sexta-feira, 20 de março de 2009

BRASIL E EUA NA CRISE MUNDIAL

Li ontem no jornal Folha de São Paulo o seguinte artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. O autor é Diretor-Executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago):

Lula e Obama estão entre os poucos líderes do G20 que têm força no seu próprio país e prestígio internacional

“O primeiro encontro entre o presidente Obama e o presidente Lula, aqui em Washington, no sábado passado, parece ter transcorrido muito bem.

A relação Brasil-EUA é um tema vasto. Vou tratar apenas de um aspecto: a possibilidade de atuação conjunta dos dois países no enfrentamento da crise mundial -em especial no âmbito do G20. Em entrevista após o encontro na Casa Branca, os presidentes Lula e Obama anunciaram que as equipes econômicas dos dois países se reuniriam e formariam um grupo bilateral para discutir propostas e tentar traçar uma estratégia comum para a reunião do G20 no dia 2 de abril.

É possível chegar a uma posição comum com os americanos? Em diversos pontos, creio que sim. Existem divergências, claro, mas a minha experiência no FMI e no G20 sugere que há também pontos de convergência entre os EUA e o Brasil -algo que não ocorre na mesma medida entre Brasil e Europa, por exemplo.

Como se sabe, os chefes de Estado do G20 terão o seu segundo encontro, em Londres, no próximo dia 2. O primeiro ocorreu em Washington, em novembro, e produziu resultados bastante razoáveis -o comunicado dos líderes do G20 contribuiu, por exemplo, para acelerar reformas aqui no FMI e levou à ampliação do Fórum de Estabilidade Financeira, com a inclusão de todos os países do G20.

O problema, evidentemente, é que a crise mundial continua se agravando. Existe a expectativa de que a reunião de Londres possa contribuir de forma mais decisiva para enfrentá-la.

Isso talvez não ocorra. E há mesmo o risco de retrocesso em relação à cúpula do G20 em Washington. A dificuldade é, em parte, política.

É notável o vácuo de lideranças no mundo. Os quatro principais países europeus, todos representados no G20, possuem governos enfraquecidos em seus países e/ou com pouca credibilidade internacional. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, parece querer usar a cúpula para tentar recuperar um pouco do seu prestígio doméstico. O Japão passa por um período de instabilidade política. A Índia e a Rússia estão enfraquecidas pela crise econômica ou por fatores políticos. Fora a China, que não exerce um papel de liderança em escala mundial, todos os demais integrantes do G20 ou estão sofrendo muito com a crise ou não têm peso econômico e governos prestigiados para desempenhar um papel decisivo na cúpula de Londres.

Para a maior parte dos temas, o principal foco de conservadorismo está na Europa. As posições europeias não são idênticas, mas há um traço comum entre elas: são nações que envelheceram, perderam a iniciativa e transformaram-se nas principais defensoras do "status quo" internacional. É delas que parte, por exemplo, a mais determinada resistência à democratização do FMI e do Banco Mundial -entidades em que é gritante a super-representação dos europeus.

Nesse ambiente, uma aliança com o novo presidente americano pode ser especialmente importante. Os presidentes brasileiro e americano estão entre os poucos líderes do G20 que têm força no seu próprio país e prestígio internacional.

O Brasil deve continuar articulando posições conjuntas com outros países do G20, como China, Índia, Rússia, Argentina e Japão (para citar alguns que têm posições próximas às do Brasil em diversas questões). Mas não podemos perder a oportunidade de dar uma sequência cuidadosa e bem preparada à iniciativa bilateral sugerida pelos presidentes Obama e Lula.”

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