas, mas ele se recusou a falar com a “Folha”. Declarações fortes, como o alerta de que "o Brasil não é a Venezuela", ficaram de fora.

Só nos últimos dias, quando começaram a surgir ressalvas à veemência do ministro do STF, a cobertura achou um eixo.

A guerra de versões entre os dois ex-presidentes, do STF e da República, seria a oportunidade perfeita para voltar ao misterioso caso do grampo [abstrato] de 2008. Gilmar Mendes levantou [na época] a bola ao acusar Paulo Lacerda, ex-diretor da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e que estava fora do noticiário, de municiar Lula com "fofocas" para atingi-lo.

Em setembro daquele ano, a "Veja" publicou um diálogo, que teria sido obtido por "grampo ilegal", entre o então presidente do STF e o senador Demóstenes Torres. Para a revista, "não havia dúvida sobre a ação criminosa da ABIN".

O clima político estava quente por causa da “Operação Satiagraha”, que investigava Daniel Dantas, e Mendes vinha sendo criticado por ter concedido [generosos e supersônicos] habeas corpus ao banqueiro.

Com a "revelação" da "Veja", uma onda de apoio [da mídia e oposição, ávidos para voltar ao poder] ao presidente do STF se formou e Lula afastou Paulo Lacerda da direção da ABIN. "Não há mais como descer na escala da degradação institucional", afirmou Mendes [juntamente com Demóstenes Torres] à época.

Uma investigação policial, que demorou dez longos meses, não encontrou o áudio e concluiu não ser possível afirmar que houve grampo.

A denúncia sobre a escuta no STF ocupou a manchete da “Folha” por cinco dias seguidos. A conclusão de que não havia "corpo" no [falso] crime não teve menção na "Primeira Página". [Omissão também por conveniência ideológico-partidária, pois a “Folha” e a grande mídia em geral batalhavam intensamente pela volta da direita ao poder, com José Serra]

A “Folha” se precipitou em 2008? Não. Vivia-se, como agora, uma "festa de grampos" [de Cachoeira/Dadá]; era plausível que altas autoridades de Brasília fossem alvos de arapongas. Mas o jornal errou depois, ao abandonar logo o caso e ao não dar destaque ao final da investigação.

Do mesmo modo, a “Folha” não poderia ignorar o bate-papo de Mendes e Lula, como sugeriram alguns leitores. O encontro é notícia e, no contexto das pressões sobre o julgamento do "mensalão" [somente o suposto do PT, pois o anterior mensalão tucano ficou intrigantemente abafado, esquecido], a versão apresentada é verossímil.

Para não repetir os erros do passado, o jornal não pode, porém, se contentar em repercutir a "Veja" até que o caso esfrie e a próxima polêmica apareça. Precisa persistir na investigação para não ser acusada de "se prestar a uma rede de intrigas", como alertou o próprio ministro Gilmar Mendes.”

FONTE: escrito por Suzana Singer, Ombusdman da “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsman/46593-segredos-de-hoje-e-de-ontem.shtml) [Imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

Nenhum comentário: