Li hoje no site “Terra Magazine”, do jornalista Bob Fernandes, o seguinte artigo de Cláudio Lembo. O autor é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador:
“Segundo observadores da cena política dos Estados Unidos, a popularidade do Presidente Barack Obama se encontra em queda. As explicações são diversas.
A mais plausível salta aos olhos. O governo norte americano tem despendido imensos recursos financeiros na salvação do sistema financeiro do país.
Todos sabem a importância dos bancos para a normalidade dos fluxos monetários entre os múltiplos agentes econômicos. Não é necessária a exposição de nenhum economista sobre o assunto.
Qualquer cidadão comum capta e reconhece esta importância. Então porque cai a popularidade de Obama? Simples. O governo federal dos Estados Unidos capitaliza os bancos. Não avança.
Na condição de acionista de emergência, não exige a mudança dos quadros executivos das instituições financeiras. Ficam os mesmos dirigentes que levaram os bancos à ruína.
É paradoxal. Estes dirigentes mostraram-se vaidosos, pretensiosos e incompetentes. Em razão de suas incapacidades - e soberba - recebem como prêmio a manutenção de seus altos postos.
A sociedade estadunidense se revolta. Pessoas perdem seus empregos e suas casas. Vivem dos serviços sociais. Os que conduziram a comunidade à desesperança continuam a usufruir benesses.
Não é plausível. A sociedade se revolta. E com razão. Trilhões de dólares são injetados no insolvente sistema bancário norte-americano e norte-americanos padecem privações incomuns.
As sociedades e seus políticos ainda não conseguiram elaborar rígidos instrumentos de fiscalização dos atos dos titulares de cargos executivos bancários.
Estes fazem o que querem. A título de "alavancagem" edificam pirâmides financeiras inconcebíveis. Praticam verdadeiros estelionatos. Nada acontece. São saudados como gênios do mercado.
Quebram empresas. Levam ao desemprego. Conduzem ao desespero social. São anunciados como competentes operadores do mercado. Contradições do capitalismo.
Estes gênios contam com a complacência de governos amorais. No interior dos países em que operam e, fora, nos chamados "paraísos fiscais". Estas latrinas onde se depositam dinheiro sujo.
O numerário originário da corrupção na política. Da venda de produtos subfaturados. Do tráfico de entorpecentes. Ou, ainda, do transito de órgãos humanos e pessoas. Passagem de dinheiro para a prática do terrorismo.
Agora, depois da queda dos sistemas financeiros. Os paraísos fiscais passam a ser mais controlados. Seus bancos devem romper o sigilo sobre as contas de seus clientes.
É pouco. Não pode se admitir o trânsito de dinheiro sem origem definida. Os governos devem impor a obrigação de plena identificação de quaisquer recursos financeiros.
Um cordão de isolamento deve circundar os mais de quarenta e quatro paraísos fiscais existentes e conhecidos pelas autoridades. Eles se caracterizam como agentes da atual crise mundial.
Chega de complacência. Agiu bem a promotoria de Nova York ao encarcerar a Madoff, este gênio do mal. Prometia ganhos exuberantes. Presidiu Bolsa de Valores. Vivia nababescamente.
Agora, encontra-se em um minúsculo cárcere. Serve como exemplo. A má-vida não pode ser elevada a padrão de comportamento. Ao contrário. Precisa ser alijada do convívio social.
A sociedade norte-americana exultou com o acontecimento. A Lei de Talião ainda se encontra presente no subconsciente das pessoas, apesar dos avanços das doutrinas penais.
Não pode - pensa o cidadão médio - alguém que agiu com malícia continuar a viver sem penalização. Ausência de sanção contra o infrator é a própria fragilização do Estado de Direito.
Obama quando preserva o sistema financeiro atua com sabedoria. Quando permite a permanência dos executivos dos bancos em seus postos, opera desatinadamente.
Fere a dignidade da cidadania. Humilha os milhões de norte-americanos que padecem pela desídia de poucos. Peca. Como pena, é contemplado com a perda de sua popularidade.”
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