segunda-feira, 16 de abril de 2012

"VEJA": INVESTIGAR CACHOEIRA É UMA AMEAÇA À LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Capa da "Veja" desta semana

Por Luiz Carlos Azenha

Por dever de ofício, li o texto de capa de revista que tenta provar que investigar os crimes do Carlinhos Cachoeira, no Congresso, é um atentado à liberdade de expressão.

O que chamou minha atenção foi a frase abaixo, que interpretei como defesa do uso de fontes-bandidas:

Qualquer repórter iniciante sabe que maus cidadãos podem ser portadores de boas informações. As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido. A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Isso é básico. Disso sabem os promotores que, valendo-se do mecanismo da delação premiada, obtêm informações valiosas de um criminoso, oferecendo-lhe em troca recompensas como o abrandamento da pena.”

Registre-se, inicialmente, a tentativa dos autores de usar os promotores de Justiça como escada. Tentam sugerir ao leitor que o esforço da revista, ao dar espaço em suas páginas a fontes-bandidas, equivale ao dos promotores de Justiça.

Sonegam que existe uma diferença brutal: os promotores de Justiça usam a delação premiada para combater o crime. Os criminosos que optam pela delação premiada têm as penas reduzidas, mas não são perdoados. E a ação ajuda a combater um mal maior. Um resultado que pode ser quantificado. O peixe pequeno entregou o peixe grande. Ambos serão punidos.

O mesmo não se pode dizer da relação de um jornalista com uma fonte-bandida. Se um jornalista sabe que sua fonte é bandida, divulgar informações obtidas dela não significa, necessariamente, que algum crime maior será evitado. Parece-me justamente o contrário.

O raciocínio que qualquer jornalista faria, ao divulgar informações obtidas de uma fonte que ele sabe ser bandida, é: será que não estou ajudando esse sujeito a aumentar seu poder, a ser um bandido ainda maior, a corromper muito mais?

Leiam de novo esta frase: “As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido”.

Não necessariamente. Ele não tem qualquer garantia de que as informações são verdadeiras se vieram de um corrupto. Que lógica é essa?

O policial que não estava lá, mas gravou a conversa que se deu durante um ato de corrupção, provavelmente, vai fornecer uma versão muito mais honesta sobre a conversa do que os corruptos envolvidos nela.

O repórter que lida com alguém envolvido em um ato de corrupção sabe, antecipadamente e sem qualquer dúvida, que a informação passada por alguém que cometeu um ato de corrupção atende aos interesses de quem cometeu o ato de corrupção. Isso, sim, é claro, não que as informações sejam necessariamente verdadeiras.

Capa que poderia ser adotada, por ser mais fiel aos fatos
O repórter sabe, também, que, se os leitores souberem que a informação vem de alguém que cometeu um ato de corrupção, imediatamente perde parte de sua credibilidade. Não é por acaso que Carlinhos Cachoeira, o bicheiro, se transformou em “empresário do ramo de jogos”.

É por saber que ele era um “mau cidadão” que a revista escondeu de seus leitores que usava informações vindas dele. Era uma fonte inconfessável.

Não foi por acaso que Rubnei Quicoli, o ex-presidiário, foi apresentado como “empresário” pela mídia corporativa quando atendia a determinados interesses políticos em plena campanha eleitoral. A mídia corporativa pode torturar a lógica, mas jamais vai confessar que atende a determinados interesses políticos.

O "empresário" Rubnei Quicoli

Carlinhos Cachoeira não é, convenhamos, nenhum desconhecido no submundo do crime. Vamos admitir que um repórter seja usado por ele uma vez. Mas o que dizer de um repórter usado durante dez anos, por uma fonte que ele sabe ser bandida?

Sim, porque o texto, sem querer, é também uma confissão de culpa: admite que a revista se baseou em informações de um “mau cidadão”. Ora, se a revista sabia tratar-se de um “mau cidadão” e se acreditava envolvida em uma cruzada moral para “limpar a sociedade” de “maus cidadãos”, não teria a obrigação de denunciá-lo?

Concordo que jornalistas não têm obrigação de dar atestado de bons antecedentes a todas as suas fontes.

Mas onde fica a minha obrigação de transparência com meus leitores se divulgo, seguidamente, informações que sei serem provenientes de um “mau cidadão”? Qual é o limite para que eu seja considerado parceiro ou facilitador do “mau cidadão”?

Se imperar, a lógica da revista será muito conveniente para aqueles policiais presos por associação ao crime.

Tudo o que terão de dizer, diante do juiz: “Ajudei a quadrilha de assaltantes de bancos, sim, doutor, matando e prendendo os inimigos deles. Mas foi para evitar um mal maior, meritíssimo: uma quadrilha que era muito mais bandida”.

À CPI, pois.”

FONTE: escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha em seu portal “Viomundo”  (http://www.viomundo.com.br/humor/investigar-cachoeira-um-atentado-a-liberdade-de-expressao.html). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

4 comentários:

Probus disse...

Maria Tereza, ele é IMPRESSIONANTE, leia esta matéria, você vai rir demais!!!

Pela libertação dos prisioneiros políticos no Brasil

http://www.hariovaldo.com.br/site/2012/04/11/pela-libertacao-dos-prisioneiros-politicos-no-brasil/

Unknown disse...

Probus,
Achei interessante a espirituosidade do Professor Hariovaldo Almeida Prado e dos comentaristas do blog. Não conhecia.
Maria Tereza

Probus disse...

Ele é um GÊNIO do sarcasmo, TODOS os Blogueiros Sujos navegam no Portal do meu Oráculo, meu Mestre dos Mestres, meu Senhor Inquebrantável, a minha Misericórdia Divina, o meu Caríssimo Arauto das Bem Aventuranças, o meu Digno Hiper Tele Cinético Senhor, o meu Mestre Incólume, o meu Pluviométrico Mestre, o meu Intumescido, Enrijecido, Potente e Encapado Mestre, o meu Impermeável Mestre, o Incomensurável Mor dos Homens de Bem, meu Professor Inquestionável Hariovaldo Almeida Prado!!

Leia essa!!

11/06/2011: Dia dos namorados: A poesia que eu fiz para Dilma

By Professor Hariovaldo

http://www.hariovaldo.com.br/site/2011/06/11/dia-dos-namorados-a-poesia-que-eu-fiz-para-dilma/

Probus disse...

Esse é ÓTIMO também.

Tia Carmela

tiacarmela.wordpress.com/

"A tia Carmela conhece o menino Zezinho desde o tempo da Moóca"

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Este texto foi feito quando mandamos Nelson Jobim pro espaço sideral.

Festa na Caverna do Ostracismo: John Been chegou!

O Mais Preparado dos Brasileiros, o futuro pres. Zezinho, participou hoje da solenidade de recepção do novo morador da Retiro do Udenista, sito à Caverna do Ostracismo, fundos, Higienópolis.

O novo morador é o gênio da raça Tom John Been, um dos poucos brasileiros dignos de ser tratado como um igual pelo Presidente de Nascença, que é seu amigo e compadre.

http://tiacarmela.wordpress.com/2011/08/04/festa-na-caverna-do-ostracismo-john-been-chegou/