“O ex-prefeito Cesar Maia (DEM) divulgou ontem em seu "ex-blog" (uma newsletter) os resultados da última pesquisa nacional do instituto GPP, cujo trabalho o ex-alcaide costuma prestigiar. Os números ajudam a alimentar a pulga atrás da orelha dos dirigentes da oposição. O GPP perguntou quem seria o melhor presidente para o Brasil. Deu Luiz Inácio Lula da Silva 42%, José Serra 8%, Aécio Neves 4%, Dilma Rousseff 3%, Ciro Gomes 1% e Heloísa Helena 1%. As respostas foram espontâneas.
Na estimulada: Serra 42%, Dilma 17%, Ciro 16% e Heloísa 9%. O detalhe: entre os menos escolarizados, núcleo duro do eleitorado de Lula, Dilma pega por enquanto apenas 8%. Sem Ciro: Serra 46%, Dilma 29% (Dilma leva vantagem numérica de 41,4% a 37,6% no Nordeste).
A oposição esperava que Dilma chegasse aos 30% no fim do ano. Segundo o GPP, chegou seis meses antes. No cenário plebiscitário projetado pelo Planalto, Serra mantém a dianteira, que se estreita. E a identificação de Dilma como preferida de Lula está pela metade. A pesquisa perguntou quem é o candidato do presidente. Deu Dilma 52%, Serra 8%, Ciro 6% e Heloísa 5%.
Há duas visões entre os líderes da oposição, ao menos para consumo externo. Os otimistas acham que Dilma vai estacionar nos 30% e que terá dificuldade para atrair o voto não petista de Lula. Os pessimistas olham os números e desconfiam que a operação de transferência de votos vai de vento em popa, ajudada pela permanente exposição pública do apoio do presidente a sua pré-candidata. Até porque já estamos em plena campanha presidencial, na prática.
O apoio de Lula é turbinado pela gordura política acumulada. Segundo o GPP, Lula tem 59% de bom+ótimo, 32% de regular e 9% de ruim+péssimo. Na teoria, esses números permitem concluir que Dilma, quando plenamente identificada com Lula, terá potencial de voto suficiente para liquidar a eleição num eventual primeiro turno bipolarizado.
E as variáveis externas? O país está em recessão (a real, não a técnica) há mais de nove meses e até agora isso não implicou perda substancial para o presidente. Pode acontecer? Pode, mas Lula conseguiu por enquanto proteger a ideia de que está fazendo o melhor possível, nas circunstâncias. Nos últimos dias, os membros do governo têm inclusive operado para descolar a administração dos defeitos dela, como a ainda extorsiva taxa básica real de juros e o spread bancário inexplicável - a não ser pelos critérios do monopólio e da ganância.
Lula, assim, é o responsável pelas "coisas boas do governo" (a ênfase social), mas "infelizmente ainda não conseguiu fazer tudo que queria". Um discurso ideal para enfrentar as críticas. Mantido esse desenho, a oposição caminha para a ratoeira do plebiscito, cuidadosamente construído no imaginário popular pelos alquimistas palacianos. Como defesa, apenas a tese de que Dilma não passará dos 30%. Que pode ser isso mesmo, mas se for apenas uma tese terá um custo altíssimo para quem deseja remover o PT do poder central.
O que fazer? No lado do governo, o que vem fazendo. No lado da oposição, continuar procurando a maneira de entrar na guarda de Lula. Especialmente agora, quando o presidente vai ocupando até o espaço de principal crítico dele mesmo. Lula montou um bunker ambiental globalista na administração e agora engrossa o discurso em defesa da soberania brasileira na Amazônia. Lula convive há mais de seis anos com um spread irracional (ou racionalíssimo, conforme o ângulo) e seu ministro da Fazenda hoje diz que isso precisa mudar. Por que não mudou até agora? Lula é o campeão de renúncias fiscais, e agora diz que seria preferível dar esse dinheiro para os pobres, em vez de repassá-lo a empresários que não baixam preços -mesmo com menos impostos.
Esta é a receita de Lula para 2010: se você está feliz com o governo, vote na Dilma; se está infeliz, vote também, pois ela vai fazer coisas que Lula queria mas não conseguiu. "Não dá para fazer tudo em oito anos". Esse discurso pode ser desmontado numa campanha eleitoral? Pode, desde que se respeite uma teoria que o próprio Cesar Maia gosta de fazer circular. Eleição é hora de revelar a fotografia que foi tirada antes. A campanha eleitoral precisa soar como a continuidade de um processo de luta política, não cair como raio vindo do céu azul. Mas esse é assunto velho nesta coluna. Assim como a necessidade de a oposição encontrar um desenho político original para 2010.”
FONTE: texto de Alon Feuerwerker, no Blog do Alon”, reproduzido em 24/06/2009 no site "vermelho".
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