Li ontem no jornal Tribuna da Imprensa o seguinte artigo de Manuel Cambeses Júnior. O autor é coronel-aviador da reserva da Força Aérea; conferencista especial da Escola Superior de Guerra, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica:
“Os Estados Unidos, um país que foi fundamentalmente construído graças à imigração, se caracteriza, na atualidade, pelas barreiras impostas a essas criaturas, verdadeiros “homo sacer” estigmatizados pela sociedade estadunidense.
Em primeiro lugar estão as pesquisas de opinião. De acordo com a revista britânica The Economist, de 3 de dezembro de 2007, uma pesquisa da CBS mostrava que 75% dos cidadãos estadunidenses e 87% dos republicanos opinavam que se deveria manter fora de suas fronteiras os imigrantes ilegais. O Instituto de Pesquisas Pew Research Center, em 30 de março de 2007, assinalava que 53% dos americanos consideravam que as pessoas que se encontram ilegalmente nos EUA deveriam ser forçadas a sair do país; 76% afirmavam que se deveria negar-lhes o direito ao trabalho e, 67%, a obtenção de serviços sociais.
Em segundo lugar, está a atitude prevalecente no Congresso, com particular referência à Câmara de Representantes e, dentro dela, a fração republicana, que, na ordem de 80%, é contrária a imigração. Prova disso foi a Lei aprovada pela Câmara dos Representantes, em dezembro de 2005, que estabelecia a construção de uma muralha de 1.125 km, ao longo da fronteira com o México, e que classificava a imigração ilegal como um crime.
O curioso é que o Congresso estadunidense tampouco quer saber dos imigrantes qualificados. Em 2005, reduziu o número de vistos tipo H1B (vistos temporários para profissionais altamente qualificados), de 200 mil para 65 mil por ano. Como resultado dessa atitude, as empresas de alta tecnologia, as faculdades de ciência e o sistema bancário de Wall Street sentiram significativos transtornos causados pelas limitações de pessoal.
Em 24 de março de 2007, The Economist assinalava: “Estudantes de pós-graduação e trabalhadores do setor de alta tecnologia contam as mesmas histórias de verdadeiros pesadelos, de meses inteiros de espera para tramitar a apresentação de algum documento. Entretanto as companhias de alta tecnologia reiteradamente se queixam de não conseguir vistos de entrada para cérebros privilegiados de algumas partes do mundo.
Em terceiro lugar, nos âmbitos acadêmico, jornalístico e intelectual, uma forte corrente de pensamento tem se dedicado a satanizar os imigrantes, apresentando-os como fatores de decadência, alto custo econômico, perda de identidade e séria ameaça à segurança nacional.
O renomado cientista político Samuel Huntington e o professor George Borja’s, de Harvard, o reconhecido jornalista Peter Bimelow e o pré-candidato presidencial republicano, o ultraconservador Pat Buchanam, sobressaem dentro dessa linha de pensamento. Eles recordam a virulência xenofóbica que caracterizaram as cruzadas contra a imigração, os judeus e os católicos, na segunda metade do século XIX.
Segundo o pesquisador Philippe Legrain, 28,3% dos trabalhos disponíveis no país correspondem a empregos que “a maioria dos trabalhadores qualificados, nascidos nos EUA, não ocupariam de nenhuma maneira” (Inmigrants, London, 2006). No que concerne à imigração qualificada, a pesquisadora Anna Lee Saxenian, da Universidade de Berkeley, assinalava que, no início do ano 2000, engenheiros chineses e indianos dirigiam 29% dos negócios envolvendo tecnologia de ponta, em Silicon Valley, representando vendas no entorno de 19,5 milhões de dólares e empregando cerca de 73 mil pessoas (Brookings Review, dezembro de 2004).
Procedimentos dessa natureza certamente estão na contramão da história e das necessidades básicas dos EUA, além de concorrerem para desenvolver um espúrio espírito secessionista e o recrudescimento de nociva virulência antiimigratória, no seio da sociedade norte-americana.”
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