segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

FINANCIAL TIMES: POR QUE NÃO DESCONSIDERAR OS BRICS

A Folha de São Paulo ontem publicou o seguinte texto de Jim O'neill, vice-presidente mundial de pesquisa do Goldman Sachs. Este artigo foi publicado originalmente no "Financial Times". A tradução é de Paulo Migliacci:

Os Brics devem crescer 4,7% e serão a única fonte de expansão de demanda interna no planeta em 2009

“Qual é a relevância das economias em desenvolvimento de crescimento elevado conhecidas como Brics -Brasil, Rússia, Índia e China? No início de 2009, sete anos após o Goldman Sachs popularizar o uso do termo "Bric", esses países estão enfrentando seu primeiro "choque" externo da década, logo a pergunta é crucial.

Será que chegou a hora de editar o nome do grupo e reduzi-lo a "Bic", abandonando o R?

Será que todos os Brics, por motivos internos próprios, encontrarão mais dificuldades do que esperam para enfrentar o desafio de uma economia enfraquecida nos EUA? Ou descobriremos que não só esses países serão capazes de enfrentar a situação melhor do que as pessoas acreditam no Ocidente como alguns dos modelos econômicos que eles criaram virão a ser imitados pelos países desenvolvidos, em seus esforços para enfrentar o declínio de seus sistemas de mercado cuja base é o setor privado?

Será que a pressão por uma presença mais ampla nas instituições mundiais desaparecerá à medida que o crescimento perder o ímpeto ou 2009 será enfim o ano em que o G7 e o G8 desaparecerão da agenda, o G20 assumirá o comando e veremos o início de uma nova realidade?

A mais recente projeção do Goldman Sachs para o crescimento do PIB mundial é de 0,6% em 2009. Projetamos declínio de 1,2% para os países industrializados. O crescimento de 0,6% deriva de uma projeção de alta de 4,7% para o PIB dos Brics, cujas economias respondem por cerca de 15% do PIB mundial.

Nossas projeções quanto à demanda doméstica se assemelham aos nossos números sobre o PIB, o que significa que os Brics serão a única fonte de crescimento de demanda interna no planeta em 2009. Em 2010, prevemos que o crescimento da demanda interna nas economias avançadas subirá a 1,2%, e nos Brics, a 7,2%, por efeito do pacote chinês de estímulo. Se somarmos a essas projeções os resultados de 2008, projetamos que por três anos veremos os Brics na liderança da expansão da demanda mundial.

É desse ponto de vista que os céticos deveriam avaliar se a história dos Brics realmente ficou no passado. Pelo final da década, eles podem estar perto de responder por 20% do PIB mundial. Trata-se de proporção mais alta do que qualquer dos quatro cenários que consideramos em 2001, quando escrevi pela primeira vez sobre a provável emergência dos Brics. Em lugar de sugerir que o nosso sonho Bric talvez seja tirado dos trilhos pela recessão mundial, a ideia de que os Brics podem se tornar coletivamente maiores que o G7, em 2035, torna-se mais plausível.

Assim, como o Ocidente deve agir? Deve continuar preocupado com a ascensão dos Brics e a lastimar seus sistemas de governança ou, sob influência de Barack Obama, optar por recebê-los favoravelmente? Será que o Reino Unido, que está presidindo o G20, deveria propor uma reforma no sistema mundial de governança que dê a esses países posição semelhante à dos demais? Sim.

As passadas preocupações quanto à falta de democracia ou de abertura de mercado precisam ser deixadas de lado, especialmente agora que a maioria dos países do G7 compreendeu que usar o governo para ajudar a orientar os mercados não é ideia tão ruim.

Quando o G20 se reuniu em Washington em outubro, havia longa lista de coisas por fazer.

Não há muita chance de realizar qualquer uma delas a não ser que o sistema de governança global e o G20 sejam reconhecidos como principal fórum decisório para essas questões.

Quanto ao R dos Brics, é evidente que deve continuar a ser visto como parte do grupo.

Ainda que a economia russa possa se contrair em 2009, sobreviverá à crise. Para se ajudar, seu governo precisa demonstrar capacidade de introduzir políticas que reduzam a importância dos preços do petróleo para o futuro econômico do país.”

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