segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

EUA PLANEJARAM 2015 COMO ANO DE CONFLITOS


Congresso dos Estados Unidos

Washington configurou 2015 para ser um ano de conflito


"Washington é a causa dos conflitos que vêm sendo promovidos já a algum tempo.

A Rússia estava muito fraca para fazer qualquer coisa a respeito de [impedir], quando o governo Clinton começou a empurrar a OTAN para junto das fronteiras russas, assim como de quando ele ilegalmente atacou a Iugoslávia, desmembrando o país em pedaços menores, mais fáceis de serem controlados.

Por Paul Craig Roberts, economista e colunista norte-americano, ex-membro do Governo Reagan. Artigo publicado no "Global Research"

A Rússia também ainda continuava muito enfraquecida para poder fazer alguma coisa quando o governo de George W. Bush se retirou do acordo ABM [acordo regulamentando a quantidade e o uso dos mísseis balísticos] e quando o mesmo começou a organizar a colocação de bases militares americanas, contendo mísseis balísticos, nas fronteiras russas. Washington mentiu para a Rússia dizendo que o objetivo da colocação dessas bases seria o de "proteger a Europa dos não-existentes ICBM nucleares do Irã". [ICBM (intercontinental ballistic missile)
míssil intercontinental balístico].

Entretanto, na Rússia, compreendeu-se que o real objetivo dos Estados Unidos era o de degradar a capacidade retaliatória da Rússia, aumentando, dessa maneira, a capacidade de Washington para coagir o país a entrar em acordos que comprometeriam a sua soberania.

No verão de 2008, a Rússia já tinha o seu poder restabelecido. Por ordens de Washington, o exército da Geórgia, equipado e treinado pelos Estados Unidos e Israel, atacou na separatista República da Ossécia do Sul na madrugada de 8 de agosto, matando 8 membros das forças da paz, assim como pessoas da população civil. Setores militares russos reagiram imediatamente a isso e, dentro de poucas horas, o exército da Geórgia, treinado pelos acima mencionados, tinha sido completamente derrotado. A República da Ossécia do Sul, na Geórgia, estava novamente em mãos russas, como essa província sempre havia estado desde, pelo menos, os séculos 19 e 20.

Putin deveria ter deixado Mikheil Saakashvili – esse fantoche americano instalado no poder como presidente da Geórgia pela “Revolução Rosa” instigada por Washington – ser enforcado. Entretanto, num erro estratégico, a Rússia retirou suas forças, deixando o governo fantoche de Washington no lugar, para causar futuros problemas para a Rússia.

Washington faz muita pressão para incorporar a Geórgia na OTAN e isso, principalmente, para poder pôr mais bases militares na fronteira russa. Tem-se, entretanto, também que, na época do sucedido, Moscou via a Europa como bastante mais independente de Washington do que ela realmente era, acreditando que, mantendo boas relações com a mesma, iria impedir bases militares americanas serem estabelecidas na Geórgia.

Hoje em dia, o governo russo já não tem mais nenhuma ilusão quanto à Europa ser capaz de política exterior independente. O Presidente Vladimir Putin da Rússia declarou publicamente que a Rússia havia compreendido que diplomacia com a Europa não fazia muito sentido, e isso porque os políticos europeus estavam representando mais os interesses de Washington do que os da Europa.

O Ministro das Relações Exteriores da Federação Russa, Serguei Lavrov, reconheceu recentemente que a categorização da Europa como entidade constituída por Nações Cativas tinha deixado claro para a Rússia que gestos de boa vontade da Rússia quanto à mesma não poderiam produzir, nessas circunstâncias, desejados efeitos diplomáticos.

Com o evaporar-se das ilusões de que diplomacia com o ocidente iria produzir soluções pacíficas, e com a realidade reafirmando-se, começou então a escalada da demonização de Vladimir Putin por Washington em conjunto com seus países vassalos. Hillary Clinton, nesse cenário, até chamou Putin de "Hitler".

Enquanto Washington incorpora as ex-partes constituintes da Rússia e do império soviético no seu próprio império, e bombardeia sete outros países, Washington ao mesmo tempo vai declarando que Putin é "militarmente muito agressivo", e que ele tem intenções de reconstruir "o império" soviético.

Washington arma o sistema neonazi, que Obama estabeleceu na Ucrânia, enquanto erradamente declara que Putin invadiu e anexou províncias ucranianas. Todas essas bramantes mentiras repetem-se, aos milhares, e em eco, pela mídia prostituta do ocidente. Nem mesmo Hitler teve a sua disposição tal complacente mídia como tem Washington.

Todos os esforços diplomáticos da Rússia têm sido bloqueados por Washington, acabando-se por contar com o resultado zero, e nada mais. Dessa maneira, a Rússia foi forçada, pela realidade, a atualizar sua própria doutrina militar. A nova doutrina, aprovada em 26 de dezembro, afirma que os Estados Unidos e a OTAN constituem a principal ameaça militar para a existência da Rússia como país independente e soberano.

O documento russo declara a doutrina de guerra de Washington – na qual a aceitação da ideia de um ataque preventivo, a colocação de mísseis balísticos [ditos "de defesa", mas na realidade de agressão], assim como a contínua expansão das forças da OTAN, e a intenção dos americanos de colocarem armas no espaço – como clara indicação de que Washington está se preparando para atacar a Rússia.

Washington também está conduzindo guerra político-econômica contra a Rússia, tentando desestabilizar a economia russa com sanções e ataques à moeda russa, o rublo. O documento russo reconhece que a Rússia enfrenta ameaças de "mudança de regime" [lê-se ameaças de "golpe de estado"] por parte do ocidente. Esse objetivo seria conseguido através de “ações com a finalidade de violentamente mudar a ordem constitucional russa, com a desestabilização da realidade político-social, da desorganização do funcionamento das instituições governamentais, e das principais e cruciais instituições civís e militares, assim como da infraestrutura informal da Rússia.”

As organizações não-governamentais estrangeiras (ONG), e a mídia russa, que é dirigida como propriedade de estrangeiros, são instrumentos nas mãos de Washington, que usam esses instrumentos para destabilizar a Rússia.

As agressivas e irresponsáveis diretivas políticas de Washington contra a Rússia fizeram ressuscitar a corrida de armamentos nucleares. A Rússia agora está desenvolvendo dois novos sistemas ICBM [de mísseis intercontinentais balísticos] e, em 2016, deverá colocar sistemas de armamentos designados para neutralizar os sistemas de mísseis balísticos dos Estados Unidos. Em resumo, os instigadores de guerra que governam em Washington puseram o mundo a caminho do armageddon nuclear.

Tanto o governo da Rússia como o da China já compreenderam que suas respectivas existências estão sendo ameaçadas pelas ambições de hegemonia, ou seja de dominância, de Washington. Larchmonter apresentou relatórios que mostram que, partindo do princípio de Washington ter planos para marginalizar os dois países, tanto a Rússia quanto a China decidiram-se por unificar suas economias, criando uma economia conjunta, e também unificando seus comandos militares. Daqui por diante, tem-se então que a Rússia e a China estarão andando conjuntamente, tanto no plano econômico como no militar.

Essa união do Urso Russo com o Dragão Chinês reduz o sonho dos conservadores americanos de um “século americano” a um puro disparate. Larchmonter caracteriza isso assim: “Os Estados Unidos e a OTAN precisariam do Arcanjo Miguel para derrotar essa união Sino-Russa, mas, ao que tudo indica, o Arcanjo Miguel já está alinhado com o Urso Russo e sua cultura ortodoxa. Não há armas, estratégias ou táticas concebíveis que possam, num futuro próximo, conseguir causar maiores estragos a essas duas economias emergentes, agora que estão atuando em parceria.

Larchmonter tem esperanças na nova geopolítica criada pela atuação conjunta da Rússia e da China. Eu não tenho nada contra essa sua conclusão, mas se os arrogantes conservadores compreenderem que as suas diretivas políticas para hegemonia mundial encontraram agora um inimigo que não poderão derrotar, eles irão pressionar para um ataque nuclear preventivo, antes que o comando unitário Russo-Chinês esteja operacional. Para se proteger contra um ataque de surpresa, a Rússia e a China fariam melhor em operar em completa e total prontidão nuclear.

A economia dos Estados Unidos – na realidade a inteira ocidente-orientada economia, indo do Japão à Europa – é um castelo de cartas. Desde que o declínio econômico começou, há cerca de 7 anos, a inteira economia ocidental foi dirigida para o apoio de uns poucos bancos superdimensionados, ao crédito soberano, e para o apoio do dólar estadunidense. Em consequência, as próprias economias, assim como a capacidade das populações para manejar a situação, foram se deteriorando.

Os mercados financeiros baseiam-se, agora, em contínuas manipulações e não em fundamentos sóbrios. Essas manipulações são insustentáveis. Com o débito explodindo, os juros reais negativos não fazem sentido. Com a renda real do consumidor, assim também com o seu crédito real, e a real venda de produtos no comércio de varejo estagnados, ou em queda branda, o mercado de valores, fundos e ações não pode ser outra coisa que uma bolha [a ser furada].

Com a Rússia e a China, assim como outros países, distanciando-se do uso do dólar no mercado internacional, e com a Rússia desenvolvendo a alternativa rede bancária internacional SWIFT, enquanto os BRICS desenvolvem alternativas ao FMI e ao Banco Mundial, e quando outras partes do mundo desenvolvem seus próprios cartões de crédito e sistemas de Internet, o dólar americano, conjuntamente com as moedas do Japão e da Europa – que estão sendo imprimidas para sustentar o valor de câmbio do dólar – poderiam vir a experimentar dramática queda no mercado de câmbio, o que faria com que a economia de importação-dependente do ocidente se tornasse disfuncional.

Na minha opinião, transcorreu muito tempo para que a Rússia e a China compreendessem a perversidade e malevolência que controla Washington. Por conseguinte, ambas estão arriscando um ataque nuclear antes da total operacionalidade da implementação de sua defesa conjunta. Como a economia do ocidente é como um castelo de cartas, a Rússia e a China poderiam pô-la em colapso antes que os neoconservadores pudessem levar o mundo à guerra. Como a agressão de Washington contra os dois países é clara como cristal, não deixando nem sombras de dúvidas, tanto a Rússia como a China teriam todo o direito de tomar medidas defensivas.

Como os Estados Unidos estão conduzindo uma guerra financeira contra a Rússia, essa poderia reivindicar que, arruinando a economia russa, o ocidente retirou sua capacidade de pagar seus empréstimos aos bancos ocidentais. Se isso não fosse o suficiente para quebrar os fragilmente capitalizados bancos europeus, a Rússia poderia declarar que os países da OTAN – agora oficialmente reconhecidos pela nova doutrina de guerra da Rússia como inimigos do estado – teriam colocado a Rússia na situação de que ela não mais poderia apoiar a agressão da OTAN contra si, através de continuar vendendo gás natural aos países membros dessa organização [agressora]. Caso o fechamento de muitas das indústrias europeias, o aumento do desemprego e as quebras dos bancos não resultassem na dissolução da OTAN, e portanto ao fim das ameaças, os chineses poderiam começar a agir.

Os chineses têm grande número de bens, valores e títulos denominados em dólares. Como os agentes da Federal Reserve [os denominados bancos de ouro ou bullion banks] inundam os mercados futuros com massivas quantidades de papéis de valor – “shorts”, em períodos de pouca atividade, com a finalidade de abaixar o preço do ouro, a China poderia então inundar o mercado, em poucos minutos, com os seus papéis denominados em dólares com o equivalente a anos de flexibilização quantitativa, ou seja, massiva impressão de dólares.

Se a Federal Reserve, FED [12 bancos particulares] rapidamente então criasse os dólares com os quais pudesse comprar essa massiva quantidade de papéis de valor da China, que no caso seriam os papéis denominados como “Treasuries” - para que o castelo de cartas deles não se desmoronasse – os chineses então poderiam inundar o mercado de divisas, mas dessa vez com os dólares que se lhes pagam pelos títulos. Conquanto a Federal Reserve pode imprimir dólares com os quais comprar os papéis denominados "Treasuries", a Federal Reserve não pode imprimir moedas estrangeiras com as quais comprar os dólares.

O dólar entraria em colapso e, com ele, o poder do “Hegemon” – do Dominador. A guerra teria acabado sem um único tiro ou míssil deslanchado.

Do meu ponto de vista, e nessa situação, tanto a Rússia quanto a China teriam obrigação moral em relação ao mundo quanto a impedir a guerra nuclear, que os conservadores que controlam as diretivas políticas dos Estados Unidos têm a intenção de deslanchar, simplesmente através de responder, à altura, a guerra econômica de Washington.

Tanto a Rússia quanto a China não deveriam dar avisos prévios. Aqui se exige ação determinada. Agir passo a passo não seria o suficiente. A descarga deverá ser solta de vez. Com quatro bancos americanos mantendo os papéis denominados “derivados” – os quais totalizam em muitas vezes o PIB do mundo – a explosão financeira seria equivalente a uma nuclear.

Os EUA estariam terminados e o mundo salvo.

Larchmonter tem razão. 2015 pode ser um muito bom ano".

FONTE: escrito p
or Paul Craig Roberts, economista e colunista norte-americano, no "Global Research", com o título original “Washington Has Shaped 2015 to Be a Year of Conflict. The Conflict Could Be Intense”- "Strategic Culture Foundation", 29-12-2014. Tradução e síntese por Anna Malm, artigospoliticos.com, para Mondialisation.ca. O autor foi Assistente do Secretário do Tesouro no Governo Reagan. Artigo transcrito no portal "Vermelho"  (http://www.vermelho.org.br/noticia/256577-9).

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